terça-feira, 30 de abril de 2013

ABASTECIMENTO DE ÁGUA À CIDADE

2.11 - Abastecimento de água à cidade

Do site dos SMAS retiramos o seguinte texto: “Reporta-se a 1392 o mais remoto registo histórico de que há notícia, revelador do facto de, há mais de seis séculos, o Porto já possuir fontes e chafarizes, para uso público, embora sem condições de higiene.
Com o crescimento da população e consequente concentração, os problemas foram-se agravando, sendo necessário aproveitar o manancial de Paranhos, situado no subsolo do Jardim da Praça 9 de Abril, mais conhecido como Jardim da Arca d' Água, local situado nessa altura nos arredores da cidade. No reinado de D. Filipe I, iniciou-se o seu encanamento, que ficou concluído em 1607, permitindo o transporte da água até à cidade, alimentando várias fontes ao longo do seu percurso.

Percurso do aqueduto do manancial de Paranhos

"No ano de 1825, foi aprovado novo trajecto que devia incorporar um outro aqueduto, já em construção, o de Salgueiros, com origem na actual rua de Antero de Quental. O novo aqueduto, com uma extensão de cerca de 3,5 Km, ficou concluído em 1838 e finalizava na Arca de Sá Noronha (cerca de 40 metros a norte da Praça Gomes Teixeira) 
Antes do que viria a ser o abastecimento domiciliário de água, a maioria da população recorria às fontes públicas, mas os mais abastados estabeleciam contratos com os "aguadeiros" - normalmente galegos fugidos ao serviço militar - que vendiam água a "avulso" ou "por assinatura". 
No entanto, a inquinação das águas, as doenças transmitidas, a evolução dos cuidados com a saúde e ainda as exigências quanto à qualidade de vida impunham uma transformação radical do sistema". 



Central do Rio Sousa - 1929

A partir de 1855, surgem várias companhias candidatas ao projecto e execução de obras de captação, elevação, transporte e distribuição domiciliária, sendo em 22 de Março de 1882 assinado o contrato com a "Compagnie Générale des Eaux pour l'Étranger", o qual é aprovado por Carta de Lei, em 27 de Julho do mesmo ano. Por este documento, é dada à Cidade do Porto a água dos Rios Sousa e Ferreira para seu uso exclusivo. O contrato com a Compagnie Générale era válido por 99 anos, prazo máximo então permitido por Lei e foi estendido a Matosinhos no princípio do século. Os trabalhos são concluídos em 1886, ficando em 1 de Janeiro de 1887 o abastecimento regularizado. Tinham sido construídos a Central do Sousa,


Reservatório de Jovim - 1939 

o Túnel-Reservatório de Jovim, os Reservatórios de S. Isidro ,


Reservatório dos Congregados – o ponto mais alto da cidade. 

dos Congregados e de S. João da Foz , 


e a conhecida Fonte Monumental (dos Leões), cuja função era a diminuição da pressão da água na zona baixa da cidade, e assentes mais de 70 km de tubagens. O sistema mostrou-se extremamente vulnerável em regime de cheias dos Rios Douro e Sousa, começando a Câmara a exercer fortes pressões junto da Companhia que conduziram ao resgate da concessão em 28 de Março de 1927, por 3.500 contos, e à criação dos Serviços Municipalizados Águas e Saneamento em 1 de Abril desse ano".


Os Serviços Municipalizados Águas e Saneamento, começaram por beneficiar a Central do Sousa e construírem os Reservatórios (1928) e a Central (1929) de Nova Sintra. Em 1934, por decreto-lei, viram-se os Serviços na obrigação de abastecer os concelhos de Gondomar, Gaia e Matosinhos.


Areal de Zebreiros 

Como reforço à captação do Sousa, procederam-se às aberturas de poços no areal de Zebreiros (rio Douro), estando em 1938, oito em funcionamento. A crescente importância de Zebreiros, justificou a construção da Central de Zebreiros, que ficou pronta em 1940. Na cidade foi iniciada em 1959 a construção do reservatório do Bonfim que ficou concluído em 1961. Na década de 70, integrados no sistema regional, foram construídos o Reservatório de Ramalde, em Gondomar, Reservatório de Pedrouços, na Maia e a uma Central elevatória em Jovim.


