terça-feira, 30 de dezembro de 2014

CONVENTOS DE RELIGIOSAS - I

3.12.12 – Convento Corpus Christi das Dominicanas - I



Este convento fica na margem esquerda do Douro em frente à Ribeira.



Ruínas do convento após um grande incêndio


1939


Lateral do Convento na antiga calçada das freiras, hoje Rua de Serpa Pinto. Os carris são do elevador usado para levar os barris de vinho do Porto dos armazéns e do cais da Cruz para a estação das Devezas. Um projecto de 1873 da autoria Raul Mesnier de Ponsard. O elevador era puxado por uma locomotiva que utilizava uma cremalheira para subir a íngreme calçada das Freiras. Ver mais pormenores em local próprio.


O Convento de Corpus Christi foi fundado em 1345 por D. Maria Mendes Petite, mãe de Pero Coelho, um dos responsáveis pelo assassínato de D. Inês de Castro, e dedicou-o ao Augusto Sacramento da Eucaristia. A família estava ligada ao Mosteiro de Grijó. Entregou-o às Freiras Dominicanas. Porém, um litígio com o Cabido do Porto atrasou a sua abertura, que só se concretizou em 1354. O impasse só se resolveu quando a prioresa entregou o convento e seus bens ao de S. Domingos. Rico e poderoso, este convento, após pleito junto do Papa Inocêncio VI, conseguiu que este emitisse uma bula de aprovação, em 4/3/1353.
O primitivo convento encontrava-se muito perto do rio, mas as sucessivas cheias foram-no destruindo.
Assim, em meados do séc. XVII construíram um novo edifício e capela num local mais elevado, onde hoje se encontra. Esta foi desenhada pelo Padre Pantaleão da Rocha de Magalhães.
A capela “de planta centralizada octogonal (com capela-mor rectangular e profunda, e dois coros sobrepostos, do lado oposto), repete o modelo do templo lisboeta do convento do Bom Sucesso de Belém, concluído em 1670 e pertencente à mesma ordem. Esta opção planimétrica integra Corpus Christi no conjunto de igrejas de planta centralizada que tomaram um modelo "quase" abandonado desde a primeira metade do século XV e que conheceu grande fortuna a partir de 1640, principalmente nas obras directamente relacionadas com o círculo da Rainha D. Luísa de Gusmão (GOMES, 2002; SERRÃO, 2003, p. 133). Por outro lado, denuncia a concepção centralizada, subjacente à edificação das igrejas das religiosas dominicanas entre o início do século XVI e o final do século XVII, e que Paulo Varela Gomes tem vindo a relacionar com a liturgia motivada pelo culto e devoção particular dos dominicanos ao Santíssimo Sacramento, ou ainda com a tipologia dos sacrários, a partir do Concílio de Trento colocados, preferencialmente, em lugar de destaque no altar-mor (GOMES, 2002). À luz do exposto, a invocação do convento de Gaia "impunha" uma planimetria centralizada, plena de simbolismo e eficácia litúrgica”. Rosário Carvalho.
A mudança de lugar do convento, mesmo mais alto e longe do rio não impediu que, em poucas e grandes cheias, as águas o inundasse. Em 28/12/1827 a cheia foi de tal ordem que chegou ao Cimo do Muro, na margem direita, e ao convento, na esquerda. 

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Já no séc. XVIII foi reformada a entrada da Igreja que tem influência nazoniana. 


Em 1834 o convento foi extinto e todos os seus bens confiscados, mas só fechou em 1894 quando faleceu a última “dona" de Corpus Christi. Esta longevidade não era rara entre as freiras do Porto. 
Em O Tripeiro, Série V, Ano XII pode ler-se: “Também viveu 115 anos, Isabel da Madre de Deus, religiosa do Convento Corpus-Christi, apesar das rigorosas penitências com que macerava o corpo, e cento e trinta e sete, Madre Maria Vitória (1601-1737), dos quais passou cento e vinte no Convento de Santa Clara, á qual “”nunca se fez o cabelo branco, nem perdeu o juízo, nem se lhe diminuíram as forças, nem lhe caíram os dentes”” 
Em 1894 o arruinado convento foi entregue à C. M. de Gaia e à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e de S. Domingos, mediante certas obrigações. Porém, como estas não foram cumpridas o Ministério da Fazenda tomou posse dele em 26/7/1905. Parte deste edifício foi ocupado por armazéns da aguardente e álcool. 
Em 1930 foi entregue às Irmãs do Bom Pastor, destinado à educação e regeneração de meninas. Foi tal o aumento das internadas que obrigou a grandes obras de ampliação. De 1992 a 2002 esteve ligado à Fundação Frei Manuel Pinto da Fonseca. Em 2009, após novas obras de recuperação, passou para a posse da C. M. de Gaia. 



