sábado, 17 de fevereiro de 2018

TESTEMUNHOS E MEMÓRIAS SOBRE O PORTO - XX

9.20 - Testemunho de João Chagas, Cidade típica e solidária, Unidade nas desgraças e glórias, Cidade municipalista.



Em 1906 escrevia João Chagas, (1863/1925) no seu livro “Vida Literária”:

“ Se o Porto é uma cidade típica, o seu habitante também o é, como nenhum outro em Portugal. Lisboa tem uma população mista que facilmente se dispersa e se dissolve.



Igreja de Nª. Sª. da Graça do antigo Colégio dos Órfãos



A população do Porto é homogénea e o seu traço característico é – a solidariedade. O cidadão do Porto distingue-se de todos os outros pela afinidade e pela coesão.


Recepção aos jogadores do F. C. Porto – campeões Nacionais – 1936/37

O Porto é para ele uma segunda pátria. Tem uma fisionomia comum, um pensar comum, um ideal comum. O Porto não é, em rigor, uma cidade: é uma família.


Peste bubónica 1899



Reunião dos comerciantes no Palácio da Bolsa discutindo o impedimento da peste - 1899 - foto de Aurélio Paz dos Reis

Quando algum mal o acomete, todos o sentem com a mesma intensidade; quando desejam alguma coisa, todos a desejam ao mesmo tempo. Os portuenses ciosos da integridade da cidade, como os portugueses, em geral, da integridade da nação.
A cidade tem os seus foros. Quais são eles? Os seus foros são a sua tradição de independência, de liberdade, de franquia. Que essa tradição pareça perigar e toda a cidade se reunirá no mesmo fórum, para protestar, deliberar.



Festas de S. João

Em toda a parte as condições sociais e as mesmas profissões separam os homens. Essa separação no Porto não existe senão em muito pequeno grau; mas basta que o princípio da cidade convoque os cidadãos e desaparecerão todas as diferenças de classe e de profissão. Os ricos juntar-se-ão aos pobres, os nobres aos plebeus, com bonomia, com franqueza, com sinceridade. Poucos agrupamentos humanos dão o espectáculo de tamanha solidariedade. O Porto, numa palavra, tão característico como é, pelo seu caracter e pelos seus costumes, resume Portugal na sua velha feição municipalista que foi a primeira que ele teve e pela qual se tornou o Reino e Estado independente. 
O Porto é um caso de sobrevivência histórica e por isso é justo que lhe deem, como lhe dão, o nome de baluarte, não talvez da liberdade apenas, pela qual afinal todo o país lutou, mas de tradição, de que ele é hoje o guarda mais intransigente e cioso”.

Hoje, resume-se na proclamação: “O PORTO É UMA NAÇÃO”.

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