domingo, 31 de dezembro de 2017

TESTEMUNHOS E MEMÓRIAS SOBRE O PORTO - XX

9.20 - Alberto Pimentel (1849/1925) - grande escritor do Porto - I, O Porto burguês com poucos nobres, Bispo D, Jerónimo Rebelo, O "Brasileiro de torna viagem" e o seu luxo,  O "novo" Porto animado pelo muito dinheiro.


Gravura de J. G. Martini – Ribeira em 1835 - Note-se a riqueza e o movimento desta gravura


Alberto Pimentel nasceu no Porto a 14 de Abril de 1849. 
Autor portuense da segunda metade do século XIX, possui uma extensa e extremamente diversificada produção escrita. Um verdadeiro homem multiversátil: foi romancista, poeta, dramaturgo, biógrafo, tradutor, político, folhetinista e estudioso da história e das tradições portuguesa. 
Contudo, é um autor actualmente envolto em esquecimento. As circunstâncias da época e posteriores a ela não contribuíram à sua canonização como representante da literária em seu tempo. Alguns de seus contemporâneos tiveram este privilégio, em especial Camilo Castelo Branco - grande amigo e ídolo de Alberto Pimentel, que inclusive é um dos seus maiores biógrafos. Quanto a isto, há de se destacar a obra "Romance do romancista: vida de Camillo Castello Branco" (1890)
Morreu em Queluz no dia 19 de Julho de 1925.



Viajar pelas ruas do Porto, através de comentários, narrativas e observações apresentadas por Alberto Pimentel no seu livro O Porto há 30 anos, publicado originalmente em 1893, é perspectivar uma cidade em que o Autor nos apresenta o panorama de felicidade colectiva.
Nenhum portuense deve ser privado da leitura deste livro; pena é que só quase 120 anos depois da sua primeira edição veja novamente a luz do dia. Este Porto, que Alberto Pimentel traçou de forma variada, é a cidade em que ele profundamente se embrenhara na sua juventude. Por isso, esta obra constitui umas verdadeiras memórias.
É toda uma sociedade, entre a dimensão culta e a mundana, que sai descrita pela pena deliciosamente expressiva de Alberto Pimentel, com relatos de personagens, costumes e atitudes, reveladores de um Porto que tinha muito que contar.
Escreveu muito sobre a sua cidade da qual guardou memórias desde a infância. Foi dos mais importantes escritores do Porto.


Do livro O Porto há 30 ano, escrito em 1892, destacamos os textos abaixo:


Palácio da Bandeirinha


Armas dos Portecarrero – blogue Ruas da minha Terra



Foto Portojo



D. Jerónimo José da Costa Rebelo



Landau – séc. XIX – Blogue Do Porto e Não Só


Coupé Séc. XIX - blogue Do Porto e não Só


Dog-cart



Palácio de Cristal - na Avenida das Tílias

“Foi por essa época, pouco mais ou


Maravilhoso pôr do Sol em Leça da Palmeira hoje mesmo - foto Manuel Paquete

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

TESTEMUNHOS E MEMÓRIAS SOBRE O PORTO - XIX

9.19 - Testemunho extraordinário de Olivier Merson III - 1857, Praça D. Pedro, Trajar dos portuenses e seus visitantes, Cadeirinhas do Porto, Galegos, Barcos de recreio, Freguesias do Porto 


…Servindo de ponto de reunião à Rua de Santo António e á Calçada dos Clérigos, a Praça de D. Pedro prolonga-se como um ponto de divisão entre as duas colinas rivais. É uma espécie de Campo neutro, que a população de todos os quarteirões enche de perpétuo movimento. No Porto o movimento da multidão não tem o mesmo caracter de Paris ou Londres…No Porto, é vivo e expressivo. Não porque as maneiras dos portugueses tenham animação e viveza; pelo contrário, os portugueses são sossegados; com seu grande guarda-sol na mão, marcham a passos compassados; mas a fisionomia é ordinariamente viva, o gesto acentuado, demonstrativo, e quer ao juntarem-se, quer ao separarem-se, saúdam-se tirando o chapéu, com um gracioso ar de bondade…


