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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

RIO DOURO - XXVII

6.1.27 - Rio Douro, Viaduto dos Cais das Pedras, RAR, Casa do Cais Novo, Alameda de Massarelos, Entreposto e Frigorífico do Peixe, Confraria do Corpo Santo



Massarelos, Lordelo e Foz do Douro – mapa de Pedro Teixeira Albernaz - 1634


Cais das Pedras, Viaduto e Alfândega – blogue Porto Sentido

“O Viaduto do Cais das Pedras em Massarelos, é da autoria do Eng. João Pires da Fonseca e data de 1997, altura em que era presidente Fernando Gomes. A foto faz justiça a uma “obra de arte” bem desenhada e já assimilada pelo tecido urbano. De notar que se trata de uma “intrusão” reversível, bem o oposto de muitas intervenções que tem sofrido o Centro Histórico". SSRU


“As paredes que um dia abrigaram o Convento de Monchique; depois, a Fábrica de Cerâmica de Massarelos; e, finalmente, a primeira refinaria da RAR que, mais tarde, se transformou num verdadeiro baluarte da indústria nortenha e nacional estão a ser recuperadas para que o miolo urbano que vai da Rua da Restauração ao Cais das Pedras seja, a curto prazo, um empreendimento imobiliário de qualidade. Trata-se de uma obra que acrescenta mais alguns créditos à defesa da teoria de que as cidades são organismos vivos que não morrem desde que saibamos todos nós aproveitar as propostas que casem, com harmonia, a história com a modernidade.
Foi no JN (1992) que saiu a primeira notícia que dava a conhecer à cidade as intenções da RAR. Os elementos para a sua elaboração foram-me confiados pelo dr. Folhadela Moreira e ainda me recordo a gentileza com que aquele cavalheiro da indústria portuense me recebeu na sede da empresa, à Foz do Douro.
No decorrer do nosso encontro foi bem visível a sua intenção de deixar claro que o objectivo da RAR não era fazer um qualquer empreendimento imobiliário, antes algo que contribuísse para a revitalização de um zona da cidade que se encontrava em avassaladora marcha de degradação.
De facto, ainda não tinha passado pela marginal do Douro a onda de renovação que, a reboque da Cimeira Ibero-Americana, deu origem, por exemplo, à construção do viaduto do Cais das Pedras, retirando das cercanias dos prédios o tráfego rodoviário, uma autêntica ameaça à integridade física de quem tinha de circular por aquelas bandas.
Por seu turno, nem de perto nem de longe se suspeitaria, no início da década de 90 do século passado, que seria possível, no âmbito da Porto 2001, levar a cabo a revitalização da Rua da Restauração.
Eram, portanto, justificadas as preocupações de Folhadela Moreira. O local foi um dos primeiros palcos da expansão da cidade para lá da Porta Nobre verificada em 1374 e, na zona de intervenção agora iniciada, já se registava, em 1535, a presença do Convento de Monchique, anunciando o rompimento definitivo do crescimento urbano para lá das muralhas ditas fernandinas. Mais ainda pode ler-se na Memória Descritiva do Estudo Prévio de Arquitectura entregue à Câmara do Porto e confiada ao CRUARB/CH para uma primeira apreciação que a zona foi ainda marcada na segunda metade do século XVIII por José Pinto da Cunha Pimentel, 10º Senhor da Casa da Praça, quando deu início à construção no mesmo local da Casa do Cais Novo cujos armazéns anexos se transformariam em depósito dos vinhos do Alto Douro pertencentes à companhia criada pelo Marquês de Pombal em 1757.
Trata-se, portanto, de um momento significativo para a História do Vinho do Porto pois, contrariamente ao que a tradição defende, é com a cidade e não com Vila Nova de Gaia que a Companhia dos Vinhos do Alto Douro estabelece a sua primeira relação de interesses - e de tal ordem assim é que está justificado o interesse de Manuela de Melo, então vereadora do Pelouro da Animação da Cidade, em criar junto ao edifício da Guarda Fiscal um museu que ilustra a história da comercialização daquele néctar no contexto nacional e internacional.
Neste espaço que vai da Rua da Restauração ao Cais das Pedras até a ficção tem lugar, bastando-nos para tanto recordar que foi a uma das janelas do Convento de Monchique, onde recolhera, que Teresa se despediu de Simão quando este seguia no veleiro, rio abaixo, a caminho do degredo.
Claro que estamos a falar de "Amor de Perdição", o imortal romance de Camilo Castelo Branco. Dessa imensa paixão não foram encontrados vestígios durante a campanha arqueológica levada a cabo no local... Apenas foram recolhidos milhares de fragmentos deixados pela Fábrica de Cerâmica de Massarelos...” In JN – 27/3/2006.


