quarta-feira, 30 de abril de 2014

IGREJA E TORRE DOS CLÉRIGOS - I

3.11.3 - Igreja dos Clérigos - I




Desenho de Gerard Michel (2012) in 
http/www.flickr.comphotosgerard_micheltagsporto

A Irmandade dos Clérigos Pobres de Nossa Senhora da Misericórdia, S. Pedro e S. Filipe de Nery nasceu da fusão da Confraria dos Clérigos Pobres de Nossa Senhora da Misericórdia, fundada em 1630, com a Irmandade de S. Filipe de Nery, fundada em 1665 e sediada na Igreja de Nossa Senhora da Graça do Colégio dos Órfãos e com a Irmandade de S. Pedro ad Vincula. 
Tendo surgido algumas dificuldades e vexações pelo facto de não terem um local próprio para as suas funções religiosas, resolveram em A. G. do dia 31/5/1731, erigir a sua própria sede.
A Igreja é externamente de forma octogonal. Internamente é elíptica à excepção do Altar Mor que se destaca do corpo.


Foi apresentada nesta A.G. a escritura de doação à Irmandade de “uma terra baldia aonde chamam a Cruz da Cassoa, que fica ao cimo da calçada que vai da Fonte da Arca até ao princípio do Adro das Oliveiras e entre este o muro da cerca do Real Recolhimento do Anjo da rainha Santa Isabel”.


Nessa assembleia deliberou-se que fosse mudado o título e como apareceram várias propostas lançou-se a sorte sobre estas três: Senhora do Socorro, Senhora das Necessidades e Senhora da Assunção, saindo favorável a esta última. Assim ficou a Virgem considerada a padroeira da Irmandade sob esta invocação. A festa da Irmandade é em 15 de Agosto. 


Em 13/12/1731 foi a obra de pedreiro arrematada no pátio da Misericórdia ao mestre António Pereira pelo preço de 33.000 cruzados.
A planta do edifício tinha sido feita pelo Arq. italiano Nicolau Nazoni, que dirigiu a obra toda. Faleceu em 30/8/1773 e, a seu pedido, foi sepultado nesta igreja, à qual dedicou muito tempo e trabalho. Durante alguns anos prescindiu de qualquer remuneração.
A primeira pedra foi solenemente lançada em 2/6/1732, na presença das autoridades civis e religiosas e grande multidão. Todos os sinos da cidade repicaram festivamente.
As obras começaram a seguir a bom ritmo, mas ao fim de algum tempo ficaram totalmente paradas. A razão deveu-se provavelmente a várias intrigas movidas pelo pároco a Igreja de Santo Ildefonso, preocupado com a concorrência que o novo templo vinha estabelecer. A expulsão do mestre pedreiro António Pereira, aliado do referido pároco e a sua substituição por Miguel Francisco da Silva não alterou grandemente o estado das obras. Em 1745, numa vistoria, não foram aprovados os alicerces da frontaria e decidiu-se então que tudo se desfizesse e fosse refeito com a grandeza que a obra parecia merecer.
A 28 de Julho de 1748, mesmo sem que o edifício estivesse totalmente terminado, a igreja seria aberta ao culto.


Calçada da Natividade e Igreja dos Clérigos


Igreja e Torre dos Clérigos – o eléctrico vai a subir pois o trânsito ainda se fazia pela esquerda - 1906


A meio da escadaria vê-se a porta da Capela de Nossa Senhora da Lapa, agora aberta ao público.


Só dois anos depois é que a fachada principal estaria pronta. A escadaria que antecede a igreja foi principiada em 1750 e as suas obras demorariam cerca de 4 anos.


Pormenor da frontaria


Pia de água benta


Anjo S. Gabriel


Foto de Porto 360º


Corpo da Igreja e Altar Mor


Devido às modificações radicais e ampliação de que foi alvo, em relação ao projecto primitivo, a capela-mor teve de ser totalmente reconstruída, de 1767 até 1773, seguindo-se outros pequenos arranjos, vindo as obras a ser dadas como inteiramente concluídas em 1779. 
A sagração da igreja, pelo bispo do Porto D. Frei João Rafael de Mendonça,realizou-se no dia 12 de Dezembro desse ano.
O retábulo da Capela Mor é de mármore, foi desenhado por Manuel de Santos Porto e custou 18.484$284 reis.
Em oratório colocado entre o sacrário e o trono estão as relíquias do mártir S. Inocêncio, oferecidas pelo Bispo D. Tomaz de Almeida em 1752.
Foram reitores da igreja D. Tomás de Almeida, primeiro Patriarca de Lisboa e D. Frei Maria da Fonseca e Évora, Bispo do Porto.


