quinta-feira, 20 de março de 2014

VÍVERES QUE ANUALMENTE SE GASTAM NA CIDADE - IX

3.9 - Frutas e legumes - V


Mercado do Bolhão - após 1850  
Bolhão significa "bolha grande", e o seu nome era devido ao facto de o local ser um lameiro, e no seu centro existir uma nascente. Há dois séculos fazia parte de uma quinta, propriedade dos condes de S. Martinho, onde serpenteavam ribeiros e algumas serventias, vielas e ruelas já desaparecidas. Foi só em 1837 que a Câmara do Porto mandou ali construir um mercado. Este tanque era rodeado por 2 rampas com acesso à Rua de Fernandes Tomaz.



Mercado do Bolhão – Inaugurado em 1839
Pretendendo a câmara acabar com todas as feiras e mercados de rua, foi aprovada a construção do Mercado do Bolhão, que só não acabava com os mercados da Ribeira e do Anjo. 
Em quase todas as praças e terreiros havia, nos séc. XVIII e XIX, feira pública às terças e Sábados de cada semana: Praça dos Voluntários da Raínha (hoje Gomes Teixeira), Ferradores (Carlos Alberto), Santo Ovídio (Praça da República), S. Lázaro, Terreiro de S. Domingos, Praça de S. Bento das Freiras (Almeida Garrett), Praça do Comércio, Ribeira, Miragaia e S. Roque.  Na Praça das Hortas (depois, de D. Pedro e hoje da Liberdade) no Largo do Olival e Praça de Santa Teresa (Guilherme Gomes Fernandes) havia mercado todos os dias.

De um texto da SRH – Sociedade de Reabilitação Humana:
“No princípio era a praça. E da praça se fez mercado.“Olha: bais à praça? traz-me um molho de coubes, se ouber!”. 
1837 - projecto do Arq. Joaquim da Costa Lima Júnior: uma nova praça na cidade, incluindo o desenho dos alçados das ruas contíguas e escadaria de acesso a partir da actual Rua Fernandes Tomás, mais ou menos no sitio onde ainda está a escada do Mercado. O sítio permanece, a sua topografia genérica idem. A ideia era que esta “praça” fosse um concentrado de outros “mercados avulsos” de rua, mercados estes que não cabiam no chamado “mercado do Anjo. Disciplinar pois, as vendas de rua então existentes.
1850 – A escadaria não havia sido construída. Reprojectou-se e construiu-se entretanto um conjunto de rampas, bem mais funcionais dado o movimento de cargas e descargas de mercearias várias e afluência de freguesia.
1853 – Existiam barracas de madeira que a câmara manda reconstruir e realinhar com novo desenho (resguardo de inverno para os vendedores, onde ainda hoje estão os cobertos do r/c do mercado actual - mesmo sitio, mesmo desenho genérico) ,existiam árvores velhas agora substituídas por novas e foram feitas obras de encanamento de água para a fonte da praça (mesmo sitio, mesma topografia ainda hoje).
1881 – O sucesso urbano e popular da praça do Bolhão, a sua grande distância face á então “periferia” da cidade, e as inúmeras reivindicações de aproximação do mercado a estas populações originam uma proposta pública de uma rede de pequenos mercados ( “de proximidade” diríamos hoje), e que seriam feitos em Cedofeita, Bonfim e Paranhos – 1 perto da Igreja de Cedofeita, 1 no campo 24 de Agosto e 1 no Largo da Aguardente ( Jardim do Marquês). Apenas estes três foram construídos …e posteriormente desmantelados.
1897 - Após a crise política de 1890 (ultimatum inglês), nova vereação manda desmontar os mercadinhos então construídos… Desde então as vereações apenas regulamentam e melhoram o funcionamento de algumas destas estruturas existentes.
1907 – 1910 –1914 – Arqº Correia da Silva - Novo projecto para “recobrir” a praça do Bolhão, cortar as árvores e transformar assim a praça em mercado. Espaço público sim, mas em forma de edifício. O Engº Xavier Esteves, autor da cobertura “de crystal” pousada no edifício do mercado foi o introdutor do betão armado em Portugal, porém projectou e defendeu a ferro e vidro a cobertura do mercado”.
Neste mercado vendia-se de tudo. Tinha lojas no exterior e bancas cobertas no interior desde 1853. Ali se realizava cerca de 1851 a Feira dos Moços, vinda da Praça de Carlos Alberto. 


Gravura de J. Holland - 1838 - feira do Largo do Olival
Em sessão da Câmara Municipal de Novembro de 1841 foi deliberado que todos os mercados avulso bem como a feira de plantas e flores fossem transferidos para o mercado do Bolhão.