"Até à década de 60 a indústria portuguesa de Refinação de Açúcar era composta por algumas dezenas de unidades de pequena dimensão, grande parte funcionando em termos artesanais, com equipamento muito rudimentar, incapazes de produzir açúcar de qualidade.
A política de condicionamento industrial então vigente impôs a criação de unidades industriais de refinação de açúcar modernas, de maior dimensão e bem apetrechadas tecnologicamente, obrigando assim à transformação do Sector Industrial de Refinação de Açúcar.
A RAR Açúcar é constituída em 1962, em resultado da concentração de 9 pequenas unidades de refinação de açúcar existentes no Norte do País, daí a sigla RAR (Refinarias de Açúcar Reunidas). A empresa passou a comercializar a produção existente dessas pequenas unidades até ao arranque da refinaria projectada para substituir essas unidades.Iniciada, no ano seguinte, a construção das suas instalações, a RAR entra em laboração em 1967, com a capacidade de produção instalada de 25.000 t/ano. As vendas da RAR, em 1967, atingiram cerca de 22.000 t, correspondendo a 11,78% do País.
Em 1968 muda a composição accionista da RAR o que veio possibilitar um novo dinamismo que, nos anos seguintes, se traduziu num excepcional crescimento da empresa. Procedeu-se ao aumento do capital social da sociedade e foi ampliada a capacidade de produção da Refinaria, como forma de resposta ao crescente aumento das vendas e à progressão da quota de mercado da RAR.
Em 1973 a RAR adquire a Refinaria Angola, situada em Matosinhos, e o seu volume de vendas passa a representar cerca de 45% do mercado nacional. Durante os anos 70 e 80 a RAR empreendeu, não obstante as vicissitudes atravessadas pelo País nessa época, uma expansão da sua actividade e a diversificação para outras áreas, com a criação de numerosas empresas, que formam hoje o Grupo RAR".


