2.3.6 - Bairro da Boavista - II
Planta de Teles Ferreira, 1892, desde a Praça da Boavista (Mouzinho de Albuquerque) à Rua João Grave, antiga Rua de Fonte Arcada
Na planta acima pode ver-se, á volta da Praça da Boavista, no sentido dos ponteiros do relógio e começando pelo meio-dia, os seguintes locais: Avenida da Boavista, início Poente; “remise" dos americanos e máquinas a vapor; Rua Príncipe da Beira, hoje Rua 5 de Outubro; Estação dos Caminhos de Ferro da Póvoa, hoje um banco; Rua dos Brandões, hoje princípio da Avenida da França; Rua das Valas, hoje de Nossa Senhora de Fátima; Hospital Militar D. Pedro V; Rua de Júlio Dinis, aberta até à Rua da Torrinha; Quinta do Bom Sucesso; Coliseo Portuense, praça de touros até 1898.
Na Rua de Agramonte vê-se o Cemitério Occidental. Quando da sua construção, as principais irmandades do Porto reservaram as zonas onde pretendiam colocar os jazigos dos seus irmãos defuntos. Leem-se os talhões da Trindade, S. Francisco e Ordem do Carmo. Também se pode ver uma pequena zona destinada aos não católicos. O mesmo aconteceu no Cemitério do Prado do Repouso.
A Praça da Boavista foi, durante muitos anos, local onde se realizaram importantes feiras. A Feira de S. Miguel, talvez a mais importante da cidade, realizava-se a 29 de Setembro na Cordoaria, desde os anos de 1672 a 1876. Por essa época a Câmara deslocou-a para a Boavista. “Prolongava-se esta feira por uns dias (um mês, aproximadamente) e nela apareciam à venda as alfaias agrícolas, os tamancos, os jugos e cangas, os móveis de madeira de pinho em cru os cestos, varapaus, chapéus de palha, todo género de quinquilharias, louça de barro grosseiro, cereais, muita cebola e muita abóbora, os típicos doces de Paranhos e da Teixeira, as fritadas etc. As barracas de comes e bebes também não faltavam no recinto bem assim como as diversões. Em matéria de comestível, além das regueifas de Valongo e das nozes, sobrelevavam-se aos restante produtos, as características espetadas, constituídas por carne de porco assada em espetos e vendida ao público espetada num pauzinho.
Na feira de S. Miguel do ano de 1906, como novidade sensacional e como número de invulgar atracção, apareceu o primeiro animatógrafo ou cinematógrafo portuense – o salão High Life – instalado num modesto barracão de madeira coberto de folha zincada, ali mandado construir por Manuel da Silva Neves, que em Novembro desse ano de 1906, depois de terminada a feira de S. Miguel, passou a dar sessões de cinema mudo no largo fronteiro à Torre dos Clérigos, na Cordoaria, onde se conservou bastante tempo e para além da inauguração, em Fevereiro de 1908, do novo salão High-Life, na Praça da Batalha, do mesmo proprietário. No ano de 1906, a Câmara Municipal anunciou a mudança da feira de S. Miguel para o largo da Arca d’Água. Todavia, os feirantes, de comum acordo e fazendo orelhas moucas, deliberaram tomar de arrendamento um terreno particular na mesma rotunda da Boavista (onde estivera uma praça de touros) e aí continuaram a realizá-la pelo curto período de 2 ou 3 anos”. O Tripeiro série VI, Ano X.
Foi transferida em 1909 para a Arca d’Água até 1917.
A feira dos criados ou moços e moças da lavoura mudou da Praça dos Ferradores (actual Carlos Alberto) para a Boavista em 1876. Realizava-se duas vezes por anos. Em Novembro para os trabalhos de Inverno e em Abril para os de Verão. Esta feira era muito concorrida. Apareciam os lavradores e os criados que pretendiam trabalho. Havia um diálogo entre eles e quando chegavam a acordo davam um aperto de mão e tomavam um copo de vinho acompanhado de pão ou broa, que era oferecido pelo patrão, seguindo de imediato para os locais de trabalho.
A Praça da Boavista foi ajardinada em 1906 passando o trânsito de veículos a fazer-se à sua volta.
