quinta-feira, 31 de maio de 2018

TESTEMUNHOS E MEMÓRIAS DOBRE O PORTO - XLIII

9.43 -  CAMILO E O PORTO – IV - TEXTO DE JULIO DANTAS (1890), Locais que Camilo frequentava, Ricardo Browne, Bento Carqueja e o 1º centenário de Camilo, Documentário da BBC sobre o Porto



In Os Cafés do Porto, Maria Teresa Castro Costa


Café Guichard na Praça D. Pedro




Rei reunido com os mercadores – História do Porto – Luis Oliveira Ramos


Dandys do séc. XIX


Ricardo Browne - Retrato de Roquemont Augusto -in Matriznet

“Ricardo Clamouse Browne era filho de Manuel Clamouse Browne, opulento proprietário e negociante de vinho do Porto, e de Maria Felicidade do Couto Browne, poetisa. Os biógrafos de Camilo Castelo Branco referem sempre o conflito entre o escritor
(Camilo) e o filho mais novo da poetisa, Ricardo Browne, motivado pela proximidade entre Camilo e Maria Felicidade. A contenda com Camilo foi o facto que o tornou mais conhecido. No seu tempo, ficou célebre pelos bailes e festas que dava em sua casa. Foi sendo descrito como um "árbitro da elegância", ditando a moda na cidade. Poeta e músico, foi também grande viajante e diplomata. Um dos biógrafos refere que morreu na Foz do Douro em Agosto de 1900". In Os Cafés do Porto, Maria Teresa Castro Costa


Trajes românticos


Jardim de S. Lázaro - 1910


Camilo – in A viagem dos Argonautas


Almeida Garrett

"A cidade do Porto gozava, por esse tempo, de grande prestígio mundial, fundamentalmente por causa da sua importante actividade comercial, mas era já notório o desenvolvimento industrial que estava em curso. Apesar disso e de alguns toques de modernismo que se notavam já, a cidade continuava uma terra de cariz medieval, profundamente provinciana nas pessoas e nos costumes. Por isso, Garrett a comparou mais tarde a "UM GRANDE ALDEÃO"…
A cidade do Porto deu o nome deste seu filho à Praça fronteira à Estação de S. Bento, um largo, situado na zona histórica da cidade, digno do homem que viveu o Cerco do Porto e ajudou a suster as tropas miguelistas.
Ali bem perto, na Praça do General Humberto Delgado e em frente à Câmara Municipal do Porto, ergue-se a estátua do poeta, da autoria de Barata Feyo.
No entanto, em vida, nunca lhe deu a honra de o eleger deputado pela cidade. Ele, que escreveu: "Se na nossa cidade há muito quem troque o B por V, há muito pouco quem troque a honra pela infâmia e a liberdade pela servidão.", morreu com a ferida de não ter sido eleito pela sua terra, que amava e que servira.
Camilo Castelo Branco avança uma explicação para esta "ingratidão" da cidade do Porto. Dizia que os eleitores "ASSENTARAM OS PÉS DE CIMA SOBRE OS REFEGOS DA BARRIGA E REGOUGARAM: CHAMAR AO PORTO 'GRANDE ALDEÃO'! POIS O MEU VOTO É QUE NÃO APANHAS." In blogue Amar o Porto+
Na verdade o Porto nunca lhe perdoou e lhe deu o seu voto

os..


Bento Carqueja – 1860/1935 – in "O Tripeiro", 7ª série, Ano XIII, nº 8-9, Porto, 1994 – In Tripolov


Bento Carqueja com a neta Maria Elisa, o genro Fortunato Seara Cardoso e quadros de «O Comércio do Porto», aquando da inauguração do edifício da Av. dos Aliados (1930). In idem


Caricatura de Gouveia – 1914 – in Idem


sexta-feira, 25 de maio de 2018

TESTEMUNHOS E RECORDAÇÕES SOBRE O PORTO - XLII

9.42 -  CAMILO E O PORTO – III - TEXTO DE JULIO DANTAS (1890), Finalmente Camilo, O mais Tripeiro dos escritores, Camilo e a Ópera, Suicídio e sepulcro de Camilo, Prisão de Camilo na Relação, Camilo o aventureiro.


Camilo in Blogue do Minho


Recordamos uma passagem do nosso lançamento de 3/12/2017:


Adélia Dabedeille

A Ópera, no séc. XIX, era muito apreciada, concorrida e bem frequentada. Os sucessos dos cantores e das óperas eram muito comuns e, habitualmente, o público muito conhecedor. Sucessos como os que descrevemos no lançamento anterior devem ter sido raros, mas ficaram na história. 


