terça-feira, 29 de outubro de 2013

DIVERTIMENTOS DOS PORTUENSES - XVIII

3.5.8 - Foz do Douro e praias - VI



Pavillon Majestic, mais tarde substituído pelo Bar do Molhe – na Avenida Brasil em frente à Rua do Crasto. Ainda nos recordamos do Bar que tinha em baixo bilhares e esplanada virada à praia. Íamos lá poucas vezes pois as nossas mães levavam almoço e lanche.


Pizza Hut – no local em que esteve o Bar do Molhe


Molhe de Carreiros – antes das obras de prolongamento em 1881


Molhe de Carreiros - séc. XIX


Na praia do Molhe havia vários barcos de pesca artesanal que, quando tinham clientes e o mar permitia, faziam uns agradáveis passeios pela costa até ao Douro ou a Matosinhos. Era um dia de festa quando nossa mãe permitia passar o molhe, o que nos dava a sensação de entrarmos no mar alto.


Molhe de Carreiros – o prolongamento do molhe foi feito entre 1881/1885. 


Flor Granítica – Ramalho Ortigão (1836/1915), portuense e habitual frequentador da Foz, escreveu a propósito do rochedo que encosta à entrada do molhe, e que se destaca na foto acima, o seguinte:
“No paredão do quebra-mar sobressai da superfície plana da cantaria uma ponta da rocha negra, áspera, duramente recortada, como uma grande flor granítica.
Essa rocha, em que eu me sentei em criança, com o meu chapéu de palha, e o meu bibe cheirando ao algodão novo azul e branco da Fábrica do Bolhão, reconheci-a com a mesma ternura saudosa com que se torna a ver um velho móvel de família! Boas pedras! Entre tantas cousas que desapareceram, ou se transformaram, umas para mal outras para pior, vós, somente, persistis como éreis! Servistes de canapé a minha avó, que muitas vezes me trouxe aqui pela mão, pensativa e triste, porque já a avó dela a trouxera também em pequena a ver o mar, deste mesmo sítio…Eu vos abençoo e peço às vagas do mar e ao fogo do céu, que vos poupem, até que os que descendem de mim, que não tenho eira nem beira nem ramo de figueira que testar aos netos, venham encontrar no vosso conhecido relevo amigo a lembrança que em vós fica daqueles que passam, como fica num travesseiro tépido o vestígio da cabeça de um ente amado…”
Na conferência que o Dr. Artur de Magalhães Basto proferiu no Colégio Brotero em 26/6/1936, a que já anteriormente nos referimos, o historiador referiu-se a esta saudade de Ramalho, lendo esta passagem. Animados por esta memória, a direcção e os alunos do colégio inauguraram uma lápide em homenagem a Ramalho no dia do centenário do seu nascimento, 24/11/1936.
Ainda nos lembramos bem de a ver muitas vezes nos nossos passeios do molhe. Infelizmente a lápide desapareceu levada pelas “vagas do mar e ao fogo do céu”, ou outro ladrão qualquer.



Que susto! Ou que imprudência.


Que prazer dava saltar das pranchas! Por vezes acotovelavamo-nos para passar à frente e discussões não eram raras. Só os mais corajosos saltavam da de cima. 




Esplanada e praia do Molhe. Nos anos quarenta chamava-se Esplanada 28 de Maio




Antes da construção do molhe de Carreiros os rochedos formavam, naquele local, um pequeno caneiro natural directo à praia, hoje do Molhe. Foi usada durante séculos como recurso para desembarque de pessoas e alguma pequena mercadoria, quando a foz do Rio Douro não permitia a entrada dos barcos. Também servia para que pequenos barcos aí se abrigassem do mau tempo. Em 1838 foi construído um pequeno pontão para tornar mais seguras estas emergências. Como por vezes era necessário recorrer a expediente de noite e se tornava muito perigoso, já lá tinham acontecido tragédias, decidiu-se, em 1868, instalar dois pequenos farolins para guiar os botes de desembarque. Procedeu-se ainda ao rebentamento de alguns rochedos que, estando na direcção da embocadura causavam acidentes graves. 
Também foram colocados dois obeliscos de pedra como indicação do enfiamento da entrada diurna no carreiro. O que se encontra sobre o rochedo, ao lado do molhe, já não é o original o qual, na segunda foto, se vê caído na praia. Aliás, actualmente, está desalinhado do enfiamento. O outro está na Avenida Brasil, em frente da Rua do Crasto. Resumo de um artigo em O Tripeiro 7ª Série, Ano XX, nº. 11 