Fontanário seiscentista


Capela do séc. XVII – foto José João Roseira


Capela Mor

O interior da capela é octogonal, ao estilo italiano. Lembra-nos a Capela de S. Roque, de que já anteriormente nos ocupámos. Os altares são do séc. XX e não nada têm de notável.


Tecto e janelas que dão para o coro alto – foto de Gaspar de Jesus


S. Tiago – foto de Gaspar de Jesus

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

CONVENTOS DE RELIGIOSOS - XXI

3.12.11 – Convento de Santo António da Cidade - III



Claustro do Convento de Santo António da Cidade, hoje Biblioteca Municipal – a fonte foi trazida do Convento de Santa Clara.




Vasco da Gama




Original do diário da viagem de Vasco da Gama à Índia - é atribuído a Álvaro Velho, do Barreiro

“É um dos mais importantes pedaços da nossa História. Data de 1497, é atribuído a Álvaro Velho do Barreiro, e faz parte do espólio da Biblioteca Municipal do Porto.
O diário original da viagem de Vasco da Gama à Índia é um manuscrito de valor incalculável e, se me permite a confissão, um regalo aos olhos de qualquer visitante. Aquilo que a Biblioteca Municipal do Porto oferece não tão só ter a possibilidade de estar em contacto com um facto histórico. Palpável. Mensurável. Contrariamente ao que é normal acontecer em museus ou através de outras fontes, históricas ou não, em que podemos "assistir" à História pode detrás de uma vitrine ou escondida numa qualquer caixa de vidro mantida à distancia, aqui temos a possibilidade de consultar o documento. O manuscrito pode ser consultado mediante pedido feito à Biblioteca e o cumprimento de várias regras, que por questões óbvias são obrigatórias. Mesmo assim ... este será o mais próximo de termos história nas nossas mãos. E é bom que esta possibilidade seja aproveitada responsavelmente.
O manuscrito, que se acredita ser da autoria de Álvaro Velho do Barreiro, um dos elementos da expedição, relata as aventuras da primeira viajem de Vasco da Gama à Índia.
Uma missão exploratória realizada a pedido do Rei D. Manuel I de Portugal. A expedição, constituída por cento e sessenta homens, entre marinheiros, soldados e religiosos foi distribuída por quatro embarcações. A São Gabriel, comandada pelo próprio Vasco da Gama e especialmente construída para esta expedição. Trata-se de uma carraca ( navio de mercadorias de três mastros de velas redondas ) de 27 metros de comprimento e 178 toneladas. A São Rafael, embarcação semelhante à São Gabriel. Esta foi comandada por Paulo da Gama, irmão de Vasco da Gama, e também construída para a expedição. A Bérrio, uma caravela sob o comando de Nicolau Coelho. E a São Miguel, uma carraca de transporte de mantimentos, comandada por Gonçalo Nunes.
A expedição zarpou de Lisboa a 08 de Julho de 1497 e chegou a Kappakadavu, porto próximo de Calcutá a 20 de Maio de 1498.
A viagem de regresso teve inicio a 29 de Agosto de 1498. Tendo Vasco da Gama chegado a Portugal um ano depois, em Setembro de 1499.
No Diário de Vasco da Gama, de Álvaro Velho do Barreiro, estão relatadas as aventuras desta expedição que parte de Lisboa com cento e sessenta homens e regressa com apenas oitenta. Metade da tripulação morre, entre os quais Paulo da Gama, o irmão do descobridor português. Das quatro embarcações que deixaram o porto de Lisboa em 1497, apenas duas regressam. Álvaro Velho do Barreiro é, ao que se conhece, o autor do único relato presencial desta enorme aventura. Desta enorme página da História de Portugal.
O diário está disponível e patente ao público na Biblioteca Municipal do Porto para todos aqueles que se desejem ver in loco as páginas desta odisseia”. In myguide.iol.pt

