sexta-feira, 29 de setembro de 2017

PESTE BUBÓNICA DE 1899 E DR. RICARDO JORGE - III

8.1.15 – Peste Bubónica de 1899 - Dr. Ricardo Jorge, Emocionante carta de despedida de Ricardo Jorge, Fotografias de desinfecção de casas, Extraordinária atitude de Belo Morais, Os muitos trabalhos cientificos históricos e literários de Ricardo Jorge


Entre Junho e Setembro de 1899, o Porto foi assolado pela peste bubónica, uma epidemia teoricamente extinta no Ocidente desde Setecentos, mas por ele diagnosticada e noticiada às autoridades competentes, a quem solicitou o auxílio de especialistas, nacionais e estrangeiros, como Câmara Pestana, que apenas confirmaram as suas suspeitas. No relatório de sua autoria - A Peste Bubónica no Porto -, publicado nesse ano, deu conta da descoberta da epidemia e das primeiras medidas profilácticas.




Desinfecção sanitária de casas durante a peste bubónica - 1899 


Foto de Aurélio Paz dos Reis


Idem acima


Photo Guedes


Bombeiros e higienistas em descanso durante uma desinfecção de casas – Photo Guedes – 1899

As medidas profilácticas que enunciou para a erradicação da peste, tais como o isolamento dos doentes e a desinfecção das casas onde se verificaram casos patológicos, ao mesmo tempo que o consagraram como um epidemiologista de renome despoletaram a ira da populaça, instigada por grupos políticos. Esta reacção violenta levou o médico a abandonar a cidade.


In O Tripeiro, Série VI, Ano IV

Em Outubro de 1899, já em Lisboa, foi nomeado Inspector-geral de Saúde (na posteriormente designada Direcção Geral de Saúde) e, de seguida, foi professor da cadeira de Higiene da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa.


Nesta nova fase da sua vida, fundou, em 28 de Dezembro de 1899, o Instituto Central de Higiene (que veio a ter o seu nome), com o intuito de formar sanitaristas e de desenvolver a investigação na área da Saúde Pública. A reforma dos serviços sanitários que promoveu conduziu à publicação do Regulamento Geral dos Serviços de Saúde e Beneficência Pública, em 24 de Dezembro de 1901.


O Dispensário D. Amélia foi fundado com a intervenção do Dr. Ricardo Jorge – na foto, de 1900. Ficava ao lado do Convento de Santa Clara.

Fez parte da organização da Assistência Nacional Contra a Tuberculose, participou no Congresso Internacional de Medicina, de 1906, no qual presidiu à Secção de Higiene e Epidemiologia, colaborou na reforma do ensino médico de 1911 e, em 1912, passou a representar Portugal no Office Internacional d'Hygiene de Paris, onde se notabilizou.
Em 1913 começou a publicar os Arquivos do Instituto Central de Higiene e, em 1914, principiou a edição da série estatística Movimento Fisiológico da População (1914-1925).


A pneumónica ou gripe espanhola matou, em todo o mundo, entre 50.000.000 e 100.000.000 de doentes, mais do que qualquer outra peste ou guerra até 1919.

