D. Manuel I
D. Diogo de Sousa – Bispo do Porto de 1496-1505
Foral ao Porto de D. Manuel I, 20 de Junho de 1517. Em 1502 D. Manuel I retirava ao Porto o privilégio de não albergar nobres pelo que os cidadãos da cidade consideraram uma ofensa aos privilégios e liberdades centenárias. Consideravam os portuenses que se pretendia favorecer D. Pêro da Cunha Coutinho que mantinha um diferendo com a cidade porque este pretendia construir uma casa em Monchique.
E tinham razão os portuenses dado que, em carta de 7/7/1503, mandava que fosse desembargada a construção, pois era esse o seu desejo. Foi nesta casa que, em 1533, se estabeleceu o Convento de Monchique. Porém, em 17/3/1505, D. Manuel revogava a anterior decisão, embora com a restrição de não poder habitar no Porto qualquer fidalgo com um ofício e dele vivendo.
Rua das Flores vista do largo da Porta dos Carros – 1854 – foto de Frederick Flower – A Rua das Flores foi mandada abrir por D. Manuel I em 1518 para ligar o Largo de S. Domingos ao Largo da Porta dos Carros. Assim, o trânsito de mercadorias passou a ser muito mais fácil e directo da Ribeira à saída da cidade. Inicialmente chamou-se Rua de Santa Catarina das Flores por ter ocupado muitos e belos campos pertencendo à Igreja.
Daí, ainda hoje, se encontrarem casas antigas com a marca do bispo, roda de navalhas, ou do cabido, o Arcanjo S. Gabriel, este no nº. 228. Foi, através de séculos, uma das ruas mais importantes do Porto, onde os nobres e burgueses construíam as suas casas.
Foto Armando Tavares - 2015
Muito rica em trabalhos de ferro nas varandas. Foi chamada rua do ouro pelos muitos fabricantes e comerciantes de ouro e prata que abrigava. Ainda nos lembramos de algumas muito famosas tais como a Aliança, a Rosas, a Pedro A. Baptista, a das Flores, a Coutinho etc… Do lado esquerdo, na direcção do Largo de S. Domingos, havia muitas lojas de panos e vestuário, sobretudo armazéns de venda por grosso, que, na sua maioria, desapareceram. Dada a desertificação do centro da cidade, esta zona esteve muito decadente, porém nos últimos anos, com o grande aumento do turismo, muitas das frontarias foi restaurada e transformou-se numa das ruas mais belas do Porto.
Perto do Largo de S. Domingos encontra-se a Santa Casa da Misericórdia, de que já tratámos em 6 lançamentos, entre 24/5/214 e 12/6/2014. Dos edifícios mais notáveis podemos encontrar a antiga casa dos Ferrazes, Bravos, depois vendida aos Maias, que lhe deu o nome, dos Cunha Pimentel e da Companhia Velha.
Rua das Flores - ao fundo o Convento de S. Bento de Avé Maria
1890
S. Pantaleão -280 a 303
“Médico, natural de Nicomédia da Bitínia (actual Turquia), converteu-se ao Cristianismo em plena perseguição do imperador Maximiano. Um sacerdote tinha-o persuadido da divindade de Cristo e ele, para o comprovar, ordenou a uma criança morta por uma víbora: "Em nome de Jesus Cristo, levanta-te!" E a criança foi ressuscitada. O imperador mandou que se lhe aplicasse toda a espécie de tormentos. Consta que cristãos arménios teriam trazido o corpo de S. Pantaleão para o Porto no século XV. Durante muitos anos, foi o padroeiro daquela cidade.” Ecclesia
Na segunda metade do século XV, instalou-se no Porto um grupo de arménios em busca de refúgio após a queda de Constantinopla diante do Império Otomano, em 1453. Estes imigrantes trouxeram consigo as relíquias de São Pantaleão (275/303), martirizado em Nicomédia em 303, que se tornou patrono da cidade. José Ferrão Afonso em O Tripeiro, Série VII, Ano XXIV, nº. 6, refere um artigo de João Soalheiro em que este relaciona “este evento com a saga dos filhos do Regente D. Pedro, D. João e D. Jaime. O primeiro seria Cardeal, tendo sido entre outras dignidades a de Bispo de Paphos, em Chipre; o segundo casou com Carlota de Lusignan, herdeira do trono do mesmo reino e Rainha da Arménia. Ambos se integram assim na política nacional de cruzada contra os turcos e o interesse demonstrado por D. João II, seu sobrinho, pelas relíquias portuenses de S. Pantaleão estaria, desse modo, justificado".
As suas relíquias foram depositadas na Igreja de Miragaia, em cofre de prata lavrada oferecido por D. Manuel I, para dar cumprimento a uma das últimas disposições do seu antecessor, D. João II. Mais tarde, em 12 de Dezembro de 1499, as mesmas foram transferidas para a Sé do Porto por determinação do bispo, D. Diogo de Sousa.
Em artigo no JN, Germano Silva escreveu:
"No dia 22 de Novembro de 1841, oito anos depois do fim do Cerco do Porto, a Câmara Municipal desta cidade escreveu ao delegado do procurador Régio, o equivalente naquele tempo, ao procurador da República dos nossos dias, no seguintes termos: "Tendo tido (ela, Câmara) conhecimento do roubo da prata da arca de S. Pantaleão que existia, em depósito, na igreja da Sé, e sendo este roubo de grave importância, não tanto pelo valor do metal, como pela preciosidade em que geralmente era tido o lavor da prata, que denotava grande antiguidade, rogo a vossa excelência que empregue todo o zelo e bons ofícios na descoberta do delinquente e seu imediato castigo".
