sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

PRAÇAS DA CORDOARIA E NOVA DAS HORTAS - I

2.5 - Praças da Cordoaria e Nova das Hortas


2.5.1 - Praça da Cordoaria - I

Este grande espaço foi, através dos séculos um lugar da maior importância para a cidade. Na descrição abaixo incluiremos trechos em Itálico do historiador Horácio Marçal, publicados em O Tripeiro Série VI, Ano II. 
“ Deu origem ao topónimo “Olival” o facto de, no local nas imediações, ter florescido durante larguíssimo período, um frondoso olivedo que, como é notório, deu também o nome à R. das Oliveiras e ao sítio onde permaneceu o Mercado do Anjo, que antes – mas muito antes – se chamou Lugar das Oliveiras. O Campo do Olival, inicialmente, pertencia à Igreja do Porto (Bispo e Cabido). Porém, em 25/6/1331 após amigável composição entre o Bispo D. Vasco Martins e o Concelho da Cidade, foi por este adquirido com o fim de o transformarem em rossio ou praça pública…Somente lhe era permitido construir prédios em volta do campo, desde que pagasse o devido imposto à Mitra. As casas , de facto, pouco a pouco e com autorização da Câmara foram-se construindo em torno do Olival. Com o decorrer moroso dos anos e contra o estipulado, até Igrejas e Capelas se ergueram, feiras e mercados se inauguraram e cordoeiros se consentiram.”


Zona da Judiaria do Olival – reprodução de carta de 1523 
Porta do Olival (52), Muralha Fernandina (37), Largo do Olival (53), Rua de Trás (51), Rua da Ferraria de Cima (Caldeireiros – 48)


“Meio século depois da Câmara ter tomado posse do Campo do Olival, ou seja no longínquo ano de 1386, veio para ele, transferida de Miragaia a Comuna dos Judeus, que se instalou do lado Sul, entre as Ruas das Taipa, Belomonte, Victória e Caldeireiros. A Judiaria do Olival, era fechada por duas portas de ferro maciço com vários motivos alegóricos. Passados poucos anos (1336 a 1376) foi o referido campo cortado em sentido Nascente-Poente pela muralha fernandina, que neste ponto ficou com uma porta – a Porta do Olival – e duas torres. Ficou assim, com a erecção da muralha, o aludido rossio ou praça pública fora do âmbito citadino e, portanto, talvez a monte durante muito tempo, visto que o território extramuros, por essa época, era considerado arrabaldino.”



Na cave do Café Porta do Olival, ao lado da Torre dos Clérigos, ainda se podem ver restos da Porta do Olival – esta abria para a Cordoaria e era a saída da cidade para Norte que, seguindo a Rua de Cedofeita, conduzia a Vila do Conde, Póvoa etc. - Foto de Carlos Silva no blog Porto Sentido.
“Dois séculos e meio depois, em 1611 mais um postigo se abriu na muralha, para dar acesso fácil ao edifício da Relação e Cadeia que então se andava a construir intramuros da cidade e de cuja obra se encarregou, por determinação de D. Filipe II, o corregedor Manuel de Sequeira Novais. Simultaneamente ordenou ainda D. Filipe II (alvará de 28/9/1611), com a superintendência do mesmo corregedor, que se transformasse o Campo do Olival numa formosa alameda por lhe parecer que a dita seria de muito ornato e comum benefício da cidade... Perante tão firme intimativa tratou logo o Corregedor Manuel de Sequeira Novais de dar andamento à plantação de árvores na vasta alameda, árvores essas que até ao seu perfeito crescimento, foram guardadas de dia e de noite por 4 homens… que recebiam, cada um, 8.000 reis por ano…”



Entre estes 16 prédios e a Cadeia da Relação passava a Muralha Fernandina. Decidido que foi alargar a Praça da Cordoaria, a muralha foi destruída e, com ela, os prédios que tapavam a Cadeia. Começaram a ser demolidos em 11/10/1853. Desta forma ficaram unidos os largos do Olival e da Cordoaria, e a cadeia desafogada.


