3.12.12 – Convento Corpus Christi das Dominicanas - I
Este convento fica na margem esquerda do Douro em frente à Ribeira.
Ruínas do convento após um grande incêndio
1939
Lateral do Convento na antiga calçada das freiras, hoje Rua de Serpa Pinto. Os carris são do elevador usado para levar os barris de vinho do Porto dos armazéns e do cais da Cruz para a estação das Devezas. Um projecto de 1873 da autoria Raul Mesnier de Ponsard. O elevador era puxado por uma locomotiva que utilizava uma cremalheira para subir a íngreme calçada das Freiras. Ver mais pormenores em local próprio.
O Convento de Corpus Christi foi fundado em 1345 por D. Maria Mendes Petite, mãe de Pero Coelho, um dos responsáveis pelo assassínato de D. Inês de Castro, e dedicou-o ao Augusto Sacramento da Eucaristia. A família estava ligada ao Mosteiro de Grijó. Entregou-o às Freiras Dominicanas. Porém, um litígio com o Cabido do Porto atrasou a sua abertura, que só se concretizou em 1354. O impasse só se resolveu quando a prioresa entregou o convento e seus bens ao de S. Domingos. Rico e poderoso, este convento, após pleito junto do Papa Inocêncio VI, conseguiu que este emitisse uma bula de aprovação, em 4/3/1353.
O primitivo convento encontrava-se muito perto do rio, mas as sucessivas cheias foram-no destruindo.
Assim, em meados do séc. XVII construíram um novo edifício e capela num local mais elevado, onde hoje se encontra. Esta foi desenhada pelo Padre Pantaleão da Rocha de Magalhães.
A capela “de planta centralizada octogonal (com capela-mor rectangular e profunda, e dois coros sobrepostos, do lado oposto), repete o modelo do templo lisboeta do convento do Bom Sucesso de Belém, concluído em 1670 e pertencente à mesma ordem. Esta opção planimétrica integra Corpus Christi no conjunto de igrejas de planta centralizada que tomaram um modelo "quase" abandonado desde a primeira metade do século XV e que conheceu grande fortuna a partir de 1640, principalmente nas obras directamente relacionadas com o círculo da Rainha D. Luísa de Gusmão (GOMES, 2002; SERRÃO, 2003, p. 133). Por outro lado, denuncia a concepção centralizada, subjacente à edificação das igrejas das religiosas dominicanas entre o início do século XVI e o final do século XVII, e que Paulo Varela Gomes tem vindo a relacionar com a liturgia motivada pelo culto e devoção particular dos dominicanos ao Santíssimo Sacramento, ou ainda com a tipologia dos sacrários, a partir do Concílio de Trento colocados, preferencialmente, em lugar de destaque no altar-mor (GOMES, 2002). À luz do exposto, a invocação do convento de Gaia "impunha" uma planimetria centralizada, plena de simbolismo e eficácia litúrgica”. Rosário Carvalho.
A mudança de lugar do convento, mesmo mais alto e longe do rio não impediu que, em poucas e grandes cheias, as águas o inundasse. Em 28/12/1827 a cheia foi de tal ordem que chegou ao Cimo do Muro, na margem direita, e ao convento, na esquerda.
Já no séc. XVIII foi reformada a entrada da Igreja que tem influência nazoniana.
Em 1834 o convento foi extinto e todos os seus bens confiscados, mas só fechou em 1894 quando faleceu a última “dona" de Corpus Christi. Esta longevidade não era rara entre as freiras do Porto.
Em O Tripeiro, Série V, Ano XII pode ler-se: “Também viveu 115 anos, Isabel da Madre de Deus, religiosa do Convento Corpus-Christi, apesar das rigorosas penitências com que macerava o corpo, e cento e trinta e sete, Madre Maria Vitória (1601-1737), dos quais passou cento e vinte no Convento de Santa Clara, á qual “”nunca se fez o cabelo branco, nem perdeu o juízo, nem se lhe diminuíram as forças, nem lhe caíram os dentes””
Em 1894 o arruinado convento foi entregue à C. M. de Gaia e à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e de S. Domingos, mediante certas obrigações. Porém, como estas não foram cumpridas o Ministério da Fazenda tomou posse dele em 26/7/1905. Parte deste edifício foi ocupado por armazéns da aguardente e álcool.
Em 1930 foi entregue às Irmãs do Bom Pastor, destinado à educação e regeneração de meninas. Foi tal o aumento das internadas que obrigou a grandes obras de ampliação. De 1992 a 2002 esteve ligado à Fundação Frei Manuel Pinto da Fonseca. Em 2009, após novas obras de recuperação, passou para a posse da C. M. de Gaia.
Fontanário seiscentista
Capela do séc. XVII – foto José João Roseira
Capela Mor
O interior da capela é octogonal, ao estilo italiano. Lembra-nos a Capela de S. Roque, de que já anteriormente nos ocupámos. Os altares são do séc. XX e não nada têm de notável.
Tecto e janelas que dão para o coro alto – foto de Gaspar de Jesus
S. Tiago – foto de Gaspar de Jesus