3.12.11 – Convento de Santo António da Cidade - II
Real Biblioteca Pública do Porto
Primeiro local onde esteve localizada a Real Biblioteca Pública do Porto, anterior Hospício dos frades do Convento de Santo António do Vale da Piedade.
“A Real Biblioteca Pública da cidade do Porto, actual Biblioteca Municipal do Porto, foi oficialmente inaugurada no dia 9 de Julho de 1833, por D. Pedro IV, Duque de Bragança. O País e em especial a cidade do Porto, atravessava nessa altura momentos de grande instabilidade, com as lutas liberais e grandes mudanças políticas, mas mesmo assim D. Pedro mandou publicar um Decreto na "Chrónica Constitucional do Porto" onde declarava que será estabelecida nesta mui antiga e mui leal cidade do Porto, uma livraria com o título de Real Bibliotheca Publica da Cidade do Porto. O Hospício dos Franciscanos, localizado na Cordoaria, acolheu a Biblioteca que só abriu as suas portas ao público 4 de Abril de 1842…
…remontando a esta época o retrato do rei que ainda hoje se conserva na Biblioteca”. In Blogue Calçada da Miquinhas - Quadro de João Baptista Ribeiro – 1833.
Segundo Magalhães Basto, “O fundo dessa preciosíssima Biblioteca Municipal foi constituído com as livrarias de alguns dos conventos extintos, e com as de D. João de Magalhães, Bispo do Porto, de Alexandre Garrett, do Visconde de Balsemão e de outros portuenses miguelistas”.
“Consideremos o período da infância e da juventude de Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, nascido, lembra-se, em Lisboa, em 28 de Março de 1810, filho de Teodoro Cândido de Araújo e de Maria do Carmo de São Boaventura... Para compreendermos sobretudo os primeiros anos do percurso de Alexandre Herculano, não podemos desligá-lo de toda uma geração, a começar pela figura tutelar de D. Pedro, Duque de Bragança, Regente em nome de D. Maria II. Como, por várias vezes, tem sido sublinhado, o empenhamento do Monarca foi decisivo na criação e instalação da RBPP. Era uma intenção já com algum tempo de gestação e que foi, passo a passo, concretizada. Exemplo do acompanhamento direto e pessoal que D. Pedro prestava à “sua” Biblioteca é a audiência que, em 4 de agosto de 1834, concedeu, no Paço do Porto, ao 1.º Bibliotecário, Diogo de Góis Lara de Andrade, quando este lhe foi apresentar o plano de classificação e a lista de obras a adquirir para a RBPP.
Grande figura contemporânea de Herculano no período do Porto foi Almeida Garrett: o Largo dos Loios era o seu lugar de tertúlia. Ambos assumiram o papel do escritor “romântico” que às letras associa as armas. Os dois se alistaram como voluntários. Garrett pertencia ao Batalhão Académico e entregava-se, ao mesmo tempo, à escrita do romance, enquanto Herculano, dos Voluntários da Rainha, pendia mais para a História, vindo a ser dispensado do serviço militar activo, para fazer face à tarefa urgente de cuidar da biblioteca entretanto sequestrada ao Bispo do Porto...
Os documentos que conduziram à nomeação de Herculano declaram: "“começou a servir espontaneamente no arranjo de varias livrarias abandonadas em Novembro [de 1832], e por ordem de V. M. I. em Março [de 1833]"”, por conseguinte, antes da fundação da RBPP, oito e quatro meses, respectivamente. Às “livrarias abandonadas” acrescentaremos a biblioteca sequestrada a D. João de Magalhães e Avelar, Bispo do Porto. Estão, aliás, bem documentadas as preocupações da Câmara e do Governo quanto à guarda dessa preciosíssima colecção, que alcançara fama muito para além dos limites da Cidade.
Lembremos que, para além de Herculano, havia outro bibliotecário encarregado da custódia e tratamento da biblioteca pessoal do Bispo: Diogo de Góis Lara de Andrade. Em breve, ambos irão transitar para a nova Biblioteca Portuense, da qual os livros do erudito prelado serão um dos núcleos fundadores. A nomeação de Alexandre Herculano, em 17 de Julho de 1833, expressa o reconhecimento de um certo grau de especificidade quanto às habilitações literárias requeridas para o preenchimento do lugar de 2. º bibliotecário da RBPP...
É bem conhecido o facto de Alexandre Herculano, em 17 de Setembro de 1836, pedir ao Presidente da Câmara a demissão do lugar de 2. º Bibliotecário da RBPP, por, na sequência da Revolução de Setembro, ter sido chamado a jurar a Constituição de 1822, o que contrariava idêntico acto face à Carta Constitucional, três semanas antes.
