2.3.6 - Bairro da Boavista - IV
Planta de Teles Ferreira, 1892, desde a Rua João Grave à Fonte da Moura de Baixo. A Avenida da Boavista estava aberta somente até após a Rua da Vilarinha. Só na primeira década dos séc. XX se começou a abrir até ao Castelo do Queijo. Ficou terminada em 1917.
A origem e crescimento do povoado de Rianhaldy perde-se nos tempos, antes da fundação da monarquia portuguesa, provavelmente entre 920 e 944, data em que chegaram ao território os monges de S. Bento. Assim começaria a história do julgado de Bouças e do seu antiquíssimo mosteiro beneditino. Este território pertenceu ao Padroado Real de D. Sancho I que depois o doou, em 1196, a sua filha D. Mafalda. Um documento de 1222 afirma que a rainha D. Mafalda fez a sua doação ao Mosteiro de Arouca.
Na época de D. Sancho II o território denominava-se Ramunhaldy e era constituído por cinco lugares: Francos, Requezendi, Ramuhaldi Jusão e Ramuhaldi Susão (actualmente Ramalde do Meio).
Entre 1230 e 1835 pertenceu ao concelho de Bouças, o qual integrava também S. Mamede de Infesta, Matosinhos, Foz do Douro e um conjunto de vinte povoações. Em 1895 foi integrado no concelho do Porto, como freguesia.
Há quem ligue o lugar de Francos às Invasões Francesas de 1809. Porém, este nome tem muitos séculos.
Tinturaria - Photo Guedes - 1900
Quando em 1809 chegou ao Porto o escocês William Graham Jr. acabavam de ser expulsos os franceses da segunda invasão. Logo em 1814 decidiu dedicar-se, logicamente, ao comércio do vinho. Mandou vir o seu sobrinho John Graham e com ele se associou na firma William & John Graham & Cº. O séc. XIX foi muito agitado até aos anos 50, pelo que só a partir da Regeneração, os Graham se decidiram entrar na indústria têxtil. Em 1880 compram, em Lisboa, a Tinturaria e Estamparia do Braço de Prata. Tendo tido sucesso e tendo verificado que no Porto seria mais rentável desenvolver os negócios têxteis, fundaram a mais importante fiação, tecelagem e tinturaria do país, a Fábrica de Fiação e Tecidos da Boavista, mais conhecida por fábrica do Graham ou dos ingleses, que aliás eram escoceses. Para tal adquiriram um grande terreno a poente do campo do Boavista F C que chegou a ter cerca de 10 hectares. Este terreno começava onde hoje é a Rua Azevedo Coutinho e estendia-se até à Rua de S. João de Brito. Foi muito grande o desenvolvimento desta indústria, o que se verifica bem se dissermos que tinha em 1905 – 881 operários, em 1928 - 1500 e em 1939 - 1473. A esta mão-de-obra terá que se acrescentar a grande quantidade de pessoas a quem davam trabalho externo. Tiveram sempre uma política da melhor qualidade dos produtos e a actualização das máquinas. Em 12 de Maio de 1897 deflagrou um violentíssimo incêndio que quase destruiu esta fábrica. Os prejuízos foram avaliados em 10.000 Libras estrelinas e ficaram sem trabalho centenas de operários. A verdade, porém, é que foi reconstruída. Com o eclodir da guerra, em 1939, e as dificuldades de exportação, a fábrica foi encerrada nos anos 50. Este facto foi causa de um grande prejuízo para esta zona da cidade, levando muitas famílias à pobreza, pois era muito habitual trabalharem lá vários membros da mesma família.
Video sobre S. Pedro da Cova em 1917 – a partir do minuto 36.10 mostra clientes deles: Fábrica do Graham na Avenida da Boavista, Fábrica de Salgueiros, Fábrica de Fiação e Tecidos de Santo Tirso, Sampaio Ferreira em Riba d’Ave, Central do Varosa e Fábrica do Rio Vizela
Baú usado no transporte da comida e socos de mulher
Vivendo eu muito perto desta fábrica, recordo vários factos dos seus últimos 20 anos. Logo de madrugada, antes das 7 horas, um terrível barulho de socos de madeira e vozes de mulheres me acordavam sobressaltado. Eram as centenas de operárias que passavam junto de nossa casa. Muitas levavam um baú à cabeça com o seu almoço e o de um seu familiar, que depois aqueciam na cantina. Mas ainda antes, pelas 6 horas, já se ouviam as sirenes a acordar o pessoal em uníssono com a da Estamparia do Laranjo, na Rua do Dr. Alberto Macedo. Antes do meio-dia viam-se mulheres com tabuleiros à cabeça com baús levando comida quente.
