Mostrar mensagens com a etiqueta Praia do Molhe. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Praia do Molhe. Mostrar todas as mensagens

domingo, 13 de dezembro de 2015

FOZ DO DOURO - III

6.1.35 - Foz do Douro, Molhe de Carreiros, Praia do Molhe, Avenida Brasil


Avenida Brasil, Avenida de Montevideu, Rua de Gondarém, praia do Molhe



Praias de Gondarém e do Molhe – foto Helena Cristina Coelho – 2015


Barradas da Praia do Molhe - séc. XIX


Praia de Carreiros – 1907


Praia do Molhe em 1910 – recordámo-nos de várias das casas que se vêm na Avenida Brasil. Era interessante saber a que famílias pertenciam.


Avenida Brasil em frente à Praia do Molhe – antes de 1930 – Foi nos anos 20 do passado século que a velha estrada de Carreiros foi regularizada e nasceu uma larga avenida que fez nascer Avenidas Brasil e Montevideu.


Praia do Molhe e Avenida Brasil – entre 1930 e 1938, porque já tem a pérgola e ainda não foi colocado o Salva Vidas.




A casa do Relógio foi construída em 1907 por Artur Jorge Guimarães, sob projecto de Teixeira Lopes. O seu estilo “Manuelino” levantou uma certa celeuma na cidade. O nome advém-lhe do facto de ter um relógio de Sol numa das fachadas. Lembramo-nos de, após o 25 de Abril, viver lá um sapateiro. Hoje esta casa está na maior degradação, como se pode ver nas fotos do site indicado.

Casa do Relógio – Avenida Brasil – fotos e texto de M. Branco Ferreira 


O Salva Vidas – 1937 - Henrique Moreira 1890-1970


Por do Sol em frente ao monumento ao Salva Vidas – foto de Helena Cristina Coelho – 2014


Molhe de Carreiros - antes das obras de 1881


Molhe de Carreiros – séc. XIX


Vê-se a Casa do Relógio - anos 40


Na praia do Molhe havia vários barcos de pesca artesanal que, quando tinham clientes e o mar permitia, faziam uns agradáveis passeios pela costa até ao Douro ou a Matosinhos. Ainda fiz alguns!

Tempestade no Molhe de Carreiros



Uma das minhas diversões preferidas


Nos anos 40 a família de José Allen, António Teixeira e Alzira Valente eram os banheiros desta praia


1948

Frequentei a praia do Molhe nos anos 40 do passado século.
É com muita saudade que recordo esse tempo, porque era sempre um mês de divertimento e contacto com amigos e famílias que só lá encontrávamos ano após ano. Pareceu-me interessante acrescentar algumas recordações que me ficaram desses felizes anos da Foz. 
Todos os verões os meus pais alugavam uma casa na R. de Gondarém (esquina com a R. do Crasto), onde hoje se encontra um prédio, em cuja cave funcionou, durante uns anos, a capela dos frades Carmelitas e depois um minimercado. Descíamos a R. do Crasto, atravessando a Av. Brasil, chegávamos à pérgola e descendo as escadas estávamos na praia. 
Das memórias que tenho quereria destacar algumas que mais me marcaram. Não posso deixar de falar, em primeiro lugar do mar: 
Era límpido e cheio de vida. Os rochedos estavam cobertos de lapas, anémonas, tintureiros, mexilhões, estrelas-do-mar, ouriços, percebes, búzios, peixes e camarões nas poças, bodelhas, alface-do-mar, sargaço, enfim, toda uma fauna e flora que hoje desapareceu e não podemos mostrar aos nossos netos. Na areia encontrávamos muitas conchas, caramujos de diversas cores e beijinhos. Estes, mais raros, eram os da nossa predilecção. 
Que felicidade tínhamos ao mergulhar das escadas de ferro do molhe! 
Só os “homens” eram capazes de tal! Não podia haver praia sem o jogo do prego; era o jogo por excelência, pois em mais lado nenhum o podíamos jogar. Eram campeonatos aguerridos, em que na maior parte das vezes eram as meninas que ganhavam. Fazíamos grandes covas, túneis, castelos, com e sem decoração de conchas e algas, muros de areia para “segurar” o mar, enfim toda uma variedade de brincadeiras que nos faziam felizes no mês de Agosto. E as guloseimas que só na praia nos era permitido gozar! 
Passava o “barquilheiro” e logo corríamos a pedir uns tostões para jogar a roleta. Passava o homem de língua da sogra e todos íamos pedir à Mãe para comprar. Passava a mulher dos bolos com uma caixa de folha-de-flandres à cabeça, e logo a água nos escorria da boca. E os caramilos? Que delícia! 
De vez em quando passava o vendedor de “vira-ventos” que nós seguíamos durante largos metros a cobiçá-los, e com ioiós revestidos de estanho dos maços de tabaco, fazendo-os subir e descer. Mas, o melhor, eram, à saída da praia, os sorvetes Águia. Era o verdadeiro manjar dos deuses. O sorveteiro, no seu característico triciclo em forma de proa de barco, era a atracção máxima! Havia-os de 1 tostão, 2, 5 e 10 tostões. Os de 1 e 2 tostões eram em forma de barco e o de 5 de copo com colher de madeira. 
Não tínhamos esperança de ter mais de 5 tostões. Assim eu preferia comprar, em 3 vezes sucessivas, dois de 2 tostões e um de 1 tostão, pois “rendia” mais tempo o prazer. De longe a longe apareciam os “Robertos”. Que excitação! Todos os miúdos (e graúdos) ficavam presos ao desenrolar do drama, com pancadaria (quanta mais melhor!), berros estridentes e mortos e feridos... Aquela moca andava sempre numa roda-viva 
Enfim, recordar é viver, e sobretudo é uma deliciosa diversão. 