Entre 1914 e 1915 presidiu à Sociedade das Ciências Médicas. Nos anos subsequentes visitou formações sanitárias na área de guerra na França, vindo depois a organizar a luta contra a epidemia da gripe pneumónica, do tifo exantemático, varíola e difteria, consequências das más condições sanitárias no período do pós I Guerra Mundial.
Em 1926 foi incumbido de reformar o seu Regulamento de Saúde Pública, de 1901.
Por mérito próprio foi escolhido para representar Portugal no Comité de Higiene da Sociedade das Nações. Em 1929 foi nomeado Presidente do Conselho Técnico Superior de Higiene.
Foi autor de inúmeros trabalhos científicos (sobre problemas sanitários e temas como a difteria, a cólera, a tuberculose, a profilaxia anti-venérea, o tifo exantemático, a lepra, a febre amarela, o cancro, a varíola, etc.) mas, como homem intelectualmente curioso e culto que era, também produziu obras sobre literatura, história da ciência ou arte. Estudou grandes figuras da cultura e da ciência (Ribeiro Sanches, Luís António Verney, Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Gil Vicente, Ramalho Ortigão, Rodrigues Lobo, Gomes Leal, Amato Lusitano, Pasteur ou El Greco), tentou desmistificar problemas históricos, como o hipotético envenenamento de D. João II, e escreveu textos polémicos e crónicas de viagem.
Muitos destes trabalhos foram, por certo, baseados em títulos da sua vasta e erudita biblioteca, parte da qual foi doada à Sociedade de Ciências Médicas, em 1985.


Cemitério de Agramonte – em cima, à esquerda, a azul a zona privativa da Ordem de S. Francisco, onde se encontra a sepultura de Ricardo Jorge.

A aproximação do final da sua vida não o impediu de trabalhar, tendo feito a última intervenção numa reunião do Office Internacional de Higiene três meses antes de morrer em Lisboa, em 29 de Julho de 1939.
Foi um ilustre professor, a figura maior da Medicina Social em Portugal e um grande humanista, que teve, entre outros, como companheiro o Professor Maximiano Lemos (1860-1923) e como amigo Camilo Castelo Branco (1825-1890). (Universidade Digital / Gestão de Informação, 2008)

Artigo que descreve as consequências sociais e económicas da peste bubónica e do cordão sanitário na cidade – Muito interessante

terça-feira, 26 de setembro de 2017

PESTE BUBÓNICA DE 1899 E DR. RICARDO JORGE - II

8.1.15 – Peste Bubónica de 1899 - Dr. Ricardo Jorge, Comerciantes contra o cordão sanitário, Biografia de Ricardo Jorge, Ricardo Jorge e seu laboratório, Cemitério de Agramonte, Ilhas insalubres do Porto


Reunião de comerciantes no palácio da Bolsa para protestar contra o cordão sanitário imposto à cidade, na sequência da peste bubónica, em 1899. – Foto de Aurélio Paz dos Reis

… desenvolviam-se reuniões de protesto e entrevistas na imprensa que criticavam o veredicto de R. J”. In Maria do Carmo Seren - C.P.F.


Os primeiros doentes foram levados para o Hospital de Santo António e isolados dos restantes.
Dada a sua quantidade construiu-se um outro, provisório em madeira, ao lado da Quinta das Goelas de Pau. Daí o seu nome, como ainda hoje o povo lhe chama, embora desde 1914 seja o Hospital Joaquim Urbano.
A principal medida tomada, para isolamento das zonas afectadas foi a proibição de sair e entrar na cidade, tanto pelas vias terrestres como pela fluvial. Para a fazer cumprir, cercaram não só o Porto, mas também um certo número de povoações suburbanas, com um cordão sanitário, constituído por militares armados, tendo entre si uma distância de cerca de 50 metros. O cordão sanitário era completado por um navio de guerra fundeado na Foz.


Deu-se luta aos ratos, dado que as suas pulgas eram o principal transmissor do bacilo, queimavam-se todas as casas onde tivesse havido doentes e tentava-se separar as famílias dos seus doentes.


Montra de estabelecimento comercial em protesto contra a actuação de Ricardo Jorge – foto de Aurélio Paz dos Reis – figura de Ricardo Jorge com uma corda ao pescoço e a frase “faço justiça por minhas mãos”
Dadas estas terríveis medidas, e o grandíssimo prejuízo provocado à indústria, comércio e aos cidadãos da cidade, o povo, ignorante, revoltava-se.


Impõe-se agora uma biografia deste ilustre portuense tão mal tratado pela sua cidade. 

