sexta-feira, 27 de junho de 2014

IGREJAS PAROQUIAIS EM 1788 - III

3.11.6 - Igreja de Santa Marinha


Igreja de Santa Marinha – Século XIV e reconstruída, sob desenho de Nicolau Nazoni, no século XVIII.
A freguesia de Santa Marinha pertenceu à cidade do Porto até ao final das guerras liberais, tendo sido criado, em 20/7/1834, o concelho de Vila Nova de Gaia. 




Igreja de Santa Marinha - Interior 

No local existiu uma pequena ermida românica, talvez do tempo de D. Afonso II. 
A igreja foi edificada no século XVI e profundamente reformada a partir de 1745 sob projecto de Nicolau Nazoni. Por dificuldades financeiras somente nos anos 70, do referido século, terminaram as obras. A fachada não é a original, que teria duas torres, e a que lá se encontra é de 1894.


“Diz-se que, numa época de peste, que foi assinalada por uma invasão de mosquitos, fora revelado a uma freira de Corpus Christi, em seus sonhos ou êxtases de clausura, que existia uma imagem de Cristo escondida entre um juncal, nos domínios do Convento. 
A religiosa estava doente, contagiada pela peste, e sugeria que buscassem a imagem para libertarem o povoado dessa praga, levando-a em procissão quando a encontrassem. 
Procurada a Cruz do milagre foi ela descoberta e por muitos anos veio a ter a devoção dos fiéis. 
Conforme a lembrança da dona de Corpus Christi foi levada em triunfo pelas ruas da vila, extinguindo-se a seguir o flagelo da peste. 
Assim, por esta crença popular, explicada fica a origem da escultura que, no dizer de alguns, já existia no ano de 1420, embora também conste segundo outros — que a imagem fora trazida à terra por anjos da corte celestial. 
Entretanto, há quem entenda que a alusão não oferece foros de credibilidade. 
Sousa Reis, por exemplo, é de parecer que a escultura devia ter vindo do convento de emparedadas que existiu no Monte de S. Nicolau ou da Meijoeira (hoje Serra do Pilar). 
E refere que esse convento de emparedadas fora fundado em 1140 por D. Pedro Ribaldis, bispo do Porto, nos primeiros tempos do seu Governo, acrescentando que o crucifixo se encontrara junto à ermida de S. Nicolau, no alto do monte e do lado de Quebrantões. 
Esclarece ainda que esse mosteiro já existia em 1300, quando o bispo D. Sancho Peres — ao fazer seu testamento em 17 de Janeiro de 1338— deixara às donas inclusas ou emparedadas a quantia de 20 libras — item mulieribus de portu XX libras. 
Ao extinguir-se o referido Convento por falta de freiras que o frequentassem existiam nele mais imagens de santos do que aquelas a que se refere D. Baltazar Limpo, bispo do Porto, na carta de 17 de Junho de 1539 — um Santo Cristo e as imagens de S. Nicolau e S. Bartolomeu. 
Tais imagens foram recolhidas na Capela do Senhor de Além depois de uma luzida procissão fluvial levada a cabo até Massarelos. 
Foram os cónegos regrantes de Grijó que pediram a remoção da ermida quando vieram para o monte de S. Nicolau edificar o seu novo mosteiro. 
E foram tais cónegos que fizeram a reconstrução da dita capela, sobre um penedo sobranceiro ao rio, conhecida pela do Senhor de Além. 
É possível e de admitir que a imagem do Senhor Jesus fosse recolhida em convento próximo, como era o das religiosas de S. Domingos. 
Deve assinalar-se que as freiras de Corpus Christi tinham o direito — na procissão de 3 de Maio — de ver a imagem conduzida ao terreiro do seu convento. 
Um ano aconteceu que — de propósito ou por esquecimento — a procissão não passou no convento, nem a imagem entrou no terreiro, ficando as freiras de tal modo emocionadas e ofendidas que fizeram a ameaça de sair à rua de cruz alçada, como acontecia quando se juntavam em corporação. 
Sabe-se por outro lado que a primeira procissão do Senhor Jesus saiu precisamente do convento das donas ficando depois recolhida na igreja de Santa Marinha. 
Assim, tudo inculca que a imagem viera de lá. Porém, poderá a verdade estar em conformidade com a tradição pois se diz que a imagem ao ser encontrada onde a freira a situava, foi levada em procissão e recolhida na igreja referida. 
Ainda mesmo que venha a tomar-se como exacta a versão com base na remoção da capela de S. Nicolau a notícia popular continua de pé e pode, portanto, corresponder a um facto certo. 
Afinal, tudo dependerá de se encontrar ou não documentação esclarecedora. 
Doutro modo, tudo continuará na obscuridade da lenda como sucede com a capela de S. Marcos que se diz ter sido matriz da freguesia, mas cuja localização se ignora”. 
Fonte Biblio VALLE, Carlos Revista de Etnografia 26, Tradições Populares de Vila Nova de Gaia - Narrações Lendárias Porto, Junta Distrital do Porto, 1969 , p. 426-428