Estalagem da Ponte da Pedra –C.P.F.

Na noite de 6/3/1849 os fanáticos de Adélia Dabedeille homenagearam-na na famosa Estalagem da Ponte da Pedra. Por coincidência ou não, Camilo e seu amigo Aloísio Seabra, apoiantes de Clara Belloni, foram lá cear. Vendo o que se passava, começaram a dar vivas à sua preferida. Rapidamente tal provocação degenera numa valente rixa. Camilo e o amigo tiveram de bater em retirada, pois os “inimigos” eram muitos. Como escreveu Camilo “Aloísio retirava ferido pela ponta de um estoque de bengala; eu que entrara resoluto a morrer, inutilizado o copo na cabeça do mais cobarde, cruzei os braços esperando a morte numa atitude romana”


Capela do cemitério da Lapa onde se encontra o corpo de Camilo. Foi-lhe cedido um lugar pelo seu amigo Freitas Fortuna.

A 1 de Junho desse ano, o Dr. Magalhães Machado visita o escritor em Seide. Depois de lhe examinar os olhos condenados, o médico com alguma diplomacia, recomenda-lhe o descanso numas termas e depois, mais tarde, talvez se poderia falar num eventual tratamento. Quando Ana Plácido acompanhava o médico até à porta, eram três horas e um quarto da tarde, sentado na sua cadeira de balanço, desenganado e completamente desalentado, Camilo Castelo Branco disparou um tiro de revólver na têmpora direita. Mesmo assim, sobreviveu em coma agonizante até às cinco da tarde. A 3 de Junho, às seis da tarde, o seu cadáver chegava de comboio ao Porto e no dia seguinte, conforme o seu pedido, foi sepultado perpetuamente no jazigo de um amigo, João António de Freitas Fortuna, no cemitério da Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa. In Wikipédia
 

com...


Cadeia da Relação - Joaquim Vilanova - 1833


Cela de Camilo na cadeia da relação - foto Portojo


Convento de Monchique – cenário do AMOR DE PERDIÇÃO


Janela do quarto onde esteve Camilo – foto de José Oliveira

No cárcere, Camilo continuou a escrever e, no silêncio do último piso, onde se situava a cela com janela para nascente - é a que se situa mesmo por baixo do ângulo esquerdo, de quem está virado para ele, do frontão -, o que mais o irritava era o barulhar ritmado e invariável dos passos do carcereiro sobre as tábuas rangentes do sobrado. 
Durante a sua segunda estadia na Relação, um ano, Camilo esteve no quarto S. João que tinha uma janela virada a Nascente, com vista para o Douro. Aí escreveu o romance “Amor de Perdição”, em que descreve a partida de Simão Botelho para o desterro à vista da sua amada que se encontrava no Convento de Monchique.


Convento de S. Bento de Ave Maria

Passando pela Relação, lá vemos a janela...

domingo, 20 de maio de 2018

TESTEMUNHOS E RECORDAÇÕES SOBRE O PORTO - XLI

9.41 -  CAMILO E O PORTO – II - TEXTO DE JULIO DANTAS (1890), Lugares e personagens do Porto, O Noivado do Sepulcro, Armas e símbolos do Porto através do tempo. 


Cordoaria- foto de 1906



D. António Barroso -Bispo do Porto


Filha dos Condes de Almedina – Soares dos Reis


O Noivado do Sepulcro – Soares de Passos – o mais triste poema da língua portuguesa

O Noivado do Sepulcro 
Vai alta a lua! na mansão da morte
Já meia-noite com vagar soou;
Que paz tranquila; dos vaivéns da sorte
Só tem descanso quem ali baixou.

Que paz tranquila!... mas eis longe, ao longe
Funérea campa com fragor rangeu;
Branco fantasma semelhante a um monge,
D'entre os sepulcros a cabeça ergueu.

Ergueu-se, ergueu-se!... na amplidão celeste
Campeia a lua com sinistra luz;
O vento geme no feral cipreste,
O mocho pia na marmórea cruz.

Ergueu-se, ergueu-se!... com sombrio espanto
Olhou em roda... não achou ninguém...
Por entre as campas, arrastando o manto,
Com lentos passos caminhou além.