“Ricardo de Almeida Jorge nasceu no Porto, em 9 de Maio de 1858, no seio de uma família humilde. O seu pai era ferreiro na Rua do Almada.


Frequentou com brilhantismo a Escola Médico-Cirúrgica do Porto de 1874 a 1879, tendo concluído, aos 21 anos de idade, a licenciatura em Medicina com a "dissertação inaugural" Um Ensaio sobre o Nervosismo.


In O Tripeiro, Série VI, Ano IV

No ano de 1880 competiu pelo lugar de substituto da Secção Cirúrgica da mesma escola, com a apresentação do trabalho Localizações Motrizes no Cérebro. Uma vez aprovado, deu início à vida profissional na Escola Médico-Cirúrgica, ocupação que conciliava com a actividade clínica. Desde o início da sua carreira que criticou o ensino, a investigação e a medicina praticadas na sua época e tentou ultrapassar o atraso do país nessas áreas, vindo a tornar-se uma figura de topo da Ciência nacional, embora sendo uma personalidade polémica. 
Nos textos que publicou na Revista Científica a partir de 1882, publicação que ajudou a fundar e na qual colaborou continuamente, expressou os princípios positivistas e experimentalistas que perfilhava.


R. J. no seu laboratório – foto Aurélio Paz dos Reis

Em 1883 fez uma viagem de estudo para aprender mais sobre neurologia. Deslocou-se primeiro a Estrasburgo, onde visitou os laboratórios de Anatomia Patológica de Recklinghausen e Waldeyer, e depois a Paris, onde conheceu o neurologista Charcot e assistiu às suas lições. 
Após o regresso a Portugal, e com novas ideias a fervilhar-lhe no espírito, deu início a um curso de Anatomia dos Centros Nervosos e criou o pioneiro laboratório de microscopia e fisiologia do Porto.


Foi director clínico das Termas do Gerês entre 1889 e 1892 

A neurologia foi o seu primeiro domínio de interesse, mas não o único. Também se dedicou à hidroterapia, área na qual desenvolveu experiências sobre os efeitos dos fluoretos alcalinos e sobre águas termais, cujos resultados publicou em vários estudos, nomeadamente sobre as Caldas do Gerês. A Saúde Pública também beneficiou do seu labor, sendo o domínio que o atraiu na sequência da epidemia de cólera de 1883.



Cemitério de Agramonte onde repousam, em campa rasa, os restos mortais de R.J. e sua mulher

Depois da discussão sobre a instalação dos cemitérios no Porto decorrida na Sociedade União Médica, Ricardo Jorge promoveu quatro conferências em 1884 (A Higiene em Portugal, A Evolução das Sepulturas, Inumação e Cemitérios e Cremação), para refutar as autoridades higiénicas que supunham que os cemitérios provocavam a inquinação do ar, do solo ou da água, colocando em perigo a saúde pública. 
As conferências, que lhe conferiram fama e prestígio, vieram a ser publicadas no livro A Higiene Social Aplicada à Nação Portuguesa, que contribuiu para o debate sobre a laicização da morte e é considerado um momento chave do sanitarismo em Portugal.


O Saneamento do Porto de Ricardo Jorge

Na sequência destes acontecimentos, a Câmara Municipal do Porto convidou-o a associar-se a uma comissão de estudo das condições sanitárias do Porto, no âmbito da qual produziu um inquérito sobre as condições de salubridade urbana e o relatório final (O Saneamento do Porto), apresentado em 1888.


Este importante relatório motivou novo convite da Câmara Municipal do Porto, em 1892, desta vez para dirigir os Serviços Municipais de Saúde e Higiene da Cidade do Porto e chefiar o Laboratório Municipal de Bacteriologia. No âmbito destas actividades publicou a série do respectivo Anuário e um Boletim Mensal de Estatística Sanitária do Porto, que fizeram dele o introdutor da moderna estatística demográfica em Portugal.


