quinta-feira, 26 de outubro de 2017

TESTEMUNHOS E MEMÓRIAS SOBRE O PORTO - IV

9.4 - Visita de D. Cósimo III de Medici em 1669 - III, Texto de António Coutinho Coelho, Audiência régia no tribunal, Casas de estrangeiros no Porto, Importação e exportação para o Brasil, Sumagre, Transporte de vinho do Douro para o Porto que é exportado por Lisboa.


Tribunal e cadeia da Relação – gravura de Joaquim Vilanova - 1833

Na cidade do Porto há uma audiência régia composta por doze letrados, dos quais o chefe é o supramencionado Conde de Miranda. Há aí certos juízes chamados expedidores de penas e agravos, que tratam de causas criminais, das quais se faz apelação para o tribunal de Lisboa, chamado de Suplicação, sendo este muito semelhante àquele, e enquanto as causas cíveis não passarem de quinhentos cruzados. Há aí, além disso, um juiz da coroa real, dois pretores e outros ministros: este tribunal estende a jurisdição à comarca subordinada além da cidade e do seu distrito.


Feitoria Inglesa


Há no Porto nove casas de mercadores Ingleses, uma de Franceses e três de Holandeses e Hamburgueses misturados. De Italianos não há nenhuma. Os Portugueses são simples mestres dos do Brasil, que de seu aí não têm nada ou muito pouco. 


Engenho de açúcar no Brasil

O tráfico do Brasil é grande e faz-se de dois modos: com licença ou sem ela. Esta paga-se ao rei e aos favoritos. Quem a tem vai e volta direito àquele porto; os outros são obrigados pelo governador do Brasil a voltar com o grosso da frota e a desembarcar na Aduana de Lisboa. O fruto da permissão é poder carregar e partir antes da frota, pelo que ao chegar, mesmo que não seja muito antes dela, se põe o açúcar a preço mais alto.



Chita antiga


Levam do Porto para o Brasil infinitos panos ordinários que se fazem nas redondezas, azeites, vinhos, farinha, peixe, cordames e aguardente, e de lá trazem o que traz a frota, isto é, açúcares, etc.
Em Angola têm pouquíssimos navios e trazem pretos. Para a Índia não há qualquer comércio. Para a Espanha se manda muitíssimo açúcar, o qual vão comprar mercadores Castelhanos em dinheiro sonante. 
De Inglaterra vêm panos ordinários, baetas negras e de cor, chumbo, droguinhas e perpetuam (tecido de lã muito resistente) e outras espécies de peças de pano. As baetas vêm de Colchester, os panos de Plymouth. Destas bastam para abastecer a praça quatrocentas peças por ano, daquelas oitocentas. O lucro que se faz costuma ser de 40 por cento. 



Arbusto de sumagre sobre o Rio Douro


Sumagre em grão

Vão para Inglaterra azeite, vinho, açúcar, sumagre, que é uma erva para tratar os couros.


Mandam também com todos os riscos ouro e prata cunhada, que vendem aos aurífices de Londres.


1900

Vêm do interior pelo rio abaixo para o Porto 30 mil pipas de vinho que se distribuem por todo o Portugal, que têm de ser enviadas através de Lisboa. Porque para fora do Reino não mandam tanto como mercadoria mas simplesmente como presente. Havia nos três últimos anos de guerra um imposto de 2 cruzados por pipa, o qual foi todo para as mãos do conde do Prado como governador, com a obrigação de manter 200 cavalos divididos em duas companhias. Ele fez arrolar todos os seus servidores e os de parentes e amigos seus, nunca tendo chegado a ocasião de os fazer montar a cavalo. A permanência no Porto é mais vantajosa aos mercadores pelas menores despesas em manter as casas, pelos menores encargos no vender e no comprar, dos quais o dos rebates (deve rebater-se 8 por cento de todos os contratos feitos a favor do comprador) não existe.
A vida da pouca Nobreza que aí permanece é completamente ociosa, sem outro emprego que o de mulheres e jogo. Haverá no Porto três coches e oito ou dez cadeirinhas, mas bastantes cavalos de sela”.

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