segunda-feira, 31 de março de 2014

VÍVERES QUE ANUALMENTE SE GASTAM NA CIDADE - XI

3.9 - Frutas e legumes - VII


Avenida da Boavista, cruzamento com as Ruas de Agramonte e 15 de Novembro. Quando ainda havia plátanos nas laterais e as linhas dos eléctricos traçavam os pneus dos automóveis.


Capela e secretaria do Cemitério de Agramonte

“A 2 de Agosto de 1832, por motivos de ordem estratégica D. Pedro IV deu ordem para queimar e arrasar a importante casa de campo, muros e árvores da bela quinta de Agramonte, uma das mais formosas e produtivas dos subúrbios do Porto. D. Pedro foi pessoalmente levar a notícia, à viúva de Joaquim Pinho de Sousa e apresentar-lhe as suas desculpas, e assegurar-lhe que seria a primeira a ser indemnizada pelo seu justo valor logo que as circunstâncias o permitissem. Afinal parece que tal nunca sucedeu, apesar de repetidos requerimentos do tutor dos menores. Continuou um monte inculto até ser expropriado, em 1855, por uma quantia “miserável” para se construir um cemitério.” – texto coligido por Jorge Rodrigues.
Os cemitérios públicos portugueses foram oficialmente criados em 1835. Em 1855 a situação dos cemitérios no Porto alterou-se radicalmente, já que se deu uma grande epidemia de cólera. As autoridades civis conseguiram fechar os cemitérios privativos que não tinham condições e, paralelamente, mandaram construir, de forma apressada, um novo cemitério municipal: Agramonte.
O cemitério de Agramonte em finais do século XIX, tornou-se o modelo preferido para os cemitérios mais pequenos da cidade do Porto e arredores, sobretudo pelo facto de prestigiadas Ordens Terceiras da cidade terem estabelecido ali os seus cemitérios privativos (Carmo, Trindade e S. Francisco), que rapidamente se encheram de belos monumentos. Sendo assim, os cemitérios do Prado do Repouso e Agramonte são também verdadeiros "museus da morte". A Capela Geral do Cemitério de Agramonte, cuja construção foi aprovada pela Câmara Municipal do Porto em 24 de Maio de 1866, substituiu a capela original que era de madeira e existia desde a inauguração do Cemitério no ano de 1855. 
A planta é da autoria do Eng. Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa, Director e professor do Instituto Industrial do Porto. As obras de construção iniciaram-se em 1870/71, sendo inaugurada em 1874. Esta capela foi posteriormente alterada relativamente á capela-mor, que ficou com configuração redonda, saliente em relação ao edifício. Deve assinalar-se que o projecto da capela-mor, para ampliação da Capela, é da autoria do Arquitecto Municipal José Marques da Silva e datado de 22 de Fevereiro de 1906. 




Interior da Capela do Cemitério de Agramonte


Jazigo Municipal




Capela da família dos Condes da Santiago de Lobão – foto de Teodósio Dias


Jazigo do Conde de Ferreira

Joaquim Ferreira dos Santos (Porto 1782-1866) foi comerciante e filantropo. Tendo conseguido grande fortuna no Brasil e em África, em boa parte pelo tráfico de escravos de Angola para o Brasil, após o seu regresso a Portugal dedicou-se à filantropia. Fez construir 120 escolas primárias e contribuiu com valiosos donativos para a S. C. M. do Porto. Tendo contribuído financeiramente para causa de D. Maria II esta fê-lo conde em 1856. Com a sua herança foi construído um hospital para doentes mentais, que ainda ostenta o seu nome.



