domingo, 19 de março de 2017

COMPAHIA GERAL DA AGRICULTURA DAS VINHAS DO ALTO DOURO - I


6.27.1 – Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro - Mapa da Região Demarcada do Barão de Forrester, Armazéns em Gaia do Barão de Forrester. Texto de ARC


Porto e Rio Douro cerca de 1820 – J. F. Schroter


O Barão de Forrester havia já, antes da criação da Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Al Douro, levantado o problema da gravíssima crise crise provocada pela perda de qualidade do Vinho do Porto, provocada pelos ingleses:


O Tripeiro, V Série, Ano II


O Barão de Forrester (1809 – 1861), cidadão inglês, veio para o Porto em 1831 para a empresa de vinhos de um tio. Estudou, escreveu e desenhou a Região Demarcada do Douro, tendo desenhado “ um minucioso, interessante e notável mapa de todo o curso do rio, desde a fronteira espanhola até ao Atlântico; outro da Região Vinhateira; um terceiro do leito e margens do Douro, mostrando os rápidos e as formações geológicas; e um quarto, do Oidium Tuckeri, essa característica e nauseabunda doença contraída pelas vinhas do Douro” (O Tripeiro V série, Ano II).


Mapa da região vinícola do Douro do Barão de Forrester


Viveu as lutas liberais, esforçando-se por não tomar partido por qualquer dos lados, e servindo de mediador entre os dois contendores. Lutou pela pureza do vinho do Porto, numa altura em que os ingleses o adulteravam usando em excesso água ardente, baga de sabugueiro e açúcar. Foi o primeiro inglês a apoiar a criação da Companhia. Foi feito Barão por D. Fernando II quando este era regente.




Legenda na gravura: "Interior de um armazém de vinho do Porto, em Gaia, na primeira metade do século XIX. Segundo um desenho original de J.J. Forrester".

