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sexta-feira, 31 de julho de 2015

GOVERNO POLÍTICO - VIII

5 . 4 - Governo Político - VIII

Escudo, freguesias e serviços camarários



"No largo de São Domingos, ou Largo de Santa Catarina, fronteiro do antigo convento do mesmo nome, existiu desde o séc. XVI um grande chafariz, transferido em 1845 para o largo do Laranjal, em frente da igreja da Trindade, por exigências do intenso trânsito de pessoas, animais e carroças no local. Após a transladação do chafariz em 1845, foi erguida uma nova fonte, desta vez incrustada no prédio onde, mais tarde, se estabeleceu a papelaria Araújo & Sobrinho. A fonte, no entanto, foi demolida em 1922 restando dela apenas o brasão de armas que está agora na quinta de Nova Sintra". Texto de José Fiacre.

Em O Tripeiro Série VII, Ano XXV, Nº.1, Horácio Marçal explica o brasão do Porto: “ Em 13 de Maio de 1813 por uma Carta Régia do Príncipe D. João (futuro D. João VI), para galardoar a cidade pelo seu heroísmo a quando da primeira Invasão Francesa em 1807, erguendo o “”grito da independência”” em 1808, lhe foi dado um acrescentamento às suas armas: 2 braços armados e manoplados em cima das torres; um erguendo uma espada engrinaldada de louro, outro, um estandarte com as armas reais. Em 14 de Janeiro de 1837, um documento redigido por Almeida Garrett e assinado por D. Maria II e Passos Manuel, “” para memória de que a cidade do Porto bem mereceu da Pátria e do Príncipe””, determina que as suas armas sejam esquarteladas comas do reino e tenham ao centro, num escudete de púrpura, o coração de ouro de D. Pedro (por ele deixado à cidade, em testamento, que o guarda na Igreja da Lapa) sobrepujado por uma coroa de duque (no mesmo decreto em que foi dada a Torre e Espada), tendo por timbre o dragão negro das antigas armas dos senhores Reis destes reinos: que tenha o colar da Ordem da Torre e Espada em volta do escudo (já concedida por Decreto de 04-04-1833) e junte aos seus títulos, o de Invicta”.


SITE C. M. PORTO - "O original brasão da Invicta representava «uma cidade de prata, em campo azul sobre o mar de ondas verdes e douradas».
Em 1517 sofre a primeira alteração, ao qual foi incluído a imagem de Nossa Senhora de Vandoma, com o menino Jesus nos braços sobre um fundo azul e entre duas torres.
Em 1813 e aquando da Segunda modificação, a imagem de Nossa Senhora aparece ainda ladeada por duas torres encimadas por um lado por um braço e por outro por uma bandeira.
Em 1834 no reinado de D Pedro IV ao brasão foi introduzido uma inscrição «Antiga, mui Nobre sempre Leal e Invicta cidade».
Este brasão era então constituído por um escudo esquartelado, cercado pelo colar da Ordem da Torre e Espada, tendo nos primeiros e quartos quartéis as armas de Portugal e nos segundos e terceiros as antigas armas da cidade. Encimava o escudo um dragão verde assente numa coroa ducal, sobressaía uma longa faixa com a legenda Invicta.
A última alteração do brasão, em 1940, dá-lhe a forma actual conhecida por todos, representado pelas armas. Apresenta-se assim de azul com um castelo de ouro, constituído por um muro ameado e franqueado por duas torres ameadas, aberto e iluminado a vermelho, sobre um mar de cinco faixas ondeadas, sendo três de prata e duas de verde.
Sobre a porta assente numa mesura de ouro a imagem da virgem com diadema na cabeça, segurando um manto azul e com o menino ao colo, ambos vestidos de vermelho, acompanhados lateral e superiormente por um esplendor que se apoia nas ameias do muro.
Em destaque dois escudos de Portugal antigo. No cimo uma coroa mural de prata, de cinco torres e um coral da ordem militar da Torre e Espada, do Valor e do Mérito.
A listel branco a inscrição « Antiga, mui Nobre sempre Leal e Invicta cidade do Porto».