O Dr. Ricardo Jorge merecia ter o seu nome numa importante rua ou mesmo numa avenida avenida 

O crescente prestígio de Ricardo Jorge contribuiu para a sua progressão na carreira académica. Em 1895 foi indigitado Professor Titular da cadeira de Higiene e Medicina Legal da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
No decurso do trabalho para a edilidade portuense editou, em 1899, Demografia e Higiene da Cidade do Porto, uma obra onde conjugou o estudo das origens do Porto com dados estatísticos e que serviu de exemplo para muitos trabalhos similares. Ainda hoje é uma obra de referência para todos quantos estudam a história da cidade.


“Ilha do Porto” lugar propício a doenças graves

"De qualquer modo, e apesar da circulação do conhecimento científico e da apropriação deste por parte das autoridades, que o usaram para combater a doença, a urgência das crises epidémicas não era compatível com o maior problema a resolver a longo prazo: a falta de higiene, tanto pessoal como das habitações, especialmente nas cidades. Os rios para onde se atirava tudo eram lugares propícios ao desenvolvimento das epidemias, os pântanos, às febres intermitentes. E se a natureza exalava “miasmas”, as cidades, com as suas habitações pequenas e mal arejadas, tinham sua “atmosfera corrompida” (O Comércio, 6 jun. 1855, p.1). O Porto, em particular, apresentava condições especiais para o desenvolvimento das doenças, por ser uma cidade industrial com uma população de grande mobilidade a viver nas piores condições de salubridade. Apesar das medidas do Estado para melhorar a higiene pública, no final do século XIX os problemas da cidade do Porto persistiam de tal maneira que Ricardo Jorge apelidou-a “cidade cemiterial”. 


Ilha da Travessa das Antas - 1960

Nas suas obras, o professor de medicina aprofundou a questão das ilhas como causa para a proliferação de doenças e epidemias, com especial destaque para a tuberculose (Jorge, 1899). Esse seu trabalho ajudou a influenciar a rainha dona Amélia na criação, nesse mesmo ano, da Assistência Nacional aos Tuberculosos e na construção de sanatórios para os doentes (Almeida, 1995). 
Até no estrangeiro a situação era conhecida: “O Porto tem falta de um bom sistema de canalização e a imundice nos bairros baixos da cidade é indescritível e suficiente para provocar qualquer epidemia. … É agora necessário tomar medidas muito enérgicas, construir novos esgotos ou sem isso o Porto continuará a ser das cidades mais insalubres da Europa” (Diário..., 5 set. 1899, p.1). Em 1918, a situação não melhorara. O mesmo Ricardo Jorge, nesta altura director-geral da Saúde e director do Instituto Central de Higiene, descreveu num relatório oficial a situação das ilhas do Porto perante a epidemia de tifo exantemático: a doença tem como “predilecção as classes ínfimas, mal alojadas, mal tratadas e mal mantidas” (Diário..., 21 fev. 1918, p.1). Nas ilhas do Porto, como nas casas de malta do sul, os operários e os trabalhadores eventuais dormiam à vez na mesma enxerga, em quartos partilhados, sem acesso a água corrente ou saneamento básico. Essa situação não melhorou muito: em 1950, as estatísticas de higiene, das comodidades domésticas e das condições sanitárias das casas em Portugal ainda podiam ser consideradas “calamitosas” (Cascão, 2011a).


Sem dúvida a curva demográfica da população portuguesa só começou a subir significativamente quando os problemas de saúde pública começaram a ser resolvidos, numa conjunção entre políticas de saneamento básico, tratamento de águas, programas de vacinação e higiene escolar e introdução dos antibióticos na vida das populações, especialmente a partir do final da Segunda Guerra Mundial”. IN HTTP://WWW.SCIELO.BR/

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

PESTE BUBÓNICA DE 1899 E DR. RICARDO JORGE - I

8.1.15 – Peste Bubónica de 1899 - Dr. Ricardo Jorge, Descoberta da peste bubónica, Equipa médica que dirigiu a luta contra peste bubónica, Cordão sanitário, Desinfecção dos focos de peste