Segue-se um extraordinário texto jornalístico que mostra bem a inteligência, administração e interesse pelos seus trabalhadores do Barão de Forrester: 
(30 de Agosto de 1854) - “Sabendo que o Sr. Forrester tinha estabelecido no seu armazém da Ermida em Vila Nova de Gaia um caminho-de-ferro por onde girava um carro acelerado construído convenientemente para o serviço das vasilhas, levado pela curiosidade que nos promovera objecto tão novo, fomos à morada do Sr. Forrester; e seguro da dignidade que caracteriza este cavalheiro solicitamos de S.Sª o mostrar-nos o seu armazém e a permitir-nos presenciar o trabalho pelo seu novo sistema. Não tínhamos a honra de contar-nos na tratabilidade do Sr. Forrester, e o nosso título de apresentação não passava do desejo, que assistia a uma pessoa, quase desconhecida deste patriótico comerciante. Faltávamos a um rigoroso dever se deixássemos de patentear como fôramos recebidos pelo Sr. Forrester, e pelo seu digno filho, da maneira que mais podia lisonjear-nos. Ss.Sª tiveram a nobre franqueza de mostrar-nos todo o seu estabelecimento, dando-nos civilizada e agradavelmente as necessárias explicações tendo nós a ocasião de ver que o novo mecanismo, que o Sr. Forrester apropriara ao seu armazém, aponta a passagem para o progresso naquela qualidade de trabalho. O armazém de um comprimento de perto de 500 palmos, é cortado no centro por uma linha férrea das dimensões usadas nos caminhos de ferro ordinários. Por esta linha, que separa os seis rumos, que comporta a capacidade do armazém, percorre o carro acelerado pelo impulso, que pode dar-lhe a força de um ou mais homens conforme a necessidade o exija. Este carro mandado construir de propósito na Inglaterra debaixo da inspecção do Sr. James, filho do Sr. Forrester, compõem-se de dois corpos, estando num deles colocado um guindaste, que levanta as pipas ou para o 2º ou 3º corpo, a fim de serem transportadas para o ponto que se queira ou para a altura do lote, a que seja necessário eleva-las. O serviço assim feito substitui o trabalho pelo menos de três quartas partes dos homens, que se empregavam e empregam no sistema antigo. As lotações e os benefícios fazem-se com tal celeridade que a grande conveniência do carro e do guindaste se torna evidentemente palpável. Para quem nos outros armazéns presencia a fadiga dos trabalhadores para fazer rolar as pipas levando-as a qualquer ponto determinado através do custoso impulso das mãos, vendo-as rojar pelo pavimento térreo com manifesta deterioração de todos os elementos, que as compõem, além dos grandes balanços, que o líquido sofre dentro da vasilha, estorvando a sua pronta depuração, não pode deixar de maravilhar-se que o Sr. Forrester achasse o segredo de acabar com estes inconvenientes tornando o serviço mais suave e reconhecidamente mais proveitoso para as vasilhas e líquidos armazenados. Para mais satisfazermos nossa curiosidade quisemos experimentar a impressão do movimento do carro através do carril de ferro, e com os nossos companheiros fizemos a carreira de toda a linha e fôramos perfeitamente surpreendidos, podendo fazer ideia, se bem que aproximada, do trânsito das locomotivas nas vias férreas, de que só temos visto a descrição. (Ainda não havia comboios em Portugal). Seria bem para desejar que os comerciantes de vinhos seguissem o exemplo do Sr. Forrester, aproveitando os grandes resultados, que a ciência da máquina oferece ao trabalho, dando assim uma prova de que os adiantamentos daquela ciência não passam infrutíferos para nós. Além da inovação do caminho-de-ferro, e do carro, que por ele percorre, que não pode alcançar todo o serviço a fazer no armazém, o Sr. Forrester introduziu no trabalho, que dirige, pequenos carros de mão adequados aos misteres. Os hoptrucks servem especialmente para transportar os cascos vazios, demandando apenas a pequena força de um rapaz. Uns de quatro rodas baixas, que se empregam na condução das pipas cheias para qualquer dos pontos dos terceiros rumos pelas diferentes coxias do armazém: e outros mais pequenos, que servem unicamente no trânsito ao vinho engarrafado, tendo a vantagem, além de se moverem com facilidade, serem construídos de modo tal, que a quebrar-se alguma das garrafas o vinho é recebido num depósito e aproveitado. Não há só a notar no armazém do Sr. Forrester as inovações, que deixamos mencionadas: além delas, a regularidade na colocação de todos os objectos para que apareçam de pronto quando necessários, concorre também muito para a singularidade do estabelecimento. As ferramentas e demais utensílios são todos no possível esmero do trabalho, não podendo deixar de promover um vantajoso resultado nas operações. Os utensílios, que se destinam à depuração das borras, são tão engenhosamente concebidos que produzem uma notável disparidade, comparados com os do sistema nos outros armazéns seguido. Os armazéns de Vila Nova não sendo de construção subterrânea, como o são em outros paises para ministrar aos líquidos a frescura de que necessitam, precisam de ser continuamente refrescados com água. Para esse refresco mandou o Sr. Forrester vir e emprega no seu armazém a bomba chamada force-pump, que o refresca e ao mesmo tempo as vasilhas que nele se acham, servindo também para bomba de incêndio. Para estimular os sentimentos dos trabalhadores e infundir-lhes os preceitos da moralidade, que devem guiar o homem em qualquer posição, que se encontre, o Sr. Forrester mandou escrever na porta do armazém os dois preceitos que devem dirigir a conduta dos operários - O mérito será premiado - o vício será punido - Praticando estas duas saudáveis máximas, o Sr. Forrester todos os sábados recompensa monetariamente o trabalhador ou trabalhadores, que de recompensa se tornem dignos durante a semana. Ao lado do armazém está a tanoaria, descobrindo-se nela o mesmo sistema de regularidade. O alimento dos trabalhadores é preparado em comum a troco de uma diminuta parte do salário a qual não excede a vinte réis diários, tendo assim aqueles por uma insignificante quantia um rancho excelente, muito mais barato e abundante do que o teriam feito por conta de cada um em particular, resultando, além desta vantagem do trabalhador a do Sr. Forrester que nos disse não prejudicar-se e conseguir para o trabalho o tempo que cada trabalhador perdia com o seu arranjo particular de comida, que pelo sistema adoptado se faz convenientemente por dous aprendizes da tanoaria ou do armazém. Os aprendizes não concorrem para o rancho, que o Sr. Forrester lhes manda ministrar gratuitamente, concedendo-lhes de mais quatro horas por dia para poderem ir à escola. O Sr. Forrester leva tanto a empenho de interessar os operários no seu estabelecimento que ele próprio vigia a cozinha, procurando por todos os modos que o rancho seja tanto quanto ser possa agradável aos trabalhadores. O vinho dado de bebedagem é dado regradamente; mas na precisa abundância, não sendo negado de modo algum, quando o exige o cansaço do trabalho. A economia na despesa é um feliz resultado de todas as combinações, em que a experiência do Sr. Forrester assentou o seu novo sistema. É assim que a boa práctica de administrar pode reunir as reciprocas vantagens do trabalhador e do dono do armazém. Parece-nos que devíamos a nossos leitores a descrição do que viramos, pois que ela não será indiferente a parte deles, que na especialidade se empregam no importante ramo do comércio do vinho.” In blog A Porta Nobre

2 comentários:

  1. Boa tarde, amigos sou brasileiro e tenho uma raridade vinho do porto da
    Comemoração do segundo centenário da sua instituição por alvará régio de 10 de setembro de 1756 Real Companhia Velha tenho a garrafa comigo selada original datá da.

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  2. Boa tarde. Muitos parabéns. Deve ser rara.

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