terça-feira, 31 de julho de 2018

Do Porto e dos Portuenses I


11.1 - Do Porto e dos Portuenses I, situação do Porto, Gravura do Porto em 1789, Caracter e costumes do Porto, Iguais na felicidade e na desgraça, Alto Douro


Gravura de H. Dunkalf – 1736



Mapa de Portugal Antigo e Moderno – Pinho Leal – 1762




Agostinho Rebelo da Costa - 1789


1960




Naufrágio do vapor Porto
Em 28/3/1852 o vapor Porto saiu da barra com destino a Lisboa. Apesar da ameaça de mau tempo seguiu a sua rota até que, nesse dia à noite era tal o temporal que o capitão decidiu regressar e rumar a Vigo. No dia seguinte, ao raiar da aurora foi avisado, de terra, para se fazer ao largo, pois o mar havia piorado. Porém, os passageiros em grande angústia, e contra a vontade do capitão, obrigaram-no a rumar à barra do Porto e não seguir para Vigo. Tal foi a sua insistência que este cedeu, autorizado pelo piloto-mor. O barco foi encalhar na rocha do Touro (11) onde permaneceu até à noite. Ouviam-se em terra os gritos e pedidos de socorro dos passageiros e tripulantes, porém nada podia ser feito para os salvar dado não haver quaisquer meios de salvamento. Foi então que Ricardo Clamouse Brown e António Ribeiro da Costa e Almeida saltaram para uma catraia e saíram para o mar. Porém, este estava de tal forma violento que os arrastou para a praia. Um arrais, Manuel Francisco Moreira Júnior ainda se conseguiu aproximar e segurar uma corda atirada pelo Porto. Mas era tal a força do mar e dos passageiros a puxá-la que o capitão deu ordem de a cortar para salvar a vida dos pilotos. Por fim uma enorme onda levantou o barco e atirou contra a pedra da Laje, tendo-se o barco partido a meio. Salvaram-se apenas sete dos sessenta e um tripulantes e passageiros, entre os quais algumas crianças. A administração da empresa do navio foi muito culpada e condenada, pois sabia que este estava em péssimo estado de navegabilidade.
O naufrágio do vapor Porto foi um tremendo abalo para a gente os habitantes da cidade, pois nele pereceram personalidades muito conhecidas, entre eles, José Allen, irmão do Visconde de Vilar d’Allen, e suas duas filhas, o Cônsul de França, o pai de Ana Plácido, amante de Camilo, e outros. 




Douro no Outono


Agostinho Rebelo da Costa – 1789

O Porto visto do ar – uma maravilha – Luis Costa – Novembro 2015
https://www.youtube.com/embed/77B6Uh4cH1A




terça-feira, 24 de julho de 2018

MULHERES ILUSTRES EM VIRTUDES, EM SABEDORIA E OUTRAS RARAS QUALIDADES

10.8 -  MULHERES ILUSTRES EM VIRTUDES, EM SABEDORIA E OUTRAS RARAS QUALIDADES, D. Bernarda Ferreira de Lacerda, D. Luiza Marescoti, Venerável Berengária, Filipa Martins.





“D. Bernarda Ferreira de Lacerda, ilustre dama portuense, poetisa muito laureada no seu tempo, autora de poemas «Espanha Libertada» e «Soledades do Buçaco», patrocinou, junto de Filipe II, a vinda dos Carmelitas para o Porto, em 1616. Logo no ano seguinte vieram os frades. Ao local começou a chamar-se o Carmo, abrangendo no todo ou em parte, a actual Praça Gomes Teixeira, antes Praça da Universidade, antes Praça dos Voluntários da Rainha. Hoje o topónimo está reduzido à Rua e Travessa do Carmo.” ("Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas)
ARC refere-se ao convento fundado em Goa, mas nada diz sobre a sua influência junto do rei para a vinda dos Carmelitas para Portugal, em especial para o Porto. 

