sábado, 29 de setembro de 2012

BAIRROS DA CIDADE - XII

 
2.3.2 - Bairro da Victória - VI
 


Igreja de S. Domingos – Joaquim Villanova -1833 – destruída em 1835 por ordem de Ferreira Borges. Este pretendia alargar a rua, que veio a ter o seu nome, com a finalidade de fazer, no local do Convento de S. Francisco, a sede da Associação Comercial do Porto (Palácio da Bolsa).
Trataremos em pormenor o Convento de S. Domingos em lugar próprio.
 
 
 
"Explicação:

As letras A. B. C. D. na Planta mostrão huma pequena Praça publica, Projectada por baixo de S. Domingos. A. D. I. G. mostrão outra Planta de uma Praça Projectada triangularmente e de mayor tamanho, em que se inclui a direcção da Rua S, João atté à esquina da Igreja da Misericórdia, terminada pela letra X. Na mesma Planta: e afin de effectuar a execução deste último projecto he preciso cortar as casas, incluídas nos três triângulos = D.C.I. = G.M.L. = e A.E.F. na planta ou escolher a pequena praça por baixo de S. Domingos. Foi projectado em 1774 pelo cônsul de Inglaterra.”    
 

Em 1834 iniciaram-se obras de adaptação à filial do Banco de Portugal. Foi ainda a sede da Companhia de Seguros Douro.
 

Largo de S. Domingos – a Sé ainda tem o relógio entre as torres – Foto Domingos Alvão

 
Frontaria da Sé no Séc. XVIII - Ainda tem o relógio
 

Largo de S. Domingos – vê-se a antiga fonte onde estava a imagem de Santa Catarina e a centenária casa Araújo & Sobrinho, onde esta imagem se encontra.
 

 

Imagem de Santa Catarina que estava na Fonte de S. Domingos.
A Rua das Flores chamou-se Rua de Santa Catarina das Flores.
 
 
 

Uma curiosidade: no Largo de S. Domingos, 80 existiu o primeiro elevador mecânico do Porto. Foi mandado construir por José Gaspar da Graça em meados do séc. XIX. A sua casa tinha 5 andares e era uma das mais altas do Porto. Era movido por homens que usavam uma manivela para o movimentar. Porém, com medo de algum acidente os moradores preferiam subir e descer a pé. Assim, não teve grande uso. A casa foi mais tarde ocupada pela firma Araújo e Sobrinho, que o ofereceu, já em meados do séc. XX, ao malogrado museu de Etnografia e História do Porto, onde ainda pudemos aprecia-lo. Só tinha capacidade para uma pessoa.
 
 
Brasão dos Cunha Pimentel - séc. XVIII - esquina do Largo de S. Domingos e Rua das Flores. Nesta casa nasceu, em 1904, o poeta Pedro Homem de Melo - blog de Manuel José Cunha 
 
 
Largo de S. Domingos
 
 
Foi a frontaria do Convento de S. Domingos, filial do Banco de Portugal, Companhia de Seguros Douro e desde Junho de 2012 é o Palácio das Artes - Fábrica de Talentos 

 
Fundada em 1804 - maravilha da arte do ferro
 
 
Palacete dos Pacheco Pereira 

Este imóvel em estilo barroco terá sido mandado edificar na Rua de Belomonte por Pedro Pacheco Pereira, na primeira metade do século XVIII. No século XIX, o palacete recebia com assiduidade figuras proeminentes da sociedade portuense mas, após a morte de João Pacheco Pereira, entrou em decadência. Foi comprado em 1888 pela Companhia dos Caminhos-de-Ferro Através de África. Hoje encontra-se aí a Escola Superior Artística do Porto.


 
Tecto de madeira do palacete

 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

BAIRROS DA CIDADE - XI

 
 
2.3.2 - Bairro da Victória - V
 


Rua de Cedofeita - 1952
A Rua de Cedofeita foi aberta em 1762, integrada no vasto plano de renovação urbanística posto em prática por João de Almada e Melo, através da Junta das Obras Públicas. O plano tinha como objetivo relacionar a zona portuária ribeirinha com a alta da cidade, através da "regularização e criação de eixos de escoamento, bem como a sua articulação transversal". Entre as vias mais importantes encontrava-se a então denominada "Rua da Estrada", hoje Rua de Cedofeita. Era a estrada para a Póvoa e Viana.
 