Escadas do Molhe - 1920


Anos 50


Flor Granítica – Ramalho Ortigão (1836/1915), portuense e habitual frequentador da Foz, escreveu a propósito do rochedo que encosta à entrada do molhe, e que se destaca na foto acima, o seguinte:
“No paredão do quebra-mar sobressai da superfície plana da cantaria uma ponta da rocha negra, áspera, duramente recortada, como uma grande flor granítica.
Essa rocha, em que eu me sentei em criança, com o meu chapéu de palha, e o meu bibe cheirando ao algodão novo azul e branco da Fábrica do Bolhão, reconheci-a com a mesma ternura saudosa com que se torna a ver um velho móvel de família! Boas pedras! Entre tantas cousas que desapareceram, ou se transformaram, umas para mal outras para pior, vós, somente, persistis como éreis! Servistes de canapé a minha avó, que muitas vezes me trouxe aqui pela mão, pensativa e triste, porque já a avó dela a trouxera também em pequena a ver o mar, deste mesmo sítio… Eu vos abençoo e peço às vagas do mar e ao fogo do céu, que vos poupem, até que os que descendem de mim, que não tenho eira nem beira nem ramo de figueira que testar aos netos, venham encontrar no vosso conhecido relevo amigo a lembrança que em vós fica daqueles que passam, como fica num travesseiro tépido o vestígio da cabeça de um ente amado…”
Na conferência que o Dr. Artur de Magalhães Basto proferiu no Colégio Brotero, em 26/6/1936, o historiador referiu-se a esta saudade de Ramalho, lendo esta passagem. 
Animados por esta memória, a direcção e os alunos do colégio inauguraram uma lápide em homenagem a Ramalho no dia do centenário do seu nascimento, 24/11/1936.
Ainda nos lembramos bem de a ver muitas vezes nos nossos passeios do molhe. Infelizmente a lápide desapareceu levada pelas “vagas do mar e ao fogo do céu”, ou por outro ladrão qualquer.



21/12/2015 - o nosso atento leitor Sr. José Fiacre acabou de nos informar que há cerca de dois meses foi reposta a placa que assinalava a homenagem a Ramalho Ortigão, por iniciativa da União de Freguesias da Foz do Douro, Nevogilde e Aldoar pelo centenário da morte do escritor. Ainda bem que 78 anos depois se repôs a História.



Jogando as cartas


Bar da praia do Molhe - pelos chapéus dos homens e das senhoras a foto deverá ser dos anos 20/30.

Praia do Molhe – 1975 - vídeo 
Praia do Molhe - 2015 - vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=2qr0WcSu8sM

Sobre a Praia do Molhe e o Molhe de Carreiros já publicámos, com mais pormenores, nas seguintes datas: 26/10, 29/10 e 3/11/2013.