1 ª. Carta de Alexandre Herculano:
Ill.mo Snr. Persuadido pela voz da íntima consciência de que não devo prestar o juramento p.a que V. S.a me convida no seu Officio de hoje, julguei também me cumpria communicar-lhe immediatamente a minha resolução. A fé que prometti guardar à Carta Constitucional da Monarquia sellei-a com as miserias do desterro e com os padecimentos e riscos de soldado, que passei na emancipação da Patria; – para a conservação de um cargo publico não sacrificarei, portanto, nem a religião do juramento, nem o orgulho que me inspiram as minhas acções passadas. Pode, assim, V. S.ª declarar a essa Ill.ma Camara que o meu lugar de Segundo Bibliothecario está vago, para que ella proponha ao Governo actual, para o preencher, qualquer outra pessoa, que por certo, melhor do que eu desempenhará as obrigações a elle annexas. – Deos guarde a V. S.ª – Porto 17 de Setembro de 1836. – Ill.mo Snr. Manoel Pereira G.es – Alexandre Herculano de Carv.º e Araújo.
2ª. Carta de Alexandre Herculano
Ex.mo Snr. Manuel da Silva Passos.
Ha um mez que o 1.º bibliothecario da Biblliotheca Publica d’esta cidade e eu fomos convocados para prestar juramento á Constituição de 1822, que então e hoje, de futuro alterada, felizmente nos regia e rege. Ambos recusamos praticar esse acto: procedimento a que, pela minha parte, me levaram as rasões que V. Ex.ª verá da resposta que dei, e que remetto inclusa. Foi logo demittido o meu collega, e eu ainda aqui estou esquecido.
Não attribuo isto a falta de equidade de V. Ex.ª porque reconheço a rectidão da sua alma e que nem odio nem affeição seriam capazes de torcer os principios de V. Ex.ª, antes o lanço á conta dos muitos cuidados e negocios que cercam a V. Ex.ª no alto cargo em que o collocou o voto unanime da Nação, e a livre escolha de S. M. a Rainha. Só da minha insignificancia me dôo, que fez não ser eu lembrado de V. Ex.ª, que a tantos, com mão profusa, tem liberalisado a honra da demissão.
Não creia V. Ex.ª que por este modo a peço; porque nem uma demissão pedira eu ao Governo actual: esta minha carta é apenas um memorial que levo á presença de V. Ex.ª como se eu fosse alheio ao caso, porém não indifferente á boa fama e gloria de V. Ex.ª.
A Providencia se não esqueça de V. Ex.ª, nem de nós, como todos precisamos para que Portugal seja salvo. - Porto 19 de Outubro de 1836.
(a) Alexandre Herculano de Carvalho e Araujo”.
In Alexandre Herculano e a Real Biblioteca Pública do Porto: um caso exemplar, por Luis Cabral
Catálogos de livros feitos por Alexandre Herculano
Biblioteca Municipal do Porto
“Mas foi o antigo convento de Santo António, construído no século XVIII, doado à Câmara em 1839, que deu lugar a um edifício repleto de histórias e um sem fim de obras literárias. Os fundos primitivos foram constituídos pelas obras pertencentes às bibliotecas dos Conventos, incorporadas nos bens nacionais na sequência da legislação do Governo Liberal que suprimiu as Ordens e as Congregações religiosas, pelas colecções "sequestradas" a particulares conservadores, e também com um exemplar de toda e qualquer obra impressa em Portugal. Ao longo dos anos as colecções da Biblioteca foram sendo sucessivamente enriquecidas por doações, permutas e aquisições. Em 1876, D. Luís transformou-a em Biblioteca Municipal. É uma das três principais Bibliotecas do País, sendo a maior e a mais antiga Biblioteca Pública Municipal Portuguesa, assumindo graças à riqueza do seu espólio, um carácter nacional e mesmo internacional, o que transcende o papel comum de uma biblioteca dita Municipal. Entrando na Biblioteca somos confrontados com mais de 20 quilómetros de livros para percorrer, cerca de um milhão e trezentos mil documentos, divididos em três pisos”. In blogue Calçada da Miquinhas.
Azulejos vindos do refeitório do Convento de S. Bento da Victória
séc. XVII
séc. XVII
séc. XV-XVI
séc. XVII
séc. XVII
séc. XVII
As seis fotos de azulejos acima, dos séc. XV a XVII, foram colhidas no blogue Casos e Acasos da Vida - no final do texto existe o seguinte comentário, feito com o pseudónimo de Calandrónio: “Os painéis de azulejaria sevilhana de aresta, do inicio do século XVI, pertenceram, com toda a probabilidade, ao Convento da Conceição de Beja. Teriam sido enviados de Beja para o Porto, em caixotes, via caminho de ferro, no inicio do século XX, conforme documento (carta manuscrita) que possuímos, escrita pelo então presidente do município portuense ao governador civil de Beja. No documento consta o facto de tais preciosidades serem desconhecidas das gentes do Porto e pergunta-se se ainda poderão ser enviados mais alguns dos caixotes que ficaram em Beja, com parte dos azulejos da riquíssima sala do capítulo do referido convento da Conceição.
Esta adenda tem somente o fim de repor a verdade sobre a origem desses azulejos. Abraço, Leonel Borrela”.
Olá
ResponderEliminarObrigado por partilhar mais esta peça da História do Porto e..
...Votos de um Santo Natal e um 2015 com muitas e boas histórias da nossa Cidade.
Cumprs
Augusto
Boa tarde amigo,
ResponderEliminarMuito obrigado. Também lhe desejamos um Natal muito Feliz e com muita alegria. Um 2015 com muita saúde e bem estar.
Maria José e Rui