“Foi em 1288 que D. Dinis, atribuiu o Foral que deu lugar à criação de Vila Nova de Rei. Nesse lugar, hoje correspondente à zona ribeirinha da freguesia de Santa Marinha, havia então um estaleiro naval que trazia gente e desenvolvimento.


Santa Marinha é provavelmente a freguesia de mais antigo povoamento, do concelho de Gaia, estendendo-se desde a ponte ferroviária de D. Maria II (engano, Ponte Maria Pia), sobre o rio Douro, até à Afurada, freguesia com a qual faz limite, próximo da foz do mesmo rio.Com um rico património, possui aquele que é considerado o ex-libris da Cidade de Vila Nova de Gaia, a Igreja e Mosteiro da Serra do Pilar, Monumento Nacional, reconhecido pela UNESCO, juntamente com a Ponte de D. Luís I e o Centro Histórico da Cidade do Porto, como Património da Humanidade”. Site da J. F. Santa Marinha



A festa de S. Gonçalo realiza-se no domingo após o dia 10 de Janeiro



Igreja de S. Pedro de Miragaia



Igreja de S. Pedro de Miragaia 

Neste local existiram desde tempos imemoriais algumas capelas edificadas pelos moradores. No séc. XVIII efectuaram-se grandes obras, sendo a fachada e a torre de 1740. A reconstrução do interior, que vinha do Bispo D. Nicolau Monteiro em 1672, foi erguida em 1741, embora mantendo alguns pormenores de obras mais antigas. 
Já no terceiro quartel do séc. XIX o tecto, as paredes e o soalho foram renovadas, continuando, mais tarde, obras na sacristia. Os sinos são de 1885. 



Altar Mor – retábulo de 1730 - parte da talha deste altar veio, mais tarde, do Convento de Monchique


Altar que pertenceu ao Convento de Monchique 


Altar de Nossa Senhora do Carmo que pertenceu ao Convento de Monchique. Há mais cinco lindíssimos altares deste convento que estão na Igreja de S. Mamede Infesta. O sétimo, que era destinado ao Hospital Militar, ardeu.



O Padre Bernardo Xavier Coutinho escreveu em O Tripeiro que estes dois altares devem ter sido comprados à Ordem da Trindade, quando esta se encontrava na Capela do Calvário Novo. São altares joaninos do fim do Séc. XVIII, que se encontram a tapar duas portas do corpo da Igreja. 
Um incêndio em altares desta igreja levou à necessidade de os adquirir.




Fonte na entrada da igreja – foto de carlos Cunha do blog Porto Revisitado


No primeiro andar ao lado da igreja existe um museu no qual está depositado o tríptico de Pentecostes vindo da Capela do Espírito Santo. Sobre este valioso tríptico trataremos com mais pormenor quando referirmos aquela capela. É arte flamenga do séc. XVI.