Chegando perto duma cruz alçada,
Que entre ciprestes alvejava ao fim,
Parou, sentou-se e com a voz magoada
Os ecos tristes acordou assim:

"Mulher formosa, que adorei na vida,
"E que na tumba não cessei d'amar,
"Por que atraiçoas, desleal, mentida,
"O amor eterno que te ouvi jurar?

"Amor! engano que na campa finda,
"Que a morte despe da ilusão falaz:
"Quem d'entre os vivos se lembrara ainda
"Do pobre morto que na terra jaz?

"Abandonado neste chão repousa
"Há já três dias, e não vens aqui...
"Ai, quão pesada me tem sido a lousa
"Sobre este peito que bateu por ti!

"Ai, quão pesada me tem sido!" e em meio,
A fronte exausta lhe pendeu na mão,
E entre soluços arrancou do seio
Fundo suspiro de cruel paixão.

"Talvez que rindo dos protestos nossos,
"Gozes com outro d'infernal prazer;
"E o olvido cobrirá meus ossos
"Na fria terra sem vingança ter!

- "Oh nunca, nunca!" de saudade infinda,
Responde um eco suspirando além...
- "Oh nunca, nunca!" repetiu ainda
Formosa virgem que em seus braços tem.

Cobrem-lhe as formas divinas, airosas,
Longas roupagens de nevada cor;
Singela c'roa de virgínias rosas
Lhe cerca a fronte dum mortal palor.

"Não, não perdeste meu amor jurado:
"Vês este peito? reina a morte aqui...
"É já sem forças, ai de mim, gelado,
"Mas inda pulsa com amor por ti.

"Feliz que pude acompanhar-te ao fundo
"Da sepultura, sucumbindo à dor:
"Deixei a vida... que importava o mundo,
"O mundo em trevas sem a luz do amor?

"Saudosa ao longe vês no céu a lua?
- "Oh vejo sim... recordação fatal!
- "Foi à luz dela que jurei ser tua
"Durante a vida, e na mansão final.

"Oh vem! se nunca te cingi ao peito,
"Hoje o sepulcro nos reúne enfim...
"Quero o repouso de teu frio leito,
"Quero-te unido para sempre a mim!"

E ao som dos pios do cantor funéreo,
E à luz da lua de sinistro alvor,
Junto ao cruzeiro, sepulcral mistério
Foi celebrado, d'infeliz amor.

Quando risonho despontava o dia,
Já desse drama nada havia então,
Mais que uma tumba funeral vazia,
Quebrada a lousa por ignota mão.

Porém mais tarde, quando foi volvido
Das sepulturas o gelado pó,
Dois esqueletos, um ao outro unido,
Foram achados num sepulcro só.

Soares de Passos, in 'Antologia Poética'

As armas e símbolos do Porto através dos tempos – Uma relíquia
https://www.facebook.com/PortoDesaparecido/photos/a.399135890141619.102031.332201940168348/424828297572378/?type=3&theater

Uma cidade chamada Porto – Filmes da Mente.com
http://filmesdamente.com/works/uma-cidade-chamada-porto/ 

segunda-feira, 14 de maio de 2018

TESTEMUNHOS E MEMÓRIAS SOBRE O PORTO - XL

9.40 -  CAMILO E O PORTO – I - TEXTO DE JULIO DANTAS PELO CENTENÁRIO DA MORTE DE CAMILO (1890), Contenda entre o Bispo e o povo do Porto, Ruas e lugares na memória de J.D.


Júlio Dantas (1876-1962) foi designado pela Academia das Ciências para representa-la, no Porto, na homenagem a Camilo Castelo Branco, pelos 100 anos da sua morte. Porém, por motivos de falta de saúde não pôde deslocar-se, mas enviou um excelente texto que abaixo parcialmente transcrevemos de O Tripeiro, Série VI, ano 2:


Camilo Castelo Branco


A propósito da contenda do bispo e o povo a que se refere o autor, intercalamos um texto alusivo, publicado no Jornal de Notícias de 31/12/2006):