Foto Deolinda Keng – 2014


Foto de Fernando Pedro – 2015



Naufrágio do navio-motor grego “Amethyst”, junto à praia do Molhe

Cerca das 7 horas da manhã do dia 1 de Fevereiro de 1974 o barco encalhou a 50 metros do Molhe. Estava uma forte tempestade com o mar muito encapelado, o que provocou o rebentamento das duas âncoras. 
Na véspera o capitão tinha sido avisado do perigo que corria por estar demasiado perto de terra. Porém, não retirou o navio para mais longe, como fizeram outros barcos que estavam na zona. 
Foram recolhidos os 24 tripulantes. O navio vinha com um carregamento de milho, que se espalhou pela praia. Quando lá fomos, estavam muitas pessoas a recolhe-lo. Também trouxemos um punhado, para recordação.
“Após cerca de quatro horas de angústia e intenso dramatismo, conseguiram ser salvas as 24 pessoas que se encontravam a bordo do navio-motor Grego AMETHYST que, ao fim da invernosa madrugada de ontem, 01/02, encalhou nas rochas, ali mesmo a poucos metros a norte do molhe de Carreiros, Praia do Molhe, na costa de Nevogilde.
Essa ansiedade dramática, qual expectativa trágica presente em toda a tripulação do navio e nas centenas de populares que, apesar das acicatadas bátegas, contemplavam o agonizante navio, foi sem dúvida, a nota mais dominante, mais aflitivamente sentida.
Pensou-se, na verdade, que para além do barco, se perderiam, sim as duas dúzias de vidas, ali palpitantes, tal era a fúria e braveza do mar. Fortemente encapelado, com alterosíssimas ondas a varrerem agrestemente a costa e a provocarem grandes balanços no navio, de tal ordem que, com a proa assente sobre o rochedo chegou a rodar cerca de 100 graus para sueste.
Como é natural o trágico acontecimento suscitou a atenção de milhares de curiosos que, durante todo o dia de ontem não deixavam de contemplar demoradamente os acicates do navio.”

Porto – de Sol a Sol – Cinemateca Portuguesa - 1933 

domingo, 3 de novembro de 2013

DIVERTIMENTOS DOS PORTUENSES - XIX

3.5.8 - Foz do Douro e praias - VII


Rua do Crasto – Esta casa pertenceu à família de Francisco Carvalho que, tal como seus filhos, foram comerciantes na Rua dos Clérigos. O pai e seu filho mais velho tiveram uma loja de venda de paramentos e o mais novo uma loja de "carapuceiro". Estes rapazes serão da família a que nos referimos?



As lojas de "carapuceiros" encontravam-se do lado direito de quem desce a rua; não tinham montra pelo que mostravam os artigos à venda dependurados no exterior. Recordamo-nos muito bem desse correr de lojas que eram normalmente procurados por populares e aldeões. A maior concorrência era às terças e sábados, dias das principais feiras da cidade. 





Praia de Gondarém - os passeantes foram surpreendidos por uma onda.


Planta da decoração da Avenida Brasil junto do molhe e da praia – depois dos anos 30 do séc. XX.


Avenida Brasil - anos 30




Pérgola da Foz – construída em 1931, em frente à Praia do Molhe – constructor António Enes Baganha. Custou 53.000$00. O jogo das sombras tem efeitos inesperados. Depois de anos de abandono foi recuperada em 2012 pela CMP.


A cruz que se vê no alto da foto pertence à Capela em Carreiros e que ainda existe, embora desactivada.


Praia do Molhe em 1910 – Recordamo-nos de várias das casas que se vêm na Avenida Brasil. Era interessante saber a que famílias pertenciam.


Nos anos 40 a família de José Allen e António Teixeira ainda eram banheiros desta praia.


Esta foto foi tirada em dia de festa ou de provas no mar, pois vêm-se centenas de pessoas no molhe e na praia junto do mar. Não vieram para apanhar Sol, mas para assistir a algo, dado estarem vestidas. Pelos chapéus de palha a foto parece ser dos anos 10 do séc. XX. Em primeiro plano está um  assistente com uma comprida vara, junto de um suporte de avisos (?). Será um vigilante com uma vara para estender a algum nadador em perigo?


Grupo no Molhe em 1920 - Surpreende-nos uma casa num nível inferior à Avenida de Carreiros e que nos parece estar perto da praia. Alguém saberá de que se trata?


Depois de 1931, pois já existia a pérgola.


Foto de entre 1931 e 1937, pois ainda não está o Salva-Vidas


Anos 30


 1937




Frequentei a praia do Molhe nos anos 40 do passado século.
É com muita saudade que recordo esse tempo, porque era sempre um mês de divertimento e contacto com amigos e famílias que só lá encontrávamos ano após ano. Habitualmente as famílias ficavam nas mesmas barracas, pelo que eram conhecidas. Pareceu-me interessante acrescentar algumas recordações que me ficaram desses felizes anos da Foz.
No Verão os meus pais costumavam alugar uma casa na Rua de Gondarém (esquina com a Rua do Crasto), onde hoje se encontra um prédio, em cuja cave funcionou, durante uns anos, a capela dos frades Carmelitas e depois um mini-mercado. Descíamos a Rua do Crasto, e atravessando a Av. Brasil, chegávamos à pérgola donde descíamos para a praia. Dois desses anos foram passados na Avenida Brasil, na casa em que faleceu António Nobre, em Março do 1900, somente com 32 anos. Esta casa encontra-se muito degradada  e não nos parece que a CMP esteja muito interessada em a recuperar. Tinha uma placa de mármore em que informava esse infausto acontecimento que desapareceu.