Viagem de Vasco da Gama à Índia 


Foral Manuelino da Cidade do Porto – 1517 – na BPMP




Ao longo dos anos os livros degradam-se, vão perdendo o formato, a cor e as letras perdem o contorno. Sendo esta uma biblioteca patrimonial, a missão é preservar os livros o que é possível através da microfilmagem e da digitalização. Volumes de 15 quilos voltam a ganhar vida através do serviço de restauração. Através do processo de microfilmagem são reproduzidas por ano cerca de 40 mil imagens.

sábado, 20 de dezembro de 2014

CONVENTOS DE RELIGIOSOS - XX

3.12.11 – Convento de Santo António da Cidade - II


Real Biblioteca Pública do Porto


Primeiro local onde esteve localizada a Real Biblioteca Pública do Porto, anterior Hospício dos frades do Convento de Santo António do Vale da Piedade.
“A Real Biblioteca Pública da cidade do Porto, actual Biblioteca Municipal do Porto, foi oficialmente inaugurada no dia 9 de Julho de 1833, por D. Pedro IV, Duque de Bragança. O País e em especial a cidade do Porto, atravessava nessa altura momentos de grande instabilidade, com as lutas liberais e grandes mudanças políticas, mas mesmo assim D. Pedro mandou publicar um Decreto na "Chrónica Constitucional do Porto" onde declarava que será estabelecida nesta mui antiga e mui leal cidade do Porto, uma livraria com o título de Real Bibliotheca Publica da Cidade do Porto. O Hospício dos Franciscanos, localizado na Cordoaria, acolheu a Biblioteca que só abriu as suas portas ao público 4 de Abril de 1842…


…remontando a esta época o retrato do rei que ainda hoje se conserva na Biblioteca”. In Blogue Calçada da Miquinhas - Quadro de João Baptista Ribeiro – 1833.
Segundo Magalhães Basto, “O fundo dessa preciosíssima Biblioteca Municipal foi constituído com as livrarias de alguns dos conventos extintos, e com as de D. João de Magalhães, Bispo do Porto, de Alexandre Garrett, do Visconde de Balsemão e de outros portuenses miguelistas”.



“Consideremos o período da infância e da juventude de Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, nascido, lembra-se, em Lisboa, em 28 de Março de 1810, filho de Teodoro Cândido de Araújo e de Maria do Carmo de São Boaventura... Para compreendermos sobretudo os primeiros anos do percurso de Alexandre Herculano, não podemos desligá-lo de toda uma geração, a começar pela figura tutelar de D. Pedro, Duque de Bragança, Regente em nome de D. Maria II. Como, por várias vezes, tem sido sublinhado, o empenhamento do Monarca foi decisivo na criação e instalação da RBPP. Era uma intenção já com algum tempo de gestação e que foi, passo a passo, concretizada. Exemplo do acompanhamento direto e pessoal que D. Pedro prestava à “sua” Biblioteca é a audiência que, em 4 de agosto de 1834, concedeu, no Paço do Porto, ao 1.º Bibliotecário, Diogo de Góis Lara de Andrade, quando este lhe foi apresentar o plano de classificação e a lista de obras a adquirir para a RBPP.
Grande figura contemporânea de Herculano no período do Porto foi Almeida Garrett: o Largo dos Loios era o seu lugar de tertúlia. Ambos assumiram o papel do escritor “romântico” que às letras associa as armas. Os dois se alistaram como voluntários. Garrett pertencia ao Batalhão Académico e entregava-se, ao mesmo tempo, à escrita do romance, enquanto Herculano, dos Voluntários da Rainha, pendia mais para a História, vindo a ser dispensado do serviço militar activo, para fazer face à tarefa urgente de cuidar da biblioteca entretanto sequestrada ao Bispo do Porto...
Os documentos que conduziram à nomeação de Herculano declaram: "“começou a servir espontaneamente no arranjo de varias livrarias abandonadas em Novembro [de 1832], e por ordem de V. M. I. em Março [de 1833]"”, por conseguinte, antes da fundação da RBPP, oito e quatro meses, respectivamente. Às “livrarias abandonadas” acrescentaremos a biblioteca sequestrada a D. João de Magalhães e Avelar, Bispo do Porto. Estão, aliás, bem documentadas as preocupações da Câmara e do Governo quanto à guarda dessa preciosíssima colecção, que alcançara fama muito para além dos limites da Cidade.
Lembremos que, para além de Herculano, havia outro bibliotecário encarregado da custódia e tratamento da biblioteca pessoal do Bispo: Diogo de Góis Lara de Andrade. Em breve, ambos irão transitar para a nova Biblioteca Portuense, da qual os livros do erudito prelado serão um dos núcleos fundadores. A nomeação de Alexandre Herculano, em 17 de Julho de 1833, expressa o reconhecimento de um certo grau de especificidade quanto às habilitações literárias requeridas para o preenchimento do lugar de 2. º bibliotecário da RBPP...
É bem conhecido o facto de Alexandre Herculano, em 17 de Setembro de 1836, pedir ao Presidente da Câmara a demissão do lugar de 2. º Bibliotecário da RBPP, por, na sequência da Revolução de Setembro, ter sido chamado a jurar a Constituição de 1822, o que contrariava idêntico acto face à Carta Constitucional, três semanas antes.

