domingo, 30 de novembro de 2014

CONVENTOS DE RELIGIOSOS - XV

3.12.10 – Convento de Santo António da Porta de Carros - I



Porta de Carros, na muralha Fernandina, construída em 1521. Á direita o Convento de S. Bento de Avé Maria, Convento de Santo António da Porta de Carros, e à esquerda traseiras do Convento dos Loios.


Para se ter uma ideia do tamanho do terreno do convento notamos que os Lavadouros ficavam onde hoje é, mais ou menos, na esquina da Avenida dos Aliados com a Rua de Magalhães Lemos, em pleno Laranjal antigo. 
Na planta encontrava-se uma fonte que tinha a imagem de S. Filipe de Néri a deitar água (?)


Da Travessa dos Congregados ainda existe uma pequena parte que começa na Rua de Sampaio Bruno onde se encontra esta porta, que, supomos, era a entrada para uma construção no fundo da cerca.


Em meados do séc. XVII a Confraria de Santo António, sediada por favor na Capela de Santo António Magno ou do Penedo, propriedade do morgado Miguel Brandão da Silva, decidiu adquirir casa privativa e conseguiu que a Câmara lhes vendesse um terreno perto da Porta dos Carros, onde erigiram uma pequena capela. Poucos anos depois acordaram com a Câmara lhes comprasse o terreno, com a condição de lhes construir a capela-mor, o que aconteceu. Porém, por insistência real e do Bispo do Porto, a capela foi entregue, em 1680, à Congregação da Regra de S. Filipe de Néri, com a condição de manter Santo António como padroeiro. Estes terminaram a construção da parte da Igreja ainda inacabada. Tornando-se pequena, a capela foi demolida em 1694, e em seu lugar erigida uma importante Igreja que, depois de novas ampliações, é a que podemos apreciar no nosso tempo. 
O convento começou a construir-se em 1683.
(Informações retiradas de O Tripeiro, serie V, nº. X de um artigo de Horácio Marçal - 1955) 

No “Memórias da Congregação do Oratório da Cidade do Porto…de 1741” que pertencia, em 1898, ao ex-Abade de Miragaia, pode ler-se: “…determinaram Gaspar de Abreu de Freitas desembargador dos agravos desta Relação, como Juiz que era da Confraria de Santo António, ele e mais mordomos da mesma Confraria edificar um templo em honra de Santo António; porque não tinha este Santo sendo nosso português igreja alguma na cidade dedicada ao seu nome: pois ainda que a Capela, enquanto a dita Confraria até ali estava assentada, se chamava de Santo António do Penedo, por estar fundada sobre viva Rocha junto ao muro da cidade da parte de dentro; na realidade esta Capela não foi fundada para Santo António Português; mas sim para Santo António Magno que vulgarmente chamamos Santo Antão… pelo que queriam que o nosso Santo António tivesse uma casa própria para onde se mudasse a sua Confraria; e para esse fim compraram, e adquiriram com provisão de Sua Majestade o dito campo; e aos 22 do mês de Dezembro de 1657 fizeram doação dele ao senado da câmara, para que fosse padroeiro da Igreja fazendo ele a Capela-Mor, e obrigasse à Confraria a fazer o corpo; o que o senado aceitou…”

Eugénio dos Santos : Bento José – Memorialista da Congregação do Oratório do Porto - U.P.


S. Filipe de Néri - o Santo da Alegria – 1515 – 1595

Como nasceu em Portugal a Congregação da Regra de S. Filipe de Néri:


In O Tripeiro, Série V, Ano X

No Porto, o Padre a Baltazar Guedes, fundador do Colégio dos Órfãos ergueu, em 1664, um altar em honra deste santo, tendo no ano seguinte criado a Confraria de S. Filipe de Néri, ligada ao seu colégio.