“… Esta arborização constituída por ulmeiros ou negrilhos (umus campestres), conservou-se pelo decorrer de dois séculos. Durante o memorável cerco do Porto, porém, com a falta de combustíveis que se verificou, tiveram os olmos (assim como outras árvores) de ser sacrificados, o que não obstou, felizmente, a que tivesse ficado um para lembrança, e desde 15 de Fevereiro de 1938 declarado de interesse público. Esse robusto negrilho a que o povo sem justificação plausível pôs o nome de Árvore da Forca…”
O ramo que dava o nome a esta árvore foi arrancado pela tempestade de 1963.


“Vamos apenas informar quais as designações que, pelos anos fora, teve este pitoresco sítio. Foram as seguintes: Campo do Olival, desde os seus primórdios até ao ano de 1613. Após esta data até 1661, foi Alameda do Olival. Depois, desde que para ali foram os cordoeiros de Miragaia, passou a denominar-se Campo ou Praça da Cordoaria Nova. Mais tarde, subtraíram-lhe a sobreposição “Nova” e começou o local a ser conhecido apenas por Cordoaria. Em 1835, finalmente, fixou-se em Campo dos Mártires da Pátria, nome que, até ver subsiste. O jardim, propriamente, por resolução camarária de 7/10/1852, começou a chamar-se Passeio Público, topónimo que no ano de 1924 foi substituído por Jardim João Chagas e que prevalece oficialmente. No entanto, a despeito de todas essas andanças toponímicas, ainda hoje – para bem da história local – é simplesmente conhecido por Cordoaria.”
Esta praça chamou-se "Nova" porque, anteriormente, as cordas eram feitas no areínho de Miragaia  mas as dimensões eram muito maiores que lá, o que permitia fazer cordas muito mais compridas.   Referir-nos-emos pormenorizadamente à fábrica da Cordoaria mais adiante quando ARC a descrever.


Cadeia da Relação – foi desta cadeia que saíram os condenados a que abaixo nos referimos. Sobre este edifício referir-nos-emos em local próprio.



O célebre romance UM MOTIM HÁ CEM ANOS de Arnaldo Gama tem como tema principal a Revolta dos Taberneiros de Fevereiro de 1757, que trataremos em pormenor em local próprio.
“A Praça da Cordoaria tem uma história verdadeiramente trágica a enevoar-lhe o ambiente poético, pois foi aqui que, em seis forcas erguidas sob os frondosos álamos, pagaram com a vida os 18 indivíduos (13 homens e 5 mulheres) implicados no tumulto contra a criação, pelo Marquês de Pombal, da Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Foi em 14 de Outubro de 1757.”


Jardim da Cordoaria, desenhado por Emílio David – ao fundo à esquerda vê-se a Escola Médica e o Hospital de Santo António. Á direita ainda se vê o antigo colégio dos órfãos, fundado no séc. XVII pelo Padre Baltazar Guedes e a Capela de Nª. Senhora da Graça pegado à construção da Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto, a que nos referiremos em pormenor, em local próprio. 
“Com a saída dos cordoeiros, novo arranjo se deu, passados uns anos, à Alameda da Cordoaria, feliz iniciativa do Visconde de Vilar d’Allen…que em 1866, propôs ao Município a transformação da Cordoaria num lindo jardim. Em 10/12/1866 reuniu a Edilidade para discutir a proposta apresentada, que se fazia acompanhar da respectiva planta traçada pelo arquitecto-paisagista alemão Emílio David (autor dos jardins do Palácio de Cristal), resolvendo, depois da aprovação unânime da vereação, autorizar o Visconde de Vilar d’Allen a dispor, para o efeito, da quantia de um conto de reis.


