6.1.18 - Praça da Ribeira, Rua de S. João e vistas do Porto
Planta da Ribeira e da Rua de S. João – 1765? – Neste tempo ainda a Rua da Fonte Taurina se chamava Rua Aurina
Segundo a Toponímia Portuense de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas “a Nova Rua de S. João, como primeiro se chamou ( e ainda na Planta redonda de Balck, em 1813, tem esta designação), começou a abrir-se em 1765, mas logo surgiram grandes dificuldades e consequentes pleitos por motivo das expropriações, principalmente levantadas pelos senhorios dos prédios enfiteuticos. Resolveu-as El-Rei D. José, em 1769, determinando por alvará régio um processo sumário para tal fim...Ainda em 1784 se cuidava dos alinhamentos da rua. O Padre Agostinho Rebelo da Costa refere-se-lhe já na sua Descrição Topográfica e Histórica da cidade do Porto, em 1789. O nome de S. João foi-lhe dado, cremos, em homenagem a João de Almada. Era, como todos sabem a rua de maior comércio no séc. XIX”
Praça da Ribeira – carros de bois esperando a sua vez de carregamento.
Esta foto é raríssima, pois está invertida. Vê-se a R. de S. João á direita e a dos Mercadores à esquerda.
Fins séc. XIX princípios séc. XX
c. 1900
1906
O projecto da parede e do tanque foi desenhado por John Whitehead (1726-1802), que foi cônsul da Inglaterra no Porto.
Neste nicho esteve a imagem de S. Pantaleão, antigo padroeiro do Porto, desde 2000 está uma de S. João, de Cutileiro – a mesma D. Etelvina disse-nos que, no próprio dia da inauguração o povo do lugar lhe chamou " Quim Bareiros", pois tem um acordeão e, coitado, não tem pés, pelo que não pode fugir daquele incómodo local - a água vinha da Arca de Malmajudas, que ficava para o lado dos Guindais.
Carro de bois na Rua de S. João
“A São João dos armazenistas de mercearias e de carros de bois estacionados na berma da rua a carregarem caixas de sabão, sacos de arroz e de açúcar e quintais de bacalhau miúdo e graúdo para as mercearias do Porto e arrabaldes. A Ribeira típica e com caras conhecidas e estabelecidas nas arcadas do Muro dos Bacalhoeiros com lojas de venda de secos e molhados onde se incluíam as postas de bacalhau a dessalgar na água, o polvo seco e fresco, sardinhas, caras e línguas de bacalhau salgadas, em barricas, cebolas, alhos e azeitonas em salmoura expostas em grandes alguidares de barro. Por ali cheirava a sardinha, carapau e sável frito e a iscas de bacalhau.” In Porto Tripeiro
Em 1981, após a reabilitação - Dado o aspecto festivo admitimos que seja na inauguração do Cubo de José Rodrigues.
O Cubo – obra de José Rodrigues
O cubo da Ribeira – José Rodrigues disse: “ …do polémico “Cubo” da Praça da Ribeira, escultura que se viria a transformar numa das mais características e representativas da cidade, e cujo nome lhe foi atribuído pela população. “No início, a obra sofreu alguma contestação o que acabou por ser positivo. Significa que houve comunicação”, defende o artista, salientando que o objectivo foi o de fazer algo inovador. “Pensei numa coisa diferente dos temas a que sempre se recorria - estátuas de mulheres nuas, bombeiros ou cavalos. E porque não um cubo com um jacto de água de forma a dar a ideia de que o pequeno jacto pudesse pôr em suspenso aquelas duas toneladas de bronze?”, questionou-se. A ideia avançou e, actualmente, o “Cubo” é um orgulho para os portuenses e um símbolo indissociável daquela zona da cidade. “Hoje, os moradores da Ribeira referem-se ao Cubo como «nosso», conta”.
Uma residente da Ribeira desde nascença, a D. Etelvina, contou-nos que, em 1975, no próprio dia em que foi descerrado “o cubo”, o povo logo lhe chamou “a caixa de bolacha Maria”, pela semelhança com as antigas latas em folha-de-flandres.
Praça da Ribeira, Rua de S. João, saída do Rio da Vila e Torre dos Clérigos.
Nesta vista mais alargada ainda se pode ver a Igreja de S. Lourenço e o Seminário Maior, á direita, a Cadeia da Relação, hoje Museu da fotografia, as torres do Convento de S. Bento da Victória e as traseiras da P.J e da Igreja da Victória, à esquerda.