Com a construção da barragem de Crestuma, por intrusão de água do mar, graves problemas surgiram nas captações de Zebreiros, face ao aumento do teor de cloretos. Foi decidido construir novas captações no sub-leito do Douro, a montante da barragem, em Lever.


Em 1985 entrava em funcionamento a Central Elevatória de Lever, desactivando-se a centenária Central do Sousa e as captações de Zebreiros. A necessidade de grandes investimentos ao nível de captação e tratamento de água levaram à constituição de uma empresa de capitais públicos - Águas do Douro e Paiva - que a partir de Janeiro de 1998 passou a garantir o abastecimento em alta à Área Metropolitana do Porto, passando os SMAS a garantir a distribuição de água na cidade”.




Fonte dos Leões


Foto do blog Fontes e Fontanários

Tendo-nos referido acima à Fonte dos Leões, damos informações mais pormenorizadas, do site da U.P. - “A Fonte dos Leões é uma fonte monumental com 8 metros de diâmetro e 6 metros de altura, integrada no sistema de abastecimento de águas ao Porto durante a década de oitenta do século XIX. Foi contratualizada com a empresa francesa Compagnie Générale des Eaux pour l'Etranger, também responsável pela construção deste equipamento público. Aprovada em 1885, entrou em funcionamento a partir do ano seguinte. Esta fonte, para além de decorar a então Praça dos Voluntários da Rainha, proporcionava a indispensável ventilação e oxigenação das águas, bem como o alívio da pressão das condutas.
A Fonte dos Leões é composta por um tanque octogonal de granito, de bordos arredondados e paredes exteriores de perfil ondulado e, ainda, por uma fonte central de bronze pintado com quatro leões alados e sentados nas extremidade. Está encimada por duas taças redondas sobrepostas e escalonadas; a inferior tem um friso vegetalista e cornetas de onde jorra água e no remate apresenta uma espécie de pinha.
Inicialmente alimentada pelo reservatório de Santo Isidro, a Fonte dos Leões passou a ter, a partir de 1942, a sua própria arca de abastecimento, em granito, situada a escassas dezenas de metros de distância. Gravuras antigas mostram que, originalmente, a Fonte era protegida por uma vedação de ferro”.
À beira da extinta Igreja de Nossa Senhora da Graça existiu o chafariz do Colégio dos Meninos Órfãos que foi apeado já no séc. XX para a construção da Praça de Parada Leitão.

sábado, 27 de abril de 2013

MANANCIAL DE PARANHOS - ARCA D'ÁGUA

2.10 - Manancial de Paranhos – Arca d’Água e fontes por esta abastecidas



Praça 9 de Abril - 1939


Antiga gruta do lago da Arca d’Água


Gruta actual - lugar muito agradável e onde se encontram idosos e reformados a jogar a bisca.