Tendo vindo para o Porto o Padre Manuel Rodrigues Leitão, da Congregação em Lisboa, acompanhado do Padre João Lobo,  pretendia tomar conta do colégio, ao que não acedeu o Padre Baltazar Guedes, seu fundador e superior.
Assim, com o assentimento da C. M. do Porto, a congregação foi instalar-se na capela de Santo António da Porta de Carros, em 1680, tendo como seu superior o Padre João Lobo.


Diogo Barbosa Machado – 1682 - 1772


In: 


Bibliotheca Lusitana historica, critica e cronologica na qual se comprehende a noticia dos Authores Portuguezes, e das Obras, que compuserão desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até o tempo prezente : Offerecida à Augusta Magestade de D. João V nosso senhor / por Diogo Barbosa Machado. - Lisboa Occidental : António Isidoro da Fonseca, 1741-1759. Exemplar 1


In O Tripeiro, Volume 2 de 1909



Convento e Igreja de Santo António da Porta de Carros – Desenho de Joaquim Villanova – 1833 – a torre quadrada com terraço, que tinha 8 sinos, existiu até 1842. Os sinos foram comprados pela Igreja da Santíssima Trindade. Á direita vê-se uma cadeirinha do Porto.

Do blogue A Porta Nobre retiramos o texto abaixo: 
"Tinha este convento a sua principal fachada voltada para a porta de Carros, ficando-lhe o frontispício do seu templo no centro, a qual toda descansava em um largo pátio ladrilhado e de figura quadrilonga, com uma escadaria de mais de dez degraus, que ocupava quase todo o lado fronteiro; à esquerda da porta da igreja e na parte do convento, que ficava até à esquina da Praça Nova [hoje Praça da Liberdade] estava praticada a portaria, sobre ela se via, em formas colossais, metido em um grande nicho a imagem do padroeiro, e logo acima estavam rasgadas duas janelas de sacada com suas varandas de ferro, servindo de remate a torre dos sinos: do outro lado da igreja havia um idêntico edifício, em tudo igual menos na torre que não tinha, e esteve sempre habitado por inquilinos que pagavam o aluguer ao convento, cuja parte habitada pelos frades era esta que ainda se estende pela parte do nascente da Praça de D. Pedro [novamente, a atual Praça de Liberdade], sendo apenas alterada pelos herdeiros de Manuel José de Sousa Guimarães, que comprou ao estado, em lhe rasgarem mais janelas de varanda no primeiro andar do que as que tinha antes, fazendo-lhe ao mesmo tempo, no pavimento térreo portais regulares, sendo antigamente baixos e que davam entrada às lojas soterradas, que os padres costumavam arrendar por bem acrescida quantia.
Tinha este convento uma escolhida livraria, e no seu interior, além da capela-mor, um pátio ou claustro, que no seu centro continha um chafariz com a estátua de S. Filipe deitando água. A sacristia era situada para o lado da praça de D. Pedro, recebia muita luz, possuía bem constituídos caixões cheios de ricos paramentos, e suas paredes eram adornadas com os retratos dos Propósitos da congregação; esta, com a torre foi demolida pelo comprador, e regularizado o risco, para comodidade dos moradores, destas casas, que edificou, mas não conseguiu a demolição sem ter uma forte questão judicial com a irmandade, que pretendia ambas estas peças do edifício por serem pertenças da Igreja que lhe tinha sido dada pela Soberana a Senhora D. Maria II." 
In Henrique Duarte Sousa Reis, Apontamentos para a verdadeira história da cidade do Porto Vol. 4


A nova torre já está colocada á direita da Igreja e a entrada mostra o pátio a que se refere, acima, Sousa Reis. Só tem 6 degraus pelo que pode ter sido alterada. 
Os prédios que rodeiam a igreja já não são do convento desde 1834 e foram completamente modificados. Â esquerda vê-se Câmara Municipal na Praça Nova. Ao longe as torres da Trindade e da Lapa. 

Continuando o artigo de Carlos das Neves, este escreve que, ou porque a capela antiga era demasiado pequena ou porque entretanto foram recebidos legados importantes, em 1694 deram começo a uma nova e mais ampla igreja, sendo a primeira pedra lançada, com grande pompa, em 5 de Agosto. A capela antiga talvez tenha ficado como Capela-Mor, que foi reformada em 1823. As obras da igreja terão terminado em 1703.

