sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

VÍVERES QUE ANUALMENTE SE GASTAM NA CIDADE - IV


3.8 - Consumo de peixe - II


" O fiel amigo"

Não podíamos tratar do consumo de peixe no Porto sem uma especial referência ao “fiel amigo” de há centenas de anos. 

"A história da pesca do bacalhau pelos portugueses (muitas vezes referida por a Faina Maior) aparece pela primeira vez referenciada em 1353, quando D. Pedro I e Edward II de Inglaterra estabelecem um acordo de pesca para pescadores de Lisboa e do Porto poderem pescar o bacalhau nas costas da Inglaterra por 50 anos. A necessidade de estabelecer um acordo indicia que esta actividade já se realizava em anos anteriores, e em tal quantidade, que justificasse a necessidade enquadrar esta actividade nas relações entre os dois reinos... Temos de esperar por 1506, quando encontramos outra referência (ainda que indirecta) à pesca do bacalhau no Atlântico Norte, desta vez pelo dízimo sobre essa pesca que D. Manuel cobra para pagar a viagem dos Corte Reaes, o que nos sugere a importância e quanto estava estabelecida este tipo de pesca... 
Em 1502 João e Francisco Fernandes, açorianos, bem como João Gonçalves, recebem do rei de Inglaterra uma gratificação, que tinha sido previamente solicitada, para estabelecerem uma base entre a Groenlândia e a Flórida. 
Em 1504 já havia colónias de pescadores de Viana do Minho e de Aveiro na Terra Nova. 
Só voltam a haver novas referencias a estas colónias para o período de 1520 a 1525.
Durante o reino de D. Manuel I era em Aveiro que eram armados mais barcos para a pesca longínqua, tal como viria a ser mais tarde no século XX. Segundo a “Corografia Portuguesa”, seriam cerca de 60 naus só para a pesca na Terra Nova, numero que subiu para aproximadamente 150 em 1550.
Até ao reinado de D. Sebastião a actividade aumenta, levando à publicação de um “Regimento para as frotas da pesca do bacalhau”, pelo qual estas frotas eram reorganizadas sob um comando unificado.
As invasões napoleónicas do inicio do século XIX mais contribuíram para a dificuldade de reiniciar a pesca.
Para obviar a falta de bacalhau pescado por portugueses, Portugal teve de recorrer à importação, e em grande quantidades. Entre 1819 e 1829 eram importadas cerca de 282.811 quintais de bacalhau, o que demonstra bem a importância deste peixe, e a sua importância para a economia nacional. (Na época de D. Manuel  1 quintal era equivalente a 58,7 quilos, isto é , 4 arrobas).
Em 1917 a pesca do bacalhau empregava 1400 homens de tripulação.
Os pescadores recebiam um adiantamento para o suporte da família, o que criava uma obrigação do pescador para com o armador. Metade do adiantamento era dado em Fevereiro, e o restante no acto da matricula. O curioso é que o montante do adiantamento era determinado, e o armador seria punido se desse qualquer outro montante. Havia também um sistema de apoio em caso de doença, participado pelo armador, mas só aplicável a pescadores com mais de dois anos de serviço.
Um pescador para mudar de armador teria de ter passado um ano sem embarcar, ou mediante uma carta do armador a autorizar a cedência, que só era passada se a mudança fosse de comum acordo, ou comunicada antes de Janeiro.
Com a criação do Grémio esta situação alterou-se, a contratação e a distribuição dos pescadores pelos navios passou a ser da competência do Grémio. Para esse fim foi criado o primeiro registo de tripulantes, este registo continha os dados sobre o passado saúde, disciplina, motivos de dispensa, navios por onde tinha passado, etc. Da sua criação até 1974 havia cerca de 23.400 inscritos”. Excertos da Wikipédia


Cais do Bicalho


Rebocador e bacalhoeiros – 1908


Consequências do grande ciclone de Fevereiro de 1941



Lugre Paços de Brandão após o ciclone


In "O Comércio do Porto", de 16.02.1941


Foto de autor desconhecido - da esquerda para a direita encontram-se os lugres “Infante de Sagres III”, “Paços de Brandão”, “Ana Maria”, “Senhora da Saúde” e “Aviz” – blog Navios e Navegadores


Bacalhoeiro Avis saindo da barra do Douro

Recordámo-nos muito bem dos bacalhoeiros fundeados no Cais do Bicalho. Era notícia de jornal quando saíam e regressavam da pesca do bacalhau, na Terra Nova. Por vezes liam-se notícias de que algum se tinha afundado e desaparecido pescadores. Era uma profissão duríssima e perigosa!




