sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

BAIRROS DA CIDADE - XXXI


2.3.6 - Bairro da Boavista - VI
Parque da Cidade


Engº Francisco Xavier Esteves ( 1864-1944) -Vereador e Presidente da C.M.P. entre 1907 e 1913

Já em 19/9/1907 o Eng. Xavier Esteves, primeiro Presidente da Câmara do Porto após a Revolução do 5 de Outubro, apresentou um plano geral de melhoramentos da cidade, entre os quais a construção de “um parque nuns bastos terrenos da Fonte da Moura, ao Norte da Avenida da Boavista, entre esta e a Estrada da Circunvalação”. Este facto vem mostrar que já, há mais de um século, este local era considerado adequado para a construção de um grande parque. Relembramos que, nesta data, embora o projecto estivesse aprovado, as obras da Boavista, neste troço, ainda não tinham começado. 


Engº. Ezequiel de Campos - 1874 - 1975

Em 1932, no "Prólogo do Plano de Urbanização da Cidade do Porto", o Engº. Ezequiel de Campos defendia a criação de um espaço verde junto à Estrada da Circunvalação. O projecto ganhou forma nos anos 40, com o arquitecto italiano Muzio, e, em 1952, aparece no "Plano Regulador da Cidade do Porto", de Antão de Almeida Garrett.



No site da CMP pode ler-se: ”Na primeira fase (de construção), de 1990 a 1993, foram disponibilizados 45 hectares localizados na parte mais oriental da área inicialmente prevista. Com a segunda fase, em 1998, o Parque estendeu-se para poente, até quase à orla marítima. 


O Parque da Cidade é o maior parque urbano do país, com uma superfície de 83 hectares de áreas verdes naturalizadas que se estendem até ao Oceano Atlântico, conferindo-lhe este facto, uma particularidade rara a nível mundial. 


(Evolução das zonas verdes do Porto do séc. XX – in Sciencedirect)

Previsto no Plano de Urbanização do Arquitecto Robert Auzelle nos anos 60, foi projectado pelo arquitecto paisagista Sidónio Pardal, tendo sido inaugurado em 1993 (1ª fase) e finalizado em 2002, com a construção da Frente Marítima.


Na sua concepção paisagística utilizam-se muitas das técnicas tradicionais da construção rural, o que confere ao parque uma expressão intemporal, naturalista e uma estrutura com grande poder de sobrevivência. 


A presença da pedra proveniente de demolições de edifícios e de outras estruturas, assume uma característica preponderante deste parque, onde a construção de muros de suporte de terras, estadias, charcos drenantes para a retenção de águas das chuvas, descarregadores de superfície dos lagos, tanques, abrigos, bordaduras de caminhos e pavimentos, criam uma ideia rural e campestre. Em 2000, foi seleccionado pela Ordem dos Engenheiros com uma das “100 obras mais notáveis construídas do século XX em Portugal.



O Núcleo Rural de Aldoar foi inaugurado em 2002, após três anos de obras de restauro e recuperação das suas quatro quintas rurais. Os espaços recuperados sob a autoria dos arquitectos João Rapagão e César Fernandes, perpetuam a memória do Porto Rural e das suas características edificadoras, respeitando a identidade patrimonial e cultural das construções. Aí, podemos encontrar vários equipamentos – um restaurante, um salão de chá com esplanada e um picadeiro para o uso do Clube de Póneis e um Centro de Educação Ambiental, onde são realizadas várias actividades no âmbito da protecção do meio ambiente, dirigidas ao público escolar em geral.



Loja de Custo-Justo



Na quinta 66, existem várias lojas de associações sem fins lucrativos que, no âmbito do “Comércio Justo”, promovem e comercializam os seus produtos oriundos principalmente da actividade artesanal e da agricultura biológica. A dinamização deste espaço permite a todos os utentes que quotidianamente frequentem o parque, usufruírem dum polo de atracção num ambiente rural e natural único na cidade.”


O Plano Auzelle, de 1962, previa para o parque a Feira Internacional e o Palácio dos Congressos. Também já lemos que se chegou a prever, nos anos 50, o Pavilhão dos Desportos, que depois veio a destruir o saudoso Palácio de Cristal.

 Nossa vivência do Parque da Cidade

Desde 1942 que sempre me atraiu o espaço agora ocupado pelo Parque da Cidade. Eram esplêndidos campos com um frondoso pinhal ao fundo e uma grande quantidade de jovens e finos choupos muito bem alinhados. Estes choupos foram, na sua maioria, abatidos há dois anos, pois alguns caíram por doença ou velhice. Viajando diariamente nos eléctricos 2. 17 ou 18, para o Passeio Alegre onde ficava o Colégio Brotero, que frequentei dos meus 7 aos 15 anos, regalava-me com aqueles campos tão bem trabalhados, de aspecto muito fértil e com a típica aldeia habitada que se via do lado Norte.



Orvalho sobre o trevo amarelo

Depois de casado, dos anos 70 em diante, ia diariamente, com ou sem minha mulher, andar pelo menos meia hora, no intervalo do almoço. Fizesse chuva ou sol, lá estávamos. Era a nossa forma de descontrair e esquecer os trabalhos e arrelias. 
Mais tarde, quando se começou a fazer o parque, íamos acompanhando as obras com o maior interesse e descobrindo qual o projecto para aquele espaço. 