Praça Mouzinho de Albuquerque e Cemitério de Agramonte – foto de Carlos Romão – início dos anos 80 de Séc. XX – ainda se vê a "remise" dos STCP, onde está hoje a Casa da Música, e o Mercado do Bom Sucesso.
Foto de Rubens Craveiro
Fotos.afasoft.net
Fotos de Fernando Pedro
A Guerra Peninsular foi a que uniu os portugueses e os ingleses contra os exércitos de França, de Napoleão Bonaparte, na Península Ibérica, no período de 1808 a 1814. No centro da Praça de Mouzinho de Albuquerque, ergue-se este monumento comemorativo. Da autoria do arquitecto Marques da Silva e do escultor Alves de Sousa esta obra levou muitos anos a ser concluída. Coube à Cooperativa dos Pedreiros o encargo de o erigir, sendo começado em 1909 e apenas inaugurado em 1951. Dada a morosidade do tempo de construção e a morte do escultor Alves de Sousa, ainda jovem (38 anos), a obra foi concluída sob a direcção dos escultores Henrique Moreira e Sousa Caldas. É composto por um pedestal, de 45 metros de altura, rodeado de grupos escultóricos em bronze. Estes, representam cenas de artilharia em movimento, podendo ver-se também soldados ingleses que vieram apoiar Portugal, a intervenção das gentes do povo na luta e o desastre da Ponte das Barcas. De notar a presença do elemento feminino em todos os grupos: no da frente, uma mulher, a Vitória, empunha, na mão esquerda, a bandeira nacional e, na direita, uma espada. Na base tem figuras de soldados e cenas de factos ligados às guerras napoleónicas, em relevos esculpidos no granito. Duas datas podem ver-se em duas frentes da base da coluna: MDCCCVIII e MDCCCIX. A mensagem que estes números transmitem integra-se no espírito regional da estatuária portuense. Entre 1808 e 1809 a cidade esteve ocupada pelo exército de Soult. Assim sendo, o monumento pretende homenagear os heróis portuenses que resistiram e venceram este general. No pedestal, estão apostas as armas da cidade. Nos longos anos em que só existia a parte inferior do monumento o povo chamava-lhe o “castiçal” a que ainda faltava a vela!
Na esquina com a Praça de Mouzinho de Albuquerque encontrava-se a casa da família Oliveira e Sá, industriais de cordas, que foram nossos amigos durante largos anos.
No local do palacete acima foi construído, em 1976, o primeiro centro
comercial da Península Ibérica, o Brasília. Foi o princípio de uma revolução no
comércio a retalho do Porto, pois iniciou um nova visão de comercializar que,
aos poucos, quase destruiu o pequeno comércio de loja. Descentralizou a
tradicional zona comercial do centro histórico, que muito sofreu com isso. Esta
nova centralidade da cidade, na Boavista, foi provocada pela abertura
da Ponte da Arrábida e da Via de Cintura Interna. A Ponte Luis I era um tremendo
estrangulamento da ligação a Gaia, sofrendo diariamente demoradíssimos engarrafamentos.
Quando a Ponte da Arrábida foi aberta, e durante alguns anos, quase não tinha
movimento. Actualmente sofre do mesmo mal de que sofria a Ponte Luis I nos anos
50 do passado século. Daí a necessidade de se construírem novas ligações.
A Câmara Municipal do Porto contratou a empresa ARS Arquitectos, dos Arquitectos Fortunato Leal, Cunha Leão e Morais Soares, para desenhar um novo mercado municipal para a cidade. O edifício foi projectado em 1949 e as obras iniciaram-se em 1951, sendo o novo edifício marcado por uma arquitectura moderna com uma boa iluminação natural. Foi inaugurado em 1 de Julho de 1952. Tem três pisos, de forma a aproveitar o declive natural da área, sendo bordejado com lojas independentes. Outra particularidade é a separação zonal do mercado, situando-se a peixaria num nível inferior de forma a permitir um melhor arejamento. O primeiro piso contém ainda uma galeria que circunda o mercado na qual podemos encontrar lojas independentes, como talhos e padarias.