Das memórias que tenho quereria destacar algumas que mais me marcaram.


Não posso deixar de falar, em primeiro lugar do mar: era límpido e cheio de vida. Um dos mais extraordinários espectáculos eram as dezenas de toninhas (Pontoporia blainvillei) a saltar e a brincar a pouco mais de cem metros da praia.






Os rochedos estavam cobertos de alface do mar, lapas, anémonas, tintureiros, mexilhões, estrelas-do-mar, ouriços, percebes, búzios, peixes, caranguejos  e pequenos camarões transparentes nas poças; bodelhas, sargaço, enfim, toda uma fauna e flora que hoje desapareceu e não podemos mostrar aos nossos netos.


Na areia encontrávamos muitas conchas, caramujos de diversas cores e beijinhos. Estes, mais raros, eram os da nossa predilecção.


Com que alegria mergulhávamos das escadas de ferro e das pranchas do molhe. Só os “homens” eram capazes de tal!


Não podia haver praia sem o jogo do prego; era o jogo por excelência, pois em mais lado nenhum o podíamos jogar. Eram campeonatos aguerridos, em que na maior parte das vezes eram as meninas que ganhavam.


Fazíamos grandes covas, túneis, castelos, com e sem decoração de conchas e algas, muros de areia para “segurar” o mar, enfim toda uma variedade de brincadeiras que nos faziam felizes no mês de Agosto.


E as guloseimas que só na praia nos era permitido gozar! Passava o “barquilheiro” e logo corríamos a pedir uns tostões para jogar a roleta.

Passava o homem de língua da sogra e todos íamos pedir à Mãe para comprar.


Passava a mulher dos bolos com uma caixa de folha-de-flandres à cabeça, e logo a água nos escorria da boca. Quando, raramente, a mãe deixava escolher bolos, eu escolhia sempre a melhor, a Bola de Berlim.
E os caramilos com sabor a hortelã-pimenta? Que delícia!



De vez em quando passava o vendedor de “vira-ventos” que nós seguíamos durante largos metros a cobiçá-los, e com "ióiós" revestidos de estanho dos maços de tabaco, fazendo-os subir e descer. Mas, o melhor, eram, à saída da praia, os sorvetes Águia. Era o verdadeiro manjar dos deuses. O sorveteiro, no seu característico triciclo em forma de proa de barco, era a atracção máxima! Havia-os de 1 tostão, 2, 5 e 10 tostões. Os de 1 e 2 tostões eram em forma de barco e o de 5 de copo com colher de madeira.
Não tínhamos esperança de ter mais de 5 tostões. Assim eu preferia comprar, em 3 vezes sucessivas, dois de 2 tostões e um de 1 tostão, pois “rendia” mais tempo o prazer.


De longe a longe apareciam os “Robertos”. Que excitação! Todos os miúdos (e graúdos) ficavam presos ao desenrolar do drama, com pancadaria (quanta mais melhor!), berros estridentes,  mortos e feridos... Aquela moca andava sempre numa roda-viva
Enfim, recordar é viver, e sobretudo é uma deliciosa diversão.


Banheira da Foz – Desde madrugada, metidas na água até à cintura, pegavam crianças e adultos e mergulhavam-nos. Ofício muito duro, pois estavam no mar sete ou oito horas por dia. Era costume os veraneantes chegarem à praia, inclinarem-se e a banheira despejava-lhes a água na cabeça, com a gamela que está a seus pés. Também nós experimentámos este suplício quando Éramos pequenos. Era o momento mais desagradável da época balnear. O banheiro apertáva-nos o nariz antes de nos mergulhar.


Era assim a lei de 1941, e nós bem nos lembramos! Por vezes passava o cabo do mar e media a saia das senhoras, que eram multadas se fossem menores que o regulamentado.


Praia do Molhe 2007 – foto de A Cidade Surpreendente - http://cidadesurpreendente.blogspot.pt/

Praia do Molhe – 1975 - vídeo