O Jardim de Arca D’Água, na Praça 9 de Abril, foi projectado por Jerónimo Monteiro da Costa e inaugurado em 1928. Apresentava então um lago e uma imponente gruta, bem ao gosto romântico da época. Na altura da sua inauguração plantou-se uma centena de plátanos a delimitar as largas alamedas laterais. Este projectista também desenhou outros jardins do Porto, tais como o da Boavista, do Infante, da Praça da República, do Carregal e de Carlos Alberto.
O jardim deve o seu nome às 3 nascentes de Paranhos (Arca d’Água) que foram o sustento de muitas fontes e chafarizes do Porto, até finais do século XIX. 
Neste local, ainda um descampado largo, desenrolou-se no séc. XIX um célebre duelo que ficou nos anais da história da cidade. Luis Miguel Queiroz descreve-o da forma seguinte: “Em 1865, a imprensa da Universidade de Coimbra dava a lume um opúsculo intitulado "Bom-senso e Bom-gosto: Carta ao Excelentíssimo Senhor António Feliciano de Castilho". Antero de Quental, o autor da missiva respondia a dobrar às ironias que o patriarca das hostes ultra-românticas, o velho Castilho, ousara endereçar-lhe num posfácio que redigira para o "Poema da Mocidade", do então jovem escritor Pinheiro Chagas. Esta inofensiva troca de sarcasmos serviu de faúlha para acender uma violenta polémica, que envolveu boa parte das principais figuras literárias da segunda metade do século XIX. Camilo foi um dos saiu a terreiro a defender o poeta cego. E Ramalho Ortigão, que mais tarde se integraria plenamente na chamada Geração de 70, talvez influenciado pelo facto de ter tido Castilho como professor de Grego e Humanidades, não lhe regateou também a sua pena - e o seu braço, como veremos...-, repreendendo duramente Antero no seu "Literatura de Hoje". A ramalhal figura foi mesmo ao ponto de publicamente crismar de covarde o poeta das "Odes Modernas". Antero não gostou. E a coisa esteve para se resolver numa trivial pancadaria de rua. Mas chegado ao Porto para se esclarecer com Ramalho, Antero deu de caras com Camilo, que o persuadiu a desistir da cena de rua em favor de um duelo "comme il faut". Ramalho foi pois convidado a escolher as armas e optou pela espada, que manejava com reconhecida destreza. Antero, por seu turno, dirigiu-se a uma sala de esgrima para se inteirar das regras básicas da modalidade. Na manhã de 6 de Fevereiro 1866, paravam dois coches no largo da Arca d'Água. Apearam-se contendores e testemunhas e logo se deu início ao duelo. Foi uma coisa rápida, e pouco depois as viaturas voltavam a partir, levando, uma delas, um Ramalho combalido e de braço ao peito, a outra o impetuoso Antero, que não sofrera a mínima beliscadura”. 
Entre 1903 e 1916 realizava-se neste largo a grande feira de S. Miguel, vinda do Largo da Boavista. Em 6/4/1922 o jardim passou a chamar-se 9 de Abril, lembrando a terrível batalha de La Lys, em 1918 em França, onde morreram muitos portugueses. Mas de tão antigo e entranhado nome de Arca d’Água os portuenses é assim que lhe chamam. Lembremos os nomes da Praça da República, Cordoaria e outros de que ninguém se lembra do verdadeiro nome do jardim.


Neste jardim encontra-se a escultura de Charters d’Almeida intitulada “A Família”, inaugurada em 1972.


Antiga entrada para a Arca d’Água.


Actualmente desce-se por este alçapão

“No dia 20/11/1597 Filipe I ordena que seja lavrado alvará concedendo à Câmara a água do Manancial de Paranhos (Arca d’Água) para abastecimento da cidade, pagando a edilidade as obras do seu aproveitamento e distribuição com os rendimentos “do vinho e sal e dos sobejos dos crescimentos das cizas”, além dos 1.000 cruzados oferecidos pelo povo.” As obras terminaram em 1607. 
Foram, através dos tempos, feitas muitas obras e desvios com a finalidade de melhorar a qualidade e o abastecimento da água. Na verdade, embora ARC elogie muito a qualidade desta, a mesma era, segundo o bacteriologista Sousa Junior (1871/1938), de muito má qualidade e imprópria para consumo. Mesmo assim, foi o mais importante fornecedor de água o Porto durante centenas de anos! Nos séculos seguintes várias foram as obras de recuperação do percurso da água até ao Porto. Em 1660 a Câmara lançou um imposto de 1 real por cada rasa de sal que entrava na cidade para o arranjo do canal, que, como acima se lê, ARC diz estar “irregular, rôto e arruinado”,em 1788. Só entre 1825 e 1838 foi construído o actual encanamento, todo enterrado.


Arca d'Água

Porfundo - Subterrâneos do Porto (Video) 



Percurso do manancial de Paranhos. Desde a Arca d’Água à antiga Arca do Anjo tinha cerca de 3.500 metros. Damos adiante algumas das fonte que são alimentadas por este manancial.