1 ª. Carta de Alexandre Herculano:
Ill.mo Snr. Persuadido pela voz da íntima consciência de que não devo prestar o juramento p.a que V. S.a me convida no seu Officio de hoje, julguei também me cumpria communicar-lhe immediatamente a minha resolução. A fé que prometti guardar à Carta Constitucional da Monarquia sellei-a com as miserias do desterro e com os padecimentos e riscos de soldado, que passei na emancipação da Patria; – para a conservação de um cargo publico não sacrificarei, portanto, nem a religião do juramento, nem o orgulho que me inspiram as minhas acções passadas. Pode, assim, V. S.ª declarar a essa Ill.ma Camara que o meu lugar de Segundo Bibliothecario está vago, para que ella proponha ao Governo actual, para o preencher, qualquer outra pessoa, que por certo, melhor do que eu desempenhará as obrigações a elle annexas. – Deos guarde a V. S.ª – Porto 17 de Setembro de 1836. – Ill.mo Snr. Manoel Pereira G.es – Alexandre Herculano de Carv.º e Araújo.

2ª. Carta de Alexandre Herculano
Ex.mo Snr. Manuel da Silva Passos.
Ha um mez que o 1.º bibliothecario da Biblliotheca Publica d’esta cidade e eu fomos convocados para prestar juramento á Constituição de 1822, que então e hoje, de futuro alterada, felizmente nos regia e rege. Ambos recusamos praticar esse acto: procedimento a que, pela minha parte, me levaram as rasões que V. Ex.ª verá da resposta que dei, e que remetto inclusa. Foi logo demittido o meu collega, e eu ainda aqui estou esquecido.
Não attribuo isto a falta de equidade de V. Ex.ª porque reconheço a rectidão da sua alma e que nem odio nem affeição seriam capazes de torcer os principios de V. Ex.ª, antes o lanço á conta dos muitos cuidados e negocios que cercam a V. Ex.ª no alto cargo em que o collocou o voto unanime da Nação, e a livre escolha de S. M. a Rainha. Só da minha insignificancia me dôo, que fez não ser eu lembrado de V. Ex.ª, que a tantos, com mão profusa, tem liberalisado a honra da demissão.
Não creia V. Ex.ª que por este modo a peço; porque nem uma demissão pedira eu ao Governo actual: esta minha carta é apenas um memorial que levo á presença de V. Ex.ª como se eu fosse alheio ao caso, porém não indifferente á boa fama e gloria de V. Ex.ª.
A Providencia se não esqueça de V. Ex.ª, nem de nós, como todos precisamos para que Portugal seja salvo. - Porto 19 de Outubro de 1836.
(a) Alexandre Herculano de Carvalho e Araujo”. 
In Alexandre Herculano e a Real Biblioteca Pública do Porto: um caso exemplar, por Luis Cabral