Durante o cerco serviu de hospital de sangue, tendo sido muito roubada e mal tratada. Em 1836 voltou à posse da Confraria, que tratou de a restaurar. A sacristia e a torre não foram restituídas. 

Desde os finais do séc. XVII até 1834, os frades Congregados davam aulas de Retórica, Filosofia e Teologia aos seus estudantes, a participantes de outros conventos do Porto e a leigos interessados em se cultivarem. Os professores ou eram da própria congregação ou convidados do Porto e de Coimbra. Escolhiam os melhores pelo que esta escola foi muito considerada durante mais de 100 anos.
Quando da extinção das ordens religiosas, em 1834, o convento foi vendido a Manuel José de Sousa Guimarães, bem como parte do chamado Monte dos Congregados, que D. João V havia oferecido aos monges. A Câmara reservou o restante para abertura das ruas da Alegria e da Duquesa de Bragança, hoje D. João IV. Os herdeiros daquele mandaram fazer grandes obras, com abertura de novas janelas e portas exteriores. Demoliram a sacristia, que ficava do lado da Praça das Hortas e a torre (1842). Desta forma poderiam alugar ou vender a diversas pessoas, o que ocasionou a abertura de estabelecimentos e casas de habitação. A Confraria de Santo António da Porta dos Carros, esteve extinta entre 1680 e 1708, ano em que foi reactivada, manteve na Igreja a sua sede até à saída dos monges em 1832. Em 1834 a Igreja foi-lhe devolvida pela Câmara,  livre de encargos. 
(Informações retiradas de O Tripeiro, serie V, nº. X de um artigo de Horácio Marçal- 1955) 

Verificam-se ligeiras discrepâncias entre os textos de Carlos das Neves e o de Horácio Marçal,  próprias do tempo em que foram escritas e a novos estudos realizados (1909 e 1955).

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

CONVENTOS DE RELIGIOSOS - XIV

3.12.9 – Convento dos Carmelitas Descalços



Este convento foi construído em terrenos do Horto do Olival, fora da porta do mesmo nome. Mais tarde chamado dos Meninos Órfãos, Praça do Carmo, Praça dos Voluntários da Raínha, Praça da Universidade e, a partir de 1936, de Gomes Teixeira.


Apesar de todos estes nomes toda a gente lhe chama Praça dos Leões devido à existência da Fonte.


Planta do Convento dos Carmelitas – Artur de Magalhães Basto – História da Cidade do Porto, vol. 2, pág. 288.


A Parte Nascente da cerca convento foi vendida á Ordem do Carmo, onde foi construída a Igreja do Carmo e outras instalações, e a Poente, já na posse do Corpo da Guarda da Polícia, foi cedida, em 1852, para aí ser instalado o Jardim Botânico da Academia Politécnica.


Em 1902, por necessidade de aumentar o quartel, várias plantas deste jardim botânico foram transplantadas na Cordoaria.
Hoje encontra-se lá o ICBAS e o Instituto de Medicina Legal.


