sábado, 15 de dezembro de 2012

BAIRROS DA CIDADE - XXIII


2.3.4 - Bairro de Miragaia - I

Igreja de S. Pedro de Miragaia – sobre esta igreja, o Convento de Monchique, o Palácio de Cristal, o Monte dos Judeus e outros temas deste bairro, trataremos em local próprio.
A etimologia de Miragaia é muito polémica pois há diversas versões. Há quem afirme que já existiria ali uma pequena povoação antes de Cristo, outros, desde S. Basílio que teria sido o primeiro Bispo do Porto, falecido no ano de 37. Terá construído a Igreja de S. Pedro, o que é pouco credível. Parece no entanto que no séc. II os romanos já ali repousavam para atravessar o rio rumo à Feira, Aveiro e Coimbra. A verdade é que nas inquirições de D. Afonso III, em 1258, já lá existiam 70 casas cujos habitantes se dedicavam à pesca e outras actividades ligadas ao Rio Douro. Em 1391 existia já uma boa estalagem. Em 1400 já havia uma rua com o nome de Rua Nova de Miragaia, junto ao areínho. Algumas das suas casas eram já construídas sobre arcarias para defesa das cheias. Em 1491 aparecem referências à Fonte da Colher, local de pagamento de uma "colher" de cereal por cada 40 que entravam na cidade, como tributo ao Bispo. Em Miragaia desagua o Rio Frio que foi objecto de grandes contendas entre reis e bispos, causadas pela definição dos limites da cidade. ARC diz que o Bairro de Miragaia “sobe até o alto da Bandeirinha, Quarteis militares e discorre por todo o Massarelos até o Bicalho”. Assim sendo, no séc. XVIII, abrangia também Massarelos.
Foi declarada freguesia em 1710.

O historiador Dr. Artur de Magalhães Basto, na sua História da Cidade do Porto, escreve, sobre a futura Alfândega Nova o seguinte: “ Logo em 1822, é reconhecida como necessária, quanto urgente, a construção de uma nova alfândega: a antiga – o velho “almazém” real – tendo anexado, muito embora, dependências de outros edifícios situados nas imediações, não dispunha já de suficientes acomodações para receber, por exemplo, a carga de 36 navios, de lotação de 500 caixas de açúcar cada um, ou de fazendas diversas. Onde edifica-la? O lugar mais apropriado, acentuava-se no estudo dedicado à solução do problema, seria o mesmo da velha alfândega. Para tanto se necessitava, porém, “ da corrente de casas, desde a esquina da portagem à esquina dos Vanzeleres, na Rua Nova dos Ingleses e tudo em linha recta ao rio… Reconhecia-se, entretanto, que esta solução, obrigando a uma despesa que devia montar a 800 contos de reis, implicava também a demolição de alguns dos melhores e mais nobres edifícios da cidade. Sugeria o autor do plano, em consequência, que fosse estudada a possibilidade de reservar, para a desejada, ou o Convento de S. Domingos ou o de S. Francisco um e outro com as cercas respectivas…” A verdade é que, esta obra, era de tal forma destruidora e cara que o projecto não foi para diante.


Praia do Areínho antes da construção da Alfândega Nova – Nesta praia desaguava o Rio Frio – Vêm-se as arcadas de Miragaia.