Porto visto de drone
http://vimeo.com/moogaloop.swf?clip_id=83946072

Freguesias do Porto


“Por julgar interessante para arquivar nas colunas do querido Tripeiro, envio a resposta dada pelo Regedor de uma freguesia de uma vila próximo do Porto, sobre o pedido que lhe foi feito pelo administrador do respectivo Concelho para dar uma relação da existência de cereais e gados na sua freguesia. Eis a cópia da resposta que ele enviou: 
Cereais – Não há cera nenhuma, porque aqui não criam abelhas.
Gado bovino – o boi do meu compadre Tibúrcio, o bezerro novo do Sr. Boticário.
Gado cavalar – o cavalo do Sr. Morgado, a burra preta da minha sogra, os machos dos primos Anicetos.
Gado caprino – as cabras das meninas Bernardas, os borregos dos meus sobrinhos e a vaquinha da tia Andreia. 
Gado ovino – isso de galinhas é o que há mais. Quase toda a gente as tem em casa, vivendo tudo em família. Por serem muitas não as posso contar.
Gado asinino – bichos de asas também há muitos. É uma passarada aí por esses campos! Como é que uma pessoa havia de lá ir conta-los! 
Gado suíno – Não conheço bichos com esse nome. Se calhar só os há no estrangeiro. 
Gado miúdo – Desse não perguntaram V. Senhoria; mas é o que há por aqui muito. Há porcos, coelhos, borregos rapazes pequenos. 
E, se mais alguma coisa for cá fica às ordens este seu criado. Carlos A. De Aguiar.” 
In O Tripeiro, Série III, 1/1/1927.


Nos lançamentos de 10/4, 13/4, 16/4, 27/4 e 30/4 de 2013 já tratámos do fornecimento de água à cidade e das fontes e chafarizes existentes. Tema do maior interesse.

O Abastecimento de Água na Cidade do Porto nos Séculos XVII e XVIII. Aquedutos, Fontes e Chafarizes, tese de mestrado do Doutor Manuel Joaquim Moreira da Rocha:
https://www.google.pt/webhpsourceid=chromeinstant&ion=1&espv=2&ie=UTF8#q=O+Abastecimento+de+%C3%81gua+na+Cidade+do+Porto+nos+S%C3%A9culos+XVII+e+XVIII.+Aquedutos%2C+Fontes+e+Chafarizes%2C+tese+de+mestrado+do+Doutor+Manuel+Joaquim+Moreira+da+Rocha




O historiador do Porto Dr. Artur de Magalhães Basto descreve, no seu livro O Porto do Romantismo, o estado das ruas em 1820 e 1850:



O calceta eram vadios coagidos pelas autoridades a trabalhos de pavimentação de ruas e caminhos, levando corrente amarrada à cinta e artelho do pé direito para não fugirem.



Água vai!





Serviços de limpeza da CMP – foto Alvão



Carro vassoura - 1923


1930


1930


Recolha do lixo - 1960


Rua de S. Sebastião em 1936, antes das demolições para a abertura do Largo da Sé.