“Os Armazéns da Casa do Cais Novo começaram a ser construídos no arranque do último quartel do século XVIII. Pertenciam a José Pinto da Cunha Godinho Saavedra, 11.º Senhor da Casa da Praça e 2.º Senhor da Casa do Cais Novo, ainda menor, pelo que tendo por tutor seu tio paterno Pantaleão da Cunha Faria. 
Os Pinto da Cunha estavam ligados à direção da Companhia Geral da Agricultura e Vinhos do Alto Douro, criada em 1755, por Sebastião José de Carvalho e Mello, 1.º Conde de Oeiras e futuro 1.º Marquês de Pombal. José Pinto da Cunha Pimentel pertencera às primeiras mesas e seu irmão Pantaleão da Cunha Faria pertenceria às seguintes. Os Armazéns da Casa do Cais Novo foram expressamente destinados a depósito dos vinhos proveniente das propriedades que os Pinto da Cunha possuíam no Alto Douro, bem como dos vinhos provenientes da poderosa Companhia Geral da Agricultura e Vinhos do Alto Douro. 
As obras só ficaram concluídas em 1798, já sob a direção de José Pinto da Cunha Godinho Saavedra, 11.º Senhor da Casa da Praça e 2.º Senhor da Casa do Cais Novo. Este, nasceu na freguesia de São Nicolau, no Porto, em 1756; e aqui casou, com Joseffa Nevill, 5 ª Senhora da Casa do Fôjo, em Vila Nova de Gaia. 
Edifício de três pisos, todos com entradas independentes, apresenta uma estrutura resistente no interior. Aqui, desenvolvem-se duas naves, divididas por fortes pilares, sobre os quais assentam abóbadas. 
Vários fatores contribuíram para o forte desenvolvimento dos Armazéns do Cais Novo e sua extensa utilização. Primeiro, a localização privilegiada: próximo da Alfândega do Porto, então instalada na Casa do Infante. Segundo, a existência de um cais próprio: o Cais Novo, com condições favoráveis ao embarque e desembarque dos navios que navegavam o Douro e o Atlântico. Terceiro, o envolvimento dos seus proprietários na direção da poderosíssima Companhia Geral da Agricultura e Vinhos do Alto Douro. Quarto, o enorme desenvolvimento que o comércio do Vinho do Porto conheceu ao longo dos séculos XVIII e XIX.Não possuindo armazéns próprios, a Companhia Geral da Agricultura e Vinhos do Alto Douro confrontou a família Pinto da Cunha Saavedra com uma decisão de resposta em 48 horas: ou cedia parte dos seus armazéns, ou ficava sem a totalidade do edifício. 
Mais tarde, em 1822, os Armazéns da Casa dos Cais Novo tornaram-se no principal depósito da Alfândega do Porto, para os géneros coloniais e do Brasil, passando a ser conhecidos como Alfândega de Massarelos. Assim permaneceram até 1872 e a passagem dos seus serviços para Edifício da Alfândega Nova. Então, os Armazéns do Cais Novo retornaram para a posse e administração dos iniciais proprietários. 
Aquando das obras de requalificação do edifício, ocorridas entre 1999-2001, foi realizada uma intervenção arqueológica no interior, que permitiu identificar duas campanhas de obras: uma primeira, correspondente à construção das sapatas e pilares dos Armazéns, datável do último quartel do século XVIII; e uma segunda, do século XIX, relacionada com o levantamento do primitivo lajeado e a colocação de um aterro para assentamento de um novo piso, que reaproveitou as lajes do pavimento antigo. Estas transformações podem ter estado, eventualmente, relacionadas com os níveis de cheia do Rio Douro e com uma qualquer alteração da cota da Rua de Monchique. 
Vestígios desses pavimentos antigos foram preservados nos vãos das entradas. Descobriram-se, ainda, um tanque e um poço, completamente entulhados. Do interior do tanque, recolheu-se um conjunto de louça doméstica, da segunda metade do século XIX, que ajuda a ilustrar o quotidiano portuense Oitocentista. 
Também foi feita uma escavação arqueológica junto ao laçado Nascente do edifício. Aqui, identificou-se um tramo de muro, que havia sido posteriormente cortado pela construção de um aqueduto e que assegurava o transporte de águas. Estas estruturas datavam de meados do século XIX. Encontram-se, ainda, restos de uma calçada, que garantia o acesso à entrada lateral, constituída por pedras em granito, de tamanhos irregulares. Dataria dos fins do século XVIII ou inícios do século XIX. No que se refere a espólio, foram recolhidos vidros, metais e fragmentos cerâmicos, com uma cronologia que se estende desde o século XVI até ao século XX. 
As obras de requalificação dos espaços térreos deste edifício foram motivadas pela sua adaptação a Museu do Vinho do Porto, tendo começado em 2001 e terminado em 2004, sob a condução técnico do arquiteto Humberto Vieira”. In site da C. M. do Porto 

Projecto base de documento estratégico – unidade de intervenção Cais das Pedras – Cristêlo – Dezembro 2008 


Cais de Massarelos – cerca de 1910



Massarelos – foto Aurélio Paz dos Reis – Os cais de Massarelos, Bicalho e Arrábida mandam-se construir em 1789.


Bacalhoeiros Paços de Brandão, Ana Maria, Avis e Senhora da Saúde no cais do Bicalho - sobre a pesca, o tratamento e a comercialização do bacalhau já tratámos em pormenor no nosso lançamento de 28/2/2014.


Bacalhoeiros no cais do Bicalho 

Pode um navio contar a história da pesca do bacalhau? - Público 

Caminhos da História – Joel Cleto 


Lançada à água em 1859, a corveta Estefânia substituiu, como navio-escola, a corveta Sagres (ou "Sagres I", para se distinguir dos navios posteriores com o mesmo nome) em 1898. Infelizmente acabou por se afundar junto ao Castelo do Queijo, durante a cheia do Douro de 1909.


Corveta Porto – construída em 1848, foi o último navio construído nos estaleiros do Ouro. Em 1858 teve um grande incêndio, em pleno Tejo, pelo que foi abatida no ano seguinte.


Entreposto frigorífico do peixe em construção  – Arq. Januário Godinho – 1933/1935


