Mostrar mensagens com a etiqueta Rua do Bonjardim. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Rua do Bonjardim. Mostrar todas as mensagens

domingo, 18 de novembro de 2012

BAIRROS DA CIDADE - XIX

2.3.3 - Bairro da Santo Ildefonso - VI


Ficava na esquina da Rua de Santa Catarina com a Rua Formosa. Conheci bem esta firma, pois o proprietário era um bom amigo de meu pai.


Em 1 de Janeiro de 1868 rebentou no Porto a revolta chamada de A Janeirinha, que pretendia acabar com a Regeneração. Nesse dia nasceu o jornal A Revolta de Janeiro lançado por António Augusto Leal. Suspenso em 31 de Agosto, reabriu em 1 de Dezembro com o nome O Primeiro de Janeiro. Em 1870 dá-se o grande salto, passando a dispor de boas instalações na rua de Santa Catarina, em prédio pertencente a Inácio Pinto da Fonseca. Contou entre os seus colaboradores dos mais prestigiados intelectuais da época: Camilo Castelo Branco, Alberto Pimentel, Guilherme de Azevedo, Guerra Junqueiro, Latino Coelho, Ramalho Ortigão, Antero de Quental, Oliveira Martins, Eça de Queiroz, Gomes Leal ou António Nobre. Nos anos 50 do século passado, às terças-feiras, eu lia com o maior interesse os artigos “Falam Velhos Manuscritos” , do grande historiador do Porto Dr. Artur de Magalhães Basto. Foram decisivos para o meu interesse pela história e vida da minha cidade natal. Desde então, e muito bem acompanhado por minha mulher, nunca deixámos de ler e visitar a cidade, com interesse e entusiasmo. Só agora, maduros, nos dispusemos a dedicar uma boa parte do nosso tempo a divulgar o que aprendemos e continuamos a aprender.
Visitámos há bastantes anos as instalações de O Primeiro de Janeiro, em plena laboração, e recordamo-nos bem do grande interesse que nos suscitou, desde a redacção ás máquinas de impressão. Infelizmente não encontrámos uma fotografia do edifício deste jornal, mas a que apresentamos dá bem a ideia do que era.



Fábrica de Fiação e Tecidos da Areosa – Um dos principais sócios desta grande empresa foi Manuel Pinto de Azevedo, proprietário do jornal O Primeiro de Janeiro. Foi fundada em 1907 e por aquele comprada em 1920. Uma das maiores empresas do país. Tinha uma política social muito avançada no tempo, com creches, refeitórios e casas para trabalhadores necessitados, alugadas a preços simbólicos. Fotos da época.


Manuel Pinto de Azevedo também possuía a Empreza Fabril do Norte, na Senhora da Hora. Foi fundada em 1907 e deixou de laborar em 1994. Chegou a ter 3.000 trabalhadores. Era uma das melhores empresas de linhas de coser do país. Aqui nos seus tempos áureos.


O que resta da grande empresa... um símbolo.


Padaria Cunha – inaugurada em 31/3/1906 por meu avô Augusto Cunha – Situou-se pouco tempo do lado direito, tendo passado para o lado contrário entre as ruas Fernandes Tomás e da Firmeza. Á porta está o seu irmão, e também meu avô, Francisco Cunha.


Muitos anos mais tarde, talvez anos 50, já no nº. 491. Já tinha sido trespassada


Multidão esperando a passagem do cortejo do Carnaval de 1905


Carnaval do 1906 – esquina de Passos Manuel – no local da casa baixa virá a ser  construído o majestoso prédio dos Grandes Armazéns Nascimento, depois café Palladium.


Rua Santa Catarina - Capela das Almas dos princípios do séc. XVIII - Em 1662 havia em Fradelos uma quinta onde se encontrava uma capela da invocação de Stª. Catarina de Alexandria, ligada por um caminho à Porta de Cima de Vila da Muralha Fernandina.  Em 1748, num documento da Misericórdia este caminho já aparece identificado como Rua Nova de Santa Catarina, com o seu alinhamento corrigido em 1771. Por iniciativa de João de Almada e Melo, em 1784, a rua foi prolongada até à Alameda da Aguardente, hoje Praça do Marquês de Pombal. A este prolongamento se deu o nome de Rua Bela da Princesa.
 Sobre esta capela trataremos em lugar próprio.


Travessa das Almas – Rua Formosa, por trás da Capela das Almas. Liga a Rua Formosa à de Fernandes Tomás.