Molhe de Carreiros no inverno – foto Francisco Oliveira


1935


Molhe de Carreiros, esplanada e Avenida Brasil - Foto Beleza



Cerca das 7 horas da manhã do dia 1 de Fevereiro de 1974 o Amethyst encalhou a 50 metros a Norte do Molhe. Estava uma forte tempestade com mar muito encapelado, o que provocou o rebentamento das duas âncoras. Na véspera o capitão tinha sido avisado do perigo que corria por estar demasiado perto de terra. Porém, não retirou o navio para mais longe, como fizeram outros navios que estavam na zona. Foram recolhidos os 24 tripulantes. O navio vinha com um carregamento de milho, que se espalhou pela praia. Quando lá fomos, estavam dezenas de pessoas a recolhe-lo em sacas. Também trouxemos um punhado, para recordação.

sábado, 26 de outubro de 2013

DIVERTIMENTOS DOS PORTUENSES - XVII

3.5.8 - Foz do Douro e praias - V


Molhe de Felgueiras – foto de Aurélio Paz dos Reis – fins séc. XIX, princípios do XX


O rochedo Gilreu


Colónia de férias de crianças do Internato Municipal - 1946


Supomos ser a praia dos ingleses, pois ao longe pode ver-se o Molhe de Carreiros – Em primeiro plano jovens de uma colónia balnear – pela multidão e decoração festiva deve ser pelo S. Bartolomeu – anos 40 do séc. XX? 
A festa de S. Bartolomeu, à qual já antes nos referimos, é em 24 de Agosto. O povo tem o antigo costume de ir à praia tomar o miraculoso banho santo ou dos sete mergulhos. “José Leite de Vasconcelos assistiu em 1880, em Matosinhos, a esta tradição popular. Assim a descreve: “…na véspera à noite e no dia de manhã, chegavam bandos de gente do campo, tocando viola, dançando e cantando. Em seguida dirigiam-se ao mar a banharem-se… e os aldeãos tímidos, procuravam sobre os afagos do luar, os penhascos mais recatados, onde chegasse a maré, para aí se libertarem das vestes domingueiras, e, com o corpinho em “leitão” darem os sete mergulhos virtuosos. Eis algumas rimas a S. Bartolomeu, recolhidas no concelho de Matosinhos, quando os foliões ao som das banzas e das tocatas se dirigiam para o amplo cenário da beira mar: 
Esta viola é minha
Este pandeiro é meu
Este bandinho de moças 
Vai p’ró S. Bartolomeu. 

Ó vida da minha vida 
Adeus, adeus vou p’ró mar; 
Eu venho muito suado 
Agora vou refrescar.




“Em baixo, perpendicularmente ao litoral, tal como hoje, dispunham-se em fileiras as barracas. Nos topos desses arruamentos os banheiros hasteavam bandeiras, em que estavam escritos os seus nomes: Maria da Luz; Paulino; Leão; etc. 
O movimento dos banhos começava mal as estrelas se apagavam no céu. Quem aparecia primeiro na praia, ainda imersa na penumbra da manhã e coberta de neblina, eram os aldeões de Cima do Douro.
Estes banhistas iam para a água com indumentária bastante reduzida; por isso se escondiam eles, o mais possível, entre os penedos. As mulheres vestiam uma simples camisa; os homens nada mais que as famosos ceroulas de atilhos! No fim do banho agasalhavam-se muito; embrulhavam-se o mais que podiam em grossos xailes. Os homens atavam lenços de mulher em volta do pescoço; e só os tiravam passadas muitas horas. Às sete da manhã estavam banhados e almoçados. Entretinham-se conversando uns com os outros, ou ouvindo tocar os cegos que costumavam estacionar junto à Fonte de Cadouços.
A maior parte das famílias que vinham passar o Verão à Foz, começava a preparar-se para sair para o banho às 5 ou 6 da manhã. Pouco depois começavam a chegar os carroções, os jericos, as sege, os caleches, os barcos com os banhistas do Porto. Enchia-se a praia de animação e de gente… Quem arranjava barraca tratava-se de se despir; os outros, enquanto esperavam, passeavam pela beira do mar, saltavam pelos rochedos, conversavam, etc. 
Ainda se não tinham inventado os maillots. Se uma senhora daqueles tempo pudesse ver a praia do Molhe à hora do banho, desmaiava horrorizada… se não morresse outra vez. A moral e a polícia de então mandavam que se fosse para a água ainda mais vestido do que se andava em terra.
Em regra os fatos eram feitos de baeta grossa, azul ou preta: os dos homens constavam de camisola de mangas e calças compridas; os das senhoras eram vestidas de cauda… tanto as senhoras como os homens levam calçados sapatos de ourelo". Artur de Magalhães Basto – A Foz há 70 anos – Conferência pronunciada no Colégio Brotero na noite de 26/6/1936. 


