2.3.3 - Bairro de Santo Ildefonso - IX
Saindo da Porta de Carros e chegando ao cimo da Rua do Bonjardim encontrava-se um largo triangular chamado de “Agoa-Ardente”, o local mais alto da cidade, cerca de 150 metros de altitude. O Dr. Artur de Magalhães Basto, no 3º. Volume da sua História da Cidade do Porto afirma que "neste largo existiu a feira de Aguardente". Horácio Marçal diz que naquele lugar ou nas redondezas não há provas que tenha existido qualquer destilaria. Continuando em frente, entrava-se no milenar caminho para Guimarães, que passava pelo local da Cruz das Regateiras, frente ao Hospital do Conde de Ferreira, onde as padeiras, vindas de Valongo e arredores, se juntavam para levarem o pão para a cidade e para Praça do Pão, hoje Praça Guilherme Gomes Fernandes. Também ao fim da tarde neste local se voltavam a reunir a fim de seguirem juntas para suas casas. Já no tempo dos Almadas, em fins do séc. XVIII, se pretendeu transformar aquele largo numa praça. Teodoro de Sousa Maldonado fez dois projectos que não chegaram a ser executados.
Neste largo existiram importantes linhas defensivas contra as tropas de Soult (1809) e, durante o cerco do Porto, contra as tropas miguelistas (1832/1833). Sendo um dos limites da cidade, aqui se cobravam impostos sobre as mercadorias que entravam.
Passou a chamar-se Praça do Marquês de Pombal em 1882.
Em 1802 e 1858 foram feitas plantas não executadas. Só alguns anos depois se rasgou a praça tal como existe. No mapa de Telles Ferreira, de 1892, já se pode ver a Praça do Marquês com as primeiras casas construídas.
Inícios do séc. XX
Em 1870 foi aqui edificada uma praça de touros. Em 1898 o espaço foi ajardinado e construído o coreto.
“A Praça do Marquês com jardim, arborizado, acolhedor e com a primeira biblioteca instalada, num jardim do Porto era o ponto de encontro de diversas ruas: Bonjardim, Costa Cabral e Constituição. Os “amarelos” vindos da Praça da Liberdade lá seguiam, arrastando-se em cima carris campaínhando pelo calcar, alternado, da bota dos guarda-freios que subiam e desciam a rua de Santa Catarina em direção à Areosa e Rio Tinto. Além do Asilo do Terço, estava a elegante igreja da Nossa Senhora da Conceição que ainda se conserva na minha memória a construção. Na quina da Costa Cabral e Constituição estabelecida a confeitaria Estoril do Sr. Silva, que me era familiar dado que ali ía entregar tabuleiros de queijo à cabeça pousados numa “sogra” enrolada em tecido de serapilheira para aliviar a carga de uma arroba da especialidade amanteigada , desde a Rua do Loureiro, a pé, com a senhora Constância de Mafamude. Entrava-se na Estoril de caixeiros engravatados, limpinhos e de manguitos desde o pulso ao cotovelo para que não sujassem as mangas da camisa ao roçaram no balcão de tampa de vidro. Simpáticos no atendimento dos clientes; prazenteiros e não menos matreiros ao servir as vizinhas “sopeiras”. (pejorativo relacionado, com as empregadas domésticas, provincianas, que serviam como internas, as classes ricas e médias). Circulava no ar o cheiro a pastéis jesuítas, de nata, caramujos, bolos de arroz, almendrados; o característico das meias de leite e dos “galões” com torradas. O queijo, tirado do tabuleiro, pesado na balança de balcão “Avery”, conferido o peso desde os quilos até às gramas, designado na factura e, depois, trazer de volta, devolvido o recesso que não tinha sido vendido. Era assim na época em que os queijeiros do Porto, na década quarenta, comercializavam a especialidade da Serra da Estrela, à consignação e ao preço de 20,25 e 30 escudos o quilo. Queijos vendidos inteiros, aos meios, quartos de quilo e até às cinco coroas (vinte e cinco tostões). O Café Pereira era conhecido pelas mesas de bilhar, onde a juventude das redondezas jogavam o livre por duas coroas à hora. O Marquês era um pedaço, airoso, do Grande Porto onde pelas linhas arquitectónicas das casas, com jardins, nos saltava à vista que estas tinham sido construídas por gente mais ou menos abastada.” In Porto Tripeiro
Em 1910 o Arquitecto Marques da Silva constrói a sua casa-atelier e …
… ao mesmo tempo, a casa da família de sua esposa D. Júlia Lopes Martins – foto de Mário Teixeira Gomes.