Portuenses esperando a passagem de João Franco em 1907, no alto da Rua de Santo António, nas escadas de Santo Ildefonso. Belíssima foto em que se pode ver como vestia o Porto. Desde o colarinho engomado, chapéu de palhinha e gravata, uma minoria possivelmente de comerciantes, ao vestuário ligeiro de cidade e até dos lavradores. O chapéu ou o boné usava-se em todas as idades. 
A cidade recebeu esta visita de João Franco com ostensiva hostilidade e foi necessário utilizar as forças de cavalaria e infantaria da Guarda Municipal para o acompanhar. Milhares de pessoas, desde Campanhã aos locais que eram visitados, gritavam e assobiavam contra a ditadura. Mesmo de noite fizeram barulho e gritaria junto da casa onde ficou alojado. Os graves desacatos e recontros entre os manifestantes e a polícia ocasionaram dezenas de prisões, na maioria políticos republicanos e jornalistas.
Em protesto, a maioria das casas comerciais estavam encerradas, muitas casas puseram panos pretos nas varandas e muitos populares usavam de gravata preta.


Escadas que subiam do Mercado do Bolhão para a Rua Fernandes Tomás, em 1910. Vê-se a Estamparia do Bolhão, que viria a sofrer um devastador incêndio em Julho de 1924, que a destruiu totalmente.
Também nesta foto se vê a maneira de vestir desse tempo. Saias largas e muito compridas, lenço na cabeça, avental e os cestos à cabeça como até muito mais tarde se usou.


Até os homens levavam cestos à cabeça!


Populares de fora do Porto, ou de freguesias fora do centro, vinham às ruas comerciais fazer compras. Normalmente faziam-no ao Domingo ou dia de festa das suas terras. Nesta foto, da Rua dos Clérigos em 1913, apresentam-se vestidos com “roupa de ver a Deus” e não com os seus trajes de trabalho. Vê-se, dependuradas às portas das casas comerciais, os artigos para venda, tal como era costume ainda, no lado ímpar da Rua dos Clérigos, pelo menos até aos anos 60 do séc. XX. Eram os chamados "carapuceiros".



Traje do Porto com o escudo da cidade.



Trajes românticos

…Depois, os aldeões e aldeãs vão e vêm, apregoando laranjas, legumes, frutos, flores, que trazem em cestos de junco; e os vestidos das mulheres, de cores vivas, de corte elegante, quebram felizmente monotonia dos casacos desses senhores da nobreza e da burguesia…


…Aqui, algumas bestas, conduzidas por um arrieiro que assobia, agitam as borlas de lã vermelha, amarela, azul, verde, do seu penacho; jumentas vêm, como em Paris, dar o seu leite pelas casas…


…Além, oficiais, de aspecto suficientemente marcial, guardas municipais, com o seu número de ordem em cifras de latão na gola da farda, e o apito enfiado num cordão ao peito, confundem-se entre as ondas do povo.


Aqui, são bois gordos que puxam carros de extravagante feição;…



Cadeirinha do Porto - 1886

…ali, galegos que levam uma cadeirinha, subindo a passo regulado uma rua quase perpendicular;…


…finalmente, o aguadeiro, com o caneco ao ombro, passa além com chapéu com grandes borlas e facha vermelha; e tudo isto estimula a curiosidade, sustenta o interesse, desperta a observação.
A configuração do solo torna difícil o uso de veículos. Por isso poucos há no Porto…


…As mulheres e homens do mundo elegante, algumas vezes, vão ao teatro e fazem visitas de cadeirinha. Nossos avós também assim faziam…


…O indivíduo de que se carece para qualquer recado, o comissário da quina da rua, são sempre galegos, porque o mais pobre português tem dignidade de sobra para se baixar a tão mesquinho mister…



…No rio os barqueiros têm embarcações para os que vão movidos de qualquer negócio, ou para os simples passeantes que querem subir ou descer o Douro. Eles vos cercam, vos martirizam, com seus bonés de lã escura na mão, gritando em todos os tons da escala vocal: Um barco, Excelência! Um barco! No dia em que fomos à Foz, mostraram-nos até uma insistência particular; e enquanto nos davam excelências com profusão a luneta de José desapareceu. Isto foi tão rápido que nem mesmo Cristóvão, que tem olhos de lince, viu. Em Paris, em Londres os industriosos exploram o terreno, vivendo à custa dos parvos, dos ociosos, e talvez dos portugueses que visitam a França e Inglaterra; e isto não quer dizer absolutamente que Londres e Paris sejam coutos de larápios…


Freguesias do Porto – 1903 – gravura de M. Cortez

…Para terminar por cifras este rápido esboço, direi que o Porto, compreendendo as povoações rurais, divide-se em 8 freguesias urbanas e 4 rurais; que encerra 68.000 habitantes pelo menos e 19.000 fogos o muito; e que Vila Nova de Gaia tem uma população de 40.000 almas e perto de 2.500 casas” In O Tripeiro, Volume 3, 1/10/1912. 