“" Como ainda hoje, segundo suponho, a Foz recebia cada ano dois turnos de banhistas. O primeiro chegava em Agosto e retirava no fim de Setembro ou começos de Outubro. O segundo vinha apenas depois das colheitas. Aquele era constituído por gentes do Porto; este por lavradores, gente de Cima do Douro.
Há setenta e oitenta anos (década de 60 do séc. XIX) aqui não havia muito em que passar o tempo. Tomava-se banho, comia-se, passeava-se, dormia-se, jogavam-se cartas ou bilhar na Assembleia da Rua dos Banhos. 
Comia-se muito – naturalmente por não haver mais nada que fazer.
Ora ouçam o programa: (segundo Ramalho Ortigão)
"De manhã, depois do banho, às 8 horas (o banho tomava-se aí pelas 6 ou 7!) almoçava-se café com leite e pão com manteiga…Ao meio dia jantava-se. Às Avé Marias… tomava-se chá com pão de Vilar (não confundir com Vilares, os da confeitaria) e biscoitos de Avintes. 
Vinha depois o serão: uns costuravam, outros liam...outros jogavam o voltarete; os pobres estudantes de Latim tiravam os seus significados de Tito Lívio e adormeciam – sendo cônsules Márcio Túlio e Públio Vitélio – às oito horas e meia, quando os tambores e as cornetas do Castelo tocavam a recolher, comia-se peixe cozido, bifes, esparregado, enormes quantidades de melão; procedia-se à operação de ir cada um para o seu quarto queimar os mosquitos; e todos se deitavam em seguida". 
Uma vida deliciosa! Tranquila! Bem-aventurada! Sem imprevistos, preocupações ou cuidados. O único cuidado que havia era o de digerir o melão!”"


Casas de Carreiros, depois Avenida Brasil – eram do séc. XIX – A casa de telhado triangular por baixo do farol, pertencia a Engº. José Joaquim da Costa Lima, que foi Director do IVP e Governador Civil do Porto. Foto do blog Foi Assim…




Carreiros – de notar, nas 3 fotos acima, as diferenças nas linhas do eléctricos: Nesta, de baixo, perto da Rua do Crasto, existem duas linhas juntas do passeio do lado do mar; na foto acima já só existe uma linha e a afastar-se deste passeio; na primeira, a linha já vai perto das casas. Mostra que, antes da Rua da Senhora da Luz, as duas linhas se uniam, pois a rua é estreita. 


Carreiros – 1909? – eléctrico com dois atrelados – linha 1 que começava na Praça do Infante D. Henrique e terminava em Matosinhos.


Camões – busto de Irene Vilar – encontra-se na Avenida Brasil perto da Praia dos Ingleses.


Avenida Brasil em frente à Praia do Molhe – antes de 1930. 
Foi nos anos 20 do passado século que a velha estrada de Carreiros foi regularizada e nasceu uma larga avenida que fez nascer as Avenidas Brasil e Montevideu.


Avenida Brasil perto da Rua do Crasto – Vê-se o prédio Belo Horizonte e a estação de serviço – anos 60 séc. XX - pertencia à família Rocha Brito.




Casa do Relógio

A Casa do Relógio – Avenida Brasil – fotos e texto de M. Branco Ferreira 

A casa do Relógio foi construída em 1907 por Artur Jorge Guimarães, sob projecto de Teixeira Lopes. O seu estilo “Manuelino” levantou uma certa celeuma na cidade. O nome advém-lhe do facto de ter um relógio de Sol numa das fachadas. Lembramo-nos de, após o 25 de Abril, viver lá um sapateiro. Hoje esta casa está na maior degradação, como se pode ver nas fotos do site indicado.