Uma parte do terreno era ocupada pela escória do carvão utilizado nas caldeiras. Era transportada em “vagonetes”, levadas por 2 homens. Quando saíam carregadas, estes davam-lhes um pequeno impulso e subiam para um degrau, sendo por ela levados, dado que o terreno era ligeiramente inclinado. No local da descarga puxavam uma alavanca que virava o contentor para a direita ou para a esquerda. Só as empurravam na volta já vazias.
Dado o grande desenvolvimento da zona da Boavista, o enorme terreno foi muito valorizado, tendo sido comprado por uma empresa ligada ao Banco Português do Atlântico, a Sociedade de Construções William Graham, onde em parte dele, foi construído o luxuoso Parque Residencial da Boavista, mais conhecido pelo Foco, desenhado pelo Arq. Agostinho Ricca Gonçalves.
A paróquia de Nossa Senhora da Boavista foi constituída, em 31/3/1973, pelo Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes. Em 31/5/1981, o mesmo Bispo, benzeu e inaugurou a nova igreja. O projecto foi do Arquitecto Agostinho Ricca Gonçalves. O artista que praticamente decorou toda a Igreja foi o Mestre Júlio Resende, coadjuvado pelo escultor Zulmiro de Carvalho e pelo pintor Manuel Aguiar. Mais tarde, associou-se a esta equipa o pintor Francisco Laranjo. Há uma grande unidade estética em todo o conjunto: dos vitrais ao sacrário, da via-sacra ao crucifixo da capela do Santíssimo Sacramento. O tapete que desce do presbitério reflecte as cores dominantes dos vitrais.
Este era o Pinheiro Manso que deu o nome à rua. Estava plantado numa quinta já, pelo menos, no séc. XIX. O palacete foi construído em 1902 por um brasileiro de torna viagem de nome Rocha. Nos anos 40/50, era habitado pela família Gilbert. O pinheiro caiu em 15 de Fevereiro de 1941 na terrível noite do “ciclone”, muito recordado pelos portuenses, pois causou elevadíssimos prejuízos por toda a cidade. No momento da queda da árvore, cerca das 20 horas, ia a passar o carro do comandante dos bombeiros que foi atingido na traseira. Deste acidente não resultou qualquer ferido. Foi demolido em 1971 para a construção do prédio que lá se encontra.
Ao longe pode ver-se uma chaminé e a fábrica Graham a que acima nos referimos.
Recordo muito bem que os Gilbert tinham um maravilhoso BMW 326 branco, de meados dos anos 30, que eu admirava longamente.
No século XIX a rua encontrava-se numa zona rural, composta por pequenas quintas. A primeira casa, da Rua do Pinheiro Manso, a partir da Boavista era o 274, casa onde nasci. Já consta do mapa de Teles Ferreira de 1892. Deve datar da década de 80. É visível na planta de Ramalde, acima.
Santa Joana Jugan, fundadora das Irmãzinhas dos Pobres – 1792-1879. Criou esta congregação para apoio dos velhos doentes, abandonados e pobres.
No dia 5 Novembro de 1897 inicia-se a construção do edifício das Irmãzinhas dos Pobres, ao Pinheiro Manso, sendo a primeira pedra colocada pelos Cónego Dr. Cardoso Monteiro, em representação do Sr. Cardeal D. Américo, conselheiro Araújo Silva, director das Obras Públicas, e Dr. Terra Viana. Álbum da Congregação.
Renovação nos anos 30 do séc. XX – álbum da Congregação
Estátua de S. José nas Irmãzinhas dos Pobres – 22/2/1900 - Sob modelo de Soares do Reis, o escultor Silva, ao serviço do empreiteiro João Gomes Guerra, termina a bela estátua de S. José, de 2,40 metros, que foi colocada na fachada do edifício do Asilo das Irmãzinhas dos Pobres ao Pinheiro Manso.