 
Rua de Cedofeita – início lado Sul
 
 
Durante o cerco, 1832/33, D. Pedro IV viveu no Palácio dos Carrancas, actual Museu Soares dos Reis, mas devido ao ataque da artilharia Miguelista, mudou-se para casa da Rua de Cedofeita 395 (acima vista da frontaria e das traseiras). Foto de A Vida em Fotos

 
Praça Carlos Alberto em 1907 – antigo Largo dos Ferradores – à esquerda o Hospital do Carmo
 
 
Desde tempos imemoriais, mas não sempre no mesmo sítio que se efectuavam nesta cidade duas feiras anuais de moços e moças da lavoura. Uma para os trabalhos de verão; outra para os de inverno. A primeira realizava-se no mês de Abril; a segunda em Novembro. Como é mais ou menos sabido, um dos lugares em que mais tempo se conservou esta feira, foi no Largo dos Ferradores (actual Praça de Carlos Alberto), para onde tinha sido removida em Abril de 1858. No ano de 1876, todavia, por determinação camarária, levaram-na para a Rotunda da Boavista; e, mais tarde, estacionou ainda na Praça da Corujeira. Igualmente no Largo dos Ferradores em tempos mais recuados (1676), se efectuava uma feira de gado, feira esta que também conheceu vários locais. Em 1838, por exemplo, realizava-se no Campo Grande, próximo do Poço das Patas. Já que falamos em feiras, diremos que a da erva e palha funcionou, durante longos anos, juntamente com a feira da madeira, na Praça das Hortas. Daqui, em 1823, transitou para a Praça do Mirante (Coronel Pacheco). Anos depois, implantaram-na na Praça da Batalha; a seguir foi para o mercado do Bolhão. Em Outubro de 1838, saltou ainda para a Alameda do Postigo do Sol, junto do mirante das freiras de Santa Clara; e por último voltou novamente para o Bolhão onde finalmente se conservou até à sua extinção.
 

Carlos Alberto – ilustre exilado no Porto em 1849


 
Palacete dos Viscondes de Balsemão é um edifício histórico mandado construir, em meados do século XVIII, pelo fidalgo José Alvo Brandão Perestrelo Godinho. Entra no património da família Balsemão por casamento de D. Maria Rosa Alvo com seu primo Luis Mâximo Alfredo Pinto de Sousa Coutinho, 2.ºVisconde de Balsemão. Na década de 1840 António Bernardino Peixe alugou o palacete, transferindo a hospedaria que tinha na Rua do Bonjardim para este local. O que celebrizou esta hospedaria foi a estadia, entre 19 e 27 de Abril de1849, do exilado rei Carlos Alberto da Sardenha, antes de ir para a Quinta da Macieirinha, onde viria a falecer em 28 de Julho do mesmo ano. Em 1854, o palacete foi adquirido pelo 1.ºVisconde da Trindade, José António de Sousa Basto, grande proprietário e capitalista, que introduziu profundas alterações no edifício, vindo a casa a atingir o maior esplendor que se lhe conhece. Actualmente, aqui funcionam alguns serviços da Câmara Municipal do Porto nomeadamente a Direcção Municipal de Cultura.
 
 
Monumento aos mortos da Grande Guerra - obra do arquitecto Manuel Marques e do escultor Henrique Moreira – 1928



Este monumento de autoria do escultor José de Oliveira Ferreira foi erigido no mesmo local a 11 de novembro de 1924 por iniciativa da Junta Patriótica do Norte e que a Câmara Municipal do Porto mandou demolir em 15 de janeiro de 1925. Foi muito criticado por ser considerado muito feio.
 

Igreja de Nossa Senhora do Carmo e Hospital
Sobre esta igreja trataremos em lugar próprio
 
 
Rua dos Caldeireiros – antiga da Ferraria de Cima
 


Confraria de Nossa Senhora da Silva – Rua dos Caldeireiros – blog Poplex
Esta rua teve o nome de Ferraria de Cima até 1780
Sobre a confraria daremos mais informações em lugar próprio
 
 
Belíssimos azulejos na Rua dos Caldeireiros nº. 100

 


 

sábado, 15 de setembro de 2012

BAIRROS DA CIDADE - X

 
2.3.2 - Bairro da Victória - IV


Embora a Praça da República não pertença ao Bairro da Victória, pareceu-nos natural incluí-la neste bairro, por nela terminar a Rua do Almada, sendo a sua natutal sequencia.