Foto Nuno Silva

"Localizado em Massarelos em frente ao rio Douro, e separado do museu do carro eléctrico pela rua D. Pedro V, encontra-se o antigo Entreposto do Peixe e Frigorífico, pioneiro em Portugal nas conservas em câmaras frigoríficas. A sua construção decorreu nos anos 30, sob projeto do arquiteto Januário Godinho – pertencente à primeira geração de arquitectos modernos portugueses – que concebeu um edifício expressivo que nos remete para o movimento moderno de influência nórdica como se observa pelas suas curvas, inflexões e relação dos vãos com a envolvente.
A fachada principal reflecte o programa do edifício que se articula em três áreas principais: na esquina, que dá para a rua D. Pedro V, encontravam-se as dependências administrativas e habitações. No centro, onde se encontram as grandes janelas voltadas para o Douro, com um ritmo acentuado pelas paredes verticais entre elas, situava-se a “bolsa do pescado” onde se realizavam as operações comerciais, vendendo-se o peixe na lota a leilão. Este espaço caracteriza-se pelo seu pé direito total de cobertura curva preenchida por painéis de tijolo translúcido num vão de 18 metros. O peixe depois de vendido ia para a sala de preparação que se caracteriza pelos vãos de vidro verde –tonalidade que afasta as moscas.
A seguir, a fachada cega corresponde às câmaras frigoríficas onde se fabricava gelo e se conservava peixe seco, fresco e frutas. Nesta fachada destacam-se ainda seis painéis de baixo-relevo que representam o quotidiano dos pescadores e vendedores de peixe. No subsolo encontravam-se as dependências de lavagem e preparação do peixe que até ali era transportado através de um túnel que se ligava ao cais em frente ao edifício.
De notar que depois da construção deste edifício iniciara-se o projeto de um dos maiores ícones do modernismo portuense dos anos 30: o coliseu do Porto, que também se caracteriza pela subtileza das curvas e acentuado ritmo num equilíbrio entre linhas horizontais e verticais". Texto  de Manuel de Bacelar “Entreposto do Peixe e Frigorífico”,

Em 1961 foi comprado pelos Cimentos de Leiria. Foi considerado imóvel de interesse público em 1977, mas manteve-se abandonado e muito degradado.
Em 2012 saiu a notícia que o grupo Nelson Quintas vai transformar este edifício em Hotel de Luxo, com 95 quartos. O projecto foi entregue ao Arq. José Carlos Cruz.


O Hotel Vincci já está em funcionamento


Actual estacionamento ao lado da Alfândega.

Porto a grande velocidade



Memória ao Senhor dos Navegantes – séc. XVIII – reconstruida em princípios do sec. XX – foto Jorge Portojo.

A Capela do Corpo Santo foi construída em 1394, junto do cais das pedras, por promessa de navegantes que escaparam a um naufrágio quando vinham de Londres. Foi nessa capela que nasceu a Confraria do Corpo Santo, que desempenhava funções muito importantes, desde a defesa da costa dos ataques dos piratas argelinos a seguros marítimos. Tinha barcos próprios e recebia grandes proventos dos seus negócios e doações. 
Quando Filipe II organizou a Invencível Armada confiscou-lhe os dois melhores barcos. As tripulações queimaram as velas e a bandeira de Espanha. O cais passou,a partir daí, a chamar-se Cais dos Insurretos.



Igreja do Corpo Santo de Massarelos – face virada ao rio Douro e painel.



Altar da Senhora das Dores em tempo de quaresma – foto de E. Rocha

Confraria de Massarelos – Joel Cleto

Para acederem a informações mais pormenorizadas sobre a Paróquia de Massarelos, sua igreja, e a Confraria das Almas do Corpo Santo poderão visitar o nosso lançamento de 4/7/2014.


Viaduto de Massarelos – foto Nuno Pimenta


Foto aérea nocturna.

sábado, 26 de maio de 2012

LIMITES DA CIDADE - II




2.2.4 - Limite Ocidental em 1788


 Em 1788 o limite ocidental da cidade ficava no Bicalho, hoje Alameda Basílio Teles. Eugénio Andrea da Cunha Freitas na sua Toponímia Potuense escreve : “ Por 1875, escrevendo da Freguesia de Massarelos, dizia Pinho Leal no seu “”Portugal antigo e Moderno: há aqui um terreiro, à margem do rio, com uma alameda formada de árvores seculares, e próximo dela a bonita residência do Sr. Barão de Massarelos, tendo em frente a óptima fábrica de fundição de ferro do mesmo nome, que é de uma companhia””. Era a Alameda de Massarelos, hoje de Basílio Teles, uma das obras de que a cidade ficou devedora ao grande corregedor Almada. Neste local existiam, no século XIII, umas salinas, acerca das quais se travaram grandes demandas entre a coroa e a Colegiada de Cedofeita ( a que Massarelos pertencia), e depois entre esta e os bispos. Opuseram-se estes à execução da sentença de D. Dinis, de 7 de Julho de 1280, que mandava não ambargar aos cónegos, pelos Oficiais de El-Rei, a extracção do sal destas Marinhas para os do couto de Cedofeita… Basílio Teles nascido nesta freguesia de Massarelos em 1856, foi, como é sabido, um ilustre escritor e político republicano”.