Na base do trono as imagens de S. Pedro ad Vincula e S. Filipe de Nery.
Durante muitos anos, desde o séc. XVIII e em diversas épocas, havia no Porto Lausperene todos os dias, em diferentes igrejas, tais como à terça feira nos Terceiros Carmelitas, à quarta na Igreja do Terço e Caridade, à quinta-feira na Capela das Almas, à sexta feira na Igreja da Misericórdia e no extinto Convento de S. Domingos até 1832, aos Domingos na Trindade. A Igreja dos Clérigos foi a única que manteve esta tradição aos sábados.


No cimo do Altar Mor destaca-se a imagem de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da Igreja.


Vista do Altar Mor para o corpo da igreja


Foto de José Neiva


Parte superior do Altar Mor

sexta-feira, 25 de abril de 2014

COLEGIADA DE CEDOFEITA

3.11.2 - Colegiada de Cedofeita



“Dos estudos realizados, tudo aponta para que as origens da freguesia, estejam associadas ao primitivo povoado que nasceu, se desenvolveu e prosperou à sombra tutelar da velhinha igreja românica, que ainda hoje existe no Largo do Priorado e que pertenceu a um convento de Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. O templo é, de facto, muito antigo. A sua construção é anterior à da própria Sé Catedral. Provavelmente trata-se da mais antiga igreja do Porto. Mais: com toda a probabilidade a velhinha igreja de Cedofeita já era gente, há muitos séculos, e Portugal ainda nem sequer existia politicamente. Aqui ocorreu a conversão em massa do povo Suevo, anos antes dos Francos, com Clóvis. Durante a vigência moura, a igreja de Cedofeita foi o único templo cristão da área de jurisdição sarracena em que, sem qualquer interrupção, sempre se celebrou o santo sacrifício da missa, mediante um tributo que os cónegos pagavam às autoridades mouriscas.


Na frontaria do templo, mesmo por cima da porta principal, está gravada no granito uma inscrição latina que dá o ano de 559 como o da fundação da igreja. O teor da inscrição e, sobretudo, a indicação daquele ano como sendo o da fundação do templo suscitou e alimentou, durante anos, uma apaixonada discussão entre historiadores e investigadores que acabou com a conclusão de que a inscrição é apócrifa, por tanto não verdadeira, e que terá sido ali colocada aquando de uma remodelação feita no templo e redigida sem qualquer fundamento histórico”. In Wikipédia – Ver a inscrição que o texto de ARC acima refere.


Estes capiteis, segundo o IGESPAR, serão do séc. IX, após a Pressúria por Vímara Peres em 868. São feitos de calcário brando da zona de Coimbra.
Do site do Arquivo Nacional da Torre do Tombo retiramos o seguinte texto: “A Colegiada de São Martinho de Cedofeita pertencia ao bispado do Porto. 
A data da fundação do Mosteiro de Cedofeita, que precedeu a igreja colegiada permanece imprecisa, bem como o seu fundador. 
A igreja românica data dos princípios do século XII. Antes de 1118, a colegiada tinha prior, designado por abade. Os cónegos viviam em comum, segundo a regra de Santo Agostinho. Secularizou-se em 1191, no tempo de D. Martinho, bispo do Porto. 
Em 1237, em Setembro, Nuno Soeiro, prelado da igreja de São Martinho de Cedofeita concedeu-lhe foral. 
A existência do couto está provada, pelo menos, desde meados do século XIII, constando nas Inquirições Gerais de D. Afonso III, de 1258. 
O padroado de Cedofeita fez parte de uma doação de vários padroados de igrejas do Minho, com suas jurisdições, direitos e servidão feita por D. Berengária Aires ao bispo do Porto, em 12 de Agosto de 1302. 
A vida em comunidade permaneceu até 1504. Em 31 de Outubro, por provisão do bispo D. Diogo de Sousa, os bens comuns da Colegiada foram divididos, atribuindo dois terços ao abade, ou mesa prioral, e um terço aos cónegos. Mandou dividir ao meio os emolumentos paroquiais, por serem todos compárocos. 
No tempo do deão Duarte da Cunha d'Eça, pelo facto da Igreja Colegiada se encontrar em lugar ermo e despovoado, as dignidades e cónegos de Cedofeita dirigiram uma petição ao bispo do Porto, D. Rodrigo Pinheiro, pretendendo mudar-se para a rua de São Miguel, lugar de uma antiga sinagoga, no interior do burgo. Em 1571, por despacho de 7 de Janeiro, o bispo solicitou um parecer ao Cabido. A 19 de Março, a resposta deste apontava inconvenientes que o bispo mandou registar por despacho de 22 de Maio. Tratava-se de um lugar muito próximo da Sé. 
Em 1748, D. Frei José Maria da Fonseca e Évora, bispo do Porto, era comendador da Insigne colegiada de São Martinho de Cedofeita e prior do Mosteiro de São Pedro de Ferreira. 
Em 1835, teve início uma questão sobre as terras da Colegiada relativamente às quais se opunham os representantes da Coroa, defendendo que tinham sido dadas à igreja por D. Afonso I, e os da Colegiada que defendiam que lhe pertenciam já antes da fundação de Portugal, sendo de origem particular. 
Após a extinção das colegiadas pela Carta de Lei de 16 de Junho de 1848, Instrução do cardeal patriarca de Lisboa, de 17 de Setembro, só foram conservadas as colegiadas insignes: de São Martinho de Cedofeita, de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães, de Santa Maria da Alcáçova de Santarém, da real capela de Vila Viçosa, da real capela do Paço da Bemposta, de São João Baptista de Coruche, de Santa Maria de Barcelos, de Santo Estêvão de Valença do Minho, extintas pelo Decreto de 1 de Dezembro de 1869, art.º 1.º. Os rendimentos e benefícios que fossem vagando, eram aplicados para sustentação do culto e do clero”. 