Dr. Ricardo de Almeida Jorge

“A 4-7-1899 recebia eu um bilhete d'um negociante da rua de S. João, chamando a minha attenção para uns obitos que se tinham dado na rua da Fonte Taurina.
Mandei examinar á regedoria as certidões d'obito respectivas, que só tarde me costumam ser communicadas para o effeito estatistico; resavam ellas de molestias banaes. Apesar d'esta nocencia nosographica, mandei tomar informações no lugar por um empregado que voltou dizendo-me que tinham morrido pessoas e outras estavam doentes d'uma especie de febre com nascidas debaixo dos braços. Não se tratava pois da banalidade prevista, o que me resolveu a fazer uma visita pessoal á Fonte Taurina, onde com as informações colhidas e os doentes ainda presentes me convenci logo estar em frente d'um fóco epidemico de moléstia singular e nova. Caso anormal e grave, dei immediatamente conta do succedido ao snr. commissario geral de policia, como auctoridade sanitaria, ao snr. vereador do pelouro, como representante da administração municipal, e ao snr. director clinico do hospital para o internamento imediato e isolamento dos epidemiados.
Os serviços dependentes ou ligados á repartição de hygiene, como o da desinfecção e limpeza viaria, entraram sem demora em acção; e no dia seguinte acompanhava ao local o snr. inspector de policia Feijó e o sub-delegado de saude Joaquim de Mattos, sendo intimados os proprietarios e inquilinos ás beneficiações e limpezas das suas descuradas e imundas habitações, operações a que, diga-se de passagem, só procederam depois d'instancias repetidas.
A´ volta do fóco brotavam pouco e pouco casos suspeitissimos que me mantinham receioso, e não tardou o convencimento de que a peste avançava a passos lentos e espaçados, como é de seu uso e costume á primeira arremettida.
A 31-7 faziamos colheita fecunda, e dentro d'oito dias adquiria por mim a irrefragavel certeza de que tinha nos tubos de cultura isolado o puro e legitimo bacillo de Yersin. E d'essa convicção dei parte superiormente a 8-8. Submetti o achado ao meu companheiro e amigo Camara Pestana; devia-o á sua competencia magistral e á sua situação official á frente dos serviços bacteriologicos do paiz, A sua confirmação foi immediata.
As missões estrangeiras confirmaram totalmente, integralmente, tudo o que em materia de diagnostico e prognostico fora aventado pelo seu descobridor”. Texto de Ricardo Jorge de 20/9/1899 – In blogue Historinhasdamedicina


“Ao chegar à Europa, o bacilo teria a virulência reduzida, ou ratos e homens teriam adquirido defesas contra o mal. Ocorreram surtos limitados em Glasgow, Paris, Marselha, Barcelona, Açores e Madeira, mas o Porto foi a primeira cidade europeia a ser afectada e também aquela em que a peste mais vidas ceifou: 132, em 320 casos oficialmente registados”. In blogue Historinhasdamedicina.


“ Há precisamente 100 anos (1899) a cidade do Porto, ao ver desencadeado o último surto europeu de peste bubónica, a partir de um caso na Rua de Fonte Aurina, viu-se arrastado para uma das suas maiores crises de identidade. Desse momento difícil, causada mais pelo isolamento criado pelo cordão sanitário e pela humilhação da sua autonomia e direitos que pela virulência da epidemia, destacar-se-ia a notável intervenção do Dr Ricardo Jorge (1858/1839), chefe do Laboratório de Higiene Municipal, que identificou a doença com espantosa antevisão, e a consequente criação do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. 
Quando R. J. nega a versão, avançada com a primeira morte, de se tratar de uma variante da sazonal epidemia de tifo de Verão, identificando a peste bubónica…


Foto de Ricardo Jorge e sua equipa, de Aurélio Paz dos Reis:
1ª. da direita para a esquerda: Câmara Pestana, Albert Calmet, Ricardo Jorge e Ferrand.
2ª. fila – á direita – Balbino Rego e à esquerda Sousa Júnior


Ricardo Jorge com Balbino Rego, Sousa Júnior e peritos indicados pela Vereação do Porto

…acorrem ao Porto especialistas em parasitologia e microbiologia de todo o mundo. Trabalhando com R. J., o médico Câmara Pestana é contagiado e morre.


