quarta-feira, 29 de maio de 2013

QUINTAS DO PORTO E ARREDORES - VII

2.13.13 - Quinta de Ramalde

As quintas que se seguem não foram referidas por ARC porém, entendemos que teria algum interesse escrever sobre elas.




Capela de S. Roque


“A Casa de Ramalde foi solar da família Leite desde a primeira metade do século XVI. Nessa época, o edifício era bastante simples, tendo sido parcialmente integrado na nova construção projectada por Nasoni já no século XVIII, ou mais concretamente numa data próxima daquela que se encontrou na capela anexa - 1746. De entre os elementos que Nasoni terá incorporado, destaca-se a torre, que se mantém ao centro da nova construção setecentista. Esta e a ampla escadaria da fachada retomam modelos já ensaiados na Quinta do Chantre, uma das obras mais significativas de Nasoni no contexto da arquitectura nobre rural portuense (SMITH, 1966, p. 143). 
Saliente-se, no entanto, que muito embora Robert Smith atribua a reconstrução da Casa de Ramalde a Nicolau Nasoni não existem, até à data, referências documentais que comprovem esta ideia; ainda que a mesma seja relativamente bem aceite pela generalidade dos investigadores (FERREIRA ALVES, p. 310)… 
A capela contém no seu interior o túmulo de João Leite Pereira, também atribuído a Nasoni. Todo o conjunto é delimitado por um amplo muro, que integra o solar, a capela, uma área de terrenos agrícolas e um jardim de gosto barroco. 
A Casa de Ramalde é também conhecida como Casa Queimada, devido ao grande incêndio sofrido aquando das invasões francesas. Em 1870 o então proprietário empreendeu esforços para recuperar o solar e a capela, que seriam reconvertidos em Museu Nacional de Literatura, em 1968. Este último encerrou a sua actividade em 1988, tendo sido o edifício entregue ao então IPPC. Actualmente acolhe a Direcção Regional do Porto do IPPAR”. 
Rosário Carvalho – site do IGESPAR
Ainda conhecemos os proprietários nos anos 40, D. Fernando Ferrão de Tavares e Távora e sua mulher D. Maria da Conceição Silva da Fonseca Meneses Cyrne de Bourbon Leite Pereira, casados na Capela de S. Roque, nesta própria quinta em 15/5/1905.
Quando, em 1809, os franceses entraram no Porto incendiaram a casa e a quinta, pelo que o povo de Ramalde lhe chama ainda a Quinta Queimada e não Casa Queimada como acima se lê.


2.13.14 - Quinta de Serralves

O lugar de Serralves já é referido nas Memórias Paroquiais de 1758 da Freguesia de Lordelo. Tinha 6 vizinhos.








“Provavelmente desenhado por um dos viveiristas da cidade, e inspirado nos modelos victorianos de final de oitocentos, o jardim da Quinta do Lordelo desenvolvia-se nas traseiras da casa com canteiros de formas orgânicas enriquecidos por espécies ornamentais. Com uma área menor do que a presente, a propriedade seria sucessivamente ampliada pelo Conde de Vizela com a aquisição de terrenos adjacentes, num processo de compras que se prolongaria até aos anos 40, atingindo os actuais 18 hectares. A Quinta do Mata-Sete, também propriedade da família e herdada pelo irmão do Conde de Vizela, é integrada nesta ampliação por permuta com propriedades urbanas. Na altura da sua inclusão era já caracterizada por estruturas edificadas – pavilhão de caça, celeiro, lagar e casa dos caseiros. Após uma visita, em 1925, à Exposition Internationale de Arts Décoratifs et Industriels Modernes, em Paris, Carlos Alberto Cabral decide intervir na quinta, convidando o arquitecto Jacques Gréber a desenhar um novo jardim. O projecto, cujos desenhos datam de 1932, é caracterizado por um classicismo modernizado, suavemente Déco, influenciado pelos jardins franceses dos séculos XVI e XVII, integrando alguns elementos do jardim original, nomeadamente o lago, bem como estruturas agrícolas e de rega das propriedades entretanto em aquisição. Considerado em Portugal um dos primeiros exemplos da arte do jardim da primeira metade século XX, o jardim de Serralves projectado por Jacques Gréber terá sido o único construído nesse período por um privado, a partir de um projecto de arquitectura de paisagem.” Site de Serralves











Decoração interior de Jacques-Émile Tuhlmann – Paris – 1925 em diante


Secretária do Conde de Vizela


Jarra produzida pela fábrica Denbac, França, na década de 1920, com detalhe do quadro Self-Portrait (Tamara in the Green Bugatti), pintado em 1925 por Tamara de Lempicka (1898-1980) – pertenceu ao Conde de Vizela.

