sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

TESTEMUNHOS E MEMÓRIAS SOBRE O PORTO - XXVIII

9.28 - Testemunho de Madame Rattazzi - II, Rattazzi descreve o Porto e os portuenses,  Rattazzi destaca o Palácio da Bolsa - o Hospital Conde de Ferreira e o Palácio de Cristal, Rattazzi e Camilo, Frases que deram polémica


Marie Solms, mais tarde Rattazzi, retrato de André Adolphe Eugène Disdéri.

Em O Tripeiro, Série VI, Ano I, Gustavo d’Ávila Perez, transcreve mais textos da Rattazzi sobre  o Porto, que seguem:





Rua das Flores – 1864 – Foto de Hugh Owen



Palácio da Bolsa




Em 1865, ano da sua inauguração por D. Luis I




A Senhora Rattazzi – Camilo Castelo Branco

Vale a pena ler este site ...

“De todos os livros e relatos que se escreveram sobre o nosso país, o texto de Maria Rattazzi - Portugal de Relance - é o principal candidato ao estatuto de mais polémico. "Prémio" a que não será alheio o tom, a displicência, o à-vontade e a irreverência com que a princesa tratou um tema tão caro aos portugueses, a sua própria pátria. Não é que o volume fosse apenas pródigo em falsidades - como o próprio título original parecia indiciar, um vol d'oiseau sobre Portugal - mas o que lá estava impresso provocou uma verdadeira fogueira de vaidades, com repercussão raramente vista no nosso meio cultural. A reacção negativa com que foi recebida a prosa da visitante ultrapassou em muito a habitual hospitalidade que é costume verificar-se no confronto com os regulares contributos dos estrangeiros que nos visitam. Neste caso, não existiram opiniões favoráveis, nem defensores para uma dama cujo comportamento era tido como bem leviano.”  ©Livreiro Monasticon


Retrato de Carlo Garacci – c. 1858


Urbano Rattazzi

Algumas das muitas frases que levantaram grande polémica

"A mais activa occupação da realeza em Portugal é a instituição dos títulos." (I, pg. 12)

"Exceptuando a Belgica, Portugal tem sobre todos os paízes catholicos a primazia do carrilhão." (I, pg. 28) "

O portuguez é hispanophogo, e se de tempos a tempos não trinca, sob a fórma de costelleta, o hespanhol que lhe cahe nas unhas, é simplesmente por timidez, e não porque lhe escasseie o appetite." (I, pg. 69)

"Os usos e costumes theatraes em Portugal estão ainda em estado primitivo." (I, pg. 106)

"As casas em Lisboa, como em todo o resto de Portugal, são habitadas, principalmente, de verão por um enxame de baratas (...) Disseram-me que todos acabavam por habituar-se." (II, pg. 19).

“Há em Lisboa uma Bolsa. (…)

A Bolsa está situada na Praça do Comércio, numa das extremidades, à beira do Tejo. Se o que perdeu a fortuna tiver desejos de se deitar a afogar, não precisa ir longe. (…)

Da Bolsa aos bancos, o caminho não é longo. Porque, se os bancos não fazem parte da mesma família de negócios clandestinos ou públicos, têm pelo menos suas afinidades. É talvez por este parentesco que há tão grande quantidade de bancos em Portugal. (…)

Poder-se-ia crer que o comércio de Lisboa e de Portugal, aproveitando-se de tantos bancos, encontraria neles um pouco de crédito. Profundo erro! Os negócios, em lugar de prosperar, vão de mal a pior, especialmente para o pequeno comércio.

Por fim do ano de 1878, e por espírito de imitação, o Banco Ultramarino expiou, como o Banco de Bruxelas, as leviandades de uma péssima administração e o abuso de um guarda-livros, de um exército de empregados e de directores que meteram a mão nas algibeiras… dos outros, postas sob a sua salvaguarda. No dia imediato ao do desastre, o tesouro público punha à disposição do Banco Ultramarino a soma de dois milhões de francos, o dobro do desvio de fundos. Aqui temos guarda-livros, tesoureiros, empregados e directores que vão ao banco dos réus responder perante a justiça – se a justiça intervier no caso – por factos que lhes imputam, e o governo corre em auxílio do cofre despojado! Porquê?... Por que razão?... Como é que os dinheiros do Estado têm que ver com uma sociedade constituída por accionistas, de entre os quais alguns grandes e minúsculos empregados são uns gatunos? E com que direito aqueles que administram os dinheiros públicos, aos quais as Cortes consignaram destino especial, podem aplicá-los em socorrer um banco em falência?... Questões importantes em toda a parte, mas que seriam aqui impertinentes”.

Perguntámo-nos se hoje em dia será muito diferente de 1880! Que nos faz lembrar?


Madame Rattazzi em 1902 – ano da sua morte.

Sem comentários:

Enviar um comentário