Igreja do Convento dos Carmelitas Descalços – Joaquim Villanova – 1833 – sobre as portas estão as imagens de S. José, Santa Teresa de Ávila e Nossa Senhora do Carmo – no largo existia um dos muitos cruzeiros do Porto.
«Eu, El-Rey, faço saber aos que este meu alvará virem que, pela devoção que tenho ao hábito dos Carmelitas Descalços, hei por bem de lhes conceder licença para que neste Reino na Cidade do Porto, e nas Villas de Viana, e Thomar, possam fundar três Mosteiros da sua Ordem. Pelo que mando a todas as justiças, oficiais e pessoas a que o conhecimento deste pertencer, que lhes não impeçam de edificar, e fundar os ditos três Mosteiros, que o cumpram, e guardem, e façam inteiramente cumprir, e guardar, como nele se contém. Duarte Correia de Sousa, em Lisboa, 12 de Agosto de 1616».
O Definitório Geral da Ordem, reunido em Lisboa a 14 de Janeiro de 1617, aprovou a fundação deste convento do Carmo.
Depois das devidas licenças, foram enviados ao Porto os Padres Tomás de S. Cirilo, Definidor Geral, e Sebastião da Ressurreição, de Évora. Foram recebidos e hospedados em casa de D. Diogo Lopes de Sousa, Governador da cidade. Após as diligências feitas conseguiram o beneplácito do Bispo do Porto, D. Frei Gonçalo de Morais, beneditino, a 22 de Janeiro de 1617. Não foi fácil alcançar a licença do bispo porque este foi bastante pressionado por outras congregações religiosas que, com o novo convento, viam diminuir os seus réditos.
Vencidas todas as dificuldades, o P. Fr. Paulo da Trindade, juntamente com mais dez religiosos, começaram a vida regular, numa casa alugada ao Abade de S. Vicente de Pinheiro, na Rua de S. Miguel, em 15 de Junho de 1617. Depois de instalados «numa má pousada» começaram a tratar do convento definitivo e escolheram umas propriedades, junto às antigas portas do Olival, que ficavam fora das muralhas da cidade.
Em 5 de Maio de 1619, D. Rodrigo da Cunha, bispo da diocese, lançou a primeira pedra do edifício, no meio de grande aplauso da população da cidade. A 3 de Junho de 1622 foi parcialmente ocupado pelos religiosos, sendo a Igreja inaugurada em 16 de Julho de 1628.
Este convento foi orientado para os religiosos professos, mas a 26 de Julho de 1787, no Capítulo Geral, celebrado nos Remédios de Lisboa, foi destinado a estudantes que, depois dos estudos, deviam ir para o Ultramar, isto é, Brasil e Angola.
Em 29 de Março de 1809, a cidade do Porto foi invadida pelas tropas francesas, comandadas por Soult. O convento foi ocupado por estas que, de um modo arrogante e insolente, provocaram distúrbios e maltrataram os religiosos.
Depois de derrotado e humilhado o exército francês pelas tropas portuguesas e inglesas, o convento ficou num estado deplorável. Uma parte continuou ocupado pelo exército português e inglês até 19 de Agosto de 1814, e a outra parte pelos religiosos desde 13 de Junho de 1809. Apesar deste inconveniente para a comunidade, a convivência foi pacífica e respeitadora.
Em 1821 habitavam neste convento 24 sacerdotes, 1 corista e 9 irmãos leigos. Em 1832 eram 29 religiosos, 11 dos quais tinham abandonado a cidade antes de conquistada pelas tropas de D. Pedro IV. Em 26 de Maio de 1833, derrotado D. Miguel, rei absoluto, foi instaurado em Portugal o regime liberal.
As mentalidades dos religiosos não estavam preparadas para viver num regime liberal. Em cumprimento do decreto emanado da Regência do Reino, a 9 de Agosto de 1833, a Junta da Reforma Geral Eclesiástica passou a investigar se este convento tinha 12 religiosos. Na verdade eram 18, mas o investigador, com manifesta má fé, reduziu o número para 11 com o pretexto de que os outros 7 já não eram capazes de levar a vida regular. Deste modo, o convento foi abrangido pelos mandatos régios, que o extinguiram.
Dos 7 religiosos dados por incapazes, 4 recolheram ao Hospital de Nossa Senhora do Terço e Caridade, e 3 secularizaram-se. Os 11 restantes, por Portaria de 22 de Novembro de 1833, foram mandados para o convento dos Remédios de Lisboa, para onde embarcaram a 11 de Dezembro, no cais da Paixão, junto a Massarelos. Dois dias depois foram recebidos pelo P. Fr. Manuel do Nascimento, Prior desse convento.


Hospital do Carmo - desenho de Joaquim Villanova - 1833

A parte norte do edifício foi cedida à Venerável Ordem Terceira do Carmo, para ampliação do seu hospital, sendo o lado oeste destinado a usos castrenses a partir de 1834. 