Eduardo Sequeira conta-nos, em 1895, que: “Tal foi o início do Jardim da Cordoaria tratado ao presente com todo o esmero e onde estão reunidas uma série de plantas notáveis, principalmente à volta do lago, que é opulentado com belos fetos arbóreos Alsophilas e Balantiums, e soberbas palmeiras, cocos etc…”




Foto inserida em O Tripeiro


Foto Alvão - Jardim da cordoaria – antiga árvore da forca (só de nome pois, ninguém lá morreu enforcado). Deram-lhe este nome pelo feitio do braço, este foi arrancado num temporal do Inverno de 1963. 
“…Há na Cordoaria cuidado com todo o amor, os restos de um dos corpulentos negrilhos da antiga Alameda da Porta do Olival, plantado em 1612, por ordem de Filipe II, a única árvore que resistiu ao decorrer dos séculos e do Cerco do Porto…”


Firmino Pereira diz que, ”em 1867 aberto o jardim que se destinava ao povo, logo dele se apossaram as elegantes do burgo, que o preferiram aos do Palácio, mais distantes e onde só se entrava, pagando. Aos Domingos e dias festivos e às quintas-feiras à noite, o alegre recinto era tomado de assalto pela burguesia tripeira, que se apossava da avenida fronteira ao coreto. Os arruamentos abertos em volta do lago ficavam à disposição das costureiras, das criadas de servir, dos oficiais de ofício, dos soldados da municipal. Eram territórios separados. E o que é deveras curioso é que, à entrada, cada um tomava o seu lugar, como no teatro…”



O floricultor João Moreira da Silva diz que "os plátanos que todos os tripeiros conhecem há muitíssimos anos na avenida do coreto do Jardim da Cordoaria e que, deformados pela moléstia que os atacou, se assemelham a verdadeiros monstros, devem ter setenta a oitenta anos” (actualmente 140 a 150 anos).


A Flora – de Teixeira Lopes – em homenagem ao jardineiro José Marques Loureiro – 1830-1898 – inaugurada em 20/8/1904



Torre dos Clérigos e Café Chaves, à esquerda



No início dos anos 90 do séc. XIX foi construído o chalet da Cordoaria; deu lugar, em 1917, ao Café Chaves que fechou na década de 40 do passado século.



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

CASAS-TIPO DO PORTO


2.4 - Casas-tipo do Porto


A casa-tipo burguesa do Porto tinha entre 3 e 5 pisos, consoante as posses e necessidades dos proprietários. Uma cave, uma loja ou armazém ao nível da rua e a sala de visitas no 1º andar, de forma a evitar que os estranhos subissem à zona mais reservada do lar. 
No 2º andar estavam os quartos e no 3º a sala de jantar e mais quartos, se necessário. No andar superior ficava a cozinha e zona de trabalhos domésticos e quartos das criadas. Por vezes tinha ainda um 5º andar onde estas habitavam, bem como empregados da loja.


Ribeira - Foto Francisco Oliveira


Ribeira - casas recuperadas


Ribeira – Neste prédio está hoje instalado um hotel do grupo Pestana


Ribeira - casas sobre os arcos


Bairro da Sé – foto Mendes Pedro



Terreiro da Sé


Rua da Reboleira


Rua de 31 de Janeiro


Rua das Flores


Foto de José Afonso - 2009
As varandas, janelas, portas e portões eram muitas vezes ornamentadas com maravilhosos ferros forjados.


Em 1763,D. José I, por intermédio do seu ministro Marquês de Pombal, fundou a Junta das Obras Públicas do Porto e nomeou João de Almada e Melo seu presidente. Esta, tinha como finalidade a coordenação da abertura das novas ruas e os tipos de casas a implantar na cidade pois, até aí,eram edificadas sem plano. Dependia das posses e gostos dos proprietários, embora, sob a aprovação da câmara. Assim, o Porto até ao séc. XVII, era um conjunto de ruas e casas desordenadas. 
“A J.O.P… centrava-se fundamentalmente no processo de transformação urbana, ou seja na criação de condições urbanísticas, nos aspectos relacionados com o financiamento, das expropriações e do modo de execução, nomeação de técnicos e contactos com o poder central.” In Luis Berrance – Evolução do desenho das fachadas das habitações correntes almadinas – 1774-1844.