Fonte do Regado , antigamente Fonte do Matadouro e Fonte da Natária - 1840 - Foto de OPP-CUPC




Fonte na Rua de Cedofeita, junto à Rua da Torrinha– foto séc. XIX 

O Dr. Adriano Fontes, na sua obra – “Contribuicao para a Higiene do Porto” - Pagina 29 ( Porto 1908 ) afirma o seguinte: “Podemos dizer que a 4 de Julho de 1825 foi praticada vistoria, a requerimento de Jose Braga e outros as suas propriedades de Cedofeita e situadas na Rua da Torrinha, para ai se edificar um chafariz.... Assim oferecia o citado municipe o terreno necessario a construcao da fonte, mas impondo como condicao a cedencia por parte da camara de pena e meia de agua diarios, ( 945 litros ). Segundo o mesmo autor a fonte teria gravado no seu cume a data de 1826. Em 1893, sofreu esta fonte um pequeno corte no seu tanque, a fim de que as pessoas la se dirigissem para colher agua pudessem estar abrigadas em caso de chuva.” A bica desta fonte está nos jardins dos SMAS.


Fonte do Largo da Maternidade Júlio Diniz – antigo Campo Pequeno


Construída em 1718 na Rua das Oliveiras. Em 1824 foi remodelada com projecto de Joaquim Costa Lima Sampaio e acrescentados a concha e o peixe. Foi mudado para o local actual, na confluência das Rua dos Mártires da Liberdade e General Silveira, em 1881.



Palácio de Cristal – duas fontes com carrancas – estas carrancas estiveram na Fonte da Natividade até 1832 e na fonte da Praça de Santa Teresa até 1905.


Aguadeiros enchendo canecos – Praça do Pão, depois de Santa Teresa e finalmente Guilherme Gomes Fernandes – Neste local existiu uma fonte com três carrancas que estavam na Fonte da Natividade, na Praça D. Pedro. Foi substituída por este fontanário em 1905. Em 1915 também este foi destruído para dar lugar ao monumento a Guilherme Gomes Fernandes.



Arca do Anjo 

Construída no extinto Mercado do Anjo, que abriu ao publico em 1839 no local onde está agora o Shopping dos Clérigos. A arca recebia a água dos mananciais de Paranhos e Salgueiros, que depois de ali misturada ia abastecer as freguesias de Victória, Miragaia, S. Nicolau e Sé. Foi demolida em 1949 e reconstruída nos jardins dos SMAS – Desta arca saíam 2 ramificações: uma passava pela cadeia e abastecia as Fontes de Neptuno e Taipas, e a segunda descia a Rua dos Clérigos e abastecia as Fontes de Mouzinho da Silveira, do Largo de S. Domingos, do Mercado Ferreira Borges, das Congostas e da Praça da Ribeira. A estas últimas já nos referimos em anteriores publicações. - foto Invictatur


Chafariz central – de 1839


Fonte Neptuno ou do Olival – Encontra-se na Praça da Porta do Olival, encostada à Cadeia da Relação. Ao centro tem um medalhão com Neptuno – No centro da Praça do Olival existiu um chafariz construído por ordem de Filipe II, em 1606. Quando da construção da Cadeia da Relação, em 1765, aquele foi desmantelado e substituído pela fonte Neptuno. Esta foi restaurada em 1940 – foto Portojo.


Fonte das Taipas

terça-feira, 23 de abril de 2013

RIO FRIO E FONTES QUE ALIMENTA

2.9.3 - Rio Frio e fontes que alimenta



O Rio Frio ou Rio do Carregal nasce nas proximidades da actual Rua da Torrinha, passa pelo Carregal, por baixo do Hospital de Santo António, abastece o Chafariz das Virtudes, a Fonte da Colher, corria ao longo do areal da praia de Miragaia e desagua no Rio Douro por baixo da Alfândega Nova. Hoje está totalmente encanado. – O topónimo Carregal deriva da existência de Carregas, plantas próprias de terrenos pantanosos.