Catálogos de livros feitos por Alexandre Herculano


Biblioteca Municipal do Porto

“Mas foi o antigo convento de Santo António, construído no século XVIII, doado à Câmara em 1839, que deu lugar a um edifício repleto de histórias e um sem fim de obras literárias. Os fundos primitivos foram constituídos pelas obras pertencentes às bibliotecas dos Conventos, incorporadas nos bens nacionais na sequência da legislação do Governo Liberal que suprimiu as Ordens e as Congregações religiosas, pelas colecções "sequestradas" a particulares conservadores, e também com um exemplar de toda e qualquer obra impressa em Portugal. Ao longo dos anos as colecções da Biblioteca foram sendo sucessivamente enriquecidas por doações, permutas e aquisições. Em 1876, D. Luís transformou-a em Biblioteca Municipal. É uma das três principais Bibliotecas do País, sendo a maior e a mais antiga Biblioteca Pública Municipal Portuguesa, assumindo graças à riqueza do seu espólio, um carácter nacional e mesmo internacional, o que transcende o papel comum de uma biblioteca dita Municipal. Entrando na Biblioteca somos confrontados com mais de 20 quilómetros de livros para percorrer, cerca de um milhão e trezentos mil documentos, divididos em três pisos”. In blogue Calçada da Miquinhas.



Azulejos vindos do refeitório do Convento de S. Bento da Victória


séc. XVII


séc. XVII


séc. XV-XVI


séc. XVII


séc. XVII


séc. XVII

As seis fotos de azulejos acima, dos séc. XV a XVII, foram colhidas no blogue Casos e Acasos da Vida - no final do texto existe o seguinte comentário, feito com o pseudónimo de Calandrónio: “Os painéis de azulejaria sevilhana de aresta, do inicio do século XVI, pertenceram, com toda a probabilidade, ao Convento da Conceição de Beja. Teriam sido enviados de Beja para o Porto, em caixotes, via caminho de ferro, no inicio do século XX, conforme documento (carta manuscrita) que possuímos, escrita pelo então presidente do município portuense ao governador civil de Beja. No documento consta o facto de tais preciosidades serem desconhecidas das gentes do Porto e pergunta-se se ainda poderão ser enviados mais alguns dos caixotes que ficaram em Beja, com parte dos azulejos da riquíssima sala do capítulo do referido convento da Conceição. 
Esta adenda tem somente o fim de repor a verdade sobre a origem desses azulejos. Abraço, Leonel Borrela”.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

CONVENTOS DE RELIGIOSOS - XIX

3.12.11 – Convento de Santo António da Cidade - I



Planta do Porto - 12 local do convento



Projecto do Convento

“1747 - Alguns religiosos franciscanos da Província da Conceição vêm para a cidade do Porto e fundam um Hospício, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição.

1749 - Dionísio Verney, homem de negócios, está a acabar de construir, no Campo de São Lázaro, uma capela, mais tarde adquirida pelos Religiosos da Província da Conceição para estabelecimento de um Hospício Regular.

1753 - Em disposição testamentária, Dionísio Verney refere-se à construção, em São Lázaro, de um convento, convento esse que tinha intenção de ceder aos Padres da Ordem da Santíssima Trindade.

1755 - Morre Dionísio Verney, sendo sepultado na sua capela, ao Campo de São Lázaro.

1776 - Maria Angélica Teresa vende a António José Mendes Guimarães a capela, bem como três moradas de casas, sitas no Campo de São Lázaro, que tinham pertencido a seu irmão, Dionísio Verney.

1778 - D. Maria I concede aos Religiosos Menores da Província da Conceição autorização para fundarem um Hospício Regular na cidade do Porto.

1779-1780 - Os Religiosos da Província da Soledade opõem-se a que os da Província da Conceição estabeleçam um Hospício Regular no Porto. Por isso, D. Maria I manda nomear um desembargador para superintendente da fundação do referido Hospício.

1780 - Em 26 de Novembro, os Religiosos da Província da Conceição compram a António José Mendes Guimarães uma «capella publica com casas místicas a ela» e outras casas e terrenos, situados no Campo de São Lázaro, que haviam pertencido a Dionísio Verney. A 30 de Novembro, a comunidade religiosa muda-se, das casas que habitava na Rua de Santa Catarina, para o edifício de São Lázaro. A 11 de Junho, o Ministro Provincial, Frei António das Dores, faz a primeira visita ao Hospício estabelecido em São Lázaro. No dia 3 de Julho, os Religiosos adquirem mais casas e terrenos para ampliação do seu Hospício.