Foto Ricardo Morales
Na zona onde existiu a praça de touros foi construído o Tabernáculo Baptista. A Igreja Baptista Portuguesa tinha sido organizada de forma oficial no dia 20 de Dezembro de 1908. O templo só foi inaugurado alguns anos mais tarde, a 13 de Fevereiro de 1916. A sua construção foi financiada pelo comerciante inglês Charles Jones, o que influenciou na adopção de uma arquitectura similar à do Tabernáculo Metropolitano de Londres..
A Máquina na "remise" da Boavista, acabada de chegar de Matosinhos. Princípio séc. XX.
Das várias infraestruturas que apoiavam o funcionamento da rede de carros eléctricos do Porto, o local mais importante era a Boavista. Já desde a abertura da segunda linha de americanos em 1874, se situava aqui a sede da “Companhia de Carris de Ferro do Porto”. A Boavista e a sua mítica "remise" não abrigava apenas eléctricos, era também, a casa dos carros de tracção animal e das máquinas a vapor.
O seu momento mais negro viveu-se em 1928, mais precisamente a 28 de Fevereiro. Nesse dia a "remise" da Boavista foi destruída por um grande incêndio, onde se perderam vários exemplares de carros eléctricos, dos quais o carro eléctricos (CE) nº 22, (actualmente replicado e em exposição no museu do carro eléctrico), para além das próprias instalações. Posteriormente no mesmo local, onde hoje se encontra a Casa da Musica, foi construída uma nova "remise" e novas oficinas com um total de 20 linhas e por este facto era conhecida como as “Vinte Portas”, havendo mesmo quem as contasse para ter a certeza que este nome era verdadeiro. Esta é substituída pela de Massarelos em 1988 e desmantelada em 1999.
Antiga sede dos STCP na esquina da Avenida da Boavista com a Rua de 15 de Novembro. Hoje encontra-se aqui um grande prédio.
Casa da Música - Foi projectada pelo arquitecto holandês Rem Koolhaas, como parte do evento Porto Capital Europeia da Cultura de 2001, no entanto, a construção só ficou concluída em 2005. Foi construída no local onde estava a recolha dos eléctricos, na Praça Mouzinho de Albuquerque. O custo inicial previsto para a construção, excluindo o valor dos terrenos, era de 33 milhões de euros, acabando por custar 111,2 milhões e ficando concluída quatro anos depois do prazo inicial previsto.
Foi alvo de uma grande polémica devido ao atraso e ao elevadíssimo desvio no custo de construção. Infelizmente as altíssimas expectativas da Capital Europeia da Cultura foram grandemente frustradas. Obras muito caras e descaracterizadoras em vários locais da cidade, em especial no Jardim da Cordoaria, na Praça da Liberdade e na Avenida dos Aliados. As que não foram começadas ou terminadas “safaram-se” desta hecatombe.
Para este local esteve prevista, nos anos 60 do séc. XX, a construção de um teatro municipal.
Máquinas a vapor na estação da Boavista – 1968. Esta estação foi construída em via reduzida para as linhas da Póvoa de Varzim e Famalicão. As linhas foram inauguradas, respectivamente, em 1873 e 1875. Foram suprimidas em 1965.
Vi várias páginas deste "PORTO ". Felicito os seus autores.
ResponderEliminarÉ para nós um grande incentivo Como apaixonados pela nossa cidade pretendemos divulga-la e da-la a conhecer. Muito obrigado
EliminarArtigos muito interessantes e com as fotografias ganham outra dimensão.
ResponderEliminarA propósito das linha ferroviária da CP-Póvoa de Varzim, ela não encerrou em 1965; nesta data foi só o ramal da Srª da Hora a Matosinhos. Mais tarde, e por causa da construção do Metro, a linha encerrou por troços: Trindade-SrªHora e depois Srª-Hora-Póvoa.
Pedro Milheiro
Muito obrigado pela correcção. Agrada-nos muito que os leitores estejam atentos aos erros ou omissões, pois demonstra que lêem com atenção.
Eliminareste documento, devia ter um prémio de mérito ao ou aos autores, por tratarem a cidade muito BEM.
ResponderEliminarCASTRO FREITAS
Muito obrigado. O maior prémio que podemos ter é o agrado dos nossos leitores e a máxima difusão e conhecimento da nossa querida cidade do Porto.
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