Quartel da GNR, Igreja dos Carmelitas e Escola Médica.

Esta parte encontra-se actualmente ocupada pela Guarda Nacional Republicana. Site da Ordem dos Carmelitas Descalços
Antes da República a GNR era chamada Corpo da Guarda Real da Polícia.


Igrejas dos Carmelitas e do Carmo no séc. XIX - entre as Igrejas dos Carmelitas e do Carmo existe uma habitação com a largura de uma janela que é a mais estreita do Porto, embora no interior fosse mais larga. Era onde vivia o sacristão da Igreja do Carmo.
No Porto há muitas casas estreitas e altas. Por piada não se perguntava "Moras neste prédio?", mas sim "moras nesta tira?”






O desenho do retábulo principal é da autoria de Joaquim Teixeira de Guimarães e a execução de José Teixeira Guimarães.





ESTA CAPELA DE SANTA TERESA É DE JERÓNIMO DA MOTA TEIXEIRA COM MISSA QUOTIDIANA COM SEU RESPONSO ILUMINADA COM A LAMPADA DESTE CRUZEIRO POR SER SUA CUJAS OBRIGAÇÕES E FÁBRICA DELA ESTÃO À CONTA DOS PADRES DESTE CONVENTO IN PERPETUOCOMO CONSTA NA NOTA DE FRANCISCO RIBEIRO DA SILVA AOS 13 DE NIVEMBRO DE 1639 ANOS






Porta da Sacristia e imagem de Santo António


Talvez a sacristia mais magnífica da cidade do Porto. Foi ocupada pelos franceses em 1809 e em 1834 pelos liberais. Aqui existiu uma cavalariça, depósito de víveres e uma forja. Felizmente foi possível recuperar a maior parte dos móveis, mas perderam-se os valiosos azulejos do séc. XVII. Milagrosamente toda esta talha de madeira não ardeu.

Igreja dos Carmelitas - vídeo


“A restauração da Ordem dos Carmelitas Descalços, no Poro, deve os seus princípios ao entusiasmo do Dr. Sebastião Pereira dos Santos Vasconcelos, creditado cidadão portuense e grande benfeitor do Carmelo de Santa Teresinha de Viana do Castelo. Estava muito interessado na vinda dos Carmelitas para a capital do norte. Foi o que fez saber ao Bispo D. António de Castro Meireles, seu amigo, que lhe respondeu «que, com muito gosto, teria os religiosos Carmelitas no seu palácio», ainda que, por outro lado, não escondia uma certa preocupação por considerar que o caso viesse a ser mal interpretado pelo povo, pois podia ser acusado de proteger fugitivos da vizinha Espanha, onde se acabava de instaurar a República (14 de Abril de 1931).
Esta atitude cautelosa e compreensível do Prelado portuense não impedia que os nossos religiosos fossem chamados a desempenhar nesta cidade funções próprias do seu ministério. Vencidas não poucas dificuldades, entraram os Carmelitas na cidade do Porto a 6 de Agosto de 1936. Os Padres Fr. Joaquim de S. Teresa e Fr. Jaime de S. José entraram definitivamente na Foz do Douro, ficando hospedados em casa do benemérito Dr. Sebastião Vasconcelos. a partir de Janeiro de 1943, na Rua de Gondarém, nº 508, freguesia de Nevogilde. «Os Padres, pelo menos o P. Jaime, tomaram conta da capelania de ‘Nossa Senhora de Lourdes’; e creio que foi até isso que motivou em parte o terem alugado a casa da Rua de Gondarém». Eram capelães das Irmãs Teresianas de Ossó e das Missionárias do Santíssimo Sacramento e de Maria Imaculada (Rua da Cerca). Atendiam igualmente os Irmãos da Venerável Ordem Terceira do Porto (Igreja do Carmo), que tanto interesse haviam mostrado pelo regresso da Ordem a esta cidade, na esperança de que pudessem fixar-se na antiga Igreja dos Carmelitas, anexa ao seu sodalício. Apesar de todas as diligências realizadas neste sentido, não a conseguiu reaver, para restaurar nela a vida carmelitana.
A 16 de Maio de 1950. D. Agostinho de Jesus e Sousa concedeu a licença da fundação. O Definitório Geral deu o seu conhecimento no dia 23 de Junho do mesmo ano.
A Ordem adquire, mais ou menos a 400 metros, um terreno entalado entre as Ruas de Gondarém e Marechal Saldanha. Entre uma rua e outra construímos.
À face da Rua de Gondarém, com entrada pelo nº 274, construímos o Sector da Comunidade. À face da Rua Marechal Saldanha, o Sector Pastoral e Cultural. No meio dos dois prédios, com entrada pelas duas ruas, situa-se a nova igreja, com capacidade para 600 pessoas sentadas.
No dia 3 de Setembro de 1986 fez-se a inauguração das novas instalações. Site da Ordem dos Carmelitas Descalços.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