"Em tempos muito antigos houve no Porto três açougues que funcionavam muito perto uns dos outros, no espaço hoje ocupado pelo Largo do Dr. Pedro Vitorino, junto à Sé. Um era o açougue Real, onde se abatia o gado cuja carne se destinava ao consumo da cidade e que ficava sensivelmente a meio da Rua de S. Sebastião, onde agora está a reconstituição da primeira instalação do município, da autoria do Arquitecto Fernando Távora; o açougue do Bispo, destinado a abastecer unicamente o paço episcopal e o cabido, ou seja os cónegos; e o açougue dos Judeus, muito especial, porque aqui o abate do gado tinha que obedecer a um ritual muito especial. 
Segundo Magalhães Basto:
“…A Rua das Aldas vinha na continuação da rua da Penha ou da Pena Ventosa que, por sua vez, começava na Rua de S. Sebastião e ia pela Rua Francisca até ao Largo do Açougue Real. Antes de ser Açougue Real foi, Açougue do Castelo e Açougue da Cidade. Hoje a área em questão, corresponde ao Largo do Dr. Pedro Vitorino”. 
Há documentos em que se prova que já no século XIII funcionava no burgo, um açougue ou matadouro eclesiástico que a partir do século XVI, passou a ser administrado pelo município.
Junto da Sé chegaram a funcionar, portanto, 3 matadouros: o Matadouro Real que servia a população da cidade, o do Bispo e o dos Judeus com um ritual muito próprio...


...Em 1576, os jesuítas instalados no Seminário Maior, puseram em causa o funcionamento do matadouro por causa dos maus cheiros. Em 1584 foi pela vereação municipal decidido transferir o matadouro para fora do Postigo do Sol, junto do actual Largo Actor Dias. 
Entre as Ruas das Fontainhas e do Sol, perto da Porta do Sol, funcionaram depois, os matadouros chamando-se outrora ao local, Vale de Asnos. Por isso, não é de estranhar que por aí tenha existido uma Viela das Tripas...


...Antes, de o Matadouro Municipal ter ido para a Rua de S. Dinis chegou a funcionar no local onde esteve o Asilo de Mendicidade ao fundo da Rua das Fontainhas. Por volta do ano 1878, andava a abrir-se uma rua “da Batalha às Fontainhas” e o matadouro municipal, funcionava nesse espaço.
O seu funcionamento, associado a algumas oficinas de curtumes nas imediações e aos cheiros que essas actividades exalavam levaram ao abandono da Alameda das Fontainhas, por parte dos portuenses que até aí a usavam como palco de muitos passeios desfrutando da vista sobre o Douro. 
Funcionou ainda um matadouro na actual Travessa de Cedofeita que se chamou por isso Viela do Açougue e que abastecia, em especial, o hospital do Carmo e as famílias burguesas que entretanto por ali se instalaram com predominância para a classe médica e dos professores que trabalhavam nos hospitais, do Carmo ou de Santo António; e davam aulas na Escola Politécnica que funcionava no edifício onde agora está a reitoria da Universidade.
No Porto, a "vendagem de carne" só se tornou completamente livre depois da Revolução Liberal de 1820. Mas já antes desta data, nos princípios do século XIX, a Câmara concedera algumas licenças para o estabelecimento de talhos dentro do perímetro da cidade. ".
Texto de José Fiacre


 Foto de J. Portojo



Mais tarde foi construído o matadouro Municipal na Rua de S. Diniz que aí funcionou até 1923. Posteriormente foi canil e outros serviços da Câmara, tal como departamento da limpeza. 
Actualmente encontra-se lá Direcção do Ambiente.


Carro de remoção de cães e transporte para o canil de S. Dinis


Matadouro Industrial do Porto desde 1923

Os primeiros açougues do Porto encontravam-se perto da Torre Medieval na Rua Pedro Pitões, em frente da Sé. Foram demolidos em 1851 para aproveitar a pedra para outras obras públicas, pois a casa só tinha paredes.
Antes de passar para a Corujeira, o matadouro municipal era, até aos anos 30 do séc. passado, na Rua de S. Dinis, onde depois esteve instalado o canil. 
“Por volta de 1910, sentindo-se necessidade de substituir o insuficiente e velho matadouro de S. Diniz, é aprovado o projecto de construção de um novo matadouro municipal na cidade do Porto. 
Na escolha do local atendeu-se a vários requisitos; de facto, embora perto do centro da cidade, a Corujeira era então um local povoado e para onde a cidade não tendia a estender-se. Possuía, além disso, captação de água própria e abundante, escoava os líquidos residuais com facilidade e permitia a futura ampliação.
Acrescentem-se a tudo isto as vantagens da existência do caminho-de-ferro no extremo NE e da rede viária.