Em O Tripeiro Série VII, ano XXIII, Maria Odete Leão de Araújo Leão escreve:
“Bernarda Ferreira de Lacerda nasceu no Porto em 1593 e foi baptizada na Sé Catedral, aos 24 dias do mês de Outubro de 1593, conforme o assento do seu baptismo exarado no livro de Baptismos da Sé do Porto de 1589/98, fl. 107 v. … Jaz com seu marido num mausoléu do lado de Evangelho, na Capela de S. José, no Convento de Nossa Senhora dos Remédios das Carmelitas Descalças”. 


No seu mausoléu, em Lisboa, existe o seguinte lacónico epitáfio:




Venerável Berengária


Convento de Santa Clara e campo da feira - 1895


A Abadessa Berengária é efectivamente uma figura histórica, tendo estado à frente do convento de 1384 a 1406. Embora o milagre que lhe é atribuído, seja uma lenda, a narrativa é de cunho edificante, ao valorizar virtudes indispensáveis à vida em comunidade, como a dedicação ao trabalho, a oração e, sobretudo, a obediência - em 1625, frei Luís dos Anjos já recolheu esta lenda no seu Jardim de Portugal, remetendo-a a uma versão anterior, em latim. No Convento de Santa Clara ela é evocada numa tábua, por escrito, e numa tela, ambas da segunda parte de Seiscentos.


Convento, Igreja e Claustro de Santa Clara em Vila do Conde


Do património edificado ao longo dos séculos, restam a bela igreja gótica, a imponente área residencial (noutros tempos chamada “dormitórios novos”), que é setecentista, os arcos do antigo claustro com o seu chafariz e o extenso aqueduto, em parte destruído. Sobre este aqueduto referimo-nos à descrição do irlandês James Murphy, em 1789, na sua viagem de Dublin para o Porto, que ao passar perto de Vila do Conde nos diz: ” …surgiu-nos pela frente Vila do Conde. O capitão encaminhou-se, então, em direcção a um alinhamento de arcos, restos de um antigo aqueduto. O movimento da embarcação não nos permitiu contá-los, mas o capitão assegurou-nos que eram em número de mais de trezentos e a sua afirmação não nos pareceu de modo algum exagerada, a avaliar, pelo que vimos, da sua extensão.” Pelo descrito o aqueduto já não seria utilizado nos fins do século XVIII. Na Igreja encontram-se alguns túmulos importantes : o de D. Beatriz, filha de São Nuno Álvares Pereira, o dos Condes de Cantanhede e os dos Fundadores do mosteiro.

Vídeos sobre o Convento e Igreja de Santa Clara de Vila do Conde -exterior

interior


Convento Corpus Christi - Gaia - desenho Pinho das Silva

quarta-feira, 18 de julho de 2018

DOS HOMENS ILUSTRES EM LETRAS E ARMAS VII

10.7 - Dos Homens ilustres em letras e armas VII, Teodoro de Sousa Maldonado II - Arquitecto e desenhador do séc. XVIII, Quartel de Santo Ovídio, Antigo Governo Civil, Porta do Sol, Planta Geográfica da entrada do Douro.

Quartel de Santo Ovídio desenho do arq. Ronaldo Oudinot - 1793



O Quartel de Santo Ovídio foi construído por Aviso Régio de 20 de Fevereiro de 1790 da Rainha D. Maria I para albergar o 2º Regimento de Infantaria do Porto, que fora criado em 1762 e instalado nos celeiros da Cordoaria. O autor do projecto do Quartel foi o Tenente-Coronel Engenheiro do Reino, Reinaldo Oudinot. As obras, com algumas alterações e direcção de Teodoro de Sousa Maldonado, arrastaram-se até 1805-1806. Em 1809 serviu de aquartelamento temporário e posteriormente de prisão às tropas francesas, do General Soult da 2ª Invasão. Deste quartel saiu a Revolução do 31 de Janeiro de 1891, às 4 h. da manhã.