Cais do Bicalho


Foto de autor desconhecido - da esquerda para a direita encontram-se os lugres “Infante de Sagres III”, “Paços de Brandão”, “Ana Maria”, “Senhora da Saúde” e “Aviz” – blog Navios e Navegadores

 Recordámo-nos muito bem dos bacalhoeiros fundeados no Cais do Bicalho. Era notícia de jornal quando saíam e regressavam da pesca do bacalhau, na Terra Nova. Por vezes liam-se notícias de que algum se tinha afundado e desaparecido pescadores. Devia ser uma profissão duríssima e perigosa!

Pode um navio contar a história da pesca do bacalhau?

Lemos uma interessantíssima história no blog Navios à Vista que, embora um pouco longa, vale a
pena ler:


“De regresso dos Bancos da Terra Nova, de onde zarpara precisamente haviam 15 dias com carregamento completo de bacalhau, e após uma singradura sem qualquer novidade, com bom tempo e vento de feição, entrou a 27/08/1951, cerca do meio-dia, no rio Douro, amarrando depois à lingueta do Bicalho, Massarelos, o puro lugre á vela de 3 mastros ANA MARIA, comandado pelo capitão José Gonçalves da Silva, de Ílhavo, e propriedade dos armadores Veloso Pinheiro & Cia., Lda., sedeados na praça do Porto. A bordo vinham 14 dos náufragos – um dos quais clandestino, de 14 anos há poucos dias feitos! - do também puro lugre à vela de 3 mastros PAÇOS DE BRANDÃO, pertencente ao mesmo armador do ANA MARIA, que no passado, dia 3, conforme fora noticiado, se afundara na Terra Nova, quando andava na rude faina da pesca… Um total de 13 elementos da companha do PAÇOS DE BRANDÃO, que era composta de 32 tripulantes, incluindo o capitão. Faltando portanto ainda 19 homens, que vieram a bordo do JULIA 1º, onde foram recolhidos, e que se destinava a Lisboa, seu porto de armamento. Juntamente com os 13 náufragos então, chegados, veio também um rapaz – um autêntico "lobo do mar" em embrião – chamava-se ele Adriano Neves da Silva, de 14 anos – feitos em 1 de Maio – e é um dos 9 filhos de Júlio de Sousa e de Iva de Jesus Neves, que lá estavam, á chegada do navio, na lingueta, presos de emoção, para receberem o filho pródigo… O pequeno, claro, entregue à autoridade competente, a PIDE, que iria resolver o seu caso de harmonia com as leis, não seguiu para sua casa, localizada ali numa rua junto do seu navio – mas agora já em terra firme, para sua tranquilidade. Nas instalações da PIDE fora interrogado se alguém o teria aliciado a embarcar clandestinamente no PAÇOS DE BRANDÃO, como não houvesse nada de interesse foi mandado em paz, e nem poderia ser de outra maneira. O Adriano, que era de Massarelos, ali mesmo à borda de água, foi recebido como um "herói" pelos seus amigos e companheiros de escola e traquinices. Recepção triunfal! E ele – ao que nos garantiram, regressado muito mais homem, tanto no porte, como no físico – contou ao jornalista a sua odisseia: Desde pequeno que ali, à beira-rio, onde brincava, assistia às partidas, e chegadas dos navios bacalhoeiros. E gostava "daquilo"! À noite, sonhava com o mar, vendo-se a comandar grandes navios!... E foi assim, a pouco e pouco, que no seu espírito se foi criando a iniciativa de embarcar clandestinamente – para a aventura… Traçou os seus planos com todo o cuidado – e como alvo escolheu o PAÇOS DE BRANDÃO, que estava ali mais à terra, por bombordo do ANA MARIA. Então, na barafunda das despedidas foi muito sorrateiro (tão franzino era então que o pode fazer!) alojando-se numa "loca", uma espécie de pequeno armário à proa do lugre, onde se guardava carvão. Só após alguns dias de viagem deram com ele – quase desfalecido por causa do enjoo. "Está aqui um gato!" – foi a primeira exclamação do tripulante que o encontrou. Mas não era… Gaiato sempre pronto para todos os serviços por mais duros que eles fossem: O pequeno Adriano, sempre disponível a ajudar, em pouco tempo ganhou a simpatia de cada um dos tripulantes do PAÇOS DE BRANDÃO. E assim foi indo, até que deu uma queda da verga da