 

Estátua junto da Muralha Fernandina, onde esteve a Porta do Sol.
Arnaldo Gama, conhecido pelos seus excelentes romances históricos passados na cidade, nasceu e morreu na Rua da Santa Catarina, 208, em 1/8/1828 e 29/8/1869. Formou-se em direito, em Coimbra e foi jornalista em vários jornais do Porto. Mas foram os seus romances que o celebrizaram, pelo sua qualidade e fidelidade histórica.
Génio do Mal (em quatro volumes publicados entre 1856/1857),Um Motim há Cem Anos (1861), O Sargento-Mor de Vilar (1863), O Segredo do Abade (1864), A Última Dona de S. Nicolau (1864) e O Filho do Baldaia (1866) foram alguns do seus melhores romances. Em todos eles enquadra os factos passados em épocas diferentes, mas sempre com muita mestria. São livros a ler "apaixonadamente".




Assento de casamento de Camilo e Ana Plácido

Camilo Castelo Branco nasceu em Lisboa a 16 de Março de 1825. Foi um dos maiores romancistas portugueses e, depois de ter vivido e casado em Ribeira de Pena (Vila Real) com Joaquina Pereira de França de quem teve uma filha. Em 1848 veio viver para o Porto. Com uma vida muito agitada e desregrada, apaixonou-se por Ana Augusta Vieira Plácido, casada à força com um homem rico, mas muito mais velho e de quem não gostava. Os apaixonados foram presos na Cadeia da Relação por queixa do marido, onde Camilo escreveu o seu romance Amor de Perdição. Julgado no Tribunal da Picaria, teve no seu advogado Dr. Marcelino de Matos uma defesa notabilíssima. Por coincidência, durante o seu depoimento rebentou uma terrível trovoada e este afirmou: “É Deus falando contra a iniquidade deste processo e não levando a bem a monstruosidade desta prisão”. Constrangidos por este ambiente os jurados, por maioria, consideraram-nos inocentes. Assim, o juiz decretou a absolvição dos amantes.Viveram em comum, até 1888. Nesta altura Camilo, sem consultar Ana Plácido, decidiu casar-se para lhe dar mais respeitabilidade. Porém, recusa-se a casar publicamente numa igreja. Tudo tenta, então, para que lhe fosse permitido casar em sua casa, na Rua de Santa Catarina, 458. Convencida, embora a custo, Ana Plácido consente neste casamento. Tendo recebido autorização para se casarem neste local, pelos Bispos do Porto e de Braga, este realizou-se no dia 9 de Março de 1888, celebrado pelo famoso orador Cónego Alves Mendes. Foi um dos mais importantes e prolíficos romancistas portugueses, tendo escrito muitas dezenas de livros, tendo alguns ficado como marcos na História da Literatura. Escreveu na Cadeia da Relação o mais célebre: Amor de Perdição.


Casa de S. Miguel de Seide – Casa, pertencente a Ana Plácido onde Camilo, vítima de cegueira, se suicidou em 1 de Junho de 1890. Seus restos mortais encontram-se no Cemitério da Lapa, no jazigo do seu grande amigo Freitas Fortuna.

You tube – video sobre a sala onde Camilo se suicidou e seu funeral
http://www.youtube.com/watch?v=A5hNQsBpBvk


No nº. 467 nasceu o grande poeta António Nobre, em 16 de Agosto de 1867.


Faleceu em casa de seu irmão Prof. Augusto Nobre, na Avenida Brasil, em 18 de Março de 1900

1867 - 1900
  

António Nobre e as suas musas - Leça da Palmeira


Só - primeira edição - Paris, 1862



Castelo de Santa Catarina – Construída no limiar do século XX é um exemplo do revivalismo gótico. Hoje é um residencial com interiores e jardins lindíssimos.  

 
Sala

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

BAIRROS DA CIDADE - XV

 
2.3.3 - Bairro de Santo Ildefonso - II
 
A Junta das Obras Públicas decidiu construir a Rua Nova de Santo António  numa sessão de 1784, em cuja acta se lê: “...entre o Bairro de Santo Ildefonso e o do Bonjardim, se deviam abrir duas ruas de comunicação entre estes dois bairros na forma da planta que se acha delineada sobre o plano extraído do terreno intermédio. Que a primeira dessas ruas deve principiar a sua abertura na frente do pátio da Igreja dos Congregados e seguir a sua direcção em linha recta a desembocar na frente da Igreja de Santo Ildefonso…cujo declive se suavizará alteando o seu pavimento do princípio dela, e rebaixando o que for necessário no seu fim”. Começou a ser aberta em 1785.
 
 
No Boletim dos Amigos do Porto Nºs. 1 e 2 de 1960 encontra-se esta planta de 1793, desenhada pelo Arq. Teodoro de Sousa Maldonado, em que se podem ver as ruas: A - Rua Nova de Santo António, B – Rua de Santa Catarina, C – Santo Ildefonso, D – Congregados, E – Rua do Bonjardim, F – Calçada da Teresa. A Rua de Santa Catarina está aberta só até perto da actual Rua de Passos Manuel. A Rua Nova de Santo António ainda estava em obras, pois só ficou concluída em 1805.