Clarabóias - fotos de Mário Teixeira Gomes
Biblioteca Pedro Ivo
Igreja de Nossa Senhora da Conceição – em construção
“A Paróquia de Nossa Senhora da Conceição foi criada por provisão de D. António Barbosa Leão, Bispo do Porto, com data de 10 de Abril de 1927. A Capela da Senhora da Conceição, na Rua da Constituição, foi a primeira igreja paroquial da nova paróquia que teve como seu primeiro pároco o Cónego Dr. Francisco Correia Pinto, notável orador, conferencista e jornalista, que foi deputado à Assembleia Nacional.” In site da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição
Igreja de Nossa Senhora da Conceição – projecto do Arquitecto monge beneditino Dom Paul Bellot – inaugurada em 8 de Dezembro de 1947, quando o Padre Matos Soares era o pároco. Está decorada com frescos de Dórdio Gomes.
Há longos anos que todos os dias se juntam reformados, ferrenhos jogadores da sueca, rodeados por inúmera assistência muito ruidosa. São apaixonados campeonatos, muito castiços. Vale a pena assistir e ouvir o bater das cartas, as imprecações e os incentivos dos assistentes!
Quiosque construído em 1931
Fonte com bica em forma de peixe
Esta fonte luminosa estava na Praça D. João I e foi para aqui mudada em 2006 quando, naquela praça, se abriu o estacionamento subterrâneo.
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ResponderEliminarBoa noite!
ResponderEliminarResidi na Rua Latino Coelho, que desemboca no "Marquês".
Frequentei a Catequese e fiz a 1ª Comunhão e a Comunhão Solene na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em 1961.
Era então pároco o Pe. Adriano Pacheco de Oliveira, natural de Lustosa - Lousada. Era um bom amigo.
Abraço tripeiro!
Alberto Guimarães
Muitas memórias que jamais esquecerão. Eu fiz um percurso parecido na Igreja de Ramalde.
ResponderEliminarBoa tarde, amigo Rui Cunha!
EliminarÉ bom ter alguém com quem partilhar estas experiências tripeiras.
Já que "estamos no Marquês", gostaria de lembrar uma importante figura do Porto que residiu na casa adjacente ao adro da Igreja de Nossa Senhora da Conceição (lado Norte) e sobre quem, infelizmente, nada encontro na "internet".
Trata-se do Dr. Álvaro Rosas, cirurgião de renome no Hospital de Santo António e no Hospital da Trindade.
Era amigo da minha família.
Tinha um grande aquário com diversas espécies de peixes exóticos e um viveiro com uma grande variedade de aves canoras.
Na sala de visitas tinha um crânio de hipopótamo.
Foi expedicionário a Moçambique durante a 1ª Grande Guerra.
O Dr. Rosas cedeu parte do seu logradouro para se abrir o adro da igreja.
Grande abraço!
Alberto Guimarães
Boa noite caro amigo,
ResponderEliminarFazendo uma pesquisa sobre Álvaro Rosas encontrei muito poucas referências, mas algumas fazem-nos conhecê-lo um pouco.