Planta do Mercado do Bolhão de 1892 – por cima da palavra "Rua" ficava a Estamparia do Bolhão, a que abaixo nos referiremos, e que ardeu em Julho de 1924 – por baixo da letra T de Thomaz, no quadrado escuro, ficava a Memória a D. Pedro V, a que abaixo aludiremos – por baixo das rampas ficava o tanque alimentado pela nascente (bolhão), que se vê na primeira foto deste lançamento – do lado esquerdo do mercado ficava a rua que se vê na foto abaixo – mais à esquerda foi desenhado o traçado do prolongamento da Rua de Sá da Bandeira entre as Ruas Formosa e Fernandes Tomás, que se pode ver 3 fotos abaixo tal como era em 1949.


Rua que ficava no lado Ocidental do Mercado do Bolhão – na parte inferior ficava a Rua Formosa - foto anterior a 1914 – em algumas das casas à esquerda ficavam as cocheiras do Americano da Cª. Carris de Ferro do Porto. Os muares eram trazidos para o início da rua e aí trocados pelos que deixavam o serviço. De tal forma estavam habituados, os muares, dirigiam-se directamente para as cocheiras sem haver necessidade de serem guiados por homens. Nesta foto ainda se vê em cima, a Estamparia do Bolhão. A foto foi tirada do 1º. Andar de uma casa da Rua Formosa, marcada com "A" na planta acima.


Mercado do Bolhão – anteprojecto de Casimiro Barbosa – 1910


Mesmo local de duas fotos acima – as casas e o Mercado do Bolhão foram destruídos e aberta a Rua de Sá da Bandeira entre as Rua Formosa e Fernandes Tomás, e reconstruído em 1914 – foto de 1949


Mercado do Bolhão em 1915 – Projecto do arq. Correia da Silva – Inaugurado em Julho de 1915 - Dada a sua grandiosidade o povo passou a chamar-lhe o "Palácio do Repolho" - Foto Alvão – vistas da Rua Formosa e Sá da Bandeira. 


No exterior da Praça do Bolhão, na esquina das Ruas de Fernandes Tomás e de Sá da Bandeira esteve a sucursal dos Armazéns do Anjo. Estes tinham a sede na Rua das Carmelitas. Pela publicidade exposta nesta casa depreende-se que, para esta zona, mandavam os artigos sobrantes e de saldo da sede, pois era uma zona mais popular. Reparar na variedade dos trajes dos personagens, que mostram profissões, estratos sociais diferentes, cestos e volumes à cabeça, pessoas apressadas e outras com todo o tempo do mundo, etc… 


Vista do lado da Rua Oriental do Bolhão, hoje Rua Alexandre Braga

Do lado oriental do antigo mercado do Bolhão existiu a rua desse nome em que havia lojas de louças e adelos e era muito pouco frequentada nos dias de semana. Porém, ao Domingo de manhã realizava-se aí a feira dos passarinhos que era muito concorrida. “Não havia portuense algum que ao Domingo, depois de tomar o seu cafezito, vestir as suas roupas domingueiras, não fosse à velha praça do mercado dar um passeiozito e visitar os passarinhos”. 
A primeira casa comercial tem escrito, sobre o toldo, "A Lacticínea".


Rua de Alexandre Braga





“13/2/1909 – O Clube Fenianos inicia as suas festas carnavalescas com a eleição da Raínha do Mercado do Bolhão, acto que reuniu muitos centos de pessoas e que decorreu, como quase sempre sucede em idênticas circunstâncias e por tratar-se, como realmente se tratava, da conquista de um trono e de um cordão de ouro, por vezes com demasiadamente virulenta animação. Das 3 candidatas ao título, Antónia Gonçalves de Oliveira conquistou o ceptro e, o que foi melhor, o cordão, oferecido pelo clube, no valor de 50$000 reis, mas, disseram as más línguas, graças à mais descarada chapelada que no referido mercado se viu...” In O Tripeiro, Série V, Ano XIV.



Excelente foto de Deolinda Keng


Vista aérea – anos 30 séc. passado  - além das Ruas Formosa, Sá da Bandeira, Alexandre Braga e Fernandes Tomás, vê-se, em cima à direita, os escombros da Estamparia do Bolhão e, à sua esquerda, a Fundição do Bolhão, que foi destruída aquando da abertura da Ruas de Sá da Bandeira entre Fernandes Tomás e Rua de Gonçalo Cristóvão. 


No local desta fundição está hoje o Palácio do Comércio - arquitectos David Moreira da Silva e Maria José Marques da Silva Martins – inaugurado em 1954 por Delfim Ferreira, Conde de Riba d'Ave - foto de Luis Santos em Olhares.sapo

Youtube – mercado do Bolhão
  https://www.youtube.com/watch?v=WAhbn8RJrmo

Caminhos da História - Joel Cleto
http://videos.sapo.pt/buNQsWIknTYqI4lNvFZE

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