segunda-feira, 20 de abril de 2015

OUTROS EDIFÍCIOS PÚBLICOS - VIII


4 . 9 – Paço Episcopal - III



Interessante texto deste postal de 1900

Pelo decreto de 13/11/1915 o Paço Episcopal foi alugado à C. M. do Porto que aí se conservou até 24/6/1957, quando passou para a Avenida dos Aliados.


Estátua do Porto quando servia de “porteiro” da C.M.P., no Terreiro da Sé, entre 1916 a 1935 

Já vem de 1293 a existência de uma estátua “Porto” ou “Pedra do Porto” que estava na Rua das Eiras e, segundo o Dr. Artur de Magalhães Basto terá passado, em 1503, para a Rua Francisca, perto dos Açougues. Sousa Reis refere-se-lhe da forma seguinte “…e sobre uma pardieira se levantava em meio relevo e muito mal trabalhado e até monstruoso homem feito de pedra…e numa mão tinha uma haste, talvez figurando a lança de um guerreiro; a esta figura chamavam O Porto”. Desconhece-se onde este Porto Velho foi parar. É possível que a estátua Porto, hoje colocada, depois de muitas bolandas, na Praça da Liberdade tenha sido baseada, pelos seus autores, nesse Porto Velho
Envolvida em polémica está a autoria estátua do Porto, de 1815. Porém, parece ter ficado definitivamente aceite que tenha sido o Mestre João da Silva. 
A estátua do Porto esteve cerca de 100 anos na frontaria da C. M. do Porto, até 1915. Demolida que foi a C.M. Porto da Praça D. Pedro, para a abertura da Avenida dos Aliados, esta estátua foi sucessivamente deslocada para vários locais. 
Primeiro para o Largo da Sé, quando em 1916 a C. M. Porto passou para o Paço Episcopal. Daqui passou para a Avenida das Tílias no Palácio de Cristal; mudada para o Largo Arnaldo Gama, na parte exterior da Muralha Fernandina, onde existiu a Porta do Sol; foi depois “despachada” de novo para o Palácio de Cristal, a “olhar” o Roseiral. Há uns anos foi posta de castigo atrás da falsa torre da Casa dos Vinte e Quatro, virada de costas para a cidade que a deveria apreciar. Já em 2013 regressou à Praça da Liberdade, local para onde foi criada. Esperemos que agora aí fique para sempre.
Germano Silva, em seu livro “Caminhos e Memórias” descreve-a da seguinte forma: “Há na estátua um pormenor para o qual pretendemos chamar à atenção do leitor por estas coisas do passado. Referimo-nos ao escudo que a figura segura na mão esquerda. Nele está gravado um brasão de armas da cidade que Armando de Matos, um especialista da matéria, considerou deveras curioso e diz porquê: “…primeiramente tem a incorrecção do elmo e timbre num brasão de domínio; em segundo lugar… não o encontro senão desta data (1802) em diante. E a notícia de que estas armas eram as do antigo Condado Portucalense não tem a menor consistência histórica…”. Outra curiosidade está nas roupagens e nos adereços. Alberto Pimentel escreveu que “a clâmide”, a lança e o escudo são gregos; o saio de correias e as grevas são romanos; o capacete não é grego nem romano, antes será um elmo de cimeira datando dos fins da idade média ou princípios da Renascença”.

José Fiacre informou-nos que o povo lhe chamava"O Malhão" e cantava a quadra:
“O Malhão da Praça nova 
tem uma lança na mão 
para matar os traidores 
que são falsos à Nação…”

