8.1.15 – Peste Bubónica de 1899 - Dr. Ricardo Jorge, Emocionante carta de despedida de Ricardo Jorge, Fotografias de desinfecção de casas, Extraordinária atitude de Belo Morais, Os muitos trabalhos cientificos históricos e literários de Ricardo Jorge
Entre Junho e Setembro de 1899, o Porto foi assolado pela peste bubónica, uma epidemia teoricamente extinta no Ocidente desde Setecentos, mas por ele diagnosticada e noticiada às autoridades competentes, a quem solicitou o auxílio de especialistas, nacionais e estrangeiros, como Câmara Pestana, que apenas confirmaram as suas suspeitas. No relatório de sua autoria - A Peste Bubónica no Porto -, publicado nesse ano, deu conta da descoberta da epidemia e das primeiras medidas profilácticas.
Desinfecção sanitária de casas durante a peste bubónica - 1899
Foto de Aurélio Paz dos Reis
Idem acima
Photo Guedes
Bombeiros e higienistas em descanso durante uma desinfecção de casas – Photo Guedes – 1899
As medidas profilácticas que enunciou para a erradicação da peste, tais como o isolamento dos doentes e a desinfecção das casas onde se verificaram casos patológicos, ao mesmo tempo que o consagraram como um epidemiologista de renome despoletaram a ira da populaça, instigada por grupos políticos. Esta reacção violenta levou o médico a abandonar a cidade.
In O Tripeiro, Série VI, Ano IV
Em Outubro de 1899, já em Lisboa, foi nomeado Inspector-geral de Saúde (na posteriormente designada Direcção Geral de Saúde) e, de seguida, foi professor da cadeira de Higiene da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa.
Nesta nova fase da sua vida, fundou, em 28 de Dezembro de 1899, o Instituto Central de Higiene (que veio a ter o seu nome), com o intuito de formar sanitaristas e de desenvolver a investigação na área da Saúde Pública. A reforma dos serviços sanitários que promoveu conduziu à publicação do Regulamento Geral dos Serviços de Saúde e Beneficência Pública, em 24 de Dezembro de 1901.
O Dispensário D. Amélia foi fundado com a intervenção do Dr. Ricardo Jorge – na foto, de 1900. Ficava ao lado do Convento de Santa Clara.
Fez parte da organização da Assistência Nacional Contra a Tuberculose, participou no Congresso Internacional de Medicina, de 1906, no qual presidiu à Secção de Higiene e Epidemiologia, colaborou na reforma do ensino médico de 1911 e, em 1912, passou a representar Portugal no Office Internacional d'Hygiene de Paris, onde se notabilizou.
Em 1913 começou a publicar os Arquivos do Instituto Central de Higiene e, em 1914, principiou a edição da série estatística Movimento Fisiológico da População (1914-1925).
A pneumónica ou gripe espanhola matou, em todo o mundo, entre 50.000.000 e 100.000.000 de doentes, mais do que qualquer outra peste ou guerra até 1919.
Entre 1914 e 1915 presidiu à Sociedade das Ciências Médicas. Nos anos subsequentes visitou formações sanitárias na área de guerra na França, vindo depois a organizar a luta contra a epidemia da gripe pneumónica, do tifo exantemático, varíola e difteria, consequências das más condições sanitárias no período do pós I Guerra Mundial.
Em 1926 foi incumbido de reformar o seu Regulamento de Saúde Pública, de 1901.
Por mérito próprio foi escolhido para representar Portugal no Comité de Higiene da Sociedade das Nações. Em 1929 foi nomeado Presidente do Conselho Técnico Superior de Higiene.
Foi autor de inúmeros trabalhos científicos (sobre problemas sanitários e temas como a difteria, a cólera, a tuberculose, a profilaxia anti-venérea, o tifo exantemático, a lepra, a febre amarela, o cancro, a varíola, etc.) mas, como homem intelectualmente curioso e culto que era, também produziu obras sobre literatura, história da ciência ou arte. Estudou grandes figuras da cultura e da ciência (Ribeiro Sanches, Luís António Verney, Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Gil Vicente, Ramalho Ortigão, Rodrigues Lobo, Gomes Leal, Amato Lusitano, Pasteur ou El Greco), tentou desmistificar problemas históricos, como o hipotético envenenamento de D. João II, e escreveu textos polémicos e crónicas de viagem.
Muitos destes trabalhos foram, por certo, baseados em títulos da sua vasta e erudita biblioteca, parte da qual foi doada à Sociedade de Ciências Médicas, em 1985.
Cemitério de Agramonte – em cima, à esquerda, a azul a zona privativa da Ordem de S. Francisco, onde se encontra a sepultura de Ricardo Jorge.
A aproximação do final da sua vida não o impediu de trabalhar, tendo feito a última intervenção numa reunião do Office Internacional de Higiene três meses antes de morrer em Lisboa, em 29 de Julho de 1939.
Foi um ilustre professor, a figura maior da Medicina Social em Portugal e um grande humanista, que teve, entre outros, como companheiro o Professor Maximiano Lemos (1860-1923) e como amigo Camilo Castelo Branco (1825-1890). (Universidade Digital / Gestão de Informação, 2008)
Artigo que descreve as consequências sociais e económicas da peste bubónica e do cordão sanitário na cidade – Muito interessante