“D. Martinho Rodrigues (1191-1235) e a contenda com a cidade
Bairro da Sé. Eis aí um dos livros abertos da história do burgo portucalense. Entra-se nele a partir do Terreiro da Sé e fica-se, desde logo, a fazer parte da família de fantasmas que o povoa. Lá vai a sombra do último questor ou demandador - oficial da Mitra encarregado de arrecadar as rendas que os fiéis eram obrigados a pagar ao bispo. E lá vai, esgueirando-se rente ao muro, embrulhado no seu albarnoz alvadio, o mercador judeu a caminho da sinagoga, ali para as bandas das Aldas. Lá vai, agora, a sombra de D. Martinho Rodrigues, o arrogante prelado que o povo, cansado de tantas extorsões, meteu a ferros na torre do seu próprio paço donde ele logrou fugir para se dirigir a Roma e alcançar do Papa um anátema sobre a sua própria cidade .Vale a pena recordar esta contenda que a cidade travou com o seu bispo. Foi há quase 800 anos. Completam-se em 2009. E o palco dessa luta foi o bairro da Sé. Onde, como escreveu Firmino Pereira, " em cada uma das suas pedras se inscreve uma façanha heróica, porque foi precisamente nessa parte do burgo que mais energicamente se afirmaram as energias da raça na defesa dos seus direitos e dos seus foros tantas vezes afrontados pela cobiça dos bispos.

Um desses bispos foi D. Martinho Rodrigues que governou a diocese do Porto de 1191 a 1235. Por esse tempo o burgo portucalense não ia além do morro da Pena Ventosa em cujo cume se situava a Catedral e a residência do prelado. O senhorio da cidade, como tantas vezes aqui se tem dito, pertencia ao bispo da diocese desde os remotos tempos de D. Hugo. Os cidadãos do Porto, em especial, mas os moradores da cidade, em geral, eram considerados vassalos do bispo. E D. Martinho Rodrigues, especialmente este, era um prelado ambicioso. Como senhor da cidade, arrecadava os impostos sobre todos os géneros e mercadorias que entravam ou saíam no burgo. E lançava cada vez mais impostos sobre o povo que, naturalmente descontente, protestava. Pinho Leal escreveu no seu "Portugal Antigo e Moderno" que a certa altura, o povo, cansado de protestar baldadamente contra as prepotências do bispo, "… amotinou-se e, furioso, acometeu contra o paço episcopal arrombando as suas portas e invadindo-o; e chegados aos aposentos do bispo lançaram-lhe em rosto os vexames de que eram vitimas após o que o prenderam no próprio paço onde ficou pelo espaço de cinco meses..." Passou-se isto em 1209. Há quase 800 anos. É da história que D. Martinho Rodrigues conseguiu, ao fim de cinco meses de encarceramento, fugir da prisão, de noite, e dirigir-se a Roma onde "chegou em miserável estado". Na cadeira de S. Pedro sentava-se por essa altura Inocêncio III a quem o bispo pediu que fulminasse com a pena de excomunhão os chefes do levantamento popular indicando especialmente dois cidadãos João Alvo e Pedro Feudo Tirou (tirou o feudo ou vassalagem). Mas foram apenas dois os burgueses do Porto que participaram no levantamento? Claro que não.

Os cabeças do motim, se assim se pode dizer, eram ao todo vinte. E estão devidamente identificados João Alvo e seu irmão, Mendo Guilherme; Vicente Mendes, genro de João Alvo; Afonso Gondom das Eiras; Tirou Martins Pires e Vicente, ambos genros de Pedro Feio (Petri Fedi) ; Pedro Soares, filho de Soeiro Monis; João Vai-Vai; Fernando Monis; Gonçalo Godinho; Pedro Mouro; Pirro das Eiras; Pedro Feio (Petrum Fedum); Paio Martins; Mendo Bicas; Soeiro Gulherme; João Ferreira do Monte; João Surdo; Reinaldo Agulheiro; e Miguel Meigenga. Todos estes "cidadãos portucalenses" ficaram sujeitos à sentença canónica que os considerou "infames" e por isso foram excomungados. Só que, quando a sentença chegou ao Porto os cidadãos do burgo, incluindo os directamente atingidos, encolheram os ombros e "altivamente afrontaram a censura eclesiástica" com um simples desabafo: "excomunhão não brita osso" que é como quem diz, "não interessa…" ou seja não é para levar a sério. Sabe-se que os "condenados" se alhearam por completo da sentença e da causa que lhe deu origem. Foram, por isso, julgados à revelia pelos juízes apostólicos e a pena que lhes foi aplicada só podia ser levantada se eles dessem "uma satisfação conveniente" ao bispo e implorassem a Roma a absolvição. Nada disso aconteceu e foi o próprio D. Martinho Rodrigues, anos mais tarde, quando regressou ao Porto, que solicitou de Inocêncio III a absolvição dos excomungados. Consta do "Censual do Cabido da Sé do Porto" que o bispo D. Pedro Salvadores, que sucedeu a Martinho Rodrigues, quando morreu, em 24 de Junho de 1247, contemplou, no seu testamento, Pedro Feio com quatro morabitinos e João Alvo com dois. O que pode significar que havia então bom entendimento entre a Mitra e os homens da cidade.