Zona de Cedofeita – Este mapa mostra a Rua e Avenida da Boavista desde Santo Ovídio à Praça da Boavista - mapa de Telles Ferreira – 1892

Igespar – texto sobre a igreja românica 

A Colegiada de Cedofeita tinha rendimentos avultados, pois o seu couto era vasto e muito fértil. A área que lhe pertencia foi integrada na cidade em 1710, juntamente com Massarelos, que até aí também pertencia à Colegiada. Porém, esta manteve-se separada da diocese até 1910. Em 1907 o prior queixava-se de grandes dificuldades económicas pelo que estava ameaçada de ruína, pois o local era pouco povoado. Alguns priores foram personalidades importante, tais como D Gonçalo Pereira deão da Sé do Porto, Arcebispo de Braga e depois de Lisboa e que era avô de S. Nuno de Santa Maria; no séc. XVII e D. Henrique que foi Arcebispo de Braga, de Évora e depois Cardeal e Rei de Portugal.


Igreja de Cedofeita – foto de Frederick Flower – 1849-1859


Desenho de Nogueira da Silva - 1861 - à esquerda o cemitério e á direita a casa da Colegiada.



Claustro - foi demolido em 1935 - foto Alvão




Nos anos 30 do séc. XX realizaram-se obras com a intensão de repor muitos monumentos tal como estavam no seu estado inicial. Em Cedofeita foram retiradas todas as construções envolventes, inclusive o claustro dos séc. XVII e XVIII. É nossa opinião que certas alterações ao desenho inicial não deveriam ser destruídos. Exemplo deste claustro, talhas belíssimas do séc. XVIII etc. O mesmo aconteceu em outros monumentos, como na Catedral.













Boletim de Dezembro de 1935 onde consta a História da Igreja, desde o início, da restauração de 1935, plantas e fotos de antes e depois da restauração.


Destruição da Igreja do Convento de S. Bento de Avé Maria – Aurélio Paz dos Reis 1902 – o órgão desta igreja foi comprado pela Igreja do Bonfim por 601$000 reis. O maior sino está na Capela dos Franciscanos da Rua dos Bragas. 


Dada a exiguidade da igreja românica decidiu-se construir uma nova no início do séc. XX. Para tal pretendia-se aproveitar muitos materiais da Igreja de S. Bento de Avé Maria. 
No dia 6/2/1897 foram cedidos terrenos do Priorado para a sua edificação, acto que os sinos repicaram festivamente e foram queimadas girândolas de foguetes. Nesse mesmo ano o arq. Marques da Silva apresentou o projecto. No dia 1 de Outubro de 1899 o Bispo D. António Barroso presidiu à cerimónia da bênção e colocação da primeira pedra.
Na construção da igreja utilizaram-se alguns materiais do extinto convento da Avé Maria, demolido para dar lugar à estação ferroviária de S. Bento. Para o novo templo foram também cedidas imagens, alfaias e paramentos que eram da igreja do extinto convento.
No dia 8 de Dezembro de 1906, o bispo D. António Barroso celebrou a primeira missa numa dependência improvisada em capela. Mais tarde esse local seria destinado a cartório paroquial.
Entre 1925 e 1932, paroquiou a igreja de Cedofeita António Valente da Fonseca, que viria a ser bispo de Vila Real. Foi ele que deu continuidade às obras da nova igreja, concluindo a capela-mor e o coro que foram inaugurados em 11 de Novembro de 1929.
Porém, o projecto inicial de Marques da Silva nunca foi concluído.


Só em 1974 foi inaugurada a actual Igreja Paroquial. Na decoração do interior, ressalta o trabalho da equipa do mestre Júlio Resende.


Torre sineira


Órgão

Igrejas de Cedofeita


O Largo do Priorado foi o grande beneficiado pelas obras de 1935 - foto da Junta de Freguesia.