CONVENTOS DE RELIGIOSOS - XIII

3.12.8 – Convento de S. Bento da Victória


Temos lido que existe uma polémica sobre o local em que foi construído este mosteiro e sua igreja em relação à antiga sinagoga.
Encontramos um estudo do frade beneditino Geraldo J. A. Coelho Dias, do Gabinete de História da Faculdade de Letras da U. P., de 2006 que vem afirmar o seguinte:



Fotografia aérea da zona da Cordoaria – de baixo para cima: Igreja da Victória, Convento e Igreja de S. Bento da Victória, Cadeia da Relação, Cordoaria, Torre dos Clérigos, Reitoria da Universidade, Igrejas do Carmo e Carmelitas, Quartel do Carmo, ICBAS, Praça Carlos Alberto.



Desenho de Joaquim Vilanova - 1833




Cadeia da Relação pegada à Igreja de S. Bento da Victória


Os frades beneditinos vieram para o Porto com a intenção de aqui fundarem um mosteiro. Cerca de 1580 ou 1581, fora fundada uma residência, chamada Casa de São Mauro. Desde 1590, aí viviam monges da Ordem e Congregação de São Bento.
Concedida em 1598 a necessária autorização régia, o projecto do convento é atribuído ao arquitecto Diogo Marques Lucas, antigo discípulo de Filipe Terzi e o mosteiro construído no junto à Porta do Olival. Os trabalhos de edificação tiveram início em 1604, arrastando-se até ao final do século.
As fases de construção e decoração decorreram entre 1604 e o início do século XVIII, resultando num majestoso complexo maneirista e barroco, conhecido não só pela sua importância religiosa e artística, mas também pelas actividades culturais, de canto e de música que aí tiveram lugar.
A Igreja começa a ser construída em 1693, e as obras prolongam-se até ao final do século XVIII. Um processo longo, que se reflecte na arquitectura, de tipologia maneirista e barroca, bem como na ornamentação da Igreja, com obras de diferentes períodos e de grande significado no contexto da história de arte portuguesa.
Em 1808, durante a Guerra Peninsular, o mosteiro é convertido em hospital militar.
Em 1834, com a extinção das ordens religiosas, o edifício foi confiscado pelo Estado. Depois dessa data funcionou como Tribunal, até 1864, e ainda como quartel, no qual se instalaram sucessivamente as tropas da Junta do Porto (1846-1847), o Regimento de Infantaria nº. 6, o Batalhão Nacional de Artilharia, o Batalhão de Caçadores nº. 9, o Batalhão de Caçadores nº. 1 e outros serviços militares.
Desocupados, o mosteiro e a sua igreja passaram para o clero secular. A igreja substituiu a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Vitória  entre 1833 e 1852, durante as obras de reconstrução desta, tendo sido depois cedida, em 1853, à Arquiconfraria do Santíssimo Imaculado Coração de Maria.
Na noite de 12 para 13 de Março de 1922, o imóvel foi atingido por um incêndio que destruiu a área ocupada pela Casa de Reclusão Militar, pelo Tribunal Militar e pelo quartel de dois regimentos (Infantaria 31 e Engenharia).
Vinte anos volvidos sobre este episódio, a igreja e parte do edifício claustral foram confiados ao mosteiro beneditino de Singeverga.
Nas décadas de oitenta e noventa do século XX, o mosteiro foi restaurado pelo IPPAR (1984-1990), o que permitiu a reinstalação de uma pequena comunidade de beneditinos, e a instalação do Arquivo Distrital do Porto e da Orquestra Sinfónica do Porto.