Foi mandado construir a 21 de Junho de 1792, num terreno que ficava no lugar dos Carvalhos do Monte, local deixado livre pela demolição de uma parcela da Muralha Fernandina, entre a Batalha e o Postigo do Sol. O projecto foi de Reinaldo Oudinot, alterado, após a sua morte pelo Arq. Teodoro de Sousa Maldonado, e destinava-se a asilo de desvalidos e rapazes abandonados, retirando-os das ruas. Exteriormente, merece destaque o corpo central da fachada, com uma varanda corrida ao nível do andar nobre, de onde se abrem três largas janelas e se recorta um sóbrio frontão triangular, o qual tem inserido a granito as armas reais. O edifício teve várias utilizações. Antes de 1832 no andar térreo funcionaram as prisões de recrutas e criminosos militares de Calceta e nos restantes pisos foram instaladas as secretarias e repartições pertencentes à guarnição do Porto. Também aí residiam alguns oficiais solteiros da guarda real da polícia. Na zona norte do edifício esteve instalado o Quartel General da região norte. Anos mais tarde, o edifício foi convertido em sede da repartição da fazenda, pagadoria militar, quartel general, estação telegráfica eléctrica, e governo civil. Na impossibilidade de expansão e principalmente na dificuldade técnica de acrescentar um 3° andar foi mandado demolir o arco da Porta do Sol, estendendo-se para este lado o acrescento que se lhe fez em 1875.



Planta geográfica da barra da cidade do Porto – Teodoro de Sousa Maldonado - Oficina de António Alvares Ribeiro, 1789 – site da Biblioteca Nacional de Portugal.


Capela-Farol de S. Miguel o Anjo – o rochedo da Cruz de Ferro está indicada com o nº. 19 - pormenor do mapa de Teodoro de Sousa Maldonado. 


Capela de Santa Catarina em Lordelo do Ouro – pormenor do mapa do Porto de Teodoro de Susa Maldonado

A.R.C. descreve assim a planta geográfica:


muito mais perigosa, sendo o dito cabedelo…



Texto de Bernardo Xavier Coutinho

quarta-feira, 11 de julho de 2018

DOS HOMENS ILUSTRES EM LETRAS E ARMAS - VI

10.6 - Dos Homens ilustres em letras e armas VI, Teodoro de Sousa Maldonado I - Arquitecto e desenhador do séc XVIII, Gravuras de Teodoro de Sousa Maldonado, Alçados de Ruas do Porto, Rua dos Clérigos.



Esta gravura foi feita e publicada na primeira edição do livro de A.R.C. DESCRIÇÃO TOPOGRÁFICA DO PORTO, que baseia este nosso estudo. In blogue Do Porto e Não Só.





Pormenor da gravura de Teodoro de Sousa Maldonado – Sé e antigo Paço Episcopal. Este ainda estava em construção pelo que o autor teve de o imaginar.


Teodoro de Sousa Maldonado foi um importante arquitecto e desenhador do Porto. Sabe-se que fez as plantas das ruas de Santo António, dos Clérigos e da Rua da Boavista. Tomou conta das obras do actual Quartel General da Região Militar do Norte e da Casa Pia, em cujas plantas, originais de Reinaldo Oudinot, fez inúmeras alterações. Desenhou as magníficas gravuras do Porto e da Barra do Douro. Na do Porto pela primeira vez aparece a Torre dos Clérigos. Foi poeta, mas não encontrámos qualquer poema seu. Há dúvidas sobre a data do seu falecimento. Encontrámos referências a 1799 e 1809, e há autores que põem um ?



