domingo, 9 de março de 2014

VÍVERES QUE ANUALMENTE SE GASTAM NA CIDADE - VI

3.9 - Consumo de frutas e legumes - II


Torre e Igreja dos Clérigos, Rua de S. Filipe de Nery e entrada superior do Mercado do Anjo 

Antes de tratarmos em mais pormenor do principal mercado do Porto dos séc XIX e XX, o Mercado do Anjo, entendemos ser importante apresentar as ruas, construções e comércio que houve à sua volta , e alguns que ainda existem. O principal monumento desta área é a Igreja e Torre dos Clérigos, de que trataremos em local próprio. 

“A rua ainda não tinha a designação actual Rua de S. Filipe de Nery, em alusão ao patrono da congregação que se instalou naquele templo: Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia, S. Pedro ad vincula e S. Filipe de Nery, do Socorro dos Clérigos Pobres da Cidade do Porto. 
Em tempos muito recuados, a actual Rua de S. Filipe de Nery, que em 1864 se denominava, somente, Rua de S. Filipe, era um simples caminho que corria ao longo de um terreno conhecido pelo Adro Antigo dos Pobres ou Adro dos Enforcados por ser ali que se enterravam os facínoras que morriam na forca e os presos que faleciam nas celas da cadeia da Relação”. Germano Silva.


“Conta uma lenda que, viajando D. Afonso Henriques, em Novembro de 1153, na companhia da rainha D. Mafalda, de Coimbra para Guimarães, ao passar no sítio do Olival, então fora da cidade do Porto, a égua em que a rainha seguia, caiu subitamente num barranco. O monarca, naquele momento de aflição, invocou a protecção de S. Miguel o Anjo, de quem era devoto e como a rainha nada tivesse sofrido, mandou erigir, naquele mesmo sítio, uma capela em honra do protector. Foi junto a esta ermida que no ano de 1661, uma virtuosa senhora portuense, D. Helena Pereira, natural da freguesia da Vitória, tendo ficado viúva, construiu um recolhimento para "viúvas honestas" e "meninas órfãs" a que deu o nome de Recolhimento de S. Miguel o Anjo, em memória da capela que ali existia. Esta instituição acabou por ser abandonada com a extinção das ordens religiosas em 1834 e o terreno que ocupara foi aproveitado pela Câmara para a construção do mercado que tomou o nome de velhinha e lendária Ermida - o Anjo. 
Foi inaugurado em 9 de Julho de 1839, para comemorar a entrada do Exército de D. Pedro no Porto seis anos antes. 
A escolha do local para a construção do mercado, o terreno do antigo Recolhimento do Anjo não foi feito ao acaso. A Câmara, ao seleccionar o sítio em causa, procurou corresponder a uma antiga directiva municipal segundo a qual "os mercados públicos devem ser construídos em praças ou lugares desembaraçados em que se possam depositar as fazendas e se possam livremente vender sem incómodo dos vendedores e compradores…"
Para o Mercado do Anjo foram também transferidas, nos começos do século XX, as vendedeiras de pão que tinham as suas bancas na então chamada Praça da feira do Pão, a actual Praça de Guilherme Gomes Fernandes. Foram ocupar a parte sul do mercado. Em 1911 a Câmara transferiu para o Mercado do Anjo as vendedeiras de flores que tinham o seu mercado específico ao cimo da Rua dos Clérigos. Desapareceu já nos nossos dias, em 1952.” Resumo de um artigo do JN de 25 de Abril de 2010


O mesmo local em 1953 


Ferros Velhos - Foto Alvão - Tirada de Norte para Sul


Foto Arnaldo Soares – tirada de Sul para Norte. 

À direita está uma loja de venda de ferragens e calçado e à esquerda roupas dependuradas, tal como ainda hoje vemos nas nossas feiras. De notar os frondosos plátanos que, com a sua sombra protegiam vendedores e compradores.
Os “Ferros Velhos” foram desde meados do século XIX um pitoresco mercado do Porto, tipo feira da ladra, onde se vendiam toda a espécie de artigos novos e usados. Situava-se no Largo do Correio, hoje Rua Cândido dos Reis, e ocupava a parte nascente da cerca do Convento das Carmelitas.
Firmino Pereira, em “O Porto d’Outros Tempos” (1914) escreve o seguinte: “ Essa feira permanente de farrapos e cacos era ao mesmo tempo divertida e repugnante. O Porto varria para ali o lixo caseiro, que a miséria ia depois procurar, como um cão vadio procura um osso entre a imundície... Nas barracas encostadas ao muro e nas bancas colocadas no largo, expunha-se à venda tudo quanto a mais caprichosa fantasia pudesse inventar e apetecer: roupas de homem e de mulher, livros, fechaduras, tachos, calçado, bacias, grades, colchões, espelhos, tapetes, cortinas, pregos, ferros de brunir, lavatórios, cadeiras, armários, louças, chapéus, espadins, candeias, tabuleiros, vidraças, portas, caixas, baús, mesas, pistolas, bacamartes, vestuários completos do século XVIII, chapéus armados, retratos, paisagens, sobre casacas e capotes do tempo da revolução de 20 e dos patriotas da Junta… Toda esta farrapada e todos estes cacos se alastravam pelo chão, pelas mesas ou dependurados nas barracas. Esse bazar permanente que abastecia a população miserável era também o “prego” dos infelizes que, para acudir a uma necessidade mais urgente, iam ali empenhar ou vender o que, de momento, podiam mais facilmente dispensar”. 
Já há bastantes anos a câmara pretendia acabar com esta feira, mas, talvez por razões políticas,só em de Abril de 1894 foi declarada a sua extinção. Porém, foi preciso esperar por 1904 para serem demolidas as últimas barracas porque alguns mercadores não queriam abandonar o seu espaço.


