sábado, 22 de dezembro de 2012

BAIRROS DA CIDADE - XXIV

2.3.4 - Bairro de Miragaia - II
Rua Arménia
Na segunda metade do século XV, instalou-se no Porto um grupo de arménios em busca de refúgio após a queda de Constantinopla diante do exército otomano, em 1453. Estes imigrantes trouxeram consigo as relíquias de São Pantaleão, martirizado em Nicomédia em 305, que foi feito patrono do Porto. José Ferrão Afonso em O Tripeiro, Série VII, Ano XXIV, nº. 6, refere um artigo de João Soalheiro em que este relaciona “este evento com a saga dos filhos do Regente D. Pedro, D. João e D. Jaime. O primeiro seria Cardeal, tendo sido entre outras dignidades a de Bispo de Paphos, em Chipre; o segundo casou com Carlota de Lusignan, herdeira do trono do mesmo reino e Rainha da Arménia. Ambos se integram assim na política nacional de cruzada contra os turcos e o interesse demonstrado por D. João II, seu sobrinho, pelas relíquias portuenses de S. Pantaleão estaria, desse modo, justificado.” Estas relíquias foram depositadas na Igreja de Miragaia, em cofre de prata lavrada oferecido por D. Manuel I, para dar cumprimento a uma das últimas disposições do seu antecessor, D. João II. Mais tarde, em 12 de Dezembro de1499, as mesmas foram transferidas para a Sé do Porto por determinação do bispo, D. Diogo de Sousa.
 

Antiga fábrica dos chumbinhos para armas – Deitava-se chumbo derretido do andar superior que, ao cair, se transformava em pequenos grãos, como a chuva. Caíam num tanque de água que os solidificava. "Esta fábrica foi instalada cerca de 1880 por José Pereira Cardoso na Rua de S. Francisco, em pleno Centro Histórico. Tem cerca de 45 m. de altura"  Foto e itálico do blog A Vida em Fotos. 


A Fábrica de Louças de Miragaia foi fundada em 1775 por João da Rocha (comerciante emigrado na Baía onde fez fortuna) e seu sobrinho João Bento da Rocha, naturais de Sabadim, Arcos de Valdevez, debaixo da direcção do Mestre Sebastião Lopes Gavicho. Com estes homens inicia-se uma verdadeira "dinastia" de industriais cerâmicos - os "Rocha de Miragaia" - que introduziram inovações como a produção de louça em formas (1827-1830) e chegaram mesmo a explorar, em determinados momentos, as fábricas concorrentes: Massarelos (1819-1833), Santo António de Vale da Piedade (1825-1844) e a do Cavaquinho (1845). A fábrica ocupava uma área bastante extensa como se pode ver na gravura. Situava-se na Rua da Esperança, contígua à Igreja de S. Pedro de Miragaia e esteve em laboração durante 77 anos, tendo a sua actividade sido interrompida apenas durante as invasões francesas e, posteriormente, no período das lutas liberais.





Produtos e marcas de Miragaia


Passeio das Virtudes – vista para poente

Casa das Sereias


Casa das Sereias - porta principal

Em O Tripeiro, 7ª. série, Ano XXI, nº. 12, Helena Langford intitula a família construtora desta casa de Portocarreiro, e não Portocarrero como sempre tínhamos lido. A casa foi começada por João Portecarrero cerca de 1750. “Casou com D. Vitória Bandão da Cunha… teve 2 filhos. Manuel, o mais velho, morreu afogado no Douro numa viagem de Melres para o Porto sem deixar descendência e seu irmão Francisco que lhe sucedeu como herdeiro. Conta a lenda que citava amiudadas vezes, ao olhar para o Douro, a celebre frase: ”Ah! rio, rio…que a meu irmão mataste a sede e a mim a fome e o frio.” Dado não ter descendência foi herdeira uma sua irmã, cujo marido foi assassinado pelos mlitares Soult quando da invasão de 28-3-1809. Também o seu filho João teve o mesmo dramático fim em 21 de Março, morto barbaramente pela insurreição do povo contra os que se dizia serem jacobinos. Desde 1955 esta casa pertence às religiosas do Instituto Filhas da Caridade Canossianas Missionárias, onde funciona um ATL com mais de duzentas crianças.


Bandeirinha da saúde – Os barcos, chegando em frente a esta bandeirinha, aguardavam a inspecção sanitária e só depois podiam seguir para os cais da cidade. Esta construção foi executada “em 1633 pelo pedreiro Bastião Fernandes que recebeu 180 rs. pelo trabalho. (O Tripeiro, série VI, anoV). Fica ao lado do Palácio das Sereias.