Em 1790 Francisco de Almada e Mendonça mandou abrir, por ordem da rainha D. Maria I, uma praça no antigo campo de Santo Ovídio. Começou por chamar-se Praça ou Campo de Santo Ovídio dada a existência de uma capela, a Capela de S. Bento e Santo Ovídio, que foi construída pelo Dr. João Carneiro de Morais e sua esposa no ano de 1665, em terreno da sua Quinta da Boavista, que mais tarde, se chamou de Santo Ovídio. A capela foi destruída nos anos 90 do século XVIII.


Santo Ovídio – de origem siciliana, foi enviado para Braga no ano de 95 pelo papa Clemente I, e martir em 135 - patrono das dores de ouvidos e dos maridos infieis.

 

Esteve prevista a abertura de uma rua, em frente à Rua de Gonçalo Cristovão, mas que, por motivos de não acordo entre proprietários de casas a destruir e a câmara, nunca foi aberta. Alguns anos depois foi aberta a Rua de Álvares Cabral, como trataremos aquando da Quinta de Santo Ovídio.

Nesta praça verificaram-se vários acontecimentos importantes da nossa História, que deram origem a outras designações.


António Bernardo de Costa Cabral
Em consequência da insurreição militar de 1 de Maio de 1851, que provocou a queda de Costa Cabral, passou a chamar-se Campo da Regeneração.
 
 
Em 24 de Agosto de 1820, foi desta praça de saíram os revoltosos liberais. Fernandes Tomaz foi o criador do Sinédrio, deputado e presidente da Assembleia constituinte em 1820. Pormenor do quadro na Assembleia da Républica, em que se vê F.T. a discursar na Assembleia Constituinte de 1821.

Proclamação da República em 31 de Janeiro de 1891 por Alves da Veiga.
 
“No dia 31 de Janeiro de 1891, eclodiu no Porto um levantamento militar que, motivado e contrário à cedência do Governo e da Coroa ao Ultimatum de 1890 imposto pela Inglaterra, pretendeu instalar um governo provisório e chegou mesmo a proclamar a República na Praça da Liberdade.
A liderar e a impulsionar a então designada «Revolta do Porto», apoiando as forças reunidas e comandadas por capitão Amaral Leitão, alferes Rodolfo Malheiro e tenente Coelho, destacaram-se, entre outras consideradas figuras intelectuais da época, Alves da Veiga, Basílio Teles, João Chagas, Paz dos Reis, Sampaio Bruno e Verdial Cardoso.
Após empolgante percurso desde a actual Praça da República até à entrada na Praça da Batalha, os revoltosos foram inopidamente parados por um poderoso ataque da Guarda Municipal que, posicionada na escadaria da Igreja de Santo Ildefonso, abriu violenta descarga fuzilante sobre a multidão em marcha, tendo-se aí registado, entre mortos e feridos, à volta de meia-centena de vítimas, o que desde logo intimidou e obrigou à dispersão das hostes revolucionárias.
 Em severo rigor repressivo, os implicados na gorada intentona, cerca de 700 revoltosos civis e militares, foram sumariamente julgados por Conselhos de Guerra instalados a bordo de navios estacionados ao largo de Leixões e sentenciados a penas que oscilaram entre 18 meses e 15 anos de reclusão.
 Daqui e em memórica honra do ocorrido, logo que a República foi enfim decisivamente proclamada em 1910, entre as diversas ruas da cidade que tomaram o nome das mais importantes figuras revolucionárias, a rua de Santo António, que ascende da Estação de São Bento à Batalha, passou a chamar-se 31 de Janeiro.” Do J.N.
 
 
 
Principais revoltosos do 31 de Janeiro
 
 
 
Já lá vão mais de 200 anos de mudanças de nomes, mas os portuenses ainda a designam somente por CAMPO!