Sobre a Igreja de Miragaia e do museu vale a pena visitar este blog:


Ícone de S. Pantaleão 


Padroeiro dos médicos, parteiras e contra as dores de cabeça

"Viveu no séc. III e IV da era cristã, durante um período de intensa perseguição aos cristãos que não podiam professar a própria fé, pois o que predominava naquela época era o culto aos deuses pagãos.
Pantaleão era filho de Eustóquio, gentio e de Êubola, cristã. Sua mãe encaminhou-o na fé cristã. Após o falecimento de sua mãe, Pantaleão foi aplicado pelo pai aos estudos de retórica, filosofia e medicina.
Durante a perseguição, travou amizade com um sacerdote, exemplo de virtude, Hermolau, que o persuadiu de Nosso Senhor Jesus Cristo ser o autor da vida e o senhor da verdadeira saúde.
Um dia que se viu diante de uma criança morta por uma víbora, disse para consigo: “Agora verei se é verdade o que Hermolau me diz”. E, segundo isto, diz ao menino: “Em nome de Jesus Cristo, levanta-te; e tu, animal peçonhento, sofre o mal que fizeste”. Levantou-se a criança e a víbora ficou morta; em vista disso, Pantaleão converteu-se e recebeu logo o Santo Baptismo.
Acabou sendo convocado pelo imperador Maximiano como seu médico pessoal. As milagrosas curas que em nome de Jesus Cristo realizava, suscitaram a inveja de outros médicos, que o acusaram de cristão perante o imperador que, por sua vez, o mandou ser amarrado a uma árvore e degolado". Site da Canção Nova

Em 1453 alguns arménios católicos fugiram de Constantinopla quando esta cidade caiu nas mãos dos turcos. Trouxeram o corpo de S. Pantaleão que depositaram nesta igreja. Em 1499 as relíquias foram transladadas para a Sé e feito padroeiro da cidade. S. Pantaleão foi um mártir católico (275-303) da Nicomédia, muito venerado pelos arménios. 



Jóias em que foram encastoadas restos da cabeça e braço direito de S. Pantaleão. A primeira está no Museu Soares dos Reis e este no museu da Igreja de Miragaia – fotos de Portojo