A construção da Alfândega Nova exigiu a abertura de uma rua que a ligasse à actual Rua do Infante D. Henrique. Para tal foram expropriados e destruídos muitos prédios. Ainda se vê, pegada à Igreja de S. Francisco, a Capela de Santo Eloi, que pertenceu à Confraria dos Ourives do Ouro, que foi desmontada e, em 1884, reconstruída na Rua de Gondarém, na Foz do Douro (ver Capelas do Porto). Na foto ainda são visíveis restos da Porta Nobre, do Postigo dos Banhos e parte da Rua de Cima do Muro. Uma parte destas ruínas estão sob o actual estacionamento a montante da Alfândega. Chama-se Rua Nova da Alfândega porém, vários estudiosos do Porto dizem que se teria chamado, inicial e logicamente, Rua da Alfândega Nova, em contraste com a Rua da Alfândega que, subindo do rio, servia a Alfândega Velha. Assim sendo teriam, estes doutos personagens, toda a razão pois esta não se passou a chamar rua velha da alfândega. Aliás há pelo menos uma escritura de 1875, onde interfere a C. M. P., com a informação de Rua da Alfândega Nova, como se pode ler num artigo em O Tripeiro, série V, ANO XIII, escrito por António Sardinha a páginas 63.
“A nova alfândega construída na praia de Miragaya, reclamava uma communicação fácil e condigna da grandiosidade do edifício; houve differentes alvitres, pensando-se em communica-la pela parte baixa da cidade, posta já em contacto fácil pela rua de S. João ou de Ferreira Borges; e também se pensou em abrir uma nova rua por detraz de Monchique a entroncar na Restauração (calçada de Monchique, rua de Sobre-o-Douro). Prevaleceu porém o primeiro alvitre, adoptando-se o projecto, em verdade arrojado, e que se levou já a seu termo. A nova rua, parte da dos inglezes, e fazendo uma curva defronte do antigo convento de S. Francisco, corre depois um alinhamento parallelo á alfândega, entroncando com a rua marginal de Miragaya. A construcção foi feita a expensas do municipio, que já gastou com ella 318:519$573 réis, a maior parte absorvidos em expropriações (Abril de 1875). Com a abertura da nova rua desappareceu o bairro dos Banhos, um dos mais immundos da cidade; a Porta Nobre, o postigo dos Banhos, a maior parte da rua de Cima do Muro e uma parte da Reboleira. A rua está ao abrigo das cheias e absorveu enorme volume de terras, pela maior parte extrahidas do corte feito para o alargamento da rua de Ferreira Borges. A porção construída pela camara é desde a rua dos Inglezes até um pouco adiante da antiga Porta Nobre. Não está empedrada ainda, havendo, porém, já em depósito grande porção de parallelipípedos (pedra de esteio, de Canellas). Na parte direita da rua estão-se construindo já novos prédios, subordinados na fachada a um typo apresentado pela câmara.” Pinho Leal (1816-1884) — Portugal Antigo e Moderno,«Miragaia».1873/1890



Rua Nova da Alfândega - foto de Luis Santos



Em construção

Alfândega Nova vista do Rio Douro


Furnas


Marcas das cheias do Rio Douro em 1909 e 1962


O edifício foi mandado edificar em 25 de Setembro de 1859, na praia de Miragaia, segundo projecto do arquiteto francês Jean F. G. Colson, tendo o seu primeiro núcleo sido inaugurado em 1869 e terminada a construção dez anos mais tarde. A sua edificação implicou a construção da enorme plataforma do cais onde assenta a Alfândega e que substituiu a antiga praia de Miragaia. Em 5 de Setembro de 1897 um incêndio atingiu as secções de contabilidade e secretaria que, 3 dias depois, começou a ser restaurada. O conceito do edifício compreendia não apenas as infraestruturas para a entrada e saída de mercadorias, mas também diversas estruturas de apoio tais como armazéns, vias-férreas, plataformas giratórias que facilitassem o movimento dos vagões e guindastes. Ainda hoje é o maior edifício da cidade, ocupando um total de 36.000 metros quadrados.







Miragaia após a construção da Alfândega Nova – postal de Arnaldo Soares






Miragaia – R. Nova da Alfândega – Os antigos “TIR” esperando o contracto de transporte de mercadoria - em cima, à esquerda, vê-se o muro das Virtudes e á direita a lateral de Igreja de S. João Novo.







De forma a facilitar o transporte de mercadorias, a Alfândega e a Estação de Campanhã foram ligadas por um ramal de caminho de ferro (Ramal da Alfândega)em1888.




Na década de 1990, conheceu uma intervenção de restauro e requalificação com projeto do arquiteto Eduardo Souto de Moura, passando a abrigar um Centro de Congressos.







O primeiro automóvel que veio para Portugal foi um Panhard & Levassor que o Conde de Avilez comprou em Paris, em 1895. Numa viagem de Lisboa para o Sul atropelou um burro, que morreu. Foi este o primeiro acidente automóvel da nossa história. Atingia a espantosa velocidade de 20 km/h. Actualmente está no Museu dos Transportes do Porto, na Alfândega. Ler mais informações em local próprio.

Neste edifício também estão instalados o Museu de Transportes e Comunicações e a sede da Associação do Museu de Transportes e Comunicações (AMTC), instituição privada sem fins lucrativos criada em Fevereiro de 1992, com a missão de preservar o edifício da antiga Alfândega do Porto, assim como todo o património na área dos transportes e comunicações.


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