Pescando bacalhau nos dóris

“Normalmente, a tripulação levantava-se às quatro horas da manhã, para dar os louvados, que era encomendar a tripulação ao Senhor Deus para que tudo corresse bem durante o dia da pesca. Depois de uma refeição, a primeira grande tarefa era pôr os dóris na água”.
Uma vez afastados do navio, os homens largavam ao mar o trole, uma linha enorme com centenas de anzóis e tendo como isco lulas congeladas ou umas aves marinhas chamadas pombaletes. E enquanto aguardavam por alar o trole, iam utilizando a linha de mão para apanhar algum bacalhau que estivesse por ali. Depois de alarem as linhas e recolherem o bacalhau, se o dóri estivesse completo, regressavam ao navio. Tinham de garfar o peixe, usando um garfo especial, para bordo do navio.”
In Público 7/10/2012


Bacalhau inteiro no convés - séc. XIX


Preparando o bacalhau

“A meio do convés do navio, montava-se então uma fábrica para processar o pescado: “Para tirar a cabeça ao bacalhau, que ainda usamos — a famosa cara do bacalhau e a língua. Depois, tinham de se tirar as vísceras e escalar, que é abri-lo na configuração seco que vemos por aí, e tirar-lhe a espinha até ao umbigo.” No bacalhau, tudo se aproveita, pelo que, por exemplo, o samo, que é a bexiga-natatória, também se salgava para fazer feijoadas e petiscos. 
Lavado o bacalhau, ele ia para o porão, onde lhe atiravam com colheres de sal para cima e o iam empilhando. 
Outro aspecto de grande dureza é que a tripulação tinha de trabalhar até ter o peixe processado”, relata Aníbal Paião. “Enquanto houvesse peixe não havia cama para ninguém. O peixe estava em primeiro lugar. Claro que, quando havia muito peixe, havia muita alegria, porque toda a gente estava a ganhar dinheiro e a encurtar o tempo de viagem. Mais depressa recebiam a sua soldada.”
Tomavam depois uma refeição e iam descansar — e tudo recomeçava às quatro da manhã. “Quando estava mau tempo, faziam reparações, isto quando podiam estar no convés. Os navios eram desabrigados, tinham uma borda baixa, mais ainda quando estavam carregados, e o mar galgava com frequência.” Idem acima