Em artigo no JN, Germano Silva afirma:
"No dia 22 de Novembro de 1841, oito anos depois do fim do Cerco do Porto, a Câmara Municipal desta cidade escreveu ao delegado do procurador Régio, o equivalente, naquele tempo, ao procurador da República dos nossos dias, no seguintes termos: "Tendo tido (ela, Câmara) conhecimento do roubo da prata da arca de S. Pantaleão que existia, em depósito, na igreja da Sé, e sendo este roubo de grave importância, não tanto pelo valor do metal, como pela preciosidade em que geralmente era tido o lavor da prata, que denotava grande antiguidade, rogo a vossa excelência que empregue todo o zelo e bons ofícios na descoberta do delinquente e seu imediato castigo".
O que era esta arca de S. Pantaleão da qual, alguém, no recuado ano de 1841, surripiou a prata? Pelos vistos, a tal arca encontrava-se no interior da catedral, onde "estava em depósito", como se infere do teor da carta acima reproduzida.
Vamos por partes. Primeiro, S. Pantaleão. Julgo que não há portuense que já não te­nha ouvido falar deste santo que, durante muitos anos, foi o padroeiro da cidade e o patrono da classe médica. S. Pantaleão era arménio, da cidade de Nicomédia, e médico de profissão. Por professar a fé católica foi perseguido, às ordens dos imperadores Diocleciano e Maximiano, sendo martirizado no ano de 320, da Era de Cristo. Os seus restos mortais foram levados, por alguns companheiros, para a cidade de Constantinopla, onde ficaram muitos anos e sendo aí objecto de grande veneração popular. Mas os turcos andavam a preparar um assalto a Constantinopla. Perante tal ameaça os cristãos arménios, que viviam naquela cidade, pegaram no corpo de S. Panta­leão e meteram-se com ele num navio, atravessaram o Mediterrâneo, passaram o estreito de Gibraltar e chegaram ao Atlântico. Navegaram até à embocadura do rio Douro. Demandaram a barra e foram lançar ferro na praia de Miragaia, mesmo em frente à igreja de S. Pedro, em cujo interior fizeram recolher o corpo de S. Pantaleão. Os companheiros do mártir instalaram-se nas imediações do templo, em ruas que ainda hoje evocam, no nome, esse acontecimento: Rua Arménia e Rua Ancira, antiga Rua de Aljazira.
A chegada dos restos mortais do mártir a Miragaia aconteceu a 8 de Agosto de 1453. Pouco depois, um terrível surto de peste invade a cidade, pela então chamada Rua do Olival. A Câmara, no intento de evitar a progressão da epidemia, manda entaipar a artéria que, a partir daí, passa a ser a Rua das Taipas. 
Entretanto os moradores da zona de Miragaia apelam a S. Pantaleão para que os livrem da peste. O mal não chega à zona ribeirinha e isso é atribuído a milagre do santo. E a cidade promove-o, de imediato, a padroeiro do burgo, destronando S. Vicente, que ocupava aquele lugar desde, pelo menos, o século XII. 
Diz uma lenda antiga que, naquele tempo, uma relíquia de S. Vicente estava a ser transportada de Lisboa para Braga. E que ao passar no Porto houve uma milagrosa intervenção do santo no sentido de que a relíquia ficasse nesta cidade. E foi deste modo que S. Vicente apareceu como padroeiro do Porto. Ainda tem altar na catedral onde a sua imagem é venerada. 
Logo a seguir à entronização de S. Pan­taleão como padroeiro da urbe portucalense, o culto que a cidade lhe devotava aumentou consideravelmente e de tal forma que, em 12 de Dezembro de 1499, o bispo do Porto, D. Diogo de Sousa, ordenou a remoção dos restos mortais do padroeiro para a catedral. Em Miragaia ficou apenas um fragmento de um braço que ainda hoje se guarda no interior de um relicário de prata em forma de um braço. 
Na Sé, a arca com as relíquias de S. Pan­taleão foi metida num artístico e valioso relicário de prata, mandado fazer por D. João II mas que só foi entregue à cidade, em 1502, pelo rei D. Manuel I, numa sua deslocação ao Porto. Foi a prata desse relicário que roubaram. 
O furto aconteceu em 1834, já depois do fim do Cerco do Porto. E ao que consta, o autor do roubo nunca foi descoberto. Melhor dizendo: parece que se soube quem foi. Mas o autor da façanha nunca foi denunciado 
Muitos anos mais tarde, em 1875, Pinho Leal, no seu muito apreciado e célebre dicionário "Portugal antigo e moderno", no volume sétimo e na parte respeitante ao Porto, ao tratar do assunto S. Pantaleão, alude também ao roubo da arca e escreve isto: "tinha muito que dizer sobre o roubo deste cofre, o que não faço por certas considerações, sendo a principal envolver neste abominável crime pessoas de alta categoria que se não podem defender por estarem já cobertas com a lousa da sepultura". 
Tudo muito estranho, não é ?”
Em vários locais lemos que o roubo foi executado em 1841.


Procissão em honra de S. Pantaleão, saindo da Sé - 1950

S. Pedro de Miragaia - vídeo


Miragaia – 1955 – foto Henri Cartier Bresson

segunda-feira, 23 de junho de 2014

IGREJAS PAROQUIAIS EM 1788 - II

3.11.6 - Igreja de Santo Ildefonso


Foto de Amigos do Sinatra’s

Santo Ildefonso nasceu, numa família ilustre, no ano de 605 e morreu a 23 de Janeiro de 667. Sobrinho de Santo Eugénio, a quem sucedeu na Sé de Toledo, Santo Ildefonso escolheu a vida religiosa muito cedo, apesar da oposição do seu pai. Estudou no mosteiro de Agali, perto de Toledo, e depois em Sevilha, onde teve como mestre Santo Isidoro. Quando era ainda um simples monge fundou um mosteiro de monjas em Deibiensi villula . Em 630 foi ordenado diácono por Heládio, abade de Agali, e posteriormente nomeado arcebispo de Toledo. Santo Ildefonso tornou-se abade de Agali e nessa qualidade foi um dos signatários do VIII (653) e IX (655) Concílios de Toledo. Nomeado arcebispo de Toledo em 657, pelo rei Recesvindo, ocupou este cargo eclesiástico até à sua morte, em 23 de Janeiro de 667, tendo sido enterrado na Basílica de Santa Leocádia.