 
Cerca de 1900
 
 
Missa Campal em 1908, em frente ao quartel de Santo Ovídio
 
 
 
 

Teófilo Braga - Pintura de Martinho da Fonseca
Na Praça da República, depois de ter servido de parada e local de treino militar, foi implantado, em 1915/16, o Jardim de Teófilo Braga(1843/1924), que foi escritor, poeta e político. Foi Presidente da República de 29 de Maio a 4 da Agosto de 1915.
Há jardins do Porto aos quais foram dados nomes de personalidades a quem se pretendia homenagear. Mas a verdade é que acabaram por “matar” a sua memória. Este é um exemplo disso. Quem se lembra ou diz que vai ao Jardim de Teófilo Braga? Melhor seria que tivessem dado o nome deste escritor e político a uma rua, mesmo de menor importância. Também podemos referir o Jardim de João Chagas, no Largo da Cordoaria ou ao Jardim Carrilho Videira, o popular Jardim do Carregal!

Nele foram plantadas árvores e canteiros, bem como várias esculturas decorativas e evocatívas.



Baco – de António Teixeira Lopes – 1916
 
 
Rapto de Ganimedes – Fernandes Sá . Lamentavelmente esta escultura foi retirada do jardim para, no seu local, ser colocada a estátua comemorativa do centenário da república. Perguntamo-nos porque a não passaram para outro local do jardim! Onde pára? Onde pensam coloca-la, se pensam isso?
 

Memória ao Padre Américo (23 de Outubro de 1887/ 16 de Julho de 1956), importante figura da Igreja e de Portugal pela sua Obra da Rua, dedicada aos rapazes abandonados, Casa do Gaiato, aos desalojados, Património dos Pobres e aos doentes terminais e abandonados, O Calvário. O escultor foi Henrique Moreira, 1959.
No Porto houve outra figura importante neste campo, foi o Padre Baltazar Guedes, no séc. XVII, de que trataremos aquando do Colégio dos Orfãos.
 

Centenário da implantação da República, de Nuno Marques

 
Principais saídas da cidade em 1848. João e Francisco de Almada foram os criadores da expansão da cidade para Norte.

 

sábado, 8 de setembro de 2012

BAIRROS DA CIDADE - IX

 
                          2.3.2 - Bairro da Victória - III                       
 


Sendo nossa intenção escrever sobre a Rua do Almada, pareceu-nos que antes de a apresentar, deveríamos fazer as considerações que se segue.