Lugre Paços de Brandão

Encontrámos uma interessantíssima história no blogue Navios à Vista que, embora um pouco longa, vale a pena ler: 
“De regresso dos Bancos da Terra Nova, de onde zarpara precisamente havia 15 dias com carregamento completo de bacalhau, e após uma singradura sem qualquer novidade, com bom tempo e vento de feição, entrou a 27/08/1951, cerca do meio-dia, no rio Douro, amarrando depois à lingueta do Bicalho, Massarelos, o puro lugre á vela de 3 mastros ANA MARIA, comandado pelo capitão José Gonçalves da Silva, de Ílhavo, e propriedade dos armadores Veloso Pinheiro & Cia., Lda., sedeados na praça do Porto. 
A bordo vinham 14 dos náufragos – um dos quais clandestino, de 14 anos há poucos dias feitos! - do também puro lugre à vela de 3 mastros PAÇOS DE BRANDÃO, pertencente ao mesmo armador do ANA MARIA, que no passado, dia 3, conforme fora noticiado, se afundara na Terra Nova, quando andava na rude faina da pesca… Um total de 13 elementos da companha do PAÇOS DE BRANDÃO, que era composta de 32 tripulantes, incluindo o capitão. Faltando portanto ainda 19 homens, que vieram a bordo do JULIA 1º, onde foram recolhidos, e que se destinava a Lisboa, seu porto de armamento. Juntamente com os 13 náufragos então, chegados, veio também um rapaz – um autêntico "lobo-do-mar" em embrião – chamava-se ele Adriano Neves da Silva, de 14 anos – feitos em 1 de Maio – e é um dos 9 filhos de Júlio de Sousa e de Iva de Jesus Neves, que lá estavam, á chegada do navio, na lingueta, presos de emoção, para receberem o filho pródigo… O pequeno, claro, entregue à autoridade competente, a PIDE, que iria resolver o seu caso de harmonia com as leis, não seguiu para sua casa, localizada ali numa rua junto do seu navio – mas agora já em terra firme, para sua tranquilidade. Nas instalações da PIDE fora interrogado se alguém o teria aliciado a embarcar clandestinamente no PAÇOS DE BRANDÃO, como não houvesse nada de interesse foi mandado em paz, e nem poderia ser de outra maneira. O Adriano, que era de Massarelos, ali mesmo à borda de água, foi recebido como um "herói" pelos seus amigos e companheiros de escola e traquinices. Recepção triunfal! E ele – ao que nos garantiram, regressado muito mais homem, tanto no porte, como no físico – contou ao jornalista a sua odisseia: Desde pequeno que ali, à beira-rio, onde brincava, assistia às partidas, e chegadas dos navios bacalhoeiros. E gostava "daquilo"! À noite, sonhava com o mar, vendo-se a comandar grandes navios!... E foi assim, a pouco e pouco, que no seu espírito se foi criando a iniciativa de embarcar clandestinamente – para a aventura… Traçou os seus planos com todo o cuidado – e como alvo escolheu o PAÇOS DE BRANDÃO, que estava ali mais à terra, por bombordo do ANA MARIA. Então, na barafunda das despedidas foi muito sorrateiro (tão franzino era então que o pode fazer!) alojando-se numa "loca", uma espécie de pequeno armário à proa do lugre, onde se guardava carvão. Só após alguns dias de viagem deram com ele – quase desfalecido por causa do enjoo. "Está aqui um gato!" – foi a primeira exclamação do tripulante que o encontrou. Mas não era…Gaiato sempre pronto para todos os serviços por mais duros que eles fossem: O pequeno Adriano, sempre disponível a ajudar, em pouco tempo ganhou a simpatia de cada um dos tripulantes do PAÇOS DE BRANDÃO. E assim foi indo, até que deu uma queda da verga da vela do traquete, fracturando um braço. Mas não chorou! Deixou-se tratar como um homem – ou melhor como nem todos os homens! E, curou-se, até que novamente ele pôs bem à prova a sua coragem e a sua valentia de autentico "lobo-do-mar". Foi quando do naufrágio do PAÇOS DE BRANDÃO. Quis ser dos últimos a abandonar o seu navio e ajudou um pescador que estava em risco de vida a abandonar o navio sinistrado, já sob violento incêndio – e só chorou (também à maneira dos marinheiros), quando o viu afundar-se!...