 
 
 
Este tramo da muralha, a Norte do convento, foi destruído juntamente com ele. À direita ficava a Viela da Madeira e a Calçada da Teresa, personagem desconhecida e que desencadeia polémica entre os historiadores. Já vimos referidos os nomes de Calçada de Santa Teresa, de D. Teresa e da Teresa. Era a ligação a Cimo de Vila antes da construção da Rua Nova de Santo António. Em frente ficava o Botequim do Frutuoso, um dos primeiros do Porto.
 

 
Rua da Madeira - antiga Calçada da Teresa e Viela da Madeira, vistas do lado nascente. Antes da construção da Rua Nova de Santo António era por aqui que se fazia o trânsito de pessoas entre Cimo de Vila e a Porta dos Carros.
 
 
Projecto para Rua Nova de Santo António - Arquitecto António Pinto Miranda

“A sua construção, como é facil de imaginar, foi um tanto difícil devido à natureza ou topologia do local. Basta dizer que, os prédios nela erguidos têm mais andares para as traseiras do que para a frente, em vista da fundura em que os alicerces tiveram de ser cavados. Por esse motivo, foi a rua, em alguns pontos, assente em fortes arcadas de pedra que, por baixo, davam – e dão ainda- passagem de um para o outro lado. Na embocadura, teve de fazer-se uso de estacaria, por se espraiar até ali a chamada “mina do Bolhão” que abastecia de água o Convento de Avé Maria”. O Tripeiro Série VI, Ano IV.
Já um dia verificámos isto mesmo e descobrimos, na Rua da Madeira, uma entrada de serviço do Teatro de Sá da Bandeira, e outras passagens. Também na Rua de 31 de Janeiro existe uma entrada pedonal e com escadas para este teatro.
Devido a todas as dificuldades de construção a rua só foi concluída em 1805, já depois da morte de Francisco de Almada e Mendonça.
 
 
 Rua da Madeira- como se verifica, as traseiras das casas da Rua de Santo António têm mais andares, chega aos sete, que as suas frontarias – foto blog A Cidade Deprimente
 
 
Início da Rua do Bonjardim antes da demolição, em 1916, do Convento de S. Filipe de Neri dos Frades do Oratório. Com o alargamento desta entrada, passou a chamar-se R. de Sá da Bandeira. O início da R. do Bonjardim passou para junto do Café A Brasileira . Repare-se no candieiro a gás e no trânsito pela esquerda. Só em 1928 se começou a circular pela direita.
 
 
Visita de D. Manuel II ao Porto em Novembro de 1908 - início da Rua de Santo António. Ilustração portuguesa de 23 de Novembro de 1908

 
 

O mesmo local antes e depois abertura da Rua de Sá da Bandeira.
 
A Rua Nova de Santo António passou a chamar-se, em 30 de Agosto de 1874, Rua de Santo António dado o desaparecimento de Rua de Santo António da Picaria. Em 1910, e recordando a Revolta do Porto, passou a Rua 31 de Janeiro, mas em 1940 a C.M.P. repoz o nome de Rua de Santo António. Por fim, após a revolução de 25 de Abril, voltou a chamar-se Rua de 31 de Janeiro.

 
Prédios da Rua de 31 de Janeiro - varandas e janelas típicas do Porto
 
 
 
 
Em fins do século XIX existia neste local uma chapelaria chamada Chapéu Elegante cujo dono, em 1895, começou a adoptar o sistema de preço fixo nos seus artigos. No dia 2 de Março de 1905, abriu a Joalharia Miranda, Filhos & Duarte, cujas instalações se impunham pelo seu gosto artístico. A fachada que ainda hoje, felizmente, pode ser vista, é de ferro fundido estilo Luis XV.
 
 
 
Outra joia em ferro fundido e mármore 
 

 
Ainda hoje os portuenses usam o dito “isso é bera!” pretendendo depreciar alguém ou alguma coisa. A procedência deste dito vem do séc. XIX e refere-se a uma loja, que existiu na Rua de Santo António, que vendia joias falsas e que se chamava Bera Diamond Palace. Durante alguns anos foi um sucesso comercial. Pertenceu a uma estrangeira chamada Bera.
 
 

 

 

Quem se não recorda dos rebuçados para a tosse Lencart? E do pomito? Pois, a verdade é que o hipotético Mr. Lencart, “prestigioso farmaceutico parisiense”, não era senão o inteligente Sr. Álvaro Salgado, dono da Farmácia Central, no nº. 203, e que LENCART era um anagrama de CENTRAL. A verdade é que deve ter vendido milhares e milhares de caixas de rebuçados e de pomitos, um creme para todas as ocasiões. Desconhecíamos que tivesse havido uma moeda ou medalha e para que servia.