vela do traquete, fracturando um braço. Mas não chorou! Deixou-se tratar como um homem – ou melhor como nem todos os homens! E, curou-se, até que novamente ele pôs bem à prova a sua coragem e a sua valentia de autentico "lobo do mar". Foi quando do naufrágio do PAÇOS DE BRANDÃO. Quis ser dos últimos a abandonar o seu navio e ajudou um pescador que estava em risco de vida a abandonar o navio sinistrado, já sob violento incêndio – e só chorou (também à maneira dos marinheiros), quando o viu afundar-se!... Depois recolhido pelo ANA MARIA, foi entregue, de harmonia com as leis marítimas, ao capitão do porto, nos Mares da Terra Nova e Groenlândia, a bordo do GIL EANES, comandante Tavares de Almeida. Já então as suas façanhas se haviam tornado conhecidas, e o Adriano breve conquistava as simpatias da equipagem do famoso navio de apoio à frota. Seguindo nele desembarcou no porto Canadiano de Sidney, onde ao conhecer-se a sua aventura, o envolveram em exuberantes manifestações de carinho. Vestiram-no, deram-lhe muitos brinquedos e não faltavam famílias que queriam tomar conta dele! Mas outro teria de ser o destino do Adriano, que foi depois embarcado no lugre ANA MARIA, que acabara de chegar, tendo sido apresentado às autoridades marítimas, que por certo, e se tal tivesse sido possível, não o deixariam de matricular na Escola dos Pescadores, o que não se concretizou. Simpático, de modos resolutos, forte (bem diferente do que era antes da sua aventura) o Adriano Neves da Silva, envergando a indumentária característica do pescador, parecia um "velho lobo do mar", ao lado de uma das irmãs e entre o pai e a mãe, que carinhosamente, e com as lágrimas nos olhos queria ver o braço partido do seu menino. O jornalista falando com alguns dos náufragos, todos foram unânime em afirmar que o Adriano fora um verdadeiro marinheiro, que soube enfrentar a odisseia por si vivida, sobretudo na ocasião do temporal que os apanhou quando se encontravam ancorados no pesqueiro denominado "Virgin Rocks". Foi um ciclone tremendo! Perdemos tudo, incluindo as roupas que vinham em 6 dóris que se voltaram. Valera-lhes a rapidez dos socorros prestados pelos lugres ANA MARIA, MARIA FREDERICO, JÚLIA 1º, CRUZ DE MALTA e SÃO JACINTO. Uma hora mais tarde, e não haveria possibilidade para chegarmos a bordo de qualquer deles. Estaríamos irremediavelmente perdidos – afirmaram. No momento do naufrágio, o PAÇOS DE BRANDÃO tinha já 3.200 quintais de bacalhau – ou seja o carregamento quase completo… Não haja dúvida, que aqueles dois belíssimos lugres de madeira, "os meninos bonitos da praça do Porto", amarrados ali em Massarelos, no quadro dos navios bacalhoeiros, tão pertinho da margem, e ainda para mais navios à vela, e na altura da largada de ambos no mesmo dia, um atrás do outro, de velas enfunadas pela nortada fresca, rumando directamente aos pesqueiros do Noroeste do Atlântico, sem estarem presentes na cerimónia religiosa da Benção dos Bacalhoeiros, que todos os anos se realizava no estuário do Tejo, por Abril ou Maio, frente a Belém, onde marcavam presença os seus companheiros de hibernação no rio Douro, BISSAYA BARRETO (1), COMANDANTE TENREIRO (1), INFANTE DE SAGRES TERCEIRO, AVIZ, CONDESTÁVEL, SENHORA DA SAÚDE, COIMBRA, SÃO JACINTO e o SENHORA DO MAR, seduziam o rapazio ribeirinho, e eu que o diga, a tentar a aventura, como consta que em tempos recuados já ocorrera, pois sempre era uma ajudinha para o cozinheiro de bordo.

 Fontes: Jornal de Noticias Rui Amaro”


 Entreposto frigorífico do Peixe – 1934-39 – Arqtº. Januário Godinho
Aqui estava a lota do peixe e os frigoríficos


Museu do carro eléctrico - 1992


 O Americano

  
Acendendo um lampião a gás


Fundição de Massarelos  - desenho de F. Lopes



O Mercado Ferreira Borges foi construído pela Fundição de Massarelos – foto de André Pregitzer – Porto Património Cultural da Humanidade de Manuel Dias


Fontanário feito nesta fundição