Jazigo aos mortos do incêndio do Teatro Baquet, de 21 de Março de 1888


Capela do Bom Sucesso –foto Frederick Flower – 1849-1859


A casa e a Capela da Quinta do Bom Sucesso estão, hoje, integradas no complexo Cidade do Porto


Mercado do Bom Sucesso




Foto de Francisco Oliveira

A Câmara Municipal do Porto contratou a empresa ARS Arquitectos, dos Arquitectos Fortunato Leal, Cunha Leão e Morais Soares, para desenhar um novo mercado municipal para a cidade. O edifício foi projectado em 1949 e as obras iniciaram-se em 1951 sendo o novo edifício marcado por uma arquitectura moderna com uma boa iluminação natural. Foi inaugurado em 1 de Julho de 1952. Tem três pisos, de forma a aproveitar o declive natural da área, sendo bordejado com lojas independentes. Outra particularidade é a separação zonal do mercado, situando-se a peixaria num nível inferior de forma a permitir um melhor arejamento. O primeiro piso contém ainda uma galeria que circunda o mercado na qual podemos encontrar lojas independentes, como talhos e padarias.

Inauguração do Mercado do Bom Sucesso – 28/5/1952 - vídeo



A recuperação arquitectónica esteve a cargo do gabinete de Arquitectura F.A.A (Ferreira de Almeida Arquitectos). Orçada em 10 milhões de euros, a obra começou em Agosto de 2012 e, no dia 14 de Junho de 2013, o Bom Sucesso renovado abriu ao público, com 44 bancas no centro do espaço, 14 lojas nos corredores e 12 espaços dedicados à venda de produtos frescos, localizados por debaixo da zona de escritórios (este volume, construído no interior do emblemático edifício, acolhe a Fundação António da Mota). Do outro lado do mercado foi construído um segundo volume onde se localiza o Hotel da Música, um investimento de 8 milhões de euros do grupo Hoti Hotéis, que conta com 85 quartos, o restaurante Bom Sucesso Gourmet – onde, para além da ementa habitual, o chefe confecciona o que os clientes comprarem no mercado.


Houve mais dois mercados, um no Largo da Aguardente (Marquês) e no Poço das Patas (Praça 24 de Agosto) que foram construídos pela CMP, mas que pouco tempo duraram, pois os moradores dessas zonas não os procuravam para o seu abastecimento. Foram demolidos e o seu material vendido à Câmara de Aveiro que o empregou na construção do mercado da antiga Praça do Côjo.


Aveiro nos fins do século XIX (1890): Largo de Luís Cipriano Coelho de Magalhães, antigo Presidente do Município de Aveiro e pai de José Estêvão. Neste local se realizava a praça de hortaliça e da fruta. À direita, a casa com as Alminhas do Côjo e a barbearia de António de Lemos Júnior.

terça-feira, 25 de março de 2014

VÍVERES QUE ANUALMENTE SE GASTAM NA CIDADE - X

3.9 - Frutas e legumes - VI

Seguindo a opção feita aquando da apresentação dos mercados do Anjo e do Bolhão, vamos apresentar primeiramente os "arredores" do Mercado do Bom Sucesso, que são muito ricos em espaços, serviços e monumentos.


Planta de Teles Ferreira, 1892, desde a Praça da Boavista (Mouzinho de Albuquerque) à Rua João Grave.
Na planta acima pode ver-se, á volta da Praça da Boavista, no sentido dos ponteiros do relógio e começando pelo meio dia, os seguintes locais: Avenida da Boavista; “remise da Boavista” dos americanos. máquinas a vapor e eléctricos; Rua Príncipe da Beira, hoje Rua 5 de Outubro; Estação dos Caminhos de Ferro da Póvoa, hoje um banco; Rua dos Brandões, hoje princípio da Avenida da França; Rua das Valas, hoje de Nossa Senhora de Fátima; Hospital Militar D. Pedro V; Rua de Júlio Dinis, aberta até à Rua da Torrinha; Coliseo Portuense, praça de touros até 1898. 
Na Rua de Agramonte vê-se o Cemitério Ocidental. Quando da sua construção, as principais irmandades do Porto reservaram as zonas onde pretendiam colocar os jazigos dos seus irmãos defuntos. Lêem-se os talhões da Trindade, S. Francisco e Ordem do Carmo. Também se pode ver uma pequena zona destinada aos não católicos. O mesmo aconteceu no Cemitério do Prado do Repouso.