Não foi só com a sociedade civil que o bispo D. Martinho Rodrigues teve problemas. Houve também uma séria questão entre ele e os cónegos da Sé. Por causa da divisão das rendas da diocese entre o bispo e os cónegos. Tudo começou na administração de D. Martinho Pires que antecedeu D. Martinho Rodrigues na Mitra portucalense. Quando chegou ao Porto, Martinho Pires, tratou imediatamente de reorganizar o Cabido e incluiu nessa reorganização a divisão das rendas do bispado em três partes sendo que duas reverteriam a favor do bispo e uma era atribuída ao Cabido. O bispo recolhia duas partes porque, alegou, "lhe competia zelar pela fábrica da Sé", isto é administrar o edifício da Catedral, sua conservação, pagamento de ordenados a funcionários, etc. Dali em diante os cónegos deixariam de viver em comum, como até ali, segundo as regras de Santo Agostinho e passariam a viver "secularmente" ou seja onde quisessem e como entendessem. Com a subida de D. Martinho Rodrigues à cadeira episcopal do Porto os cónegos tentaram revogar a medida imposta pelo prelado anterior mas o novo bispo do Porto não aceitou e manteve a determinação de só pagar aos cónegos o vestuário e o sustento”. 


Entrada da Viela da Neta na Rua de Sá da Bandeira, hoje inexistente- Portojofotos


Rua das Aldas – foto José Paulo Andrade


Cordoaria na zona da antiga Praça do Olival – Foto Alvão -1930


Areinho de Miragaia – antigo estaleiro

…velas que haviam de fazer a conquista de Ceuta.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

TESTEMUNHOS E MEMÓRIAS SOBRE O PORTO - XXXIX

9.39 - Testemunho do jornalista Frank Barrett do Daily Mail - 8/2/2015  


O charme da Invicta continua a conquistar a imprensa internacional. Desta feita, os elogios vêm de Frank Barrett, editor de viagens do jornal britânico Daily Mail, que considera que "o Porto é perfeito" e defende que "Portugal é um dos pontos turísticos mais subvalorizados da Europa".
Num artigo publicado este mês no The Mail on Sunday, edição de domingo do jornal, Frank Barrett fala das suas viagens a Portugal, "célebre, claro, pelas praias douradas do Algarve, onde esplêndidas extensões de areia se misturam com as águas do Atlântico, superando, de longe, qualquer coisa que possa encontrar-se na vizinha Espanha".


Foto de M. F. Santos

Porém, alerta Barrett, se "o Algarve é ótimo", "o Porto é perfeito". "Há muito tempo que queria visitar a cidade do Porto, mas não pude fazê-lo até ao fim de 2014 e valeu a pena esperar", afirma o jornalista, que assegura que "é difícil imaginar um local mais perfeito para umas curtas férias". 


"O Porto é um baú do tesouro feito de ruas empedradas estreitas que nos levam da margem do rio à parte mais alta da cidade, cuja principal estação ferroviária [a Estação de São Bento] é uma joia da arquitetura", escreve o cronista, destacando os "bonitos azulejos" que a decoram, à semelhança do que acontece com muitos outros edifícios portuenses.


Frank Barrett tece, também, elogios ao hotel The Yeatman, amplamente premiado, que se distingue não apenas pela sua arquitetura, mas por um "maravilhoso" spa e pela famosa piscina com vista panorâmica sobre a "fantástica" cidade do Porto.


O editor de viagens do Daily Mail recomenda ainda um passeio no Teleférico de Gaia para apreciar a vista das caves do Porto e uma ida à Livraria Lello, que descreve como sendo, "provavelmente, a mais bonita livraria do mundo".
"O verdadeiro charme do Porto é que é surpreendentemente compacto, o que significa que é possível desfrutar da cidade a pé", partilha Barrett, apontando, por fim, uma última vantagem de uma estadia na Invicta: os preços acessíveis.
De realçar que, ao longo do artigo, o cronista não esquece, também, outras zonas de Portugal, deixando, igualmente, elogios à cidade de Lisboa e à vila de Sintra, bem como à região do Minho, todas elas "perfeitas para uma pausa em qualquer altura do ano".