1782 - É eleito, a 23 de Julho, o primeiro Prelado do Hospício de Santo António da Cidade, com voto e com o nome de Presidente «in capite».

1785 - Continuam as obras no Hospício, procedendo-se à extracção de pedra na Quinta da Fraga, às Fontainhas.

1789 - O edifício está ainda por concluir e promete vir a ser «um dos maiores Conventos da Cidade», segundo refere o Padre Agostinho Rebelo da Costa na «Descrição Topográfica e Histórica da Cidade do Porto».

1790 - O Hospício passa a Convento e Casa Capitular. Frei António de Jesus toma então posse como Guardião.

1791 - Realiza-se o primeiro Capítulo Provincial no Convento de Santo António da Cidade, a 27 de Agosto.

1808 - São abertas vinte e seis sepulturas nas «quadras do claustro», benzidas a 23 de Maio. Em Julho, é estabelecido no Convento um depósito para móveis e roupas das tropas espanholas que ocuparam a Cidade durante a 1ª Invasão Francesa. No mês de Abril, passa a funcionar no Convento um hospital para tropas francesas, hospital esse que, a partir de 20 de Maio, é destinado às tropas portuguesas. A 29 de Abril, o Guardião do Convento, Frei José de Jesus Maria, assina, por si próprio e pela comunidade, a acta da Vereação extraordinária da Câmara em que foi acordado comunicar a D. Miguel que a cidade do Porto o queria como legítimo representante da Coroa.

1829- 1830 - Prosseguem as obras na Igreja e sacristia.

1830 - Toma posse, em Capítulo Provincial de 29 de Maio, o décimo oitavo e último Guardião do Convento, Frei António da Natividade.

1831 - Em 3 de Dezembro é celebrado o último Capítulo (intermédio) no Convento do Porto.

1832 - Continua a construção da nova Igreja, encontrando-se já a capela-mor muito adiantada. Em 20 de Maio, é registada a última patente, dada pelo Ministro Provincial, Frei Francisco de Santa Maria dos Anjos, no Convento do Porto. O Ministro Provincial faz a última visita ao Convento, no dia 4 de Junho. O Convento é abandonado pelos Religiosos no dia 9 de Julho, data da entrada do Exército Libertador na Cidade, permanecendo apenas um membro da comunidade, Frei Joaquim da Assunção. A 14 do mesmo mês, o Convento é ocupado por tropas inglesas que combatem ao lado dos liberais, as quais furtam móveis, alfaias religiosas e livros. No dia 26 do referido mês, são fuzilados pelos liberais, o Irmão Definidor, Frei Francisco da Pureza, e o Irmão Corista, Frei António de Ave-Maria, que se haviam refugiado na Quinta do Fojo. Na presença de Frei Joaquim da Assunção, são inventariados, a 30 de Agosto, os bens do Convento. Em 25 de Setembro e 3 de Outubro, é retirada a «Livraria», a qual é entregue ao Bibliotecário da Comissão dos Conventos Extintos ou Abandonados. O Batalhão Francês, que ocupava o Convento, abandona-o em Novembro, tendo feito nele grandes estragos, o que leva a Comissão dos Conventos Extintos ou Abandonados a comunicar o sucedido a D. Pedro IV. No dia 13 desse mês, a referida Comissão compra um livro de coro, pertencente ao Convento, que estava na posse de um soldado francês.

1833 - Em Outubro, a mesma Comissão entrega a João Baptista Ribeiro, entre outros quadros e painéis, a «Ceia» da autoria de Joaquim Rafael, que havia pertencido ao Convento de Santo António da Cidade. Em 30 de Dezembro, por o Prefeito do Douro e a Comissão Municipal entenderem que a Biblioteca Pública – provisoriamente instalada no Hospício de Santo António de Vale da Piedade, à Cordoaria, e no Paço Episcopal – necessitava de um edifício mais espaçoso, é mandado examinar, para esse efeito, o «abandonado Convento de Santo António da Cidade», por uma Comissão constituída pelo 1º Bibliotecário, Diogo de Góis Lara de Andrade, pelo Arquitecto da Cidade, Joaquim da Costa Lima Sampaio, e pelo 2.º  Bibliotecário, Alexandre Herculano.

