sexta-feira, 21 de novembro de 2014

CONVENTOS DE RELIGIOSOS - XIII

3.12.8 – Convento de S. Bento da Victória


Temos lido que existe uma polémica sobre o local em que foi construído este mosteiro e sua igreja em relação à antiga sinagoga.
Encontramos um estudo do frade beneditino Geraldo J. A. Coelho Dias, do Gabinete de História da Faculdade de Letras da U. P., de 2006 que vem afirmar o seguinte:



Fotografia aérea da zona da Cordoaria – de baixo para cima: Igreja da Victória, Convento e Igreja de S. Bento da Victória, Cadeia da Relação, Cordoaria, Torre dos Clérigos, Reitoria da Universidade, Igrejas do Carmo e Carmelitas, Quartel do Carmo, ICBAS, Praça Carlos Alberto.



Desenho de Joaquim Vilanova - 1833




Cadeia da Relação pegada à Igreja de S. Bento da Victória


Os frades beneditinos vieram para o Porto com a intenção de aqui fundarem um mosteiro. Cerca de 1580 ou 1581, fora fundada uma residência, chamada Casa de São Mauro. Desde 1590, aí viviam monges da Ordem e Congregação de São Bento.
Concedida em 1598 a necessária autorização régia, o projecto do convento é atribuído ao arquitecto Diogo Marques Lucas, antigo discípulo de Filipe Terzi e o mosteiro construído no junto à Porta do Olival. Os trabalhos de edificação tiveram início em 1604, arrastando-se até ao final do século.
As fases de construção e decoração decorreram entre 1604 e o início do século XVIII, resultando num majestoso complexo maneirista e barroco, conhecido não só pela sua importância religiosa e artística, mas também pelas actividades culturais, de canto e de música que aí tiveram lugar.
A Igreja começa a ser construída em 1693, e as obras prolongam-se até ao final do século XVIII. Um processo longo, que se reflecte na arquitectura, de tipologia maneirista e barroca, bem como na ornamentação da Igreja, com obras de diferentes períodos e de grande significado no contexto da história de arte portuguesa.
Em 1808, durante a Guerra Peninsular, o mosteiro é convertido em hospital militar.
Em 1834, com a extinção das ordens religiosas, o edifício foi confiscado pelo Estado. Depois dessa data funcionou como Tribunal, até 1864, e ainda como quartel, no qual se instalaram sucessivamente as tropas da Junta do Porto (1846-1847), o Regimento de Infantaria nº. 6, o Batalhão Nacional de Artilharia, o Batalhão de Caçadores nº. 9, o Batalhão de Caçadores nº. 1 e outros serviços militares.
Desocupados, o mosteiro e a sua igreja passaram para o clero secular. A igreja substituiu a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Vitória  entre 1833 e 1852, durante as obras de reconstrução desta, tendo sido depois cedida, em 1853, à Arquiconfraria do Santíssimo Imaculado Coração de Maria.
Na noite de 12 para 13 de Março de 1922, o imóvel foi atingido por um incêndio que destruiu a área ocupada pela Casa de Reclusão Militar, pelo Tribunal Militar e pelo quartel de dois regimentos (Infantaria 31 e Engenharia).
Vinte anos volvidos sobre este episódio, a igreja e parte do edifício claustral foram confiados ao mosteiro beneditino de Singeverga.
Nas décadas de oitenta e noventa do século XX, o mosteiro foi restaurado pelo IPPAR (1984-1990), o que permitiu a reinstalação de uma pequena comunidade de beneditinos, e a instalação do Arquivo Distrital do Porto e da Orquestra Sinfónica do Porto.








Foto MJFS 

No coro alto existe um belo cadeiral em talha, considerado um dos mais belos da Europa, obra concretizada entre 1716 e 1719 pelo entalhador bracarense Marceliano de Araújo, em parceria com Gabriel Rodrigues Álvares, de Landim. Nos seus espaldares estão colocados quadros policromados e que narram episódios da vida de S. Bento. 
Em O Tripeiro, Série VII. Ano XVII, Nºs. 7-8, Flórido de Vasconcelos refere-se aos baixos-relevos do Porto da seguinte forma: “Referimo-nos aos relevos narrativos, quase sempre destinados a retábulos de altares ou respaldos de cadeirais que têm sido injustificadamente esquecidos ou subalternizados, não lhes sendo consagrada a atenção que bem deveriam merecer. Trata-se de verdadeiros quadros, cuja função é paralela à das pinturas que mais geralmente ocupam aqueles locais, e correspondem à ilustração de um texto, descrevendo um facto ou uma sucessão de factos passados – ou, mais simplesmente, evocando-os, embora não de forma apenas simbólica ou alegórica. Antes e sempre, apresentando uma ou várias figuras em acção, muitas vezes revelando um fio condutor que os transforma em verdadeiras narrativas – autênticas histórias em quadradinhos “avant la lettre”.


Em O Arquivo Pitoresco, de 1840, descreve-se uma cerimónia habitual nesta igreja. 
No dia 5 de Março passava-se uma cerimónia assaz ridícula na Igreja de S. Bento da cidade do Porto. No altar colateral da direita, de hora a hora, estava um frade rezando os exorcismos e orações de levantamento de excomunhão; no fim das quais saía pela igreja abaixo batendo com umas varinhas de marmeleiro presas na extremidade de uma comprida cana, em as pessoas, que de joelhos queriam receber esta cerimónia. E como quase sempre os frades se desmandassem um pouco, deu isso lugar a algumas cenas incidentes, sendo por fim necessário ir uma guarda de polícia para a igreja, pois os frades não quiseram nunca quebrar por si, deixando de fazer a cerimónia”.
Na nossa juventude várias vezes ouvimos gritar: "merecias apanhar com um pau de marmeleiro”. Dado que o pau de marmeleiro é muito rijo era usado para castigar os escravos e crianças indisciplinadas tanto pelos pais como pelos professores. Deve-se ter em consideração que o uso do pau de marmelo era considerado um castigo corporal pesado, atendendo que era um instrumento mais doloroso que a palmatória ou o cinto. Uma sova de pau de marmeleiro podia deixar a criança sovada com marcas durante vários dias. Nós já não somos dessa época, mas sim da palmatória, que não era nada suave e a que chamávamos a “Santa Luzia dos cinco olhos”.


Porta do Claustro




A primeira pedra do Claustro Nobre foi lançada em 1608. Edifício monumental, construído em granito, o claustro é concluído no triénio de 1725-1728.
Durante as obras de 1984 a 1990 o claustro foi recuperado e coberto. Aqui de realizam concertos, festas e casamentos.


Azulejos do antigo refeitório deste convento que foram recuperados e colocados na Biblioteca Municipal.



Rua de S. Miguel, 4 – “A bela sala da livraria de que roubaram os ricos azulejos, parte dos quais foram guarnecer uma propriedade pertencente ao vizinho João Pereira Vellado, era sumptuosa” – In O Tripeiro I série, volume 2, pág 412, autor S.A. 

2 comentários:

  1. Olá
    Mais uma excelente visita guiada a um monumento da Cidade do Porto...obrigado.
    Cumprs
    Augusto

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  2. Bom dia,
    Muito obrigado pelo seu comentário.
    Cumprimentos
    Rui Cunha

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