Porto: A City Full of Historic Surprises - Joe Journeys
http://www.pressreader.com/bookmark/HS8NMMPGBEK/

Porto – Video com fotos de Alvão e outros -

sexta-feira, 4 de maio de 2018

TESTEMUNHOS E MEMÓRIAS SOBRE O PORTO - XXXVIII

9.38 - Memórias de uma tripeira que vive em Cascais há 20 anos - mas tem o Porto no coração. 



Ah carago, sou tripeira sim senhor!!!!
E apesar de viver cá em baixo há 20 anos e ter Cascais entranhado no meu coração para todo o sempre, e cada vez mais amar Lisboa de paixão, o meu coração há de ser sempre tripeiro!!

E enganem-se quem acha que chamar-nos tripeiros é uma ofensa! É um orgulho! Uma coisa que não se explica, sente-se!
Tal como os alfacinhas também devem sentir o mesmo. Eu não ia com a minha avó ao Chiado nem fazer compras para Campo de Ourique. Não brinquei no Jardim da Estrela nem fui lanchar à Versalhes.


Mas comprava sapatos da Heidi na Senhora da Luz, ia ao Morgado comprar presentes de Natal e uma viagem até à baixa para ir ao Bazar Paris era um dos melhores presentes que me podiam dar!



Ia ver filmes ao Pedro Cem e à missa a Cristo Rei e às Carmelitas. Comprava tigelinhas de mousse na Minhotinha e apanhava o 78 para a escola.


Comprava flores no Mercado da Foz e cigarros para a minha mãe no Ferreira. Tomava café na Juquinha e comia croissants na Doce Mar.


Cerca de 1900

Ao Domingo almoçávamos na Varanda do Sol e brincávamos nas rochas da Praia da Luz e subi vezes sem conta a estátua do Homem do Leme. Nunca entrei no Castelo do Queijo mas ia ao Sá da Bandeira ver peças.


Construía espantalhos em Serralves com a escola e ia ao primeiro Continente de todos fazer compras com a minha mãe.
Pendurava a roupa em cruzetas e usava meias calças quando estava frio. Ao Sábado íamos buscar tripas à Cufra ou à Concha d'Ouro e comia lanches na Bacelar!
A água do banho saía do cilindro e os ovos estrelados eram feitos na sertã! Chamávamos o picheleiro e comíamos bijous. Para o arroz, a minha empregada fazia um estrugido e na sopa punha-se penca! Passei a minha infância de repas e tirava catotas do nariz. Quando larguei as fraldas, mijava no pote e deve ter sido nessa altura que fui para o Centrinho (em Nevogilde).



Os azeiteiros usavam palitos no canto da boca e iam passear para a avenida ao Domingo. E quando jogava o Boavista, não se conseguia estacionar em minha casa.
O Pedro Begonha usava T-shirt preta fosse Verão ou Inverno e o Daniel era um anão que andava sempre por ali.
O leiteiro, o peixeiro e o padeiro deixavam os sacos na porta de casa e a minha avó obrigava-me a dar um beijinho à senhora que vendia couves num carrinho de mão. (Ela tinha barba, 4 verrugas e não tinha dentes!!).


Os gunas andavam sempre pendurados no eléctrico e tínhamos de fugir deles quando nos atiravam pedras.
Festejávamos o São João com alhos e martelos e em Agosto íamos à procissão do São Bartolomeu. 


Augusto Leite - a célebre "mercearia" da Foz do Douro



Íamos ao Augusto Leite comprar bicos de pato e ao Ténis comer filetes com salada russa. Comia iscas de bacalhau e os totós eram uns lorpas.
As empregadas tratavam-nos por "menina" dos 0 aos 88 anos e íamos à Brasília comprar roupa na Cenoura.
Amo Lisboa de paixão! Cada vez mais!!! E não! Não andei no Pedro Nunes nem ia às Amoreiras fazer compras. Mas tenho muito orgulho em ter este sangue nortenho e murcão! Em dizer carago à boca cheia, em chamarem-me gaja sem ficar ofendida e fazer vénias ao meu FCP! Não somos bichos, só somos orgulhosos em ser tripeiros!!
In Facebook – 2015

Porto Portugal Some Impressions 2015 - Nico Ruijter
https://www.youtube.com/watch?v=YHVjR3IHsgk

Estudantes testemunham a sua estadia no Porto
https://www.jn.pt/nacional/especial/interior/tripeiros--do-mundo-9204324.html