Capela original - as imagens de santos foram feitas pelo santeiro João Monteiro Pereira Júnior – 1904 – Álbum da Congregação
Igreja antiga da Paróquia de S. Salvador de Ramalde – inícios do séc. XVIII – “Nessa altura, a Igreja possuía bons paramentos e alfaias e ricos objectos de prata, mas tudo foi roubado pelos franceses. No tempo do Cerco do Porto, desapareceram do Arquivo Paroquial os livros das Visitações e outros documentos importantes. Em 1921, a Capela-Mor da Igreja foi reformada por uma comissão de paroquianos e pelo Padre Joaquim Esteves Loureiro que efectuaram diversas obras de reparação e asseio da Igreja, paramentos e alfaias, sendo de maior vulto a reforma do douramento e pintura do altar e capela-mor. Nesta reforma gastaram-se 2.044$940 réis o que, ao tempo, ainda era dinheiro”. Há dois anos que decorrem grandes obras de restauro desde o telhado, que estava em péssimo estado, ao restauro interior. Foi nesta igreja que eu fui baptizado, bem como todos os nossos filhos.
Igreja nova de Ramalde - Inaugurada em 16 de Junho de 2002, é obra do Arq. Vasco Morais Soares. Edificação Moderna em betão maciço, granito, tijolo, e com o tecto em madeira, apresenta um forte aproveitamento da iluminação natural, tornando-se numa referência ao nível da estética e da acústica. O painel de azulejos do seu exterior, obra do mestre Rogério Ribeiro, retrata a história do Homem. Esta grandiosa obra, bem como o Centro Paroquial e auditório foi obra dos paroquianos, dirigidos e incentivados pelo Pároco Sr. Padre Almiro Mendes.
Cooperativa de Ramalde
Na época da sua fundação, 8/12/1892, ainda a agricultura dominava a vida económica e a paisagem da freguesia. No último quartel do século XIX verifica-se um desenvolvimento acelerado da actividade industrial e a freguesia ocupa o principal centro da indústria têxtil do concelho do Porto. Para suprir as grandes dificuldades dos operários, que viviam em habitações sem ventilação e sem luz e para fazer face às dificuldades criam-se associações, onde a troco de uma pequena quota, os sócios obtinham assistência na doença e velhice e até no funeral. É neste contexto social que nasce a SOCIEDADE COOPERATIVA UNIÃO FAMILIAR OPERÁRIA DE CONSUMO E PRODUÇÃO. A 6 de Maio de 1906 a Assembleia-geral toma a decisão histórica de adquirir um terreno para edificação da Sede. Em 1931 as instalações são ampliadas consolida-se o espaço comercial onde aos produtos tradicionais se juntam outros e outras actividades na área de prestação de serviços. A Cooperativa passa a ser um importante apoio social das famílias na dignificação do ser humano, no desenvolvimento cultural e informação.
“Curioso é que em Aldoar, Nevogilde e Ramalde de 1864 a 1890 não existia população significativa que merecesse censo dado que essas zonas eram rurais ou melhor as quintas dos arrabaldes do Porto. Essas quintas e quintais adjacentes às moradorias ainda por Ramalde havia, na década de 50 quando por uns dois anos, fui motorista, da Cooperativa de Ramalde, no Largo de Pereiró. A Cooperativa modernizou o sistema de entregas aos associados, adquirindo um furgão “Wolksvagen”, substituindo o cavalo e a carroça que tinha como carroceiro o "Ti Manel” da Senhora da Hora; já entrado na idade e analfabeto não poderia tirar a carta de condução. Por concurso fui então admitido, como motorista, com um salário de um conto de reis por mês. Ramalde, era um meio absolutamente rural nos anos sessenta. Havia por lá casas de lavradores, seculares, de largos pátios, lojas de gado, alfaias agrícolas e campos de cultivo de milho batatas e outros vegetais que seguiam para abastecer os mercados do Anjo, junto aos Clérigos (substituído pelo moderno do Bom Sucesso) mercado do Bolhão, rua Escura e, ainda para as típicas mercearias tripeiras espalhadas por toda cidade. Em 1900 e porque na zona da Boavista se instalam-se várias indústrias, uma com grande significado a fábrica dos ingleses, onde empregou milhares de pessoas e, que mais tarde viria a encerrar, nos anos 1950/60 que deixou centenas de pessoas desempregadas e em dificuldades económicas que se valiam dos créditos da Cooperativa de Ramalde. Depois instalava-se a Fábrica Veludo de papéis pintados e com estabelecimento de venda ao público em Sá da Bandeira junto ao teatro. Praticamente não havia, no Porto, palacete, casa propriedade da média classe que não tivesse forrado nas suas paredes interiores papel, decorativo, pintado. As indústrias tripeiras, as com maior significado estendiam-se para os arrabaldes, embora as de pequeno porte continuavam a quedar-se no centro. Voltando ao fluxo demográfico de Aldoar, Nevogilde e Ramalde e pelo que acima descrevemos, dada a expansão industrial, em 1900 em Ramalde viviam 7.111; Nevogilde 1.210 e em Aldoar 1.052 que somavam 9.373 habitantes.” In Porto Tripeiro.