Cinemateca Portuguesa – O Porto em 1913 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

TESTEMUNHOS E MEMÓRIAS SOBRE O PORTO - XVIII

9.18 - Testemunho extraordinário de Olivier Merson II - 1857, Ruas do Porto, Cordoaria, Roda dos Expostos, Passeio  das Virtudes, Torre dos Clérigos,  Sé, Paço Episcopal, Muralha Fernandina.


Estereoscópio da Rua dos Clérigos - 1910 – foto de uma procissão de Aurélio Paz dos Reis


Calçada da Natividade, depois Calçada e Rua dos Clérigos



1905 - A Rua do Bonjardim ainda vinha até aqui.

…Entre as mais belas ruas do Porto, é necessário citar a Rua Nova de S. João, a de Santo António, a Calçada dos Clérigos e…


Saída do Santo Sudário da Igreja de S. Francisco - Gravura de James Holland – 1838


Rua Nova dos Ingleses - Foto do Barão de Forrester

…a Rua Nova dos Ingleses (actual Rua do Infante D. Henrique), fechada numa das extremidades por um rochedo abrupto, que sustenta como um diadema a Catedral e o Paço Episcopal…


Ruas dos Clérigos e de Santo António (31 de Janeiro)


Em 1910 a Praça dos Voluntários da Raínha era lindíssima!


Quando foi demolida a lindíssima Casa da Fábrica foi prometido guardar todas as pedras e reconstruí-la neste local, porém…nunca mais. 


Casa da Fábrica - Foto Beleza



Passeio das Virtudes

…A Calçada dos Clérigos e a Rua de Santo António partem da Praça D. Pedro, para subirem, em face uma da outra, duas colinas opostas. A Calçada dos Clérigos conduz à Praça da Cordoaria, onde é a Roda dos Expostos, e também ao Passeio das Virtudes, ao Hospital do Carmo, à Praça de Carlos Alberto, á Relação, a Cedofeita, a Santo Ovídio e ao grande quartel do Campo da Regeneração..


Esplêndida vista aérea da Torre dos Clérigos, Largo do Olival, Rua 31 de Janeiro, Igreja de Santo Ildefonso, Estação de S. Bento etc.


Torre dos Clérigos vista da zona da Rua de Santa Catarina – 1845 – “Serviu muito anos de ponto de esculca da chegada, à barra, dos navios correios que não entravam no Douro; e inspectação logo seguida da transmissão da notícia aos interessados no correio estrangeiro, para que apressassem o seu recebimento e aprontassem as respectivas respostas, dado ser de muito curta duração a estadia, na barra, dos navios carteiros. Mal descortinados ao longe, pela sentinela, logo se fazia o aviso à cidade pelo içamento de duas bandeiras laterais no alto da torre; isto no tempo enxuto, porque em tempo pluvioso as bandeiras eram substituídas por dois balões de lata, pintados com as mesmas cores das bandeiras”. In O Tripeiro. Estas bandeiras são visíveis nesta foto.

…Sobre o ponto culminante da calçada, junto do mercado, vê-se a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, cuja torre, chamada Torre dos Clérigos, se balança nos ares servindo de baliza aos navios que de largo demandam o Porto…


Maravilhosa foto de Armando Tavares


Postal ilustrado de 1900


Milagre! Finalmente algo se está a fazer na Avenida da Ponte! Foto de Cláudia Silva - 2013

…O quarteirão da Catedral absorve a outra colina. Acha-se deste lado o Teatro de S. João, a Casa Pia, o Passeio das Fontaínhas, as ruínas do Seminário (hoje Colégio dos Órfãos) o Paço do Bispo, a Catedral e…


Foto de Eduardo Teixeira de Sousa


…um resto da antiga muralha da cidade. Guarnecida de 26 torres quadradas, e da altura de 10 metros, ela se estendia outrora pela circunferência de 30.000 pés...