“A actual Igreja de Santo Ildefonso começou a ser edificada em 1709 e acabou (numa primeira fase, sem torres sineiras) em 1730. Desde esse ano até 1739, a comunidade paroquial e as suas instituições ganharam fôlego para a construção das torres sineiras e transpôs-se o pórtico de MDCCXXX para a frontaria da Igreja, criando-se um nártex. Portanto, a leitura de 1730 na porta principal da Igreja corresponde à primeira fase que se completou em 1739. Daí a razão da Igreja ter no fecho do seu telhado fronteiriço uma cruz atrás da outra, correspondendo às datas 1730 e 1739 – o que se pode constatar a partir da Praça da Batalha”. Site da Paróquia de Santo Ildefonso.
Há autores que afirmam que a igreja foi construída entre 1730 e 1739.


Praça da Batalha – fim do séc. XIX – o Americano, o carro de bois e o largo ainda arborizado


Praça da Batalha – o eléctrico, o armazém de materiais de construção A Conquistadora (á direita), o cinema Águia d’Ouro, a Rua de Santo Ildefonso, o candeeiro a gás (?) – primeira década do séc. XX


Antes da colocação dos azulejos – Foto Alvão - No site da Freguesia de Santo Ildefonso pode ler-se: “Precede a igreja, uma larga escadaria, em cujo patamar fronteiro à rua de Santo António, se ergueu um obelisco em 24-XII-1794, de significado ignoto. Simples elemento decorativo? Memória da abertura daquela rua? Imponente cascata nela se ornou no dia 24 de Junho de 1810”.


O mesmo local depois de 1947, em que já se vê o cinema Batalha – o prédio à entrada da Rua de Santo Ildefonso continua com a mesma traça desde o séc. XIX.


O obelisco foi retirado para o jardim da Igreja – foto de Jorge Portojo


Em 1932 foi revestida por cerca de 11.000 azulejos de Jorge Colaço, com passos da vida de Santo Ildefonso e alegorias à Eucaristia.
Por cima do entablamento encontra-se um nicho com a imagem do santo, que ilustramos no início.


Natal de 2013 – foto de Isabel Melo


Foto de RGPSOUSA


“A mais relevante e valorosa obra artística da Igreja de Santo Ildefonso foi acordada entre a Confraria do Senhor Jesus e Santíssimo Sacramento e o entalhador lisboeta Miguel Francisco da Silva no dia 11 de Julho de 1745. A sua importância justifica que aqui se recupere sinteticamente o famoso contrato no qual o referido artista se compromete a fazer de novo o “retabullo da capella mor e sanefas das coatro portas e duas varandas e sanefas das duas portas de sima, tudo da dita capella mor desta igreja, sendo que terá que realizar a dita obra toda de talha, conforme as plantas de Nicoláo Nasoni. O trabalho importará 1.100.000 réis e será revista pello dito Niculáo Nasoni, com o coal o dito mestre concordará com o que for preciso para que fique prefeita e bem feita. Miguel Francisco da Silva receberá duas plantas da obra e compromete-se a concluir os trabalhos até à festa do Espírito Santo do ano de 1746”. Foto e texto de Amigos do Sinatra’s.


No corpo da igreja existem duas valiosas pinturas do séc. XVIII, de autoria de Domingos Teixeira Barreto, que necessitam de urgente restauro.


O tecto da igreja estava muito danificado e em perigo de ruir pelo teve de ser reconstruído no séc. XIX - Foto de Jorge Portojo.


Páscoa de 2013 – foto de Victor Moreira


Baptistério – o Baptismo de Cristo,  pintura de Domingos Teixeira Barreto – séc. XVIII


Órgão de tubos de Manuel Sá Couto - 1811


Fonte interior – foto de Jorge Portojo 

Igreja de Santo Ildefonso – excelente vídeo de AMDR


Foto de Jorge Portojo

Na cidade do Porto existiam dezenas de cruzeiros que foram retirados no séc. XIX. Na Rua do Bonjardim havia uma Via Sacra ao qual Horácio Marçal de refere da forma seguinte: “Queremos deixar aqui registado o facto de ter havido nela, dum e doutro lado da rua uma série de cruzes de pedra com imagens, pintadas, de Cristo Crucificado, que faziam parte de uma velha via sacra. Essas cruzes, em 1869, foram removidas para o cemitério da Igreja de Santo Ildefonso, não sem alguns reparos por parte das pessoas devotas.” 
Houve mesmo grande dificuldade em convencer os residentes a deixarem retirar estas cruzes. Refira-se que o cemitério de Santo Ildefonso se encontrava nas traseiras da igreja.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

IGREJAS PAROQUIAIS EM 1788 - I

3.11.6 - Igreja de S. Nicolau




Igreja de S. Nicolau – desenho do Barão de Forrester – ainda se vêm as sepulturas dentro da igreja.