A Praça da Boavista foi, durante muitos anos, local onde se realizaram importantes feiras. A Feira de S. Miguel, talvez a mais importante da cidade, realizava-se em 29 de Setembro na Cordoaria, desde os anos de 1672 a 1876. Por essa época a Câmara deslocou-a para a Boavista. “Prolongava-se esta feira por uns dias (um mês, aproximadamente) e nela apareciam à venda as alfaias agrícolas, os tamancos, os jugos e cangas, os móveis de madeira de pinho em cru, os cestos, varapaus, chapéus de palha, todo género de quinquilharias, louça de barro grosseiro, cereais, muita cebola e muita abóbora, os típicos doces de Paranhos e da Teixeira, as fritadas etc. As barracas de comes e bebes também não faltavam no recinto bem a sim como as diversões. Em matéria de comestível, além das regueifas de Valongo e das nozes, sobrelevavam-se aos restante produtos, as características esperadas, constituídas por carne de porco assada em espetos e vendida ao público espetada num pauzinho. Na feira de S. Miguel do ano de 1906, como novidade sensacional e como número de invulgar atracção, apareceu o primeiro animatógrafo ou cinematógrafo portuense – o salão High Life – instalado num modesto barracão de madeira coberto de folha zincada, ali mandado construir por Manuel da Silva Neves, que em Novembro desse ano de 1906, depois de terminada a feira de S. Miguel, passou a dar sessões de cinema mudo no largo fronteiro à Torre dos Clérigos, na Cordoaria, onde se conservou bastante tempo e para além da inauguração, em Fevereiro de 1908, do novo salão High Life, na Praça da Batalha, do mesmo proprietário. No ano de 1906, a Câmara Municipal anunciou a mudança da feira de S. Miguel para o largo da Arca d’Água. Todavia, os feirantes, de comum acordo e fazendo orelhas moucas, deliberaram tomar de arrendamento um terreno particular na mesma rotunda da Boavista (onde estivera uma praça de touros) e aí continuaram a realizá-la pelo curto período de 2 ou 3 anos”. O Tripeiro série VI, Ano X.  
Foi transferida em 1909 para a Arca d’Água até 1917.
A feira dos criados ou moços e moças da lavoura mudou da Praça dos Ferradores (actual Carlos Alberto) para a Boavista em 1876. Realizava-se duas vezes por anos. Em Novembro para os trabalhos de Inverno e em Abril para os de Verão. Esta feira era muito concorrida. Apareciam os lavradores e os criados que pretendiam trabalho. Havia um diálogo entre eles e quando chegavam a acordo davam um aperto de mão e tomavam um copo de vinho acompanhado de pão ou broa, que era oferecido pelo patrão, seguindo de imediato para os locais de trabalho.
A Praça da Boavista foi ajardinada em 1906 passando o trânsito de veículos a fazer-se à sua volta.


Praça Mouzinho de Albuquerque e Cemitério de Agramonte – foto de Carlos Romão – início dos anos 80 de Séc. XX – ainda se vê a remise dos STCP, onde está hoje a Casa da Música, e o Mercado do Bom Sucesso.


