sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

CONVENTOS DE RELIGIOSOS - XVIII

3.12.10 – Convento de Santo António da Porta de Carros - IV


Um forasteiro do Sul escreveu em 1908: 

“Uma das coisas que contribui para a melancolia do Porto é o antigo costume dos enterros à noite; este uso, especialmente de Inverno, dá uma impressão tristíssima a quem não estiver habituado a ele. Ao anoitecer, disfruta-se muitas vezes na Praça D. Pedro um espectáculo deveras lúgubre: os sinos dos Congregados dobram, atroando os ares; dentro da Igreja, grande quantidade de pessoas até à porta, com tochas acesas, assiste aos responsos; rapazinhos do Colégio dos Órfãos com seus trajes eclesiásticos, entoam cânticos fúnebres; a eça elevada deixa distinguir, mesmo da rua, o cadáver deitado no caixão, que tem as paredes desengonçadas para os lados; na rua a berlinda espera o corpo para o conduzir ao cemitério; na praça, olhando para o lado de Santo António ou para o dos Clérigos, vemos enterros subindo pelas acidentadas ruas e, à distância, o aspecto das duas longas fileiras de tochas, mexendo e treme tremeluzindo, dão-nos a impressão de que aqueles tristes cortejos têm pressa de desaparecer para sempre na eternidade. Os caixões das crianças, quer sejam conduzidos em berlinda, quer sejam levados à mão, têm sempre a tampa aberta, vendo-se o “anjinho” enfeitado de flores e muitas vezes deitado sobre grande quantidade de amêndoas e confeitos! Numa ocasião acompanhámos um enterro a pé, como são quase todos, ao Cemitério do Repouso; a noite estava chuvosa, relampejava, quando atravessamos a rua principal, por entre as duas filas de túmulos, e assistimos ao acto profundamente tétrico de meter o caixão na cova à luz de tochas, julgámo-nos transportados ao Hamlet de Shakespeare, lembrando-nos com saudade do nosso grande actor António Pedro, que tão magistralmente desempenhava o papel de coveiro.
Os enterros de dia são raros. Os cemitérios do Porto são verdadeiros jardins com grande abundância de mimosas flores, muito bem cuidados, numa ordem e asseio irrepreensíveis e possuindo artísticos e grandiosos mausoléus. As coisas fúnebres, parece não incomodarem muito os portuenses; pois se até há bilhetes postais ilustrados com vistas de ruas de cemitérios! Francamente achamos a ideia extravagante. Quem escreverá nestes postais? Talvez algum genro a saber notícias da saúde da sogra…” In O Tripeiro Volume 2, 20/5/1910.


Legenda: Aprovado – Porto na Câmara - 25/6/1838

Prolongamento da rua da Alegria pela Quinta dos Congregados, em 1838. Cruzando com a rua da Alegria, vê-se, à direita, a rua da Firmeza. 
Durante o Cerco do Porto (1832-33), esteve aqui instalada uma bateria de defesa (claramente assinalada na planta, do lado esquerdo do monte).



In O Tripeiro, Série VI, Ano XI


Veteranos do Cerco do Porto


Vista do Monte do Tadeu sobre o Porto – ao fundo Gaia e Gondomar – in Blogue A vida em Fotos



Blog A Vida em Fotos



Este é o ponto mais alto da cidade do Porto; o depósito de água da Rua da Alegria e o prédio onde se encontra, no 14º. andar, o Restaurante Portucale.


In. O Tripeiro, Série VI, Ano XI

2 comentários:

  1. Olá
    Continam as histórias da história da Cidade.
    Obrigado

    Cumps
    Augusto

    ResponderEliminar
  2. Boa tarde,
    E, se Deus nos der saúde, muitas mais sairão.
    Obrigado
    Maria José e Rui Cunha

    ResponderEliminar