Casa de Ramalde - em local próprio trataremos da história desta vetusta casa e quinta.
A Paróquia da Senhora do Porto, anteriormente território da Paróquia de Ramalde, foi fundada em 12 de Junho de 1964, dia em que o Administrador Apostólico da Diocese, D. Florentino de Andrade e Silva, nomeou o Padre António Inácio Gomes responsável pastoral por um território que, anos mais tarde, veio a ser confirmado como o da actual Paróquia.
A Igreja, situada no Largo Padre Inácio Gomes, é um templo com linhas modernas, concluída nos anos 70, com projecto dos Arquitectos Mário Morais Soares e Vasco Morais Soares, sendo Pároco o Pe António Inácio Gomes. No seu interior destacam-se, pela sua qualidade intrínseca e pelo prestígio dos seus criadores, o Sacrário e o Cristo Crucificado (Mestre Júlio Resende e Escultor Zulmiro de Carvalho).
Em 18 de Junho de 1989, D. Júlio Tavares Rebimbas, Arcebispo-Bispo do Porto, presidiu à sagração do altar e à dedicação desta Igreja Paroquial.
Boa tarde,
ResponderEliminarGostaria de utilizar duas imagens que estão presentes neste blog, para uma publicação sem fins lucrativos.
Será que me podiam ajudar a esclarecer as questões relacionadas com os direitos de autor e a origem das imagens?
Muito obrigado,
Francisco Neves
Contactos:
franciscocoelhoneves@gmail.com
938802548
Boa tarde,
ResponderEliminarPara o poder informar preciso de saber quais as imagens que pretende publicar.
Melhores cumprimentos
Rui Cunha
A fotografia da residência Júlio da costa era a casa do meu bisavô Antonio Júlio da costa que retornou do Brasil no princípio do século 20 e viveu nesta casa que construiu meu avô a vendeu à família Pinto De Leite durante uns bons anos não foi feita a escritura e vieram ter com meu avô Waldemar Júlio da costa muito preocupados por tal esquecimento e meu avô disse minha palavra vale mais que a escritura
ResponderEliminarMuito obrigado pelo seu comentário.
ResponderEliminarCumprimentos
Rui Cunha
Tenho,uma dúvida se meu avô vendeu à casa à família Pinto de leite ou à família Aires pereira que ficou rico com a lã Maria só escrevi por haver uma confusão com a história dessa casa com a biografia do pintor Júlio Gomes pereira da costa que nada tem a haver com essa casa sei meu bisavô era torna viagem que era natural de Trás Dos Montes. Macedo de cavaleiros casado com Rita Júlio da costa e tiveram dois filhos Waldemar Júlio da costa e Beatriz Júlio da costa temudo pelo casamento a tia de meu pai ficou as propriedades do Brasil e meu avô com a casa e os cupões do Banco do Brasil que deixaram de valer dinheiro e meu avô revoltado fez uma fogueira quais tarde pagaram uma pequena percentagem diz meu pai que era o equivalente a uma fortuna e que seu pai fez asneira ter destruído os cupões meu pai diz que o Rei D Carlos chegou a ficar nesta casa e que tinha os melhores cavalos do país e que meu avô waldemar foi o primeiro importador de automóveis Renault que os trazia por estradas da terra e atrevessavam rios num,espírito de aventura
ResponderEliminarMuito obrigado pelo seu comentário. A história faz-se com os pormenores.
ResponderEliminarBom dia,
ResponderEliminarLamento dizer-lhe que a História faz-se de factos.
A casa que o Sr. se refere nunca foi propriedade do Júlio Costa
(1853-1923) Pintor, litógrafo e professor.
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