Foto Dias dos Reis


Foto de Rubens Craveiro



Foto de Fernando Pedro

A Guerra Peninsular foi a que uniu os portugueses e os ingleses contra os exércitos de França, de Napoleão Bonaparte, na Península Ibérica, no período de 1808 a 1814. No centro da Praça de Mouzinho de Albuquerque, ergue-se este monumento comemorativo. Da autoria do arquitecto Marques da Silva e do escultor Alves de Sousa, a obra levou muitos anos a ser concluída. Coube à Cooperativa dos Pedreiros o encargo de o erigir, sendo começado em 1909 e apenas inaugurado em 1951. Dada a morosidade da construção e a morte do escultor Alves de Sousa, ainda jovem (38 anos), a obra foi concluída sob a direcção dos escultores Henrique Moreira e Sousa Caldas. É composto por um pedestal, de 45 metros de altura, rodeado de grupos escultóricos em bronze. Estes, representam cenas de artilharia em movimento, podendo ver-se também soldados ingleses que vieram apoiar Portugal e a intervenção das gentes do povo na luta e o desastre da «Ponte das Barcas». De notar a presença do elemento feminino em todos os grupos: no da frente, uma mulher, a Vitória, empunha, na mão esquerda, a bandeira nacional e, na direita, uma espada. Na base tem figuras de soldados e cenas de factos ligados às guerras napoleónicas, em relevos esculpidos no granito. Duas datas podem ver-se em duas frentes da base da coluna: MDCCCVIII e MDCCCIX. A mensagem que estes números transmitem integra-se no espírito regional da estatuária portuense. Entre 1808 e 1809 a cidade esteve ocupada pelo exército de Soult. Assim sendo, o monumento petende homenagear os heróis portuenses que resistiram e venceram este general. No pedestal, estão apostas as armas da cidade. Nos longos anos em que só existia a parte inferior do monumento o povo chamava-lhe o “castiçal” e que ainda lhe faltava a vela!


Na esquina com a Praça de Mouzinho de Albuquerque encontrava-se a casa da família Oliveira e Sá, industriais de cordas, que foram nossos amigos durante largos anos. 


No seu local foi construído, em 1976, o primeiro centro comercial da Península Ibérica, o Brasília. Foi o princípio de uma revolução no comércio a retalho do Porto, pois iniciou um nova visão de comercializar que, aos poucos, quase destruiu o pequeno comércio de loja. Descentralizou a tradicional zona comercial do centro histórico, que muito sofreu com isso. Para esta nova centralidade da cidade na Boavista foi decisiva a abertura da Ponte da Arrábida e da Via de Cintura Interna. A Ponte Luis I era um tremendo estrangulamento da ligação a Gaia, sofrendo diariamente demoradíssimos engarrafamentos. Quando a Ponte da Arrábida foi aberta, e durante alguns anos, quase não tinha movimento. Actualmente sofre do mesmo mal de que sofria a Ponte Luis I nos anos 50 do passado século. Daí a necessidade de se construírem novas ligações nesta zona.



A tourada foi um dos divertimentos preferidos dos portuenses, embora não por muito tempo. Houve, mesmo que episodicamente, várias praças de touros no largo da Aguardente (Marquês de Pombal), Foz do Douro, Rua da Alegria, Serra do Pilar e Coliseu Portuense na Praça da Boavista. Deste, mostramos acima duas fotos. Inaugurado em 28/7/1889 foi demolido no segundo semestre de 1898. Na tourada inaugural os bilhetes custavam o seguinte: Sol, 300 rs; Sombra,600 rs; Tribuna, 1200 rs; Camarotes de Sol, 3.000 rs; Camarotes de Sombra, 4.500 rs. Tinha cerca de 8.000 lugares. O Professor Doutor Ribeiro da Silva informou-nos que: "... a tradição das corridas de touros no Porto é bastante mais antiga do que refere Horácio Marçal. Pelo menos, desde os fins do séc. XVI (provavelmente antes) havia três corridas anuais nas festas respectivamente do Corpo de Deus, de S. Pantaleão (padroeiro da cidade) e de São João. As corridas tinham lugar na Rua Nova (actual Rua Infante D. Henrique) para o que a rua era tapada, improvisando-se ali uma Praça de Touros.  As garrochas (hastes de pau com pontas de ferro farpadas) eram feitas na cidade".




Foto Ricardo Morales.
Na zona onde existiu a praça de touros foi construído o Tabernáculo Baptista. A Igreja Baptista Portuguesa tinha sido organizada de forma oficial no dia 20 de Dezembro de1908. O templo só foi inaugurado a 13 de Fevereiro de 1916. A sua construção foi financiada pelo comerciante inglês Charles Jones, o que influenciou na adopção de uma arquitectura similar à do Tabernáculo Metropolitano de Londres.


A Máquina, acabada de chegar de Matosinhos, junto à remise da Boavista .


A primitiva remise da Boavista onde recolhiam a máquina, os americanos e os eléctricos. Construída em 1874, ardeu em 1928.