Na sua importantíssima obra sobre o Porto do séc. XVIII, A.R.C., surpreendentemente, não se refere uma só vez a João de Almada e Melo. Tanto no urbanismo como nas estruturas política, económica e cultural, João de Almada e Melo e seu filho Francisco de Almada e Mendonça foram os impulsionadores das grandes transformações que se deram na cidade na segunda metade do séc. XVIII e primeiros anos do XIX. Na História do Porto coordenada pelo Professor Oliveira Ramos lemos: “Na segunda metade do séc. XVIII, momento de grande dinamismo económico e demográfico, urgia resolver três problemas centrais, cuja solução irá constituir o cerne das realizações urbanísticas da Junta das Obras Públicas. Tratava-se de dar dignidade e monumentalidade à Praça da Ribeira, centro comercial da urbe, e de melhorar as comunicações entre esse centro e a zona alta da cidade, cada vez mais populosa. Paralelamente, tornava-se necessário ordenar o crescimento da zona extramuros, que estava a processar-se de uma forma rápida e desorganizada… Com a abertura de novas ruas, pretende-se não só definir as grandes linhas de expansão da cidade extramuros, mas ainda facilitar as principais ligações entre a cidade e o seu “interland. Assim, as novas vias integram-se num plano mais geral de regularização das velhas estradas que ligam o Porto a Braga (Rua do Almada - Campo de Santo Ovídio – Rua do Sério), à Póvoa (Cordoaria – Praça dos Ferradores – Ruas de Cedofeita – Carvalhido), a Penafiel e ao Douro (Batalha – Rua de Santa Catarina – Praça da Aguardente)… O crescimento do Porto e o alargamento e centralização das funções do Estado na perspectiva do despotismo esclarecido, obrigam à implementação de novos organismos e equipamentos públicos em domínios diversos, desde a assistência ao ensino, do policiamento ao abastecimento e à organização económica”. De referir que foi sob o seu governo da cidade que se reconstruiu a Cadeia e Tribunal da Relação, e se edificaram o Hospital Novo da Misericórdia, hoje Hospital de Santo António, o Quartel de Santo Ovídio, a Academia de Marinha e Comércio, o Real Teatro de S. João e outras importantes obras.
Porém, não nos parece tão surpreendente este silêncio de A.R.C. sobre João de Almada, pois estamos convencidos que uma boa parte da população não apoiava as medidas que estavam a ser tomadas pelo governador por razões várias:
- João de Almada e Melo foi enviado para o Porto, que conhecia bem e onde tinha uma residência, pelo “todo-poderoso” Marquês de Pombal com a primeira função de “descobrir” e castigar os responsáveis pela Revolta dos Taberneiros, o que fez zelosamente, seguramente demasiado. Foram condenados 478 réus, dos quais 26 à pena de morte e efectivamente enforcados 17. Em lugar próprio trataremos mais pormenorizadamente esta tragédia. Foi, portanto um início de governo muito impopular.
- O povo da cidade desconhecia os planos das grandes transformações, pois estes estavam restringidos aos gabinetes dos dirigentes.
- As construções das novas vias exigiam grandes demolições e incómodos, tais como, muitos desalojados e avultados prejuízos para as famílias atingidas.
- A Junta das Obras públicas era subvencionada pelo imposto de um real por cada quartilho (1/2 litro) de vinho que entrasse na cidade, o que novamente aumentou o preço deste produto tão consumido e importante na economia familiar. Lembremos que quando da fundação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, poucos anos antes, o vinho já tinha sido aumentado e foi a razão da Revolta dos Taberneiros.
- Vivia-se em Portugal um período de absolutismo muito duro e castigador, o que era contrário ao centenar espírito livre dos portuenses. O Almada representava-o na sua política intransigente e policial.
- O povo do Porto sempre quis e conseguiu governar-se a si mesmo, apesar de muitas lutas e disputas com o poder central e episcopal. Neste caso estava a ser dominado por um absolutista comandado por Lisboa, tendo junto de si muitas pessoas da sua confiança e algumas não portuenses.
- “ … Sabe-se que houve pelo menos uma pertinaz e eficiente campanha de silêncio, campanha de sistemático esquecimento de João Almada e sua obra… opinam alguns ser esse propósito movido por causa política, acionado pelos partidários da “viradeira” (Março de 1777, quando Pombal pediu a demissão a D. Maria I): muitos, por ressentimento mais que legítimo, em desforço das violências perpetradas pelo “homem de pedras no coração”, e que era o compadre e o esteio de João Almada; outros apenas por interesse pessoal, costas voltadas ao passado, peito egoísta virado ao sol nascente. Fosse como fosse, certo é que o nome de João Almada foi obscurecido, quase apagado da memória pública portuense, para só reflorir na terceira década de oitocentos aquando da ressurreição do nome, também bem afundado no esquecimento popular, do próprio Sebastião Carvalho.” In O Tripeiro, Série VI, Ano XII.
- É significativo que não exista qualquer representação, pictórica ou outra, de João Almada. O militar inglês Arthur William Costigan (em Cartas sobre a sociedade e os costumes de Portugal - 1778/9, traduzidas por Augusto Reis Machado), que viveu no Porto em casa do consul John Witehead, dá-nos dele a seguinte descrição: “Sua Excelência é de muita idade e parace-se muito com um esqueleto; tem o corpo fraco e pequeno, nariz em bico de águia, acentuadamente curvo. Lamenta assiduamente os pecados da mocidade, melhor, o pecado, pois no respeitante a excessos a gente deste paíz só conhece um; foi este, confessa ele, que o reduziu a tão deplorável situação. É diminuta a sua capacidade e não dispõe de talento, embora lhe sobre boa vontade e o desejo de exercer o cargo com imparcialidade. Pratica todo o bem que pode e não faz mal a ninguém, apesar de muitas vezes poder fazê-lo. Eis uma rara e louvável qualidade, pois a maior parte dos portugueses, quando investidos de autoridade exercem-na plenamente, fazendo aos outros o maior mal que podem".   
- Por todas as razões que expusemos, não nos surpreende que o Padre Agostinho Rebelo da Costa, um conservador avesso a grandes mudanças, considerasse João de Almada e Melo personagem não recomendável, daí o seu silêncio “ensurdecedor” pela sua impossibilidade de escrever contra ele.