Recordamo-nos que a certa altura vimos dezenas de camiões construindo um muro de terra, altíssimo, que cortava o parque a meio não permitindo a vista do mar, desde nascente. Chamávamos-lhe o muro da vergonha. Depois, com a continuação das obras, fomos verificando o que se pretendia; a barreira dos ventos marítimos para defesa da flora da parte nascente.



Assim que se iam construindo os lagos, de nascente para poente, foram aparecendo os primeiros patos. De início eram meia dúzia deles, mas tão bem adaptados que rapidamente se foram reproduzindo e frequentemente os íamos contando. Deixámos de o fazer quando certo dia chegámos à centena. Um fenómeno muito interessante, e de que não sabemos a razão, era o facto de as ninhadas iniciais serem de 7 a 13 crias (sempre em número impar!), mas a partir de certa altura, quando o número de patos se tornou considerável, começaram a ser menores e menos frequentes. Poderemos supor que a natureza se equilibra conforme a densidade.


Ganso egípcio


Galeirão - Foto de Ricardo Carvalho


foto bparentedarefoias.net


Posteriormente foram lá colocados outras espécies de aves aquáticas tais como cisnes, gansos, galinhas de água, galeirões etc…



... e um belíssimo pato mandarim.



Há poucos anos foi reconstituída no parque a antiga Fonte das Águas Férreas, que se encontrava na esquina desta rua com a da Boavista, frente à Travessa da Figueiroa e sobre a qual já tratamos quando da Rua da Boavista.


Também, vindo da Expo 98, de Lisboa, foi transferido o Pavilhão da Água, muito apreciado e visitado nos primeiros tempos, sobretudo pelos alunos das escolas,mas hoje quase ao abandono.


Outras belíssimas coisas se foram construindo, mas queremos destacar a restauração do Núcleo Rural. É na verdade um espaço maravilhoso e que completa o aspecto rústico…


Foto do blog de António Ramos

…muito enriquecido pelas milhares de pedras usadas, vindas de demolições, caminhos, etc. Quantas vezes ao olha-las  nos interrogamos qual teria sido a sua história! Seguramente história da nossa cidade; pisadas por tanta gente ou suportando a passagem de rodas e animais. O que teriam elas visto? Poesias!





É, para nós, um grandes prazer ouvirmos, em especial na Primavera, a variedade de sons das aves “apaixonadas” que nos fazem reviver os tempos de férias escolares na aldeia! E o coaxar das rãs, o límpido riacho onde tomávamos banho na nossa juventude.



Mas a nossa maior alegria é ver as centenas e, por vezes milhares de pessoas, que desfrutam daquele espaço tão saudável. Que maravilha ver tantas crianças das escolas, usualmente com chapéus de cores vivas e diferentes consoante a escola! Chegam aos magotes em autocarros de variadíssimas terras de norte a sul, mas a maioria do norte do Douro. 
Ouvimos falar espanhol, francês, inglês e outras. Ultimamente visitam-no pessoas dos países de Leste com as suas línguas características. 
Temos a certeza que a saúde física e mental da nossa cidade muito deve a este maravilhoso parque. 
Consideramos o Parque da Cidade a obra mais importante feita no Porto durante o século XX.

vídeo de Pedro do Porto


Video de Manuela de Freitas


Parque da Cidade – GoogleMaps                


Praça Gonçalves Zarco, Castelo do Queijo e Avenida da Boavista – Foto Alvão – anos 50 séc. XX

É visível, à esquerda, a zona poente do futuro Parque da Cidade e o insalubre Bairro de Xangai, onde hoje está o Sea-life. Ainda não se tinha construído o café Bela Cruz. À direita nasce a Avenida de Montevideu com seu jardim e já se encontra o palacete da família do Conde de Vizela. Mais acima, a torre da Igreja de Nevogilde. Em baixo, os belos rochedos do Castelo do Queijo.


Como não há bela sem senão, eis o chamado Edifício Transparente, talvez a construção mais feia do Porto, que, construído na Praia Internacional, veio estragar a parte poente do maravilhoso Parque da Cidade. Quem terá a coragem de o dinamitar?
                                                    

2 comentários:

  1. Boa tarde Rui,
    sou investigadora na Universidade de Aveiro onde estamos neste momento a preparar um livro que apresenta o relatório final do projeto "CLICURB – Qualidade da Atmosfera Urbana, Alterações Climáticas e Resiliência" que tem como caso de estudo a região urbana do Porto. O livro é de divulgação para o público e será distribuído gratuitamente no seminário final do projeto que decorrerá no dia 9 de Dezembro na Casa do Infante. Contacto-o no sentido de saber se poderíamos usar no livro, com as devidas referências, a fotografia aérea do Parque da Cidade que está neste seu texto.
    Grata pela atenção,

    Com os melhores cumprimentos,

    Helena Martins

    ResponderEliminar
  2. A fotografia não é minha nem conheço o autor. Por mim não ponho qualquer dificuldade..
    Rui Cunha

    ResponderEliminar