Rua de Santo António antes de 1852


Construída por ordem de João de Almada e Melo de 1784, a rua pretendia estabelecer uma comunicação cómoda entre o bairro de Santo Ildefonso (na zona alta da Praça da Batalha) e o bairro do Bonjardim (na zona baixa da actual Praça de Almeida Garrett). Antes da abertura desta artéria a ligação fazia-se pela actual Rua da Madeira que, por aquele tempo, se denominava Calçada da Teresa. Grande parte da rua foi construída sobre estacaria e arcos em pedra, para vencer o enorme declive entre as extremidades da rua e também para dar passagem à "mina do Bolhão" que por aí corria para alimentar as monjas beneditinas do Convento de São Bento de Avé-Maria. Trata-se de uma rua meticulosamente planeada, com os alçados dos seus prédios projectados pelo arquitecto Teodoro de Sousa Maldonado, entre 1787 e 1793. Esta rua foi palco de um acontecimento que marcou, não apenas a História do Porto, mas a de Portugal inteiro. No dia 31 de Janeiro de 1891 deu-se o primeiro movimento revolucionário que teve por objectivo a implantação do regime republicano em Portugal. Em memória desta revolta, logo que a República foi implantada em Portugal, a rua foi rebaptizada: Rua de 31 de Janeiro.  (Wikipédia)


“A calçada dos Clérigos desce com bastante declive desde a frontaria do templo até á praça de D Pedro. Prestando-se, pela sua muita largura a ser guarnecida de arvoredo, mandou a camara municipal modernamente plantar dois renques de arvores um de cada lado junto aos passeios. Quando o sr. Seabra tirou a photographia de que é cópia a nossa gravura, ainda não existiam alli as arvores, e era macadamisada. Actualmente está calçada com pedras cubicas, todas de eguaes dimensões. É a calçada dos Clerigos um dos sitios mais concorridos do Porto. Deve esta vantagem a diversas circunstancias taes como: a sua visinhança de parte do principal mercado publico, e da outra, da praça de D. Pedro, e de outras ruas onde o movimento commercial é mais activo; as lojas de variados objectos que a guarnecem; e a ser a mais bela communicação da cidade baixa para a alta. O mercado do Anjo, assim chamado por ter sido edificado no logar dantes ocupado pelo recolhiemnto d'aquella denominação, fica ao norte da egreja dos Clerigos, apenas separado d'ella por uma rua. As lojas referidas encerram, no maior numero, fazendas de seda, lã, linho e algodão, e muita diversidade de objectos de moda, porcelanas, cristaes, bronzes etc. Nenhuma se faz notar pela elegancia da armação, nem pela bonita disposição dos productos, mas algumas são notaveis pela muita cópia, e mesmo pela riqueza d'estes ultimos.”I de Vilhena Barbosa in Archivo Pittoresco, Ano de 1864.
Do Blog Porto Antigo


Fotografia que, pessoalmente, muito me diz. Vê-se a Rua dos Clérigos, em 1908, engalanada esperando a passagem do Rei D. Manuel II que acabava de chegar ao Porto em visita oficial. À direita vemos a casa Á Noiva onde em 1893, com 12 anos, o meu avô paterno, Francisco da Silva Cunha, entrou como moço de recados, ao tempo chamado marçano, e onde foi desempenhando de forma brilhante a sua profissão. Ascendeu a empregado de balcão, pondo gravata como era de tradição, e mais tarde a gerente da loja. Nesse tempo os empregados viviam na própria casa dos patrões, habitualmente no último andar onde se encontrava a cozinha e os quartos das criadas e dos empregados. Tendo-se apaixonado pela Menina Luisa, filha do Sr. Alves, o patrão, decidiu sair e lançar a sua própria casa de Retalho em 1903. Deu conhecimento disso ao Sr. Alves, que aceitou e apoiou, pois via no seu gerente um homem sério e trabalhador. Foi assim que, em 1903, fundou no nº. 54 o ESPELHO DA MODA. Prometeu ao Sr. Alves que, assim que lhe apresentasse dois balanços com lucros suficientes para manter a sua casa, lhe iria pedir a mão da menina Luisa. Em 1905 casou com a minha avó, vindo a ter 3 filhos. Por alturas desta fotografia o ESPELHO DA MODA tinha 5 anos e não é visível por se encontrar tapado pelo eléctrico.
Uma curiosidade é verificar-se que nesse tempo, à inglesa, ainda se circulava pela esquerda, e só em 1928 o código o obrigou a mudar para o sistema continental de circulação pela direita.


Alçado da Rua da Boavista – Arq. Teodoro de Sousa Maldonado