Segundo navio hospital Gil Eanes – foto blogue Restos de Colecção


Na Groenlândia em 1941 – foto blogue Navegar á Emposta

Depois recolhido pelo ANA MARIA, foi entregue, de harmonia com as leis marítimas, ao capitão do porto, nos Mares da Terra Nova e Groenlândia, a bordo do GIL EANES, comandante Tavares de Almeida. Já então as suas façanhas se haviam tornado conhecidas, e o Adriano breve conquistava as simpatias da equipagem do famoso navio de apoio à frota. Seguindo nele desembarcou no porto Canadiano de Sidney, onde ao conhecer-se a sua aventura, o envolveram em exuberantes manifestações de carinho. Vestiram-no, deram-lhe muitos brinquedos e não faltavam famílias que queriam tomar conta dele! Mas outro teria de ser o destino do Adriano, que foi depois embarcado no lugre ANA MARIA, que acabara de chegar, tendo sido apresentado às autoridades marítimas, que por certo, e se tal tivesse sido possível, não o deixariam de matricular na Escola dos Pescadores, o que não se concretizou. Simpático, de modos resolutos, forte (bem diferente do que era antes da sua aventura) o Adriano Neves da Silva, envergando a indumentária característica do pescador, parecia um "velho lobo-do-mar", ao lado de uma das irmãs e entre o pai e a mãe, que carinhosamente, e com as lágrimas nos olhos queria ver o braço partido do seu menino. O jornalista falando com alguns dos náufragos, todos foram unânime em afirmar que o Adriano fora um verdadeiro marinheiro, que soube enfrentar a odisseia por si vivida, sobretudo na ocasião do temporal que os apanhou quando se encontravam ancorados no pesqueiro denominado "Virgin Rocks". Foi um ciclone tremendo! Perdemos tudo, incluindo as roupas que vinham em 6 dóris que se voltaram. Valera-lhes a rapidez dos socorros prestados pelos lugres ANA MARIA, MARIA FREDERICO, JÚLIA 1º, CRUZ DE MALTA e SÃO JACINTO. Uma hora mais tarde, e não haveria possibilidade para chegarmos a bordo de qualquer deles. Estaríamos irremediavelmente perdidos – afirmaram. No momento do naufrágio, o PAÇOS DE BRANDÃO tinha já 3.200 quintais de bacalhau – ou seja o carregamento quase completo… Não haja dúvida, que aqueles dois belíssimos lugres de madeira, "os meninos bonitos da praça do Porto", amarrados ali em Massarelos, no quadro dos navios bacalhoeiros, tão pertinho da margem, e ainda para mais navios à vela, e na altura da largada de ambos no mesmo dia, um atrás do outro, de velas enfunadas pela nortada fresca, rumando directamente aos pesqueiros do Noroeste do Atlântico, sem estarem presentes na cerimónia religiosa da Bênção dos Bacalhoeiros, que todos os anos se realizava no estuário do Tejo, por Abril ou Maio, frente a Belém, onde marcavam presença os seus companheiros de hibernação no rio Douro, BISSAYA BARRETO (1), COMANDANTE TENREIRO (1), INFANTE DE SAGRES TERCEIRO, AVIZ, CONDESTÁVEL, SENHORA DA SAÚDE, COIMBRA, SÃO JACINTO e o SENHORA DO MAR, seduziam o rapazio ribeirinho, e eu que o diga, a tentar a aventura, como consta que em tempos recuados já ocorrera, pois sempre era uma ajudinha para o cozinheiro de bordo". Fontes: Jornal de Noticias - Rui Amaro 


Bacalhoeiros Maria Manuela e Argus - Expoente máximo da Frota Branca, o Argus foi construído na Holanda em 1938 e, no ano seguinte, já participava na campanha do bacalhau. Com quatro mastros e casco de aço, pertencia, tal como o Gazela I e o Creoula, à empresa Parceria Geral de Pescarias. Até 1970, manteve-se como bacalhoeiro, altura em que se reformou, já obsoleto.

Pode um navio contar a história da pesca do bacalhau? 



Descarga de bacalhau na rua da Alfândega


Ribeira - Patacho chegado da Terra Nova em 1920



Seca do bacalhau



Entreposto frigorífico do Peixe – 1934-39 – Arqtº. Januário Godinho
Eram aqui a lota do peixe e os frigoríficos.



Feira do Bacalhau – Rua do Bonjardim
“O bacalhau é rei nesta casa e não há margem para dúvidas. Seja à porta, na montra ou em cartazes, está por todo o lado”. 

JPN – comércio à moda antiga – que saudades!