Das várias infraestruturas que apoiavam o funcionamento da rede de carros eléctricos do Porto, o local mais importante era a da Boavista. Já desde a abertura da segunda linha de americanos em 1874, se situava aqui a sede da CCFP, a “Companhia de Carris de Ferro do Porto”. A Boavista e a sua mítica remise não abrigava apenas eléctricos, a Boavista era também a casa dos carros de tracção animal e da máquina.
O seu momento mais negro viveu-se em 1928, mais precisamente a 28 de Fevereiro. Nesse dia a remise da Boavista foi destruída por um grande incêndio, onde se perderam vários exemplares de carros eléctricos, dos quais o carro eléctricos (CE) nº 22, (actualmente replicado e em exposição no museu do carro eléctrico), para além das próprias instalações. Posteriormente no mesmo local, onde está actualmente a Casa da Musica, foi construída uma nova remise e novas oficinas com um total de 20 linhas. Por este facto era conhecida como as “Vinte Portas”, havendo mesmo quem as contasse para ter a certeza que este nome era verdadeiro. Foi substituída pela de Massarelos em 1988 e desmantelada em 1999.


Sede dos S.T.C.P. na esquina da Avenida da Boavista com a Rua 15 de Novembro. Hoje encontra-se aqui um grande prédio. 




Casa da Música - Foi projectada pelo arquitecto holandês Rem Koolhaas, como parte do evento Porto Capital Europeia da Cultura de 2001, no entanto, a construção só ficou concluída em 2005. Foi construída no local onde estava a recolha dos eléctricos, na Praça Mouzinho de Albuquerque. O custo inicial previsto para a construção, excluindo o valor dos terrenos, era de 33 milhões de euros, acabando por custar 111,2 milhões de euros e ficando concluída quatro anos depois do prazo inicial previsto.
Foi alvo de uma grande polémica devido ao atraso e ao elevadíssimo desvio no custo de construção. Infelizmente as altíssimas expectativas da Capital Europeia da Cultura foram grandemente frustradas. Obras muito caras e descaractirizadoras em vários locais da cidade, em especial no Jardim da Cordoaria, na Praça da Liberdade e na Avenida dos Aliados. As que não foram começadas ou terminadas “safaram-se” desta hecatombe.
Para este local estava prevista, nos anos 60 do séc. XX, a construção de um teatro municipal.


Estação Ferroviária da Boavista


Máquinas a vapor na estação da Boavista – 1968

quinta-feira, 20 de março de 2014

VÍVERES QUE ANUALMENTE SE GASTAM NA CIDADE - IX

3.9 - Frutas e legumes - V


Mercado do Bolhão - após 1850  
Bolhão significa "bolha grande", e o seu nome era devido ao facto de o local ser um lameiro, e no seu centro existir uma nascente. Há dois séculos fazia parte de uma quinta, propriedade dos condes de S. Martinho, onde serpenteavam ribeiros e algumas serventias, vielas e ruelas já desaparecidas. Foi só em 1837 que a Câmara do Porto mandou ali construir um mercado. Este tanque era rodeado por 2 rampas com acesso à Rua de Fernandes Tomaz.



Mercado do Bolhão – Inaugurado em 1839
Pretendendo a câmara acabar com todas as feiras e mercados de rua, foi aprovada a construção do Mercado do Bolhão, que só não acabava com os mercados da Ribeira e do Anjo. 
Em quase todas as praças e terreiros havia, nos séc. XVIII e XIX, feira pública às terças e Sábados de cada semana: Praça dos Voluntários da Raínha (hoje Gomes Teixeira), Ferradores (Carlos Alberto), Santo Ovídio (Praça da República), S. Lázaro, Terreiro de S. Domingos, Praça de S. Bento das Freiras (Almeida Garrett), Praça do Comércio, Ribeira, Miragaia e S. Roque.  Na Praça das Hortas (depois, de D. Pedro e hoje da Liberdade) no Largo do Olival e Praça de Santa Teresa (Guilherme Gomes Fernandes) havia mercado todos os dias.

