2.3.4 - Bairro de Miragaia - I
Igreja de S. Pedro de Miragaia – sobre esta igreja, o Convento de Monchique, o Palácio de Cristal, o Monte dos Judeus e outros temas deste bairro, trataremos em local próprio.
A etimologia de Miragaia é muito polémica pois há diversas versões. Há quem afirme que já existiria ali uma pequena povoação antes de Cristo, outros, desde S. Basílio que teria sido o primeiro Bispo do Porto, falecido no ano de 37. Terá construído a Igreja de S. Pedro, o que é pouco credível. Parece no entanto que no séc. II os romanos já ali repousavam para atravessar o rio rumo à Feira, Aveiro e Coimbra. A verdade é que nas inquirições de D. Afonso III, em 1258, já lá existiam 70 casas cujos habitantes se dedicavam à pesca e outras actividades ligadas ao Rio Douro. Em 1391 existia já uma boa estalagem. Em 1400 já havia uma rua com o nome de Rua Nova de Miragaia, junto ao areínho. Algumas das suas casas eram já construídas sobre arcarias para defesa das cheias. Em 1491 aparecem referências à Fonte da Colher, local de pagamento de uma "colher" de cereal por cada 40 que entravam na cidade, como tributo ao Bispo. Em Miragaia desagua o Rio Frio que foi objecto de grandes contendas entre reis e bispos, causadas pela definição dos limites da cidade. ARC diz que o Bairro de Miragaia “sobe até o alto da Bandeirinha, Quarteis militares e discorre por todo o Massarelos até o Bicalho”. Assim sendo, no séc. XVIII, abrangia também Massarelos.
Foi declarada freguesia em 1710.
Praia do Areínho antes da construção da Alfândega Nova – Nesta praia desaguava o Rio Frio – Vêm-se as arcadas de Miragaia.
A construção da Alfândega Nova exigiu a abertura de uma rua que a ligasse à actual Rua do Infante D. Henrique. Para tal foram expropriados e destruídos muitos prédios. Ainda se vê, pegada à Igreja de S. Francisco, a Capela de Santo Eloi, que pertenceu à Confraria dos Ourives do Ouro, que foi desmontada e, em 1884, reconstruída na Rua de Gondarém, na Foz do Douro (ver Capelas do Porto). Na foto ainda são visíveis restos da Porta Nobre, do Postigo dos Banhos e parte da Rua de Cima do Muro. Uma parte destas ruínas estão sob o actual estacionamento a montante da Alfândega. Chama-se Rua Nova da Alfândega porém, vários estudiosos do Porto dizem que se teria chamado, inicial e logicamente, Rua da Alfândega Nova, em contraste com a Rua da Alfândega que, subindo do rio, servia a Alfândega Velha. Assim sendo teriam, estes doutos personagens, toda a razão pois esta não se passou a chamar rua velha da alfândega. Aliás há pelo menos uma escritura de 1875, onde interfere a C. M. P., com a informação de Rua da Alfândega Nova, como se pode ler num artigo em O Tripeiro, série V, ANO XIII, escrito por António Sardinha a páginas 63.
Alfândega Nova vista do Rio Douro
Furnas
Marcas das cheias do Rio Douro em 1909 e 1962
O edifício foi mandado edificar em 25 de Setembro de 1859, na praia de Miragaia, segundo projecto do arquiteto francês Jean F. G. Colson, tendo o seu primeiro núcleo sido inaugurado em 1869 e terminada a construção dez anos mais tarde. A sua edificação implicou a construção da enorme plataforma do cais onde assenta a Alfândega e que substituiu a antiga praia de Miragaia. Em 5 de Setembro de 1897 um incêndio atingiu as secções de contabilidade e secretaria que, 3 dias depois, começou a ser restaurada. O conceito do edifício compreendia não apenas as infraestruturas para a entrada e saída de mercadorias, mas também diversas estruturas de apoio tais como armazéns, vias-férreas, plataformas giratórias que facilitassem o movimento dos vagões e guindastes. Ainda hoje é o maior edifício da cidade, ocupando um total de 36.000 metros quadrados.
Miragaia após a construção da Alfândega Nova – postal de Arnaldo Soares
Miragaia – R. Nova da Alfândega – Os antigos “TIR” esperando o contracto de transporte de mercadoria - em cima, à esquerda, vê-se o muro das Virtudes e á direita a lateral de Igreja de S. João Novo.
Na década de 1990, conheceu uma intervenção de restauro e requalificação com projeto do arquiteto Eduardo Souto de Moura, passando a abrigar um Centro de Congressos.
Neste edifício também estão instalados o Museu de Transportes e Comunicações e a sede da Associação do Museu de Transportes e Comunicações (AMTC), instituição privada sem fins lucrativos criada em Fevereiro de 1992, com a missão de preservar o edifício da antiga Alfândega do Porto, assim como todo o património na área dos transportes e comunicações.
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