Convento das Carmelitas Descalças – Foto de Antero Seabra – 1857/1864 - trataremos deste convento em local próprio.


Convento das Carmelitas Descalças em ruína e, á direita, o que resta dos barracões da Cozinha Económica.





Nos barracões acima indicados esteve, desde 1875, o Teatro de Variedades. Em 1892 a Companhia de Utilidade Doméstica, subsidiada pela Câmara, iniciou a Cozinha Económica. Servia cerca de 1000 refeições por dia aos operários a preços reduzidos. Eram fornecidas fichas com os preços dos pratos, como acima se vê. Anos depois, por 60 reis, servia merendas aos empregados comerciais.


“Quanto à Rua das Carmelitas, sabe-se, pela leitura do relatório camarário atrás citado, que a Câmara do Porto solicitara, naquele mesmo ano (1838) autorização à rainha - era a D. Maria II- para proceder ao seu alinhamento. Isto significa, naturalmente, que a artéria sofreu algumas alterações. O que é verdade.
À época em foi solicitado referido alinhamento, a rua, bastante mais estreita do que é actualmente, subia em curva por entre duas altas paredes, uma das quais delimitava a cerca do Convento de S. José e Santa Teresa de Carmelitas Descalças.
Na petição que a edilidade enviou à rainha refere-se, concretamente, que o alinhamento era para se feito nomeadamente "…defronte do correio". Há para isto uma explicação depois da extinção, em 1834, das Ordens Religiosas, os edifícios dos antigos mosteiros, ou foram vendidos a particulares, em hasta pública, ou foram ocupados por serviços do Estado”. Germano Silva


Rua das Carmelitas – à esquerda vê-se um urinol de rua.


Rua das Carmelitas – Carnaval de 1905


Rua das Carmelitas e de Cândido dos Reis em 1916.


Rua das Carmelitas - Séc. XIX – Em 1904, quando se decidiu destruir as casas do lado direito e fazer o Bairro das Carmelitas, todas esta frondosas árvores foram abatidas.


Rua das Carmelitas – á direita o mercado do Anjo e à esquerda os Armazéns do Anjo – foto de 1911


Praça de Lisboa – o mesmo local da foto acima mais de 100 anos depois.


Armazéns do Anjo no seu local inicial.


Localizados inicialmente a meio da Rua das Carmelitas, foi depois mudada para um prédio maior e mais moderno na esquina desta rua com a Praça Gomes Teixeira – informação de Germano Silva


Rua das Carmelitas nos anos 50 do séc. XX – as mulheres ainda transportavam os cestos na cabeça.



Armazéns da Capella – 1904 – O nome desta casa vem do facto de a sua primeira localização ter sido no local onde esteve a Capela do Convento das Carmelitas Descalças, na actual Praça Guilherme Gomes Fernandes, então Praça do Calvário Velho e mais tarde Praça do Pão, construída em 1704. Em 1904 mudou-se para a esquina da Rua das Carmelitas com a Rua Cândido dos Reis.



Nos armazéns Fernandes, Mattos & Companhia, onde outrora se vendiam tecidos, fazendas e colchas, vendem-se, hoje, bordados e têxteis para o lar e objectos decorativos. A empresa, fundada em 1886, teve de se adaptar aos tempos modernos. O primeiro andar está alugado aos donos da loja A Vida Portuguesa.



Interior em 1806 - Foi nesta livraria, ainda Chardron, que vários dos melhores escritores portugueses publicaram os seus livros, nomeadamente Eça de Queiroz e Camilo.





Frente ao Mercado do Anjo.na Rua das Carmelitas, havia casas de retalho famosas - A Livraria Lello remonta à fundação da "Livraria Internacional de Ernesto Chardron", em 1869. Em 30 de Junho de 1894 Mathieux Lugan vendeu a antiga Livraria Chardron a José Pinto de Sousa Lello que, associado ao seu irmão António Lello, manteve a Chardron com o mesmo nome comercial. Com projecto do engenheiro Francisco Xavier Esteves, no dia 13 de Janeiro de 1906 inaugurou-se o novo edifício da Livraria Lello, no número 144 da Rua das Carmelitas.


Galeria de Paris - casa Arte Nova


Janela – foto de Francisco Oliveira



Janelas Arte Nova – Rua de Cândido dos Reis – foto Porto Monumental e Artístico


Ruas das Carmelitas, Cândido dos Reis, Galeria de Paris e Praça de Lisboa – foto de Conceição Luz


Rua de Cândido dos Reis – local dos antigos Ferros Velhos


Rua do Conde de Vizela – antiga Rua do Correio


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