“A história da Casa de Serralves iniciou-se no início dos anos 20 do século XX depois de Carlos Alberto Cabral (1895-1968), 2º Conde de Vizela, ter herdado a quinta de veraneio da sua família. Homem culto e viajado, tinha uma atracção pela modernidade e pela vivência cosmopolita.
Em 1923, no mesmo ano em que recebeu a herança, comprou em Biarritz, França, na zona do Plateau do Phare, uma moradia chamada Villa Velleda e terá apreciado de perto a arquitectura moderna e a moda art déco, tendências que acabariam por influenciar a construção do novo edifício na antiga casa de férias. Visitou em 1925, na companhia do arquitecto José Marques da Silva, a Exposition Internationale de Arts Décoratifs et Industriels Modernes em Paris, cuja modernidade o fascina e no qual contacta com o famoso decorador Jacques-Émile Ruhlmann e seus colaboradores. O projecto e a construção da nova casa iniciaram-se nesse ano e foram objecto de várias alterações e intervenções mas com excepção da capela de finais do século XIX, o projecto resultou numa residência construída de raiz. A autoria da Casa poderá ser atribuída, com algum cuidado, a Charles Siclis, cuja participação se revelou decisiva na concepção global do projecto, e a José Marques da Silva que o desenvolveu, alterou e executou. O próprio Carlos Alberto Cabral, Jacques-Émile Ruhlmann, e mais tarde de Alfred Porteneuve, seu sobrinho e arquitecto, intervieram no projecto. Considerada a obra arte déco mais notável de Portugal, ainda que terminada muito depois de o estilo ter tido o seu período áureo, este edifício ultrapassa largamente o edificado no contexto da arquitectura portuguesa da época, ainda dominada pelo gosto oitocentista e pelas orientações beaux-arts e pontuada, raramente, por incursões pela arte nova.
Concluído o edifício em 1944, com um atraso considerável provocado pela Guerra Civil Espanhola e pela 2ª Guerra Mundial, o Conde ocuparia definitivamente a casa em 1944. Habitá-la-ia contudo por pouco tempo. Devido a dificuldades financeiras vendeu a propriedade em 1957, a Delfim Ferreira, conde de Riba d´Ave. O negócio previa uma restrição: a propriedade não podia ser objecto de qualquer transformação. Até aos anos 80 o espaço permaneceria inacessível ao público até que, em 1986, o Estado representado por Teresa Patrício Gouveia, então Secretária de Estado da Cultura, adquire a quinta aos herdeiros de Delfim Ferreira permitindo a sua abertura à cidade”
. Site da Fundação de Serralves





“O Estado adquiriu, em Dezembro de 1986, a Quinta de Serralves. Nessa data, e até à criação da Fundação de Serralves em 1989, foi constituída uma Comissão Instaladora composta por Jorge Araújo, Teresa Andresen e Fernando Pernes, tendo a Casa e o Parque de Serralves sido abertos ao público a 29 de Maio de 1987. A criação da Fundação, através do Decreto-Lei 240-A/89, de 27 de Julho, assinalou o início de uma parceria inovadora entre o Estado e a sociedade civil, representada por cerca de 51 entidades, oriundas dos sectores público e privado. Actualmente o número de Fundadores ascende a 181, entre empresas e particulares, o que evidencia uma crescente e contínua adesão ao projecto de Serralves." Na prossecução dos seus fins estatutários, em Março de 1991 é assinado o contrato com o arquitecto Álvaro Siza para a elaboração do projecto de arquitectura do Museu. A construção do então designado "Museu Nacional de Arte Contemporânea” foi financiada por fundos comunitários e fundos do PIDDAC". Site da Fundação de Serralves

You Tube – Vídeos sobre a Quinta de Serralves






No local onde existiram os Ferros Velhos e a Rua do Correio (hoje Rua do Conde de Vizela), o Conde Vizela construiu este grande quarteirão - Arquitecto Marques da Silva

sexta-feira, 24 de maio de 2013

QUINTAS DO PORTO E ARREDORES - VI

2.13.10 - Quinta do Sardão

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Almeida Garrett nasceu no Porto em 4 de Fevereiro de 1799. Foi muito pequenino para a Quinta do Castelo em Gaia, mas a sua juventude foi passada na Quinta do Sardão. A este propósito escreveu o seguinte:
“ Eu passei os primeiros anos da minha vida entre duas quintas, a pequena Quinta do Castelo, que era de meu pai, e a grande Quinta do Sardão que era, e ainda é, da família do meu avô materno, José Bento Leitão; ambas eram ao sul do Douro, ambas perto do Porto, mas tão isoladas e tão fora do contacto da cidade que era perfeitamente do campo a vida que ali vivíamos… uma parda velha, a boa Rosa de Lima de quem eu era o menino bonito entre todos os rapazes e por quem ainda choro de saudades apesar do muito que me ralhava às vezes, era a cronista mor da família… contava-me ela, entre mil bruxarias e coisas do outro mundo em que piamente acreditava…que, do meu avô, por exemplo, diziam que tinha sido apanhado embrulhado num lençol, passeando à meia noite em cima dos arcos que trazem a água para a quinta”



Construído em 1720 por José Bento Leitão, avô materno de Almeida Garrett, que trazia água de Vilar de Andorinho para a Quinta do Sardão.


