sexta-feira, 4 de maio de 2018

TESTEMUNHOS E MEMÓRIAS SOBRE O PORTO - XXXVIII

9.38 - Memórias de uma tripeira que vive em Cascais há 20 anos - mas tem o Porto no coração. 



Ah carago, sou tripeira sim senhor!!!!
E apesar de viver cá em baixo há 20 anos e ter Cascais entranhado no meu coração para todo o sempre, e cada vez mais amar Lisboa de paixão, o meu coração há de ser sempre tripeiro!!

E enganem-se quem acha que chamar-nos tripeiros é uma ofensa! É um orgulho! Uma coisa que não se explica, sente-se!
Tal como os alfacinhas também devem sentir o mesmo. Eu não ia com a minha avó ao Chiado nem fazer compras para Campo de Ourique. Não brinquei no Jardim da Estrela nem fui lanchar à Versalhes.


Mas comprava sapatos da Heidi na Senhora da Luz, ia ao Morgado comprar presentes de Natal e uma viagem até à baixa para ir ao Bazar Paris era um dos melhores presentes que me podiam dar!



Ia ver filmes ao Pedro Cem e à missa a Cristo Rei e às Carmelitas. Comprava tigelinhas de mousse na Minhotinha e apanhava o 78 para a escola.


Comprava flores no Mercado da Foz e cigarros para a minha mãe no Ferreira. Tomava café na Juquinha e comia croissants na Doce Mar.


Cerca de 1900

Ao Domingo almoçávamos na Varanda do Sol e brincávamos nas rochas da Praia da Luz e subi vezes sem conta a estátua do Homem do Leme. Nunca entrei no Castelo do Queijo mas ia ao Sá da Bandeira ver peças.


Construía espantalhos em Serralves com a escola e ia ao primeiro Continente de todos fazer compras com a minha mãe.
Pendurava a roupa em cruzetas e usava meias calças quando estava frio. Ao Sábado íamos buscar tripas à Cufra ou à Concha d'Ouro e comia lanches na Bacelar!
A água do banho saía do cilindro e os ovos estrelados eram feitos na sertã! Chamávamos o picheleiro e comíamos bijous. Para o arroz, a minha empregada fazia um estrugido e na sopa punha-se penca! Passei a minha infância de repas e tirava catotas do nariz. Quando larguei as fraldas, mijava no pote e deve ter sido nessa altura que fui para o Centrinho (em Nevogilde).



Os azeiteiros usavam palitos no canto da boca e iam passear para a avenida ao Domingo. E quando jogava o Boavista, não se conseguia estacionar em minha casa.
O Pedro Begonha usava T-shirt preta fosse Verão ou Inverno e o Daniel era um anão que andava sempre por ali.
O leiteiro, o peixeiro e o padeiro deixavam os sacos na porta de casa e a minha avó obrigava-me a dar um beijinho à senhora que vendia couves num carrinho de mão. (Ela tinha barba, 4 verrugas e não tinha dentes!!).


Os gunas andavam sempre pendurados no eléctrico e tínhamos de fugir deles quando nos atiravam pedras.
Festejávamos o São João com alhos e martelos e em Agosto íamos à procissão do São Bartolomeu. 


Augusto Leite - a célebre "mercearia" da Foz do Douro



Íamos ao Augusto Leite comprar bicos de pato e ao Ténis comer filetes com salada russa. Comia iscas de bacalhau e os totós eram uns lorpas.
As empregadas tratavam-nos por "menina" dos 0 aos 88 anos e íamos à Brasília comprar roupa na Cenoura.
Amo Lisboa de paixão! Cada vez mais!!! E não! Não andei no Pedro Nunes nem ia às Amoreiras fazer compras. Mas tenho muito orgulho em ter este sangue nortenho e murcão! Em dizer carago à boca cheia, em chamarem-me gaja sem ficar ofendida e fazer vénias ao meu FCP! Não somos bichos, só somos orgulhosos em ser tripeiros!!
In Facebook – 2015

Porto Portugal Some Impressions 2015 - Nico Ruijter
https://www.youtube.com/watch?v=YHVjR3IHsgk

Estudantes testemunham a sua estadia no Porto
https://www.jn.pt/nacional/especial/interior/tripeiros--do-mundo-9204324.html 

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