ARC afirma que a fonte deu o nome à Porta das Virtudes da Muralha Fernandina. Sendo esta de cerca de 1376, humildemente nos parece ter sido o contrário, ou o local já anteriormente ser chamado deste nome. 
“Toda esta encosta, por onde corre o Ribeiro Frio, era nos fins do séc. XIV ainda um terreno ermo e baldio, onde os judeus enterravam os seus mortos. A Alameda das Virtudes foi plantada por ordem do grande corregedor Francisco de Almada e Mendonça, entre as ruas dos Fogueteiros, do Calvário de Belomonte e Cordoaria Velha, no lugar onde antes existiu o Postigo e Torre das Virtudes, na Muralha Fernandina. Fica-lhe junta a Fonte de nossa Senhora das Virtudes, mencionada em documento de 1580, e que se chamou também Fonte do Rio Frio…" (Toponímia Portuense de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas)
“ No ano de 1619 mandou a Câmara Municipal erguer uma fonte – a fonte do Rio Frio, que mais tarde veio a chama-se Fonte das Virtudes – para o ádito da qual, mandou igualmente abrir uma rua que, por se apresentar sobremaneira declivosa, ficou a denominar-se Calçada… das Virtudes. Foi a fonte mais aparatosa e mais imponente que teve o Porto. O seu frontispício elegantíssimo e de linda arquitectura, termina num meio círculo interrompido pelas armas reais, e entre esta pedra armorial e uma inscrição, tem dois castelos em alto-relevo, divididos por uma edícula, onde esteve a imagem da Virgem – pelo povo conhecida por Senhora das Virtudes – que representava, com os ditos castelos, as armas da cidade. 
(A inscrição, feita em mármore, a que ARC se refere, hoje ilegível, tem do seguinte texto:) “aqui flui a fonte dita das Virtudes: quem tiver sede já pode beber sem receio. Estas águas nasciam de uns penedos cavernosos, e andavam por aqui perdidas em charcos imundos e sombrios. A Câmara Municipal as expôs como vedes, fazendo esta majestosa fábrica e, para lhe dar maior realce, abriu esta estrada e fez estes assentos no ano de 1619” O Tripeiro Série V, Ano XV.


“Em plano baixo, vêem-se ainda as duas carrancas de pedra que faziam de bicas, assim como lajeado polido que servia de fundo ao tanque.” Idem


Pinho Leal, no seu livro Portugal Antigo e Moderno, refere: “causa dó uma obra de tanto preço votada ao abandono, pois há muito que o público não faz uso da água desta fonte, preferindo, por maior comodidade, a do Chafariz das Taipas; e mesmo porque a das Virtudes era mal saborosa. Lá se conservam ainda os dois tanques das lavadeiras, aumentando progressivamente o número destas com o desenvolvimento da cidade. Depois das Fontaínhas, são estes os lavadouros públicos de maior movimento que há hoje (1875, como dissemos) no Porto". 
Horácio Marçal, em 1959 ainda afirma que: ”Desde há compridos anos que o passeio das Virtudes, já não falando da área fundeira onde permanecem as ruínas da fonte – que essa, infelizmente encontra-se num estado calamitoso – deixou de ser frequentado pelas famílias gradas cá da nossa terra. Está, pode dizer-se, num abandono verdadeiramente confrangedor”. Devido a este abandono a zona das Virtudes, em especial a calçada e a fonte, eram muito frequentados por gatunos, malfeitores e prostitutas. 




Desde pelo menos o séc. XIV os portuenses aproveitavam os dias amenos para se deleitarem com as belas paisagens deste local. Dado o agrado dos habitantes daquela zona a Câmara mandou abrir, em 1682, um recinto espaçoso destinado a passeio público. Em 1788, data do relato de ARC, foi construído um paredão, mas tendo sido mal construído em poucos anos se desmoronou. Todavia, por ordem do Corregedor Francisco de Almada e Mendonça, foi reconstruído e é o que ainda hoje existe. 