Foto MJFS 

No coro alto existe um belo cadeiral em talha, considerado um dos mais belos da Europa, obra concretizada entre 1716 e 1719 pelo entalhador bracarense Marceliano de Araújo, em parceria com Gabriel Rodrigues Álvares, de Landim. Nos seus espaldares estão colocados quadros policromados e que narram episódios da vida de S. Bento. 
Em O Tripeiro, Série VII. Ano XVII, Nºs. 7-8, Flórido de Vasconcelos refere-se aos baixos-relevos do Porto da seguinte forma: “Referimo-nos aos relevos narrativos, quase sempre destinados a retábulos de altares ou respaldos de cadeirais que têm sido injustificadamente esquecidos ou subalternizados, não lhes sendo consagrada a atenção que bem deveriam merecer. Trata-se de verdadeiros quadros, cuja função é paralela à das pinturas que mais geralmente ocupam aqueles locais, e correspondem à ilustração de um texto, descrevendo um facto ou uma sucessão de factos passados – ou, mais simplesmente, evocando-os, embora não de forma apenas simbólica ou alegórica. Antes e sempre, apresentando uma ou várias figuras em acção, muitas vezes revelando um fio condutor que os transforma em verdadeiras narrativas – autênticas histórias em quadradinhos “avant la lettre”.


Em O Arquivo Pitoresco, de 1840, descreve-se uma cerimónia habitual nesta igreja. 
No dia 5 de Março passava-se uma cerimónia assaz ridícula na Igreja de S. Bento da cidade do Porto. No altar colateral da direita, de hora a hora, estava um frade rezando os exorcismos e orações de levantamento de excomunhão; no fim das quais saía pela igreja abaixo batendo com umas varinhas de marmeleiro presas na extremidade de uma comprida cana, em as pessoas, que de joelhos queriam receber esta cerimónia. E como quase sempre os frades se desmandassem um pouco, deu isso lugar a algumas cenas incidentes, sendo por fim necessário ir uma guarda de polícia para a igreja, pois os frades não quiseram nunca quebrar por si, deixando de fazer a cerimónia”.
Na nossa juventude várias vezes ouvimos gritar: "merecias apanhar com um pau de marmeleiro”. Dado que o pau de marmeleiro é muito rijo era usado para castigar os escravos e crianças indisciplinadas tanto pelos pais como pelos professores. Deve-se ter em consideração que o uso do pau de marmelo era considerado um castigo corporal pesado, atendendo que era um instrumento mais doloroso que a palmatória ou o cinto. Uma sova de pau de marmeleiro podia deixar a criança sovada com marcas durante vários dias. Nós já não somos dessa época, mas sim da palmatória, que não era nada suave e a que chamávamos a “Santa Luzia dos cinco olhos”.


Porta do Claustro




A primeira pedra do Claustro Nobre foi lançada em 1608. Edifício monumental, construído em granito, o claustro é concluído no triénio de 1725-1728.
Durante as obras de 1984 a 1990 o claustro foi recuperado e coberto. Aqui de realizam concertos, festas e casamentos.


Azulejos do antigo refeitório deste convento que foram recuperados e colocados na Biblioteca Municipal.



Rua de S. Miguel, 4 – “A bela sala da livraria de que roubaram os ricos azulejos, parte dos quais foram guarnecer uma propriedade pertencente ao vizinho João Pereira Vellado, era sumptuosa” – In O Tripeiro I série, volume 2, pág 412, autor S.A.