O nosso leitor Sr. Ernesto Martins Vaz Ribeiro enviou-nos o seguinte importante comentário
"Permita-me, a seguinte troca de informação:
No respeitante à autoria da estátua do Porto sabe-se que foi primitivamente adjudicada a Manuel Luís Nogueira que viria a falecer, tendo a obra sido entregue a João da Silva. 
Há, de resto, um documento que prova este facto e que vem referido por Artur de Magalhães Basto:
"(...) e por ele, João da Silva Mestre Pedreiro, morador na freguesia de Pedroso, foi dito se obrigava a fazer uma figura de pedra, representado o Porto, para ser prostrada no cume da casa do Paço do Concelho, sito na Praça Nova, pela quantia de trezentos quarenta e três mil e duzentos reis, em metal, pagos em três pagamentos iguais sendo o primeiro adiantado e os demais consecutivos (...)"
Contudo este artista veio a encomendar, por subcontratação, a execução da estátua a um outro artista de nome João Joaquim Alves de Sousa Alão, escultor e santeiro.
Esta estátua marca um período muito interessante da nossa arquitectura. É o renascer da arte de Paladio, um arquitecto renascentista que os ingleses vão usar para as obras neoclássicas que se espalharam pelo Porto. Temos assim um edifício barroco com um traço claramente neoclássico, o que demonstra que a estátua foi projectada por volta 1818 quando o barroco já havia passado de moda.
João de Sousa Alão pertencia a uma família de artistas. Seu pai, Manuel Joaquim Alão, era um escultor de mérito. Juntos executam as imagens para os andores da Procissão das Cinzas para a Ordem Terceira de S. Francisco. Manuel Joaquim é ainda o autor da imagem de Cristo Ressuscitado que existe na porta do sacrário da Igreja da Ordem Terceira de S. Francisco, obra executada muito perto de 1800. Na mesma Igreja ainda hoje podem ser vistos crucifixos e anjos nos altares laterais de sua autoria, bem como as imagens de anjos na tribuna da capela-mor e ainda as estátuas da Humildade e da Penitência. Também de sua autoria há duas imagens patentes na frontaria da Igreja da Trindade.
João de Sousa Alão acaba por ir para o Brasil, executando obras que servirão o Palácio onde vivia a Família Real. Aí morre em 1837 depois de ter sido Professor da Academia Imperial das Belas Artes".


Nos anos 30 do século passado todo este casario em frente à Sé foi demolido para dar lugar ao actual Terreiro D. Afonso Henriques - Ao fundo vê-se o Mosteiro da Serra do Pilar e Gaia até ao Monte da Virgem.


À esquerda a entrada da Sé e em frente a entrada do Paço Episcopal antes das obras dos anos 30 do século passado. À direita a Capela de Nossa Senhora de Agosto da Confraria dos Alfaiates.


A Capela da Confraria de Nossa Senhora de Agosto ou dos Alfaiates ainda em frente da Sé, durante a  demolição de 1936. Começou a ser construída em 1554, mas só onze anos depois se concluiu. Os padroeiros dos alfaiates são Nª. Sª. de Agosto e São Bom Homem.


Capela dos Alfaiates no Largo Actor Dias



Em plenas demolições.


Paço Episcopal – Nicolau Nazoni teve uma influência decisiva, pelo menos, no desenho da frontaria.


Parte superior da porta principal com o brasão de D. João Rafael de Mendonça (armas dos condes de Vale dos Reis). 


Durante o cerco do Porto a parte Poente/Sul foi destruída pelos bombardeamentos das tropas miguelistas e mais tarde recuperada.


Visto de Gaia – à esquerda o Seminário Maior e a varanda de S. João de Brito

A construção do Paço Episcopal, após os anos 30 no século XVIII, exigiu a destruição total do anterior, que seria do séc. XII, e que sofreu grandes alterações posteriores, em especial no séc. XVI. É consensual que Nicolau Nasoni teve influência no seu risco e foi construído por Francisco da Silva. Após a revolução de 5 de Outubro, e com a expulsão de D. António Barroso, a Câmara Municipal do Porto ocupou o edifício até 1957. Teve obras de adaptação e a sede da Diocese regressou ao Terreiro da Sé em 1964, sob a vigência do Administrador Apostólico D. Florentino Andrade e Silva.


Sé, Casa do Cabido, Paço Episcopal, Torre da antiga Câmara reconstituída pelo Arq. Fernando Távora, Bairro da Sé e Mosteiro da Serra do Pilar – belíssima foto de António Morais Pinto. Parece-nos ter sido tirada de cima da Torre dos Clérigos.


