sexta-feira, 19 de outubro de 2012

BAIRROS DA CIDADE - XV

 
2.3.3 - Bairro de Santo Ildefonso - II
 
A Junta das Obras Públicas decidiu construir a Rua Nova de Santo António  numa sessão de 1784, em cuja acta se lê: “...entre o Bairro de Santo Ildefonso e o do Bonjardim, se deviam abrir duas ruas de comunicação entre estes dois bairros na forma da planta que se acha delineada sobre o plano extraído do terreno intermédio. Que a primeira dessas ruas deve principiar a sua abertura na frente do pátio da Igreja dos Congregados e seguir a sua direcção em linha recta a desembocar na frente da Igreja de Santo Ildefonso…cujo declive se suavizará alteando o seu pavimento do princípio dela, e rebaixando o que for necessário no seu fim”. Começou a ser aberta em 1785.
 
 
No Boletim dos Amigos do Porto Nºs. 1 e 2 de 1960 encontra-se esta planta de 1793, desenhada pelo Arq. Teodoro de Sousa Maldonado, em que se podem ver as ruas: A - Rua Nova de Santo António, B – Rua de Santa Catarina, C – Santo Ildefonso, D – Congregados, E – Rua do Bonjardim, F – Calçada da Teresa. A Rua de Santa Catarina está aberta só até perto da actual Rua de Passos Manuel. A Rua Nova de Santo António ainda estava em obras, pois só ficou concluída em 1805.

 
 
 
Este tramo da muralha, a Norte do convento, foi destruído juntamente com ele. À direita ficava a Viela da Madeira e a Calçada da Teresa, personagem desconhecida e que desencadeia polémica entre os historiadores. Já vimos referidos os nomes de Calçada de Santa Teresa, de D. Teresa e da Teresa. Era a ligação a Cimo de Vila antes da construção da Rua Nova de Santo António. Em frente ficava o Botequim do Frutuoso, um dos primeiros do Porto.
 

 
Rua da Madeira - antiga Calçada da Teresa e Viela da Madeira, vistas do lado nascente. Antes da construção da Rua Nova de Santo António era por aqui que se fazia o trânsito de pessoas entre Cimo de Vila e a Porta dos Carros.
 
 
Projecto para Rua Nova de Santo António - Arquitecto António Pinto Miranda

“A sua construção, como é facil de imaginar, foi um tanto difícil devido à natureza ou topologia do local. Basta dizer que, os prédios nela erguidos têm mais andares para as traseiras do que para a frente, em vista da fundura em que os alicerces tiveram de ser cavados. Por esse motivo, foi a rua, em alguns pontos, assente em fortes arcadas de pedra que, por baixo, davam – e dão ainda- passagem de um para o outro lado. Na embocadura, teve de fazer-se uso de estacaria, por se espraiar até ali a chamada “mina do Bolhão” que abastecia de água o Convento de Avé Maria”. O Tripeiro Série VI, Ano IV.
Já um dia verificámos isto mesmo e descobrimos, na Rua da Madeira, uma entrada de serviço do Teatro de Sá da Bandeira, e outras passagens. Também na Rua de 31 de Janeiro existe uma entrada pedonal e com escadas para este teatro.
Devido a todas as dificuldades de construção a rua só foi concluída em 1805, já depois da morte de Francisco de Almada e Mendonça.
 
 
 Rua da Madeira- como se verifica, as traseiras das casas da Rua de Santo António têm mais andares, chega aos sete, que as suas frontarias – foto blog A Cidade Deprimente
 
 
Início da Rua do Bonjardim antes da demolição, em 1916, do Convento de S. Filipe de Neri dos Frades do Oratório. Com o alargamento desta entrada, passou a chamar-se R. de Sá da Bandeira. O início da R. do Bonjardim passou para junto do Café A Brasileira . Repare-se no candieiro a gás e no trânsito pela esquerda. Só em 1928 se começou a circular pela direita.
 
 
Visita de D. Manuel II ao Porto em Novembro de 1908 - início da Rua de Santo António. Ilustração portuguesa de 23 de Novembro de 1908

 
 

O mesmo local antes e depois abertura da Rua de Sá da Bandeira.
 
A Rua Nova de Santo António passou a chamar-se, em 30 de Agosto de 1874, Rua de Santo António dado o desaparecimento de Rua de Santo António da Picaria. Em 1910, e recordando a Revolta do Porto, passou a Rua 31 de Janeiro, mas em 1940 a C.M.P. repoz o nome de Rua de Santo António. Por fim, após a revolução de 25 de Abril, voltou a chamar-se Rua de 31 de Janeiro.

 
Prédios da Rua de 31 de Janeiro - varandas e janelas típicas do Porto
 
 
 
 
Em fins do século XIX existia neste local uma chapelaria chamada Chapéu Elegante cujo dono, em 1895, começou a adoptar o sistema de preço fixo nos seus artigos. No dia 2 de Março de 1905, abriu a Joalharia Miranda, Filhos & Duarte, cujas instalações se impunham pelo seu gosto artístico. A fachada que ainda hoje, felizmente, pode ser vista, é de ferro fundido estilo Luis XV.
 
 
 
Outra joia em ferro fundido e mármore 
 

 
Ainda hoje os portuenses usam o dito “isso é bera!” pretendendo depreciar alguém ou alguma coisa. A procedência deste dito vem do séc. XIX e refere-se a uma loja, que existiu na Rua de Santo António, que vendia joias falsas e que se chamava Bera Diamond Palace. Durante alguns anos foi um sucesso comercial. Pertenceu a uma estrangeira chamada Bera.
 
 

 

 

Quem se não recorda dos rebuçados para a tosse Lencart? E do pomito? Pois, a verdade é que o hipotético Mr. Lencart, “prestigioso farmaceutico parisiense”, não era senão o inteligente Sr. Álvaro Salgado, dono da Farmácia Central, no nº. 203, e que LENCART era um anagrama de CENTRAL. A verdade é que deve ter vendido milhares e milhares de caixas de rebuçados e de pomitos, um creme para todas as ocasiões. Desconhecíamos que tivesse havido uma moeda ou medalha e para que servia.

 
 
 



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