A Junta médica resolve então criar o cordão sanitário, em volta do Porto…
(notem a enorme extensão do cordão sanitário)




Photo Guedes


Desinfectando um caixão - photo Guedes


Foto Aurélio Paz dos Reis
 
…e inicia-se um enorme esforço de desinfecção, nomeadamente nas “ilhas” onde aparentemente, os casos se afirmavam. Para tornar o caso mais polémico poucos médicos concordavam com a identificação da peste…

terça-feira, 19 de setembro de 2017

REVOLTA DE 31 DE JANEIRO DE 1891 - IV

8.1.14 – Revolta de 31 de Janeiro de 1891 - Revoltosos presos em navios ao largo de Leixões, Conselho de Guerra a bordo do Índia, Licença de deportado em Angola, Poema de Guerra Junqueiro, Medalha em 31 de Janeiro de 1921, Fotografias do Porto antigo



Revoltosos presos a bordo do Índia



Santos Cardoso preso a bordo do Moçambique – A Revolta do Porto – João Chagas

Algumas centenas de revoltosos foram presos a bordo de navios ao largo do Porto, tendo cerca de 230 sido condenados a diversas penas. 

"Quarenta e oito horas depois da revolta, o governo fez publicar varios decretos com o fim, dizia elle, de supprir as deficiencias da legislação então vigente «provendo á necessidade de reprimir de prompto e punir com severidade os attentados commettidos contra a ordem publica, segurança do Estado e suas instituições». Por um d'esses decretos entregava á exclusiva competencia dos tribunaes militares, o conhecimento e o julgamento do crime de rebellião, aliás previsto e punido no codigo penal portuguez. Na cidade do Porto, não faltavam edificios onde podessem funccionar os conselhos de guerra nem cadeias onde acumular os individuos presos como implicados na revolta. Mas o governo receiou que a população se interessasse demasiadamente pelo espectaculo dos julgamentos e assim decidiu que os conselhos de guerra reunissem a bordo de navios de guerra.
Para esse effeito, collocaram no porto de Leixões o transporte India, a corveta Bartholomeu Dias, e o vapor da Mala Real, Moçambique, guarnecido com marinheiros da Sado. Como deposito de prisioneiros juntaram a estes tres navios um velho pontão incapaz de navegar. Para o Moçambique foram mandados João Chagas, Santos Cardoso, o capitão Leitão, tenentes Coelho e Homem Christo, as praças do regimento de caçadores 9 e os civis: Miguel Verdial, Felizardo de Lima, Santos Silva, o abbade de S. Nicolau (rev.º Paes Pinto), Eduardo de Sousa, Amoinha Lopes, Thomaz de Brito, Barbosa Junior, Alvarim Pimenta, José Durão, Pereira da Costa, Gomes Alves, Soares das Neves, Pinto de Moura, Pinto de Vasconcellos,{135} Aurelio da Paz dos Reis, Cervaens y Rodrigues, Feito y Sanz e Simões d'Almeida. Para a Bartholomeu Dias foram as praças de infantaria 18 e 10; para o India, o alferes Trindade e os{136} revoltosos da guarda fiscal. Mais tarde, o tenente Coelho passou do Moçambique para aquella corveta. Dos chefes civis do movimento, conseguiram expatriar-se o dr. Alves da Veiga, José Sampaio (Bruno) e Basilio Telles.