Aqui vão sites que poderá visitar:
http://bibliotecas.cm-porto.pt/ipac20/ipac.jsp?session=D47P4956083O9.1278259&profile=bmp&source=~!horizon&view=subscriptionsummary&uri=full=3100024~!359441~!0&ri=1&aspect=subtab13&menu=search&ipp=20&spp=20&staffonly=&term=Rosas,+%C3%81lvaro&index=AUTHOR&uindex=&aspect=subtab13&menu=search&ri=1
http://bibliotecas.cm-porto.pt/ipac20/ipac.jsp?
session=1474O95X940Q2.1278268&profile=bmp&source=~!horizon&view=subscriptionsummary&uri=full=3100024~!59510~!1&ri=1&aspect=subtab13&menu=search&ipp=20&spp=20&staffonly=&term=Rosas,+%C3%81lvaro&index=AUTHOR&uindex=&aspect=subtab13&menu=search&ri=1
file:///C:/Users/Rui/Downloads/NMC_2009_40_34_34_37_artigo_2.pdf
Álvaro Rosas, era assistente de Franchini em 1919 na 14, passando a assistente de Bastos na Clínica Cirúrgica em 1921.
http://pesquisabmc.cm-coimbra.pt/docbweb2/plinkres.asp?Base=ISBD&Form=COMP&StartRec=0&RecPag=5&NewSearch=1&SearchTxt=%22AU%20ROSAS%2C%20%C1lvaro%22%20%2B%20%22AU%20ROSAS%2C%20%C1lvaro%24%22
Livro sobre Abel Salazar
file:///C:/Users/Rui/Downloads/NMC_2007_32_28_NM32_Pag28-31%20(1).pdf
A páginas 4:
Em Janeiro de 1928, os médicos
do Hospital da Misericórdia do Porto,
numa tentativa mais que louvável de
“não deixarem no olvido os casos da
sua prática diária”, e recordando e invocando
os seus antecessores (a Gazeta
de 1859 e a Revista de 1888), fizeram
publicar o número um do que apelidaram,
muito simplesmente, de BOLETIM
CLÍNICO do Hospital Geral de Santo
António.
Foram seus redactores iniciais os médicos Santos
Pereira e Álvaro Rosas
Talvez se pudesse encontrar mais algumas referências, mas já é tarde.
Um abraço
Rui Cunha
Boa tarde, amigo Rui Cunha, e muito obrigado pela pesquisa que fez acerca do Dr. Álvaro Rosas.
ResponderEliminarUma vez que administra este precioso blogue e me tenho apercebido da facilidade com que acede a fontes fidedignas, solicito-lhe, em memória deste ilustre médico cirurgião de quem o Porto se pode orgulhar, que publique algo que dê a conhecer a sua carreira pessoal e profissional.
Grande abraço tripeiro!
Alberto Guimarães
Boa tarde meu amigo,
ResponderEliminarComo deve perceber pelo que enviei não tenho informações suficientes para publicar sobre este médico, salvo que trabalho no HGSA e foi assistente do Dr. Franchini, o que é pouco.
Um abraço
Rui Cunha
Boa tarde, amigo Rui Cunha!
EliminarMuito obrigado pela boa vontade nesta pesquisa.
A fim de poder contribuir com algo para a história da nossa cidade, envio-lhe o "link" para a tese de doutoramento (assim se designava nesse tempo) de meu tio-avô Amândio Augusto da Costa Guimarães, um dos fundadores do Serviço de Estomatologia do Hospital de Santo António e médico da PSP do Porto durante largos anos:
https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/17662/3/182_1_FMP_TD_I_01_P.pdf
Meu tio residia na casa adjacente àquela onde nasci, no Passeio de S. Lázaro, e após ter enviuvado, em 1962, mudou-se para a Foz, tendo casado em 2ªs núpcias com a proprietária e directora técnica da Farmácia da Foz, em cuja administração colaborou após a sua reforma.
Grande abraço tripeiro!
Alberto Guimarães
Muito obrigado.
ResponderEliminarRui Cunha