1960
Encontrámos um interessante testemunho de Jorge Coelho, que nos conta aquela Ribeira que existia nos anos 50, e que tantas vezes foi visitada pelo Padre Américo. Por ali passava todas as semanas e descrevia de forma tão impressionante a sua pobreza e miséria;
"A Ribeira" Há poucos anos, a Ribeira era marginal; não porque se tratasse de local mal-afamado situado à beira-rio mas porque, de algum modo, a generalidade da população do Porto ignorava esta zona típica da cidade como possível cenário de lazer, encontro ou convívio, com o Rio Douro a oferecer-se ao desfrute e descanso dos olhos e do espírito. A Ribeira nunca foi uma zona perigosa. Em todo o caso, a Ribeira não fazia parte, por exemplo, do «passeio dos tristes» dos portuenses, mais «vocacionados» para o sobe-desce de Santa Catarina, 31 de Janeiro ou Clérigos, ruas de comércio, de montras enfeitadas de tentações utilitárias ou de ostentação, que os mirones podiam ver, e já era alguma coisa, para sonhos que a escassez das bolsas nunca permitiria se transformassem em realidade. A Ribeira era pouco mais do que «uma coisa lá para baixo», um sítio onde viviam pobres e trabalhadores do rio, sem interesse para o turismo. A Ribeira vivia a sua vida, cumpria a sua história, diariamente protagonizada pelos seus habitantes, gente ligada à faina fluvial, vendedeiras de mercado, crianças esfarrapadas ou seminuas, nuas às vezes, quando o tempo chamava ao banho no rio e aos saltos do tabuleiro inferior da ponte. Meia dúzia de tasquinhas, um ou outro restaurante mais «limpinho», a tirar partido do tipicismo da zona: na Ribeira não havia mais nada que justificasse a permanência, sobretudo à noite. Hoje, a Ribeira não é o que era, entregue ao turismo. Está tudo disperso, foram as pessoas para os bairros, o do Aleixo, o do Regado, o da Pasteleira, etc.. Bem sei que no meu tempo de catraio havia muita miséria, vivia tudo a monte. Havia os paquetes... Os paquetes eram casas com andares todos subdivididos e cheios de gente, eram autênticas ilhas ao alto, umas verdadeiras colmeias onde se vivia aos magotes, em promiscuidade e sem condições nenhumas, a água ia-se buscar ao corredor, a uma torneira. Quando havia água. Um dos paquetes, a que chamávamos da Rosa Padeira, ficava na Rua da Fonte Taurina. Fominha não faltava. A fome fazia parte da nossa vida, meus pais trabalhavam muito e ganhavam pouco, punham-se objectos no prego. Era normal estrear-se roupa comprada a prestações. A vida melhorou, existem melhores condições de habitação, vive-se melhor, mas temos a outra face da moeda, perderam-se as relações de vizinhança, perderam-se valores de humanidade. A Ribeira tem turismo, com restaurantes de luxo, está retocada, mas ferida de agressão vil pelo «senhor dinheiro», que não respeita valores, que retira os seus poucos moradores para os bairros sociais. Pergunto o que será feito daqui a poucos anos da identidade genuína deste povo que nasceu e viveu e quer acabar os seus dias na Ribeira e S. Nicolau.”
Reconstrução de casas da Ribeira – CRUARB 1984
Quando há anos se restauraram algumas casas dos sécs. XVII a XVIII, na Praça da Ribeira, e onde está o Hotel Pestana, foram encontradas paredes da antiga Muralha Fernandina.
Hoje este hotel pertence ao grupo Pestana.
Foto de Henrique Melo – 2014
2014 – foto de Diogo Fernandes
2013 - foto TAF
1/8/2015 – foto de Francisco Trigueiros Cunha - 2015
Fotografia do Porto a preto e branco em que o autor se divertiu a pintar de vermelhos alguns telhados- 1900
Paço Episcopal, Seminário Maior, elevador da Lada, Capela da Lada – foto Anna Fernandes
O Porto e a sua imagem
Zona da Ribeira e ponte Luis I - video
Bela foto, tirada da Ponte Luis I, com uma belíssima iluminação - visível o Palácio a Bolsa, as torres do Convento de S. Bento da Victória, a torre da Igreja da Victória e a Ponte da Arrábida – foto Carla Reis.
Motocross na Ribeira – 2012