Por curiosidade referimos o seguinte: João de Almada casou, aos 48 anos , com D. Ana Joaquina de Lencastre, em 1752. Do casamento nasceram dois filhos, tendo sido seu sucessor no cargo de Corregedor o segundo, Francisco. O mesmo Arthur Costigan descreve D. Ana Joaquina e seus filhos da forma seguinte: “ Bondosa e cortês, alta e bem feita, outrora bela, pintada até às orelhas e por toda a parte, cobrindo-se de pó de arroz para disfarçar a pintura. Apesar dos seus numerosos filhos de três maridos (dois, na verdade), pois foi muito pretendida pelas suas qualidades pessoais e pela sua nobre ascendência, ainda é bela. Esses 20 filhos são notáveis: os rapazes por uma estupidez que resistiu a todos os professores, embora, devido à influência materna, ocupem lugares importantes na Igreja, no Exército e na Justiça (o que não inibe a incapacidade dos mesmos). As raparigas, pela sua leviandade, até neste país notada. Mercê do facto, à respeitável senhora os gracejadores do país aplicaram o cognome de mãe dos burros”.
As referências aos escritos de Arthur Costigan foram recolhidas no Boletim dos Amigos do Porto de 1960, Vol. III.

 
 
 
 
Crescimento da população do Porto entre1758 e 1900 – História de Portugal coordenada por Oliveira Ramos



Igreja e postigo de Santo Eloi e muralha fernandina antes de ser tapado o postigo e aberta a Porta de Santo Eloi, posteriormente do Almada.
 
 
Para que a Rua do Almada tivesse a utilidade que se pretendia, ligar de forma rápida a Praça da Ribeira ao Campo de Santo Ovídio, seria preciso resolver o estrangulamento provocado pelo estreito Postigo de Santo Eloi, tapando-o, e construir uma nova porta larga mesmo em frente à Rua da Hortas, hoje do Almada. Houve que a Câmara e os frades Loios chegassem a acordo para a abertura de uma praça em frente à porta da sua Igreja, sem que a Câmara tivesse qualquer despesa. Assim, concordaram, em Julho de 1764, que os frades cedessem parte do adro da sua igreja e comprassem várias casas existentes em frente, demolindo-as por sua conta. Em troca receberiam o corredor intramuros que ia da nova porta até à Porta dos Carros, em frente aos Congregados.
 
 

Desta forma, destruídas as referidas casas e mais uma parte do adro, nasceria uma larga praça, hoje Praça dos Loios, na qual seria construída, pela Câmara, a nova Porta de Santo Eloi, terminada em 1766. Em 1794 os frades foram autorizados a demolir a muralha que dava para a Praça Nova das Hortas e a construir um majestoso edifício com a frontaria para esta praça. Em 1833, por decreto de D. Pedro IV, foram os seus bens confiscados, não estando ainda terminadas as obras. A igreja e o mosteiro, virados para a Praça dos Loios, foram destruídos por estarem em estado ruinoso, em 1833
 
 
Mais tarde foi adquirido por Manuel Cardoso dos Santos, brasileiro de torna viagem, que o comprou por oitenta contos de reis com obrigação de concluir o palácio segundo o antigo projecto, tendo sido terminado, em 8 de Junho de 1853, pela sua viúva. Daí, segundo Horácio Marçal, dever-se-ia chamar Palácio da Cardosa e não das Cardosas. Blog Porto Sentido
 