Nesta foto é visível a Igreja de S. Lourenço (Grilos), o Seminário Maior do Porto e a Varanda de S. João de Brito - tirada de Gaia por J. Portojo.


Entrada


Escadaria nobre -1º. lanço


Segundo Lanço


Tecto da escadaria e clarabóia


Paredes da escadaria


Sala dos espelhos


Pormenor de um tecto

A maravilhosa escadaria da entrada – site da Diocese do Porto

Sala dos Espelhos – site da diocese do Porto

Visita virtual ao Paço Episcopal

Cronologia dos Bispos do Porto

6 comentários:

  1. E eu que tenho esse livro de Agostinho Rebelo da Costa e não o encontro ?...
    No meu DE UM OUTRO PORTO há uma imagem do interior da Capela dos Alfaiates...

    Continuem !

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  2. Obrigado pelo seu comentário. Do interior tenho, da antiga o altar mor, e da actual 2 do altar mor, uma delas com explicação. Não sei se serão as mesmas mas vou enviar-lhas por mail.
    O De Um Outro Porto está na net ou é um livro?

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  3. Olá
    Com este post, fiquei a saber que o «Porto» foi gente e foi guerreiro.
    Percebo agora de onde vem a tenacidade das gentes portuenses.
    Cumprs
    Augusto

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  4. Mornos é que os portuenses não são. Com razão ou sem ela sempre impuseram a sua vontade.

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  5. Ernesto Martins Vaz Ribeiro5 de novembro de 2016 às 20:05

    Permita-me, a seguinte troca de informação:
    No respeitante à autoria da estátua do Porto sabe-se que foi primitivamente adjudicada a Manuel Luís Nogueira que viria a falecer, tendo a obra sido entregue a João da Silva.
    Há, de resto, um documento que prova este facto e que vem referido por Artur de Magalhães Basto:
    "(...) e por ele, João da Silva Mestre Pedreiro, morador na freguesia de Pedroso, foi dito se obrigava a fazer uma figura de pedra, representado o Porto, para ser prostrada no cume da casa do Paço do Concelho, sito na Praça Nova, pela quantia de trezentos quarenta e três mil e duzentos reis, em metal, pagos em três pagamentos iguais sendo o primeiro adiantado e os demais consecutivos (...)"
    Contudo este artista veio a encomendar, por subcontratação, a execução da estátua a um outro artista de nome João Joaquim Alves de Sousa Alão, escultor e santeiro.
    Esta estátua marca um período muito interessante da nossa arquitectura. É o renascer da arte de Paladio, um arquitecto renascentista que os ingleses vão usar para as obras neoclássicas que se espalharam pelo Porto. Temos assim um edifício barroco com um traço claramente neoclássico, o que demonstra que a estátua foi projectada por volta 1818 quando o barroco já havia passado de moda.
    João de Sousa Alão pertencia a uma família de artistas. Seu pai, Manuel Joaquim Alão, era um escultor de mérito. Juntos executam as imagens para os andores da Procissão das Cinzas para a Ordem Terceira de S. Francisco. Manuel Joaquim é ainda o autor da imagem de Cristo Ressuscitado que existe na porta do sacrário da Igreja da Ordem Terceira de S. Francisco, obra executada muito perto de 1800. Na mesma Igreja ainda hoje podem ser vistos crucifixos e anjos nos altares laterais de sua autoria, bem como as imagens de anjos na tribuna da capela-mor e ainda as estátuas da Humildade e da Penitência. Também de sua autoria há duas imagens patentes na frontaria da Igreja da Trindade.
    João de Sousa Alão acaba por ir para o Brasil, executando obras que servirão o Palácio onde vivia a Família Real. Aí morre em 1837 depois de ter sido Professor da Academia Imperial das Belas Artes.
    Cumprimentos.

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  6. Agradecemos-lhe muito o importante comentário que nos envia e que ajudarão os leitores e melhor conhecer esta célebre estátua.
    Dado o seu contexto vamos inclui-lo no texto do lançamento.
    É para nós do maior interesse em receber ajudas e correcções dos nossos leitores.
    Cumprimentos,
    Maria José e Rui Cunha

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