Primeira planta de casas para a Praça dos Ferradores, lado Norte, hoje de Carlos Alberto – desenho de Joaquim Costa Lima Júnior  1838 – In Luis Berrance – Evolução do desenho das fachadas das habitações correntes almadinas – 1774-1844.


Segunda planta

Legenda: “ Em ambos estes projectos se vê conservada como actualmente existe a casa do ângulo X, por ser elegante e bastante moderna e muito mais porque existindo no ângulo, representa o fim do projecto da Rua de Cedofeita, sobre a qual esta casa tem outra frente, e para a Praça dos Ferradores basta que a casa que lhe fica em correspondência ao lado nascente da praça lhe seja igual como se vê nessas plantas. Entretanto não vão aqui designados estes dois projectos porque devam julgar-se iguais em beleza, mas sim por mostrar as vantagens que o segundo tem sobre o primeiro: o qual nos dois quarteirões interiores ( por ser cada casa composta de três portais) ficam os claros e os mesmos portais tão acanhados que não podem figurar com o resto. Deverão portanto os particulares sujeitar se ao segundo projecto e não meter mais de duas portas em cada um dos seus respectivos terrenos”. Parece-nos ler a unidade de largura em palmos. Se assim for, cada casa terá 5,75 metros.


Rua de Álvares Cabral - D. Balbina Pamplona de Sousa Carneiro Rangel doou, por escritura de 1 de Julho de 1889, a seus netos, filhos de D. Manuel Benedito de Castro, a Quinta de Santo Ovídio. Este, em nome dos seus filhos, entendendo que o rendimento anual apenas 500.000 reis que esta proporcionava, “é de alta vantagem a alienação desta propriedade quando ela seja vendida pela quantia de 100 contos de reis (100.000$000) (e), quando não apareça comprador por aquela quantia abrir uma rua desde o Campo da Regeneração até à Rua de Cedofeita… e dividir toda a propriedade em terrenos para construções de 6 metros de largura com quintais, o que dá 165 chãos, e vendê-los nunca por quantia inferior a 700.000 reis cada um”. Como não apareceu comprador pelo preço pedido a Câmara autorizou a abertura da actual Rua de Alvares Cabral. O contracto da construção desta rua, com o empreiteiro José Joaquim Mendes, foi celebrado em 25 de Setembro de 1895. A procura foi muito forte, ao ponto de o último chão ter sido vendido por 1.500.000 reis. Ainda se verifica que há várias casas seguidas iguais porque houve quem comprasse vários lotes e nelas construísse essas casas.






No Porto só em meados do séc. XIX se começaram a usar os azulejos como revestimento exterior das casas, mas a partir daí teve uma utilização muito frequente. Com efeito, são raros os revestimentos interiores de igrejas e palácios do Porto anteriores ao séc. XIX (claustro da Sé Catedral, igreja do convento de S. Bento da Vitória, casa do cabido e igreja de S. João Novo).
Nesse século a indústria cerâmica do Porto e Gaia passou por um período de grande prosperidade e criatividade. Fabricavam belíssimos azulejos liso  relevados, como ainda se pode apreciar em muitas casas. Além de embelezarem as frontarias, era um excelente isolante da humidade e de barata conservação. 

Azulejos do Porto – vídeo
http://www.youtube.com/watch?v=GEa-QYfRxYo



ARC refere-se ao “rançoso e melancólico uso das rótulas de pau…” . Eram estruturas em madeira que sobressaíam da vertical da casa, tipo varanda, em madeira, com janelas. Estas foram proibidas, no Porto, em 1788, pois desfeiavam as casas e facilitavam que os incêndios passassem de umas para as outras. 


Clarabóias do Palácio da Bolsa




Foto Olhares-sapo



Livraria Lello


Clarabóia da Casa de António Silva Monteiro, hoje Casa do Vinho Verde, na Rua da Restauração.


Clarabóia do edifício da Ordem dos Advogados - Photo Attraction


ARC também se refere às "altas e grandes clarabóias" do Porto. Há centenas, mas algumas são mesmo muito belas. 



Rua Cândido dos Reis 
Embora muito poucas, também se encontram frontarias Arte Nova.