O que era esta arca de S. Pantaleão da qual, alguém, no recuado ano de 1841, surripiou a prata? Pelos vistos, a tal arca encontrava-se no interior da catedral, onde "estava em depósito", como se infere do teor da carta acima reproduzida.
Vamos por partes. Primeiro, S. Pantaleão. Julgo que não há portuense que já não tenha ouvido falar deste santo que, durante muitos anos, foi o padroeiro da cidade e o patrono da classe médica. S. Pantaleão era arménio, da cidade de Nicomédia, e médico de profissão. Por professar a fé católica foi perseguido, às ordens dos imperadores Diocleciano e Maximiano, sendo martirizado no ano de 320, da Era de Cristo. Os seus restos mortais foram levados, por alguns companheiros, para a cidade de Constantinopla, onde ficaram muitos anos e sendo aí objecto de grande veneração popular. Mas os turcos andavam a preparar um assalto a Constantinopla. Perante tal ameaça os cristãos arménios, que viviam naquela cidade, pegaram no corpo de S. Pantaleão e meteram-se com ele num navio, atravessaram o Mediterrâneo, passaram o estreito de Gibraltar e chegaram ao Atlântico. Navegaram até à embocadura do rio Douro. Demandaram a barra e foram lançar ferro na praia de Miragaia, mesmo em frente à igreja de S. Pedro, em cujo interior fizeram recolher o corpo de S. Pantaleão.
Foto A Vida em Fotos
Os companheiros do mártir instalaram-se nas imediações do templo, em ruas que ainda hoje evocam, no nome, esse acontecimento: Rua Arménia e Rua Ancira, antiga Rua de Aljazira.
Cabeça de S. Pantaleão actualmente no Museu Soares dos Reis – foto de Portojo
A chegada dos restos mortais do mártir a Miragaia aconteceu a 8 de Agosto de 1453. Pouco depois, um terrível surto de peste invade a cidade, pela então chamada Rua do Olival. A Câmara, no intento de evitar a progressão da epidemia, manda entaipar a artéria que, a partir daí, passa a ser a Rua das Taipas.
Entretanto os moradores da zona de Miragaia apelam a S. Pantaleão para que os livrem da peste. O mal não chega à zona ribeirinha e isso é atribuído a milagre do santo. E a cidade promove-o, de imediato, a padroeiro do burgo, destronando S. Vicente, que ocupava aquele lugar desde, pelo menos, o século XII.
Diz uma lenda antiga que, naquele tempo, uma relíquia de S. Vicente estava a ser transportada de Lisboa para Braga. E que ao passar no Porto houve uma milagrosa intervenção do santo no sentido de que a relíquia ficasse nesta cidade. E foi deste modo que S. Vicente apareceu como padroeiro do Porto. Ainda tem altar na catedral onde a sua imagem é venerada.
Logo a seguir à entronização de S. Pantaleão como padroeiro da urbe portucalense, o culto que a cidade lhe devotava aumentou consideravelmente e de tal forma que, em 12 de Dezembro de 1499, o bispo do Porto, D. Diogo de Sousa, ordenou a remoção dos restos mortais do padroeiro para a catedral.
Em Miragaia ficou apenas um fragmento de um braço que ainda hoje se guarda no interior de um relicário de prata em forma de um braço.
Na Sé, a arca com as relíquias de S. Pantaleão foi metida num artístico e valioso relicário de prata, mandado fazer por D. João II mas que só foi entregue à cidade, em 1502, pelo rei D. Manuel I, numa sua deslocação ao Porto. Foi a prata desse relicário que roubaram.
O furto aconteceu em 1834, já depois do fim do Cerco do Porto. E ao que consta, o autor do roubo nunca foi descoberto. Melhor dizendo: parece que se soube quem foi. Mas o autor da façanha nunca foi denunciado
Muitos anos mais tarde, em 1875, Pinho Leal, no seu muito apreciado e célebre dicionário "Portugal antigo e moderno", no volume sétimo e na parte respeitante ao Porto, ao tratar do assunto S. Pantaleão, alude também ao roubo da arca e escreve isto: "tinha muito que dizer sobre o roubo deste cofre, o que não faço por certas considerações, sendo a principal envolver neste abominável crime pessoas de alta categoria que se não podem defender por estarem já cobertas com a lousa da sepultura".
Tudo muito estranho, não é ?"
Vários sites, entre eles o da Diocese do Porto colocam a data do martírio no ano de 303.
Sobre S. Pantaleão recomendamos um artigo no endereço:
Padroeiros da cidade do Porto – Germano Silva - vídeo
Filipe I - foi conde da Flandres. Conhecido também como Filipe "o Grande", era filho de Teodorico da Alsácia, conde de Flandres, e de Sibila de Anjou. Foi casado com Isabel de Vermandois e, posteriormente, com Teresa de Portugal.
D. Teresa Afonso de Portugal (1151-1218), filha de D. Afonso Henriques, depois do casamento chamada Matilde ou Mafalda, casou com Filipe I, Conde da Flandres e depois com Eudes III, Duque da Borgonha.