Concluídas as expropriações, imediatamente se iniciaram as primeiras obras de edificação; apesar disso o processo foi lento e complexo; de tal modo que só em 1923 é que as operações de abate foram transferidas para o novo matadouro, então concluído.
O apetrechamento mecânico fornecido pela casa Beck & Henkel, de Cassel foi introduzido em 1930.
Finalmente, em Julho de 1932, efectua-se a inauguração oficial
O matadouro do género 0ffenbach, tipo de instalação em superfície também conhecida por sistema alemão, ocupa uma área total de 30 000 m2 e todas as suas dependências foram concebidas para que as diferentes operações se sucedessem de uma forma metódica e progressiva”.
Servindo mais de um milhão de pessoas, a sua capacidade de abate englobando os diversos tipos de gado, situava-se entre as 12 e as 13 000 toneladas ano.
Desactivado há várias dezenas de anos, os 25 mil metros quadrados funcionam hoje como armazém da câmara, depósito de carros rebocados, sede provisória da Sociedade Protectora dos Animais e acolhem, ainda, uma esquadra da PSP. A C. M. Porto tem a intenção de vender estas instalações a privados.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

CARÁCTER, GÉNIO E COSTUMES DOS PORTUENSES - III

3.2 - Carácter, Génio e Costumes dos Portuenses 



Nos séculos passados, não era muito frequente as pessoas tomarem banho. Porém, havia famílias que aqueciam água transportada pelos galegos e se banhavam na sala ou na cozinha em banheiras de cobre. Primeiro banhava-se o patrão, depois a patroa e seguiam-se-lhes os filhos, sempre na mesma água. Depois eram as criadas e criados e até os empregados da loja, quando aí viviam. Esta água ficava, como é evidente, muito suja. Perguntámo-nos se não virá daí a frase “deitar fora o bébé com a água do banho”. 
Porém, a população poderia frequentar os banhos públicos desde 1854. 
Claro que podia tomar banho no Douro ou numa das muitas ribeiras da cidade. Mas, a partir de 1852, até poderia tomar comodamente, no rio, o seu banho.


Vê-se, a meio do rio, uma espécie de cúpula que era uma barcaça/barraca onde os púdicos e púdicas portuenses iam tomar banho no rio. Esta barcaça foi feita em Gaia em 1852. Sobre este assunto, O Tripeiro Série V, Ano VI refere um artigo de Camilo Castelo Branco de 10/8/1857, em O Nacional: “Há uns poucos de nomes gloriosos a quem o Porto deve o seu progresso material. O primeiro na ordem dos factos e na cronologia é o senhor João Coelho de Almeida, criador da barcaça de banhos. O segundo é o senhor Lucas dos Santos, homem videiro que criou os banhos de tina (em 7/3/1854 na Rua de Santo António). A limpeza é a primeira condição de uma terra culta. As estatísticas de ambos os estabelecimentos provam que se lava muita gente. São beneméritos da Pátria todos os que fomentam a limpeza, perfeitas inteligências de sabonete”. O Dr. Artur de Magalhães Basto em O Porto do Romantismo, escreve: “Tem camarotes de um lado e de outro, sendo destinados uns a homens e outros a mulheres. Dentro havia retretes e lojas de bebidas. Cada camarote fecha sobre si, comportando 2 ou 3 pessoas que podem tomar banho sentadas ou a pé, sem receio de serem vistas de fora” – Os preços eram de 50, 60 e 80 reis cada banho. Quem fosse tomar banho tinha passagem gratuita para a barcaça". 
Num artigo em O Tripeiro Série V, Ano V assinado por António Augusto Pires de Lima é referido que “há uma vaga tradição, de que no séc. VI havia um balneário no Porto. Conta-nos o Bispo D. Rodrigo da Cunha que Teodomiro e seu filho Ariamiro… vieram para tomar banhos dos que afirma a tradição que houve nesta cidade do Porto junto do Rio Douro, de que ainda se conserva memória na parte e rua chamada dos Banhos, e dentro de algumas casas vestígios dos tanques em que se tomava. No séc. XIV.… houve um acordo entre D. Vasco o cabido e a cidade, para construção duns banhos bons com suas casas e caldeiras. Creio tratar-se de um novo balneário, pois a própria referência a esses banhos bons com caldeiras faz admitir outros em condições menos satisfatórias e sem aquecimento de águas”. Assim se prova que no Porto existiram desde tempos imemoriais destas “inteligências de sabonete”.