Desde o séc. XIII existiu uma pequena ermida que se tornou muito exígua para o funcionamento culto. Foi demolida e substituída pela primitiva Igreja de S. Nicolau, construída entre 1671, no tempo do Bispo do Porto D. Nicolau Monteiro, tendo a sua inauguração solene ocorrido a 6 de Setembro de 1676, presidida pelo Bispo D. Fernando Correia de Lacerda. Nestes cinco anos a paróquia teve a sua sede na Igreja de S. Francisco.
Foi destruída por um incêndio em 12 de Agosto de 1758. Os paroquianos edificaram a actual em 1762. A frontaria foi coberta de azulejos em 1861. 


S. Nicolau


Foto de TAF

Nesta igreja havia (ainda há?) um crucifixo que saía em procissão consoante era precisa chuva ou Sol.


Como ARC escreve o corpo de S. Vicente foi aqui depositado, com manifestações de grande pompa e circunstância, vindo de Roma, em 21 de Dezembro de 1785.


O historiador Sousa Viterbo, nascido na freguesia de S. Nicolau (1845/1910), escreve que ficou muito surpreendido com a afirmação de ARC referente ao corpo de S. Vicente estar na Igreja de S. Nicolau. Isto porque era do seu conhecimento que, no tempo de D. Manuel, os ossos deste santo teriam sido depositados numa caixa de pedra e embutidos numa parede da Capela do mesmo santo, na Sé de Lisboa. Tão bem terão sido escondidos que, durante muito tempo, foram considerados desaparecidos. Porém, mais tarde foram descobertos, colocados num cofre de prata e colocados num altar próprio. Quando se deu o terramoto de 1755 as ossadas foram queimadas e o que se encontrou foi recolocado na Sé de Lisboa. 
Perante a leitura do livro de ARC, Sousa Viterbo confessa que a sua convicção ficou muito abalada. Perguntava-se se teria havido mais que um mártir S. Vicente… Se um só existe no registo dos santos, o historiador considera-se incompetente para resolver este mistério. O mais curioso é que também na Sé do Porto existe um braço deste mesmo santo, segundo informa João Baptista de Castro na Relação das Relíquias do seu Mapa de Portugal. 
Faz lembrar aquele sacristão que, mostrando as curiosidades da sua igreja, diz ao visitante que um certo relicário contém a cabeça de um certo santo. Este replica-lhe que já a viu noutro local. Sem pestanejar o sacristão retorquiu que a outra era do santo quando era novo e que esta é do mesmo quando era velho! 
Sousa Viterbo também afirma que em 1 de Maio de 1752 foi depositada nesta igreja o corpo do mártir Santo Inocêncio, por especial oferta do prelado D. Tomás de Almeida, mais tarde elevado a primeiro Patriarca de Lisboa. Esta cerimónia teve grande pompa e circunstância, com a presença do bispo e todas as autoridades de cidade, Irmandades, Clero. Nobreza e acompanhada por festas em todas as freguesias do Porto.

Pinho Leal descreve, em 1875,a festa de S. Nicolau da forma seguinte:



Igreja de Nossa Senhora da Victória

mar


A Freguesia da Victória foi criada em 1583 juntamente com S. Nicolau e S. João de Belomonte (que só existiu 9 anos, tendo o seu território sido repartido entre as outras duas). O seu nome está envolvido em lendas. Pinho Leal, no seu livro Portugal Antigo e Moderno refere que : “Dizem uns que a origem de Rio Tinto, Campanhã, Batalha, e Victória proveio de um grande combate ferido, entre mouros e cristãos em volta da cidade, e que os títulos supra comemoram os triunfos alcançados nessas sanguinolentas batalhas, e os outros dizem que o título de Victória provém da conversão de grande parte dos judeus que viviam na judiaria do Porto, em volta do local onde se erigiu a igreja que simbolizava uma conquista moral, não um triunfo guerreiro”.