“No passado, como era abundante, ainda não havia o problema da extinção da espécie, era barato e acessível a milhares de famílias portuguesas, sobretudo no interior, que não tinham acesso a peixe fresco. Actualmente é uma matéria- -prima rara e, portanto, cara.
Para além dos seu valor alimentar, o bacalhau é um elemento da cultura portuguesa.
Servia tanto como remédio contra o raquitismo, em óleo do fígado do peixe, (tomamos várias vezes e tinha um sabor horrível) como expressão de sentidos, sobretudo do odor típico exalado pelo peixe seco.
A ligação do povo à cultura do bacalhau é tanta que a linguagem corrente está cheia de expressões onde entra o refinado peixe. Vejamos alguns exemplos; Quando se quer afirmar que há imensas alternativas para resolver um problema diz-se «há trezentas maneiras de fazer o bacalhau».
Para se descrever um tipo magro diz-se «está seco que nem um bacalhau» (ou parece um bacalhau de lado).

Para identificar um odor intenso a maresia comenta-se «cheira a bacalhau».

Até o meu amigo Zé Melro, comerciante de secos e molhados, que eu já não via desde o ano passado, me saudou há dias com um tradicional «aperta aí o bacalhau, amigo» e convidou-me para comer uns pastéis do dito com feijão frade. Passámos o repasto a falar da crise de identidade do País. Mas nem por isso perdemos o apetite!

Contou-me ele, a propósito do bacalhau, que na I República se dizia dos políticos que faziam promessas para ganhar as eleições, que não tencionavam ou podiam cumprir, que ofereciam «bacalhau a pataco». (Já lemos que isto se passava com os políticos liberais)
Era como se quisessem vender o bacalhau abaixo do preço de custo, tal era a abundância do peixe e das promessas.

Hoje, acrescentou, o bacalhau é um produto escasso e transformou-se num prato sofisticado e caro, especialmente se for do tipo amarelo. Pelo contrário, as promessas são cada vez mais abundantes e desvalorizadas, uma vez que há cada vez mais políticos a fazer promessas do tipo «bacalhau a pataco». 
Como se sabe, filosofou, é possível arranjar imitações do bacalhau e enganar assim os consumidores. Por exemplo, o pIchelim é um substituto próximo do bacalhau. Quando o preço deste sobe, aumenta o consumo do pichelim por ser mais barato. O mesmo se passa com os políticos adeptos do «bacalhau a pataco». Quanto maiores são as dificuldades do País, mais promessas baratas fazem. Com eles no poder, é possível ter sol na eira e chuva no nabal.

Prato da gastronomia, ou expressão de sentidos e sentimentos, o bacalhau é, sem sombra de dúvida, um símbolo do Portugal eterno”. In DN

Outra expressão muito portuguesa é “para quem é bacalhau basta”. É uma frase depreciativa para a pessoa a que nos estamos a referir.


O bacalhau cozido...


... assado ...


... à Gomes de Sá ou de qualquer outra maneira é sempre uma delícia!


Placa mandada colocar pelo Cônsul do Brasil no Porto, João Frank da Costa em 1988

José Luis Gomes de Sá Junior, "Gomes de Sá, abreviando o seu nome, nasceu no Porto a 7 de Fevereiro de 1851 e morreu a 31 de Janeiro de 1926. Negociante de bacalhau, sediou o seu negócio num armazém na Rua do Muro dos Bacalhoeiros, na Ribeira do Porto. Quando ofereceu esta receita que datará do princípio do século XX, ao seu amigo João, do restaurante Lisbonense, na Cidade Invicta, acrescentou ao manuscrito “João, se alterar qualquer coisa desta receita, já não fica capaz”. (Nasceu na Rua de Cimo do Muro, 114. Existe uma lápide nessa casa).
Eis a receita original:
“Deitar um quilo de bacalhau previamente demolhado numa caçarola, cobri-lo com água a ferver, abafar com um pano de lã e deixar assim durante 20 minutos. Depois, tirar-lhe todas as peles e espinhas, fazê-lo em lascas, colocá-lo num prato fundo, submergi-lo em leite quente e esquecê-lo durante duas horas. Antes de cumprido o horário, preparar uma assadeira, deitar-lhe um decilitro e meio de azeite do mais fino, dois dentes de alho, quatro cebolas cortadas às rodelas e, logo que comece a aloirar, juntar-lhes um quilo de batatas previamente cozidas com pele, destonadas na hora, e cortadas em rodelas com um centímetro de espessura mais o bacalhau lascado retirado do leite. A assadeira vai então ao forno e ferve durante 15 minutos. Serve-se o cozinhado muito quente, na própria assadeira, decorado com azeitonas grandes e pretas de boa qualidade, um ramo de salsa muito picada e rodelas de ovos cozidos.” do blogue Da Cozinha by Joe Best