“Em Setembro de 1856, suspeitos de agentes de febre amarela, o conselho de saúde pública…determinou que 12 embarcações…saíssem da barra. 8 saíram. A barca Lima e o brigue S. José já se consideravam perdidos…” O Tripeiro Série V, ano II. Na fotografia vêm-se os dois barcos afundando-se.
O arquitecto inglês, em visita ao Porto em 1789, descreve esta inspecção da seguinte forma: "A rapidez da corrente impediu-nos durante três dias de receber a visita dos oficiais da alfândega, visita antes da qual é proibido, a quem quer que seja, descer em terra, sob pena de prisão. Estas visitas têm uma dupla finalidade. A primeira, procurar e confiscar as mercadorias de contrabando; a segunda, examinar e indagar do estado de saúde dos passageiros. Pelo fim da tarde do quarto dia, três oficiais, acompanhados de um intérprete que, com um tom de autoridade ordenou a todos os que tinham tabaco e sabão que fizessem deles uma exacta declaração. Ordem à qual nos apressámos a obedecer. Mas como o nosso Capitão respeitava as leis do País, não havia permitido que tivéssemos embarcado mercadorias proibidas a bordo, salvo uma pequena porção das acima referidas para nosso uso particular por isso, nada nos foi tomado. Devo dizer, em abono destes oficiais, que eles cumprem os seus deveres com tão grande honestidade, que a sua inspecção se assemelha mais a uma visita de amizade do que a uma busca de polícia. Os viajantes que já passaram pelas mãos dos oficiais da alfândega inglesa dificilmente concebem que exista honestidade entre os homens desta classe. Acabada a visita dos comissários esperávamos a do médico quando, encontrando-se este indisposto, nos enviou um seu representante. A primeira operação deste filho ilegítimo de Esculápio foi de ordenar a todas as pessoas da embarcação de subirem à coberta do navio, ao mesmo tempo que os observava da margem, onde se havia instalado ao vento e à distância de 200 vergas de nós. Depois de um ou dois lances de olho, tomou o tabaco e, empertigando a cabeça, pronunciou solenemente, a sentença seguinte: Eu, certifico que está tudo de saúde. Que ele devesse esses conhecimentos seja à perspicácia de seu espírito seja à dos seus órgão visuais ou que tenha pura e simplesmente adivinhado a coisa, não é menos certo que o próprio Hipócrates não teria feito um juízo melhor”. Em O Tripeiro, série VII, Ano XVII, nº. 12.

O nome da Rua da Restauração esteve ou está envolvido em polémica pois, Eugénio Andrea da Cunha Freitas afirma que o seu nome se refere ao “ restabelecimento do governo constitucional e não à data da Independência de 1640”. Já Luis Miguel Queirós diz que se refere à revolução desta data. Iniciada a sua abertura em 1816, foi muito demorada a sua finalização, pois as obras foram muito longas por ser necessário romper a enorme pedreira da Torre da Marca, no Palácio de Cristal. Foi aberta “pelo meio do campo da Agra, pertença do casal do Robalo (onde se edificou o Hospital de Santo António) …iria ligar a Alameda de Massarelos com a Rua do Rosário”. Eugénio Andrea da Cunha Freitas – Toponímia Portuense. Chamou-se Rua de D. Miguel I até 1832. Após a derrota dos absolutistas tomou o nome actual.
Em 1841 a antiga casa dos Carrancas, no largo do Viriato, foi destruída para facilitar a continuação até à Cordoaria, no lado sul do hospital. Só na planta de Perry Frederico Gavazzo Vidal, de 1865, se pode ver a rua já aberta da Cordoaria à Esplanada de Massarelos.


Alameda de Massarelos


O “americano” desceu, da Cordoaria até à Alameda de Massarelos, pela primeira vez em 1873. Posteriormente seguia, pela marginal, até Matosinhos. Este é o único que existe no museu. Ver mais pormenores e história em lugar próprio.

Em 1895 esta linha foi electrificada. A empresa adaptou os americanos à tracção eléctrica.


António da Silva Monteiro - Conde de Silva Monteiro - (1822-1885)


Palacete Silva Monteiro na Rua da Restauração.




Uma das mais luxuosas casas do Porto do séc. XIX era o Palacete do Conde Silva Monteiro, onde está hoje instalada a Casa do Vinho Verde. António da Silva Monteiro (1822/1885) foi para o Rio da Janeiro com 12 anos. Aí se tornou um próspero comerciante e capitalista. Forneceu grande quantidades de mercadorias durante a guerra entre o Brasil e o Paraguai. Regressado, contribuiu com largos haveres para as escolas de Lordelo e Miragaia. Presidiu aos B. V. do Porto, ao Palácio de Cristal e à Associação Comercial. Foi vice-Presidente da C. M. P.

Porto, 100 anos na vida da Cidade – fotos de José Serafim Pereira
Fotos antigas do início do séc. XX

 

1 comentário:

  1. Do nosso amigo Luiz Barata da Rocha recebemos um valioso comentário sobre a ligação da sua família à Fabrica de louça de Miragaia que abaixo refiro.
    Caro Rui,
    O que contei já tinha sido publicado, anteriormente.
    Há um par anos, tinha pedido a um genealogista de Lisboa, Engº António de Mattos e Silva, para elaborar as minhas Árvores de Costados, pelo lado paterno.
    Veio trazer-me o seu trabalho em Novembro do ano passado.
    Foi através dele que fiquei a saber ser descendente dos “ Rochas de Miragaia “.
    E, ao rever o livro “ Cerâmica Artística Portuense dos séculos XVIII e XIX”, que herdámos, verifiquei que Vasco Valente já tinha publicado, nos anos 40, um esquema genealógico dos Rochas de Miragaia ( cinco gerações de ceramistas).
    Também o Museu Soares dos Reis publicou um catálogo para a exposição “ Fábrica de Louça de Miragaia”, que esteve patente no Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, em Março-Junho 2009, onde aquele esquema foi reproduzido.
    Margarida Rebelo Correia, Comissária da exposição, que viemos a conhecer, no ano passado, no Museu Soares dos Reis, julgava que José Bento da Rocha, meu trisavô não tinha tido descendência. Quando me apresentei, foi uma surpresa para ela estar perante um descendente directo dos "Rochas de Miragaia”.
    Pesquisei depois na internet e encontrei uma referência a um livro “ Os Borges da Rocha da Miragaia”, escrito pelo brasileiro Jorge Appel Soirefmann e pelo açoriano, historiador nascido na Terceira, Dr. Jorge Eduardo de Abreu Pamplona Forjaz, ambos descendentes desta família.
    Travei conhecimento com Jorge Forjaz, em 2014, em Angra do Heroísmo, que, entretanto, já esteve em nossa casa com Margarida, sua Mulher, e que nos trata agora por “primos”.
    Um abraço
    Luiz


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