Conselho de Guerra a bordo do vapor Índia

Reunidos os conselhos de guerra, os julgamentos decorreram de tal modo que ninguem se illudiu sobre a sorte que estava reservada aos revoltosos. Sabia-se de antemão que sobre elles recahiria o peso d'uma forte condemnação e que quaesquer que fossem os incidentes revelados durante as sessões dos conselhos elles em nada alterariam a sentença já lavrada.
«O tribunal—affirmou-se mezes depois no manifesto dos emigrados da revolução—era uma tão evidente delegação do poder executivo que, em plena audiencia, um dos julgadores, nem sequer resguardando o melindre das conveniencias, declarou que não proseguiria n'um detalhe qualquer de juridicas investigações, em virtude de ordens superiores.
«Foi decerto tambem em virtude d'essas ordens superiores que os julgamentos se realisaram sobre o mar, acossado por uma invernia excepcional. Foi em consequencia d'essas ordens que succedeu que, uma tarde mais aspera, as vagas arrojaram contra os paredões do porto (Leixões) ainda em via de construcção, desamparado e á mercê, consequentemente, um dos navios ahi ancorados, persuadindo-se todos os habitantes do Porto que a verminada carcassa desfeita fôra a d'um dos pontões onde se mandara apodrecer os suppostos criminosos e assistindo-se então ao tremendo exemplo d'uma população de mães e esposas clamorosas accorrendo, em gritos de dôr, a olhar a perfida, movediça sepultura, onde repousariam, emfim, seus desditosos filhos, seus tristes esposos, a alegria{137} das suas almas, as esperanças de suas escuras existencias.
«Em virtude e consequencia d'essas ordens superiores foi que um dos navios de guerra (pois que se transformaram os maritimos gloriosos do glorioso Portugal passado em carcereiros dos que almejavam restituir a patria ao seu antigo esplendor) se desprendeu uma noite de tempestade e, com um condemnado a bordo, andou perdido, sem provisões e sem rumo, na serração, pela clemencia infinita das aguas.»


A Revolta do Porto – João Chagas


Terminados os julgamentos, os conselhos de guerra condemnaram na pena de prisão maior cellular (e, na alternativa, na de degredo): João Chagas, Santos Cardoso, Verdial, capitão Leitão, os sargentos Abilio, Galho, Silva Nunes, Castro Silva, Rocha, Barros, Pinho Junior, Fernandes Pinheiro, Gonçalves de Freitas, Villela, Pereira da Silva, Folgado, Figueiredo e Cardoso, os cabos João Borges, Galileu Moreira e Pires e o soldado da guarda fiscal Felicio da Conceição. O tenente Coelho foi condemnado a cinco annos de degredo. Aos restantes implicados couberam penas variaveis de deportação militar, degredo e prisão correccional.
Os regimentos de caçadores 9 e infantaria 10 tambem soffreram castigo exemplar: o governo dissolveu-os. E comtudo, em 1826, o primeiro de esses corpos, tendo-se revoltado contra o marquez de Chaves, que defendia o absolutismo do sr. D. Miguel, fôra aclamado fiel e até comtemplado com augmento de soldo...{138}. 
In "A Revolução Portugueza: O 31 de Janeiro (Porto 1891)", de Jorge Abreu.

Guerra Junqueiro cantou assim a Revolta do Porto:




Convite e condecoração comemorativa da revolta de 31 de Janeiro de 1891, criada em 1921 para ser atribuída a todos os veteranos envolvidos na intentona republicana ocorrida na cidade do Porto. Daí advém o título da mesma "Aos precursores da república na cidade do Porto"...em 1921 terão sido atribuídas ao todo 177 condecorações aos veteranos ainda vivos quer militares quer civis envolvidos.

Cinemateca Portuguesa – filme de 1927

A revolra do 31 de Janeiro - Prof. Fernando de Sousa – UP

Fotos do Porto antigo