O Salva Vidas – 1937 - Henrique Moreira (1890-1979)


Praia do Molhe, Av. Brasil e Montevideu, Rua Gondarém -
Foto tirada entre 1931 e 1937 – Já tem a pérgola e ainda não tem o salva-vidas de Henrique Moreira.


Avenida Brasil, pérgola e praia do Molhe


60 anos depois 

Mar e Avenida Brasil

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

DIVERTIMENTOS DOS PORTUENSES - XVI

3.5.8 - Foz do Douro e praias - IV



Entrando na barra do Douro - 1940


Carlos Teixeira da Costa foi um brasileiro de torna viagem que se estabeleceu no ramo da confeitaria. Terá construído o edifício acima em 1911 - á porta está ele e sua mulher Maria Luísa. Já ouvimos alguém afirmar que era avô do Presidente do F.C.P., Pinto da Costa.


Anos 40 do séc. XX


Este edifício sofreu grandes obras. Foram construídas as águas furtadas e ornamentada com a tabuleta Casa Brasileira. Várias vezes lá comprámos os melhores bolos e biscoitos de que nos recordámos.


Vista para a Rua da Senhora da Luz – o 18 era um dos eléctricos que me transportava para o Colégio Brotero, no Passeio Alegre. Havia também o 2 e o 17.



Rua da Senhora da Luz


Rua da Senhora da Luz – vendedor de hortaliça


Antes de a C. M. Porto aprovar o projecto do Largo de Cadouços, 9/8/1866, existia já um circo que era montado na época balnear. Em 29/8/1869 foi lá inaugurada uma praça de touros, com uma grande enchente; estariam 2500 pessoas. O delírio pelas touradas durou 2 anos, após os quais ninguém mais ligou às touradas.


Clube de Cadouços – Inaugurado em 1881 – era frequentado pela elite das famílias que iam a banhos, entre Maio e Outubro. Aqui se reuniam às tardes para conviverem, jogarem cartas, bilhar, dominó. Lugar de leitura e conversa, realizava concertos de música de câmara, árias de ópera e canções; teatro, e reuniões dançantes. A partir de 1884 o clube formou uma orquestra amadora composta por sócios. Eram sempre muito concorridos pelo que muitas vezes o difícil era conseguir bilhetes. Aqui se apresentaram os melhores músicos do Porto dessa época (1881/1910). Era comum músicos amadores, mesmo sócios, também executarem obras com grande sucesso. Este clube também tinha uma finalidade beneficente.
Pagava-se uma jóia de 1$000 reis e 6$000 reis por ano. 





A Máquina em Cadouços



Antigo viaduto da máquina entre Cadouços e a Rua do Túnel, na ponte sobre a Rua da Agra – ao fundo vê-se a Rua da Senhora da Luz e o farol, de que trataremos em local próprio.

“As pessoas que viviam no Porto e que tinham que ir tomar banho para a Foz saíam de casa por volta das 6 horas da manhã, para apanhar o primeiro carro americano que saía do Carmo, ia pelo Carregal, atravessava um túnel (?) para sair na Rua do Rosário e daí seguia para a Boavista. Era ali que encontravam já mais carros americanos atrelados a uma locomotiva a vapor muito pequenina (era a máquina). Então este pequeno comboio, através dos campos, silvados, etc., ia até Cadouços (chamado as sete casas) onde parava. Era ali que as pessoas que iam para a Foz, saíam e desciam uma rampa, onde havia um casino, e dirigiam-se para o mar. O referido comboio seguia para Matosinhos, sendo obrigado a passar por uma pequena ponte muito curiosa.” In O Tripeiro, Série VI, Ano X. 
Desconhecíamos a existência de um túnel entre o Carregal e a Rua do Rosário. Alguém pode dar informações sobre onde começava e acabava?


Rua do Túnel – por este túnel passava a máquina a caminho da Rua de Gondarém – foto do blog ruas da minha terra


À direita a Farmácia de Gondarém – vêem-se as linhas da máquina, que seguia até Matosinhos