De um texto da SRH – Sociedade de Reabilitação Humana:
“No princípio era a praça. E da praça se fez mercado.“Olha: bais à praça? traz-me um molho de coubes, se ouber!”. 
1837 - projecto do Arq. Joaquim da Costa Lima Júnior: uma nova praça na cidade, incluindo o desenho dos alçados das ruas contíguas e escadaria de acesso a partir da actual Rua Fernandes Tomás, mais ou menos no sitio onde ainda está a escada do Mercado. O sítio permanece, a sua topografia genérica idem. A ideia era que esta “praça” fosse um concentrado de outros “mercados avulsos” de rua, mercados estes que não cabiam no chamado “mercado do Anjo. Disciplinar pois, as vendas de rua então existentes.
1850 – A escadaria não havia sido construída. Reprojectou-se e construiu-se entretanto um conjunto de rampas, bem mais funcionais dado o movimento de cargas e descargas de mercearias várias e afluência de freguesia.
1853 – Existiam barracas de madeira que a câmara manda reconstruir e realinhar com novo desenho (resguardo de inverno para os vendedores, onde ainda hoje estão os cobertos do r/c do mercado actual - mesmo sitio, mesmo desenho genérico) ,existiam árvores velhas agora substituídas por novas e foram feitas obras de encanamento de água para a fonte da praça (mesmo sitio, mesma topografia ainda hoje).
1881 – O sucesso urbano e popular da praça do Bolhão, a sua grande distância face á então “periferia” da cidade, e as inúmeras reivindicações de aproximação do mercado a estas populações originam uma proposta pública de uma rede de pequenos mercados ( “de proximidade” diríamos hoje), e que seriam feitos em Cedofeita, Bonfim e Paranhos – 1 perto da Igreja de Cedofeita, 1 no campo 24 de Agosto e 1 no Largo da Aguardente ( Jardim do Marquês). Apenas estes três foram construídos …e posteriormente desmantelados.
1897 - Após a crise política de 1890 (ultimatum inglês), nova vereação manda desmontar os mercadinhos então construídos… Desde então as vereações apenas regulamentam e melhoram o funcionamento de algumas destas estruturas existentes.
1907 – 1910 –1914 – Arqº Correia da Silva - Novo projecto para “recobrir” a praça do Bolhão, cortar as árvores e transformar assim a praça em mercado. Espaço público sim, mas em forma de edifício. O Engº Xavier Esteves, autor da cobertura “de crystal” pousada no edifício do mercado foi o introdutor do betão armado em Portugal, porém projectou e defendeu a ferro e vidro a cobertura do mercado”.
Neste mercado vendia-se de tudo. Tinha lojas no exterior e bancas cobertas no interior desde 1853. Ali se realizava cerca de 1851 a Feira dos Moços, vinda da Praça de Carlos Alberto. 


Gravura de J. Holland - 1838 - feira do Largo do Olival
Em sessão da Câmara Municipal de Novembro de 1841 foi deliberado que todos os mercados avulso bem como a feira de plantas e flores fossem transferidos para o mercado do Bolhão.


Planta do Mercado do Bolhão de 1892 – por cima da palavra "Rua" ficava a Estamparia do Bolhão, a que abaixo nos referiremos, e que ardeu em Julho de 1924 – por baixo da letra T de Thomaz, no quadrado escuro, ficava a Memória a D. Pedro V, a que abaixo aludiremos – por baixo das rampas ficava o tanque alimentado pela nascente (bolhão), que se vê na primeira foto deste lançamento – do lado esquerdo do mercado ficava a rua que se vê na foto abaixo – mais à esquerda foi desenhado o traçado do prolongamento da Rua de Sá da Bandeira entre as Ruas Formosa e Fernandes Tomás, que se pode ver 3 fotos abaixo tal como era em 1949.