 
Planta do bairro das Laranjeiras e rompimento da Rua do Almada, por Francisco Xavier do Rego, 1761 – História de Portugal do Dr. Artur de Magalhães Basto – Planta existente no Gabinete de História da Cidade
Analisando esta planta sugere-nos fazer os seguintes comentários:
- A parte inicial da actual Rua do Almada chamava-se Rua das Hortas, e terminava na de S. António dos Lavadouros, depois dos Lavadouros, hoje Rua Elíseo de Melo. Parte dela foi destruída quando da abertura da Avenida dos Aliados. No mapa a R. de S. António dos Lavadouros seguiria, para poente, pela antiga Rua da Picaria, que era no lado Norte da actual Praça de Filipa de Lencastre onde ainda existe a casa em que esteve instalado o tribunal que absolveu Camilo e Ana Plácido. A actual Rua da Picaria era a antiga Travessa da Picaria, que termina na Praça da Conceição, hoje com o horrível nome de Mompilher.
 - A rua prevista para ser iniciada junto aos lavadouros de cima até à confluência com a Rua do Almada e Praça de Santo Ovídio não foi construída. Existia sim a Travessa da Douda ou da Doida, que veio a chamar-se Rua das Liceiras e, mais tarde, do Alferes Malheiro.
- A parte nascente do Monte da Douda foi destruída, possivelmente para a construção da Igreja da Trindade. Muitos anos ali se encontrou uma inestética pedreira.
- A rua marcada com “rua que se abre” nunca chegou a sê-lo. O mesmo aconteceu com a rua desenhada desde a Rua de Santo Ovídio às Liceiras.
- A começar na Praça da Conceição, para nascente, já está desenhada as Travessas do Pinheiro e do Laranjal, actual Rua de Ricardo Jorge.
Em 29 de Julho de 1760 D. José I autorizou a construção da Rua do Almada. As obras de abertura e calcetamento começaram em 1761 e duraram até 1785. Foi delineada por Francisco Xavier do Rego, autor da planta acima. Este escreveu na sua planta: “ A nova rua tem bem meio quinto de légua de comprido; pareceu preciso alargar-se a nova rua desde a boca da dita Rua das Hortas até ao fim da rua delineada, principiando logo em 32 palmos de largo, que é mais 2 palmos do que tem a Rua das Hortas, e acabando em 52 palmos junto de …(?) e isto para emendar a pouca largura que tem a Rua das Hortas e não ficar parecendo esta grande rua demasiadamente estreita”. Como se verifica o projectista construiu uma rua 4,40 metros mais estreita no início do que no final! A rua cortou parte do terreno de João Gomes, e o que sobrou veio a chamar-se Quinta do Pinheiro.
A Rua do Almada estende-se por 3 freguesias: Victória, lado poente desde a Rua dos Clérigos à Rua Ricardo Jorge; Cedofeita, lado poente desde Ricardo Jorge à Praça da República; Santo Ildefonso, todo o lado nascente.

 
Muito interessante comparar esta planta somente 52 anos depois da anterior. Nota-se perfeitamente a rápida evolução que a construção da Rua do Almada, Praça Nova e Praça do Laranjal trouxeram a esta zona da cidade.
 

Planta de Teles Ferreira de 1892 – a cidade, nesta zona, já é quase a actual. A Avenida dos Aliados foi aberta em 1916.
 
 
Comercialmente foi, durante muitos anos, a rua do comécio das ferragens e cutelarias. Hoje ainda tem algumas casas deste ramo. Referindo-se a esta actividade comercial, dizia Sousa Viterbo: "Parecia aos sábados uma feira de gado, tantos eram os burros dos ferreiros sertanejos, que chegavam ajoujados de ceiras de pregos, e partiam carregados de verguinhas de ferro, em feixes, ao longo da albarda, levados pela Rua do Almada acima num trotesinho miúdo e diligente, que batia os grandes lajedos da calçada com um ruído festival de castanholas."
 
 

Recordamo-nos bem de duas excelentes livrarias, onde comprávamos os livros escolares: a Simões Lopes e a Educação Nacional. Esta encontrava-se no prédio onde, desde 1820 a 1880 esteve um dos mais movimentados cafés do Porto, o Café das Hortas, de que nos ocuparemos em local próprio.
Actualmente encontra-se lá o Hotel Internacional do Porto – esquina da Rua do Almada com Rua da Fábrica
 
 
À esquerda da foto pode ver-se o lado Poente da Garagem d’ O Comércio do Porto. As casas da direita foram destruídas na construção da Praça de Filipa de Lencastre.
 

Praça D. Filipa de Lencastre antes da abertura da Rua de Ceuta – anos 1940
 

Casa onde existiu o tribunal em que Camilo foi julgado e absolvido pela sua ligação com Ana Plácido, numa tarde de tal tempestade que o povo dizia que “era Deus que não queria a sua condenação”. Fica na Praça Filipa de Lencastre, esquina com a Rua da Picaria.
 

 
Rua do Almada acima da Rua do Alferes Malheiro
 
 
Capela do Divino Coração de Jesus, mais conhecida por Capela dos Pestanas, construída entre 1878 e 1888 e desenhada pelo Arqº. José de Macedo Araújo Junior. É a única capela neo-gótica da cidade –  Imagem de S. José pelo escultor Soares dos Reis, que se encontra na fachada.
 
 
Palacete dos Pestanas – Construída no séc. XIX pela família Pestana da Silva, tinha o maior jardim particular do Porto, excepto o do Palácio de Cristal. Hoje está ocupado por vários prédios, sendo um deles a sede de uma companhia de Seguros proprietária do palacete.