O Passeio das Virtudes foi, durante os séc. XVII e XVIII o local preferido pelas melhores famílias dos Porto para os seus passeios em dias de Sol. Mesmo nas noites mais amenas tinha movimento.
Horácio Marçal afirma, em O Tripeiro Série V, Ano XV que: “Em Novembro de 1853 o largo fronteiro (ao prédio onde mais tarde esteve o Clube Inglês) foi todo aplanado na sua superfície e resguardado, nos lados Norte e Poente, por um gradil de ferro que subsiste”. 
Na mesma revista “O velho tripeiro F.N.M.J.” descreve esta foto da seguinte forma: “É do Passeio das Virtudes a fotografia que O Tripeiro apresenta no seu número de Maio(de 1948). Arborizado, como se vê na fotografia, tinha pelo Nascente um gradeamento de ferro, com três entradas, que à noite se encerravam. Pelo Poente e Norte tinha o gradeamento, que conserva ainda hoje, e parece ter sido ali colocado afim de evitar sucessivos e trágicos acidentes, que a altura da sua muralha tornava propícios. Com o gradeamento acabou-se a cisma, e ainda bem… Era este recinto pouco cuidado e limpo e, o que era pior, permitia-se que por ali estagiassem vadios e mendigos, catando-se e dormindo por aqueles bancos, o que era de um efeito bastante desagradável. Modernamente foi ajardinado, sofrendo várias modificações que tornaram o local um pouco mais aprazível, o que já não era sem tempo”. 


Foto de O Tripeiro de 1948 – pode ver-se o novo ajardinamento deste passeio e já não existem as grades e portões de Nascente.


O gradeamento na actualidade


Na actualidade


Os quatro Cavaleiros do Apocalipse – 1965 – obra do escultor Gustavo Bastos.


O que sempre se manteve foi o esplêndido panorama sobre a cidade, o rio e o mar.


Fonte da Quinta das Virtudes – foto de F. Afonso – será esta a carranca da Fonte da Natividade e depois de Santa Teresa sobre a qual não encontrámos referência da sua localização actual? 


Fonte do Bicho ou do Borges – Encontra-se na embocadura da Rua de S. Pedro de Miragaia – “No ano de 1821 foi cedida uma pena d'água ao capitão Borges, da Marinha Mercante, com a cláusula expressa na escritura de, à sua custa, mandar construir na frente da sua casa um chafariz para serventia do público.” In O Tripeiro


“A Fonte da Colher ainda funciona, embora não esteja no sítio primitivo. Está agora encaixada, se assim se pode dizer, na fachada de um prédio da Rua de Miragaia, perto das Escadas do Monte dos Judeus. O sítio onde se localiza a fonte, uma espécie de logradouro, ao fundo das Escadas do Monte dos Judeus e das embocaduras da Rua dos Armazéns e da Viela da Companhia, chamou-se, em tempos idos, Escampado, Escampadouro, Largo dos Navios e Largo da Fonte da Colher. A mais antiga referência que se conhece à Fonte da Colher está num documento do cartório do Cabido que se guarda no Arquivo Distrital do Porto e refere-se ao ano de 1491 e diz respeito a um "contrato condicional de censo de 300 reis para aniversários, imposto nas casas que estão em Miragaia sobre a Fonte da Colher… O nome de Colher anda ligado a um antigo tributo que os feirantes pagavam quando vinham vender os produtos da sua lavra à cidade. Pagava-se esse imposto de "todo o pão, farinha, nozes, castanhas e legumes que de fora chegassem ao Porto para aí serem vendidos". É verdade, também, que a sua água foi em tempos considerada "como a melhor em qualidade que teve a cidade". Pode-se avaliar da antiguidade desta fonte pela leitura da legenda, hoje quase imperceptível, que foi gravada na lápide da frontaria "Louvado seja o Santíssimo Sacramento e a Puríssima Conceição da Virgem Nossa Senhora, concebida sem pecado original. 1629. A água d'esta fonte é da Cydade…" In JN – Foi restaurada em 1940.
Porto Antigo