Blog sobre pesca

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

VÍVERES QUE ANUALMENTE SE GASTAM NA CIDADE - III

3.8 - Consumo de peixe - I



Valboeiros e saveiros no areínho de Gaia 


Pesca do Sável – Areínho – anos 10 do séc. XX


No século XVIII as peixeiras só podiam aprovisionar-se junto dos barcos dos pescadores duas horas depois de estes chegarem, pois nesse espaço de tempo os particulares compravam-lhes directamente por preços mais altos que os pagos pelas vendedeiras. Estas tinham bancas em vários lugares que eram reservados e cuja ocupação era paga ao senado logo no mês de Janeiro. Todas as regateiras dos géneros que tinham que pesar eram obrigadas a dependurar as balanças, e não era permitido segurarem-nas nas mãos pelo engano que poderia resultar aos compradores. A multa era de 2.000 reis.


Mercado do Peixe - Inaugurado em 1/3/1874
Ao lado do Mercado do Peixe encontra-se a Roda dos Expostos – à direita o hospital de Santo António e a chaminé das caldeiras. À esquerda vê-se o Palácio dos Carrancas, já Palácio Real e atrás deste o quartel.


Mercado do peixe em dia de grande movimento e Igreja de S. José das Taipas. 


Interior - 1908


1908


Mercado do peixe – Foto Alvão – Neste local existiram os antigos celeiros da cidade que foram desactivados e lá se instalou o quartel da Companhia de Infantaria e a cavalaria da Guarda Real da Polícia, destruídos por um incêndio em 19/3/1832. O mercado foi construído por ordem do Presidente da Câmara Francisco Pinto Bessa e inaugurado em 8/3/1874. 
“Inaugurado em 1874, no sítio dos celeiros públicos de velha data. É um difício cómodo, elegante, sólido e mesmo pomposo, em quatro pavimentos, bem ornados de portadas e janelas colunatas e terraços, que deitam para a rua ocidental do jardim da Cordoaria…


Criada de servir



...animação entre os frequentadores que pela diversidade de trajes e maneiras apresentavam aos olhos do curioso os tipos característicos da gente da cidade e suas vizinhanças, desde a vendedeira de largas ramagens no lenço, cujas pontas vão à copa do chapéu, até à criada de avental rufado em pregas e lenço caído nos ombros em ar de xaile, com um nó sobre o peito; desde a peixeira de Valadares, Crestuma ou Avintes, com o seu chapéu de alto bordo, o lenço garrido, cruzado sobre o peito, mangas arregaçadas e saia de grande roda, até à mulher da Maia ou de S. Cosme, com as orelhas e o pescoço a regurgitarem de arrecadas em arco, grossos e pesados trancelins, corações desmedidos, tudo em oiro rendado e finíssimo, e o cabelo muito bem caído sobre os ombros”. O Tripeiro, Volume 3.


1958




Martins Barata - partida da armada para Ceuta

O mercado foi destruído em 1952, para dar lugar ao actual Palácio da Justiça, inaugurado em 28 de Outubro de 1961, com projecto de autoria do Arq. Rodrigues Lima.


Do lado Norte da Cordoaria, perto da Cadeia da Relação, havia muitas vendedeiras a fazer concorrência ao Mercado do Anjo - 1930






Ribeira – vendedeiras de peixe - anos 50


Fim de feira na Ribeira – 1958 – as condições de falta de higiene mantiveram-se, pelo menos, até aos anos 60.


Peixeira – blogue Dias Que Voam



Venda de peixe na Afurada


Pregões do Bolhão
https://www.youtube.com/watch?v=sX8ilwTDKxg