Igreja, largo da Bataria e, ao longe, Gaia


Portão lateral

Segundo Horácio Marçal, quando foi instituída a freguesia de Nossa Senhora da Victória em 1583, já existia uma pequena capela ou ermida no local da actual igreja. 
Em 1604 os frades do Convento de S. João Novo altearam, alargaram e construíram um Altar-Mor nessa capela e em troca foi-lhes entregue a Igreja Paroquial de S. João de Belmonte.
“Os serviços da Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, instituída pelo Bispo D. Frei Marcos de Lisboa (1581-1591), foram transferidos em 1755 para a Capela de S. José das Taipas. Esta decisão ficou a dever-se ao estado de degradação em que se encontrava a igreja, carenciada de uma remodelação profunda. As obras tiveram início em 1758 por determinação do Bispo D. Frei António de Sousa (1758-1766) e o templo, reconstruído quase na íntegra, foi inaugurado no dia 5 de Agosto de 1769”. Site da UP


Brasão na frontaria – brasão dos Sousa Arronches, usado pelo Bispo D. Frei António de Sousa.


Largo da Bataria – antiga casa com janelas em ogiva.


Vista do Sul – Igreja da Victória e Largo da Bataria - junto à palmeira da esquerda pode ver-se uma bala na parede, disparada durante o cerco do Porto (1832/33). Na porta lateral existe uma inscrição alusiva a esta bala. Durante o cerco a igreja ficou muito arruinada, pelo que passaram os serviços religiosos para o Mosteiro de S. Bento da Victória de 1832 até ao fim da reconstrução, em 1852.


Rua de S. Bento da Victória – no séc. XVI o beneditino Pereira de Novais afirma que “a Rua de S. Miguel principia na Porta do Olival e termina junto da Igreja de Nossa Senhora da Victória.” Mais tarde, por volta de 1743, é que se passou a chamar Rua de S. Bento da Victória. A rua em frente à Igreja continuou a chamar-se S. Miguel, que era já o seu antigo nome.


Igreja da Victória – Altar-Mor



Altar de Nª. Sª. da Victória

Em 1874 um incêndio destruiu parte da igreja e o altar de Nossa Senhora da Victória, mas o povo rapidamente a reconstruiu, tendo aí colocado uma imagem do grande escultor portuense Soares dos Reis.



"A escultura da Senhora da Vitória que se encontra colocada num altar lateral não apresenta a cabeça original, moldada pelo mestre Soares dos Reis, que terá usado como modelo a própria mãe. A humanidade da imagem desagradou à confraria encomendadora da obra, que a substituiu por uma obra menor, executada por um canteiro. No entanto, o trabalho primitivo foi salvo pela intervenção do Padre Agostinho Jardim e hoje pode ser vista mediante autorização”. Site da U. P.


Órgão e coro - Foto de José Pedro Gomes

"Este templo barroco situa-se na confluência da Rua de S. Bento da Vitória com a Rua da Bataria da Vitória. O topónimo "Bataria da Vitória" remete para uma bateria liberal que actuou durante o Cerco do Porto e que dirigia o seu tiro sobre os pontos miguelistas na margem sul do rio Douro (S. V. Coelho, 1994). Ainda se conserva uma bala na parede lateral, junto à porta Sul. Voltada para uma área murada, a igreja funciona como um excelente miradouro de onde se avistam os centros históricos do Porto e de Vila Nova de Gaia. 
No interior da igreja sobressaem vários elementos artísticos. Desde logo, a arte da talha da autoria de artistas do rococó portuense: Francisco Pereira Campanhã, autor do retábulo-mor (datado de 1765 e alterado pelo seu filho, o entalhador Damião Pereira de Azevedo, em 1780) e José Teixeira Guimarães, responsável pelos púlpitos, pelos retábulos laterais (1772-1773) e pela sanefa do arco cruzeiro. Lugar de destaque é ocupado pela tela do altar-mor, do pintor João Glama Stroberle (1708-1792) e por uma imagem da autoria do escultor António Soares dos Reis ambas alusivas à padroeira".