Rua que ficava no lado Ocidental do Mercado do Bolhão – na parte inferior ficava a Rua Formosa - foto anterior a 1914 – em algumas das casas à esquerda ficavam as cocheiras do Americano da Cª. Carris de Ferro do Porto. Os muares eram trazidos para o início da rua e aí trocados pelos que deixavam o serviço. De tal forma estavam habituados, os muares, dirigiam-se directamente para as cocheiras sem haver necessidade de serem guiados por homens. Nesta foto ainda se vê em cima, a Estamparia do Bolhão. A foto foi tirada do 1º. Andar de uma casa da Rua Formosa, marcada com "A" na planta acima.


Mercado do Bolhão – anteprojecto de Casimiro Barbosa – 1910


Mesmo local de duas fotos acima – as casas e o Mercado do Bolhão foram destruídos e aberta a Rua de Sá da Bandeira entre as Rua Formosa e Fernandes Tomás, e reconstruído em 1914 – foto de 1949


Mercado do Bolhão em 1915 – Projecto do arq. Correia da Silva – Inaugurado em Julho de 1915 - Dada a sua grandiosidade o povo passou a chamar-lhe o "Palácio do Repolho" - Foto Alvão – vistas da Rua Formosa e Sá da Bandeira. 


No exterior da Praça do Bolhão, na esquina das Ruas de Fernandes Tomás e de Sá da Bandeira esteve a sucursal dos Armazéns do Anjo. Estes tinham a sede na Rua das Carmelitas. Pela publicidade exposta nesta casa depreende-se que, para esta zona, mandavam os artigos sobrantes e de saldo da sede, pois era uma zona mais popular. Reparar na variedade dos trajes dos personagens, que mostram profissões, estratos sociais diferentes, cestos e volumes à cabeça, pessoas apressadas e outras com todo o tempo do mundo, etc… 


Vista do lado da Rua Oriental do Bolhão, hoje Rua Alexandre Braga

Do lado oriental do antigo mercado do Bolhão existiu a rua desse nome em que havia lojas de louças e adelos e era muito pouco frequentada nos dias de semana. Porém, ao Domingo de manhã realizava-se aí a feira dos passarinhos que era muito concorrida. “Não havia portuense algum que ao Domingo, depois de tomar o seu cafezito, vestir as suas roupas domingueiras, não fosse à velha praça do mercado dar um passeiozito e visitar os passarinhos”. 
A primeira casa comercial tem escrito, sobre o toldo, "A Lacticínea".


Rua de Alexandre Braga





“13/2/1909 – O Clube Fenianos inicia as suas festas carnavalescas com a eleição da Raínha do Mercado do Bolhão, acto que reuniu muitos centos de pessoas e que decorreu, como quase sempre sucede em idênticas circunstâncias e por tratar-se, como realmente se tratava, da conquista de um trono e de um cordão de ouro, por vezes com demasiadamente virulenta animação. Das 3 candidatas ao título, Antónia Gonçalves de Oliveira conquistou o ceptro e, o que foi melhor, o cordão, oferecido pelo clube, no valor de 50$000 reis, mas, disseram as más línguas, graças à mais descarada chapelada que no referido mercado se viu...” In O Tripeiro, Série V, Ano XIV.



Excelente foto de Deolinda Keng


Vista aérea – anos 30 séc. passado  - além das Ruas Formosa, Sá da Bandeira, Alexandre Braga e Fernandes Tomás, vê-se, em cima à direita, os escombros da Estamparia do Bolhão e, à sua esquerda, a Fundição do Bolhão, que foi destruída aquando da abertura da Ruas de Sá da Bandeira entre Fernandes Tomás e Rua de Gonçalo Cristóvão. 


No local desta fundição está hoje o Palácio do Comércio - arquitectos David Moreira da Silva e Maria José Marques da Silva Martins – inaugurado em 1954 por Delfim Ferreira, Conde de Riba d'Ave - foto de Luis Santos em Olhares.sapo

Youtube – mercado do Bolhão
  https://www.youtube.com/watch?v=WAhbn8RJrmo

Caminhos da História - Joel Cleto
http://videos.sapo.pt/buNQsWIknTYqI4lNvFZE