Em 1879 a família de Almeida Garrett ofereceu a quinta às Irmãs Doroteias, onde instalaram um colégio.


Colégio do Sardão


2.13.11 - Quinta de Fiães ou de Santo Inácio


A Quinta e a Casa de Fiães, actual quinta de Santo Inácio, datam possivelmente do século XVIII. Propriedade da família Van Zeller a partir do último quartel de setecentos, a Quinta está ligada à história da horticultura portuense desde Francisco Van Zeller (1774-1852), responsável pela introdução oficial, entre 1808 e 1810, das camélias no nosso país, trazidas justamente para a Quinta de Fiães, onde ainda hoje podem ser admiradas. Além das camélias, os jardins de Fiães, exemplarmente recriados há poucos anos aquando da abertura da Quinta ao público, incluem roseirais e mixed-borders no jardim formal e, no jardim romântico, uma grande colecção de azáleas e rododendros. Na transição entre o jardim romântico e o bosque destacam-se alguns raros eucaliptos monumentais plantados por Roberto Van Zeller (1815-1868), entre eles um dos maiores Eucalyptus obliqua do nosso país. Desde cedo se revelou o interesse desta família pela Natureza. Foi pelas suas mãos, e acompanhado pelo ilustre portuense Alfredo Allen, que se organizou a primeira feira agrícola internacional em Portugal, no ano de 1857.
A 10 de Junho de 2000 o Zoo Santo Inácio abriu as portas ao público. Neste parque vivem mais de 200 espécies de animais exóticos.


Pedro van Zeller – 1736/1802


Casa da quinta de Fiãis ou Santo Inácio – Sousa Viterbo diz que Roberto Van Zeller colocou aqui “duas colunas de granito que teriam pertencido à Nobre Porta da Ribeira da medieval Muralha Fernandina”.


Dedicada a Santo Inácio de Loyola, tem uma pintura a óleo representando o milagre da Virgem quando lhe apareceu e imagens deste santo e de S. Francisco Xavier.


Jardim – foto de Manuela Ramos


Camélias



Fotos de Margarida Bico


Lago e bosque



Eucaliptos centenários com mais de 45 metros de altura e terá sido plantado em 1870 – Foto de Manuela Ramos.


Feira Agricola de 12 a 14/7/1857 – a primeira realizada em Portugal pela Sociedade Agrícola do Porto em que, entre os seus directores, se encontravam Roberto van Zeller e Alfredo Allen.


2.13.12 - Quinta das Devesas


Sobre a quinta das Devesas nada encontrámos até ao ano de 1865.
Em O TRIPEIRO VI série, ano XII encontrámos um texto que se refere ao escultor José Joaquim Teixeira Lopes (1837-1918), nascido em S. Mamede de Riba Tua, que veio para o Porto com 12 anos e aqui aprendeu e exerceu a sua actividade. Foi ele que fez a estátua de D. Pedro V, na Batalha, com pouco mais de 20 anos. Eis o texto:



José Joaquim Teixeira Lopes (1837-1918), chamado de Teixeira Lopes (pai)



Fábrica de Cerâmica das Devesas


Depósito da Fábrica de Cerâmica das Devesas na Rua D. Carlos, agora Rua de José Falcão. Iniciada em 1899 para exposição e armazém dos produtos da fábrica. Foi ,a partir de 1920, a Sociedade de Anilinas, ligada à Bayer.
“Devesas" foi uma das primeiras, senão a primeira, fábrica de cerâmica da Península na sua época"- atesta Ramiro Mourão. José Queiroz, no seu livro "Cerâmica Portuguesa", assegura que: " Pela quantidade, qualidade e variedade dos seus produtos, é uma das mais importantes fábricas do país".
Fundada em1865 na Quinta das Devesas, em Vila Nova de Gaia, junto á estação de caminho de ferro das Devesas, em 1881 emprega 180 indivíduos e em 1897 o número de operários subia já a 700, de ambos os sexos. A fábrica conhecida como a "Fábrica do Costa", foi fundada por António Almeida Costa em nome individual e, mais tarde constitui a sociedadeAntónio Almeida Costa & C.ª, em que agrega José Joaquim Teixeira Lopes (que frequentara a Escola de Belas Artes do Porto e a Escola Imperial de Paris) e Feliciano Rodrigues da Rocha, trabalhadores da empresa. O primeiro fica com a direcção financeira e negócios sociais, o segundo com a modelação das esculturas e a sua administração e o terceiro com a escrituração e cobrança.” Site da Fac. Engenharia da UP.



Azulejos da Cerâmica das Devesas