1834 - O Prefeito do Douro, em 13 de Março, remete ao Governo as plantas da Praça de São Lázaro e do Convento de Santo António da Cidade, bem como o orçamento das despesas necessárias para neste edifício se instalar o Museu e a Biblioteca.

1836 - Em Agosto, é anunciada a venda dos «materiaes das Igrejas nova, e velha do extincto Convento de Santo António da Cidade».

1839 - O edifício do Convento é doado à Câmara do Porto, em 30 de Julho.

1842 - É definitivamente instalada no edifício do Convento a Real Biblioteca Pública do Porto e inaugurada em 4 de Abril, dia do aniversário da Rainha D. Maria II”.
Meireles, Maria Adelaide – Cronologia - in O Convento de Santo António da Cidade: exposição no 150.º aniversário da instalação definitiva e da abertura oficial da Biblioteca Pública Municipal do Porto.


Convento de Santo António da Cidade - Gravura de Joaquim Villanova – 1833 – nas obras de transformação para Real Biblioteca a igreja, ainda em construção, foi destruída.

“Em 1747, religiosos franciscanos da Província da Conceição, vieram à cidade do Porto, para aqui fundarem um Hospício, da invocação de Nossa Senhora da Conceição. No ano de 1780 compraram uma capela pública e outras casas e terrenos, no Campo de S. Lázaro. Em Novembro desse ano mudam-se para S. Lázaro. Em 1790 o Hospício passa a convento e casa capitular. Assim nasceu no Porto o Convento dos Frades Menores Antoninhos da Província da Conceição, mais conhecido por Convento de Santo António da Cidade. A sua construção prolongou-se por vários anos, e ainda no ano de 1832 prosseguiam as obras da nova igreja. Em 9 de Julho de 1832, o convento é abandonado, por se ter verificado a entrada na cidade do Porto das tropas liberais. No dia 14 o convento é ocupado pelas tropas inglesas. 
Em 1833 a Biblioteca Pública, que provisoriamente estava instalada no Hospício de Santo António do Vale da Piedade, na Cordoaria, e no Paço Episcopal, começa a ser mudada para o Convento de S. Lázaro. Em 1839 o Convento é doado à C.M.P. e em 4 de Abril de 1842, dá-se a inauguração de Real Biblioteca Pública do Porto.” - Fernando Moreira da Silva em Boletim dos Amigos do Porto de 2003.


Biblioteca Municipal do Porto – 1848 – a vermelho está desenhada a área a ser construída “pra tornar o edifício regular e simétrico”. 


Brasão virado à Rua Visconde de Bóbeda – foto Manuel José Cunha


Fonte no Convento


Além de convento, este edifício foi Real Biblioteca Pública do Porto, Academia de Belas Artes…



…e o Museu Portuense. primeiro museu público de Portugal.


No seu livro O Porto do Romantismo Artur de Magalhães Basto diz: “O primeiro museu público do país foi o Museu Portuense (1833), criado por D. Pedro IV no rigor do cerco. Também se lhe chamava Ateneu D. Pedro. O seu recheio constava do espólio dos conventos extintos nas províncias do Norte, das obras de arte encontradas nas casas particulares sequestradas, e do fundo que pertencera à Academia Real da Marinha e Comércio do Porto… O museu Municipal foi por essa época  fundado, - manifestação de bairrismo inteligente e prático -, com a compra da colecção Allen (1850), a melhor colecção particular que existia na cidade e, talvez, em Portugal”.
Em 1911 passou a chamar-se Museu Soares dos Reis. 


Museu João Allen  

Magalhães Basto continua: “João Allen




Em 1940 o estado comprou à S. C. M. do Porto o Palácio dos Carrancas, que após grandes obras. recebeu, em 1942, o espólio vindo de S. Lázaro. Em 1992, na sequência da criação do Instituto Português de Museus, o Museu Nacional Soares dos Reis iniciou um projecto de remodelação e expansão, da autoria do Arquitecto Fernando Távora, concluído em 2001.