Lê-se ainda no referido Tripeiro: “Está aberto este estabelecimento todos os dias, de verão, desde as 5 horas da manhã até às nove da noite, e no Inverno, desde as oito da manhã até às seis da tarde. Aos Domingos fecha-se ao meio dia.
Por um banho de tina, da água doce 160 reis
Por assinatura ( 12 banhos) 1$680 reis
Um banho sulfúrio (cada) 300 reis
Um banho de vapor 600 reis
Um banho de chuva 120 reis
Assinatura (12 banhos) 960 reis
Um banho de água do mar 300 reis
Em todo o tempo se pode ir tomar banhos de água doce, de chuva, de águas termais e de vapor. Os de água de mar só principiam no primeiro de Agosto e acabam em 31 de Outubro.” Aberta em 1866, esta casa recebia água do manancial de Camões conduzida por mina construída propositadamente. Foi fechada em 27/9/1909".


Não há muitos anos um nosso amigo, pessoa importante na Câmara do Porto, nos contou que, morando na Rua da Bandeirinha, ia, em jovem, ao Balneário do Largo do Viriato tomar o seu banho, pois não tinha, em casa, quarto de banho. 
Não admira que a população vivesse muito suja pois, as ruas eram autênticas lixeiras e estrumeiras.


Carro varredor – 1923

A cidade do Porto, tal como as outras deste país, tinha as suas ruas normalmente muito sujas, onde eram deitados os lixos e dejectos dos moradores. Se alguém pretendia deitar águas sujas pelas janelas, depois das 9 de noite no Inverno, e das 11 no Verão, bastava-lhe avisar altos brados, 3 vezes, “Água vai!” e quem estivesse a passar teria de correr. Por estas ruas passavam galinhas, porcos e cães em grande profusão. Destes animais ainda os porcos eram os menos porcos, pois comiam toda a sujidade que encontravam.


E não esqueçamos que, diariamente, circulavam centenas de cavalgaduras e bois que também deixavam os seus rastos. Durante o dia passavam lavradores que limpavam os estercos e recolhiam os dejectos das casas que depois usavam para estrume. Posteriormente foram proibidos de trabalhar de dia; só depois das 11 da noite. Mesmo assim eram insuficientes para manter a cidade limpa, muito embora tanto a câmara como as leis reais lutassem pela melhoria da higiene. Em 5/11/1519 as vereações decretaram uma multa de 26 reis para quem atirasse para a rua qualquer sujidade sólida ou líquida. D. Manuel I já tinha proibido a permanência de porcos na via pública, quer de dia quer de noite, a multa era de 500 reis. 
Em 1613 foram marcados locais para estrumeira, mas era mais cómodo deitar o lixo à porta…
Mas, o povo era o mesmo de hoje pelo que estas leis eram esquecidas...


Artur de Magalhães Basto conta, no seu livro “O Porto do Romantismo” que: “Sucedendo varrer-se um destes dias a Rua das Flores, o povo contemplou isto como preparativo para grandes acontecimentos e correu àqueles sítios, como se ali andassem desentulhando as ruínas de alguns monumentos admiráveis… Enfim, tudo era assombro, tudo perguntas, tudo interpretações, maiormente entre crescido magote de farroupilhas, que, por ser o maior volume, era o mais fértil em disparates. P’ra que será? P’ra que será? Alvitravam-se mil hipóteses, e afinal verificou-se que se varria a rua… para não andarmos cobertos de esterco”.




Carros de recolha de lixo da C. M. P. – estes carros eram recolhidos na Rua de S. Diniz, onde já existiu o matadouro e o canil.  Foto Alvão

De O Tripeiro de 10/6/1909 resumimos um interessante artigo: “Vereações passadas dotaram a cidade com duas corporações: a dos “Varredores Municipais”, à qual o povo pôs o nome de “escrivães de pena grande”, por motivo do enorme cabo de vassoura, que é a pena com que parece escreverem nas pedras das calçadas, quando exercem a sua profissão, e a dos “Regadores Municipais” que, durante as horas de maior calor, regam as ruas com as mangueiras adaptadas às bocas de incêndio encravadas nos passeios… Os varredores em vez de varrerem o lixo das ruas, do lado dos prédios para o centro da rua, fazem o contrário, de sorte que a poeira que levantam introduz-se por baixo das portas, pelas janelas e por qualquer abertura que encontre e vai depositar-se placidamente sobre toda a parte que pode, de sorte que pela manhã encontra-se tudo pulverizado por um pó finíssimo. E querem saber a razão porque estes tais “escrivães da pena grande” procedem assim? É para comodidade do seus colegas. Fazem pequenos montes junto das paredes e o colega vem apanhar para o carro de mão com uma pá de ferro".
A rega das ruas deveria ser feita de madrugada. Mas quando é feita? Durante as horas de maior calor, quando as pedras estão a escaldar, de sorte que esta se evapora num pronto. O transeunte tem de parar para não ficar com os pés alagados e as calças salpicadas de lama, ou tem de mudar de rumo.

Também lembramos a quem compete que é menos decente e nada higiénico, o depósito que está em exposição à frente da Torre dos Clérigo, do lixo que vem do Mercado do Anjo, composto de frutas podres, hortaliças velhas, e quanta imundície a vassoura municipal pode apanhar, exalando durante horas um fétido pestilento e uma vista asquerosa, até que venha o carro de condução para levar aqueles adubos para lugar apropriado.”


No último quartel do séc. XIX, e possivelmente ainda muito antes, era frequente verem-se, de noite, muitas pessoas de cócoras, munidas de uma pequena lâmina de ferro a raspar o chão recolhendo as minhocas que encontravam e que serviam de engodo para colocar nos anzóis de pesca. Eram pescadores à cana profissionais que trabalhavam desde os Guindais até à Foz, de um e outro lado do rio. Os dias mais húmidos eram os preferidos pela quantidade que encontravam. Traziam um lampião de azeite ou óleo e um púcaro de barro preso por um barbante onde deitavam o seu tesouro.


Calçada da Natividade, hoje Rua dos Clérigos

Desde as Fontaínhas até à Praça Duque de Beja (Carregal), passando pelas Ruas dos Clérigos, Carmelitas, de S. Filipe de Néri, Ferros Velhos, Carmo, Largo de Santa Teresa, Praça de Carlos Alberto, Cordoaria etc. labutavam várias horas seguidas.
Perguntámo-nos porque razão estes pescadores tinham necessidade de subir tanto na cidade. Ou a colheita nas ruas perto do rio era tão intensa que esgotavam as minhocas ou das Ruas das Flores e Mouzinho da Silveira para baixo eram empedradas, inclusive as que davam para a Ribeira, pelo que não teriam terra suficiente para elas proliferarem.


Verifica-se ainda que, já nos fins do séc. XIX, o estado das nossas ruas era deplorável. Em que estado os sapatos e botas dos nossos avós chegariam a suas casas! Era muito comum verem-se, junto à porta das casas, uns raspadores de lama.