segunda-feira, 7 de setembro de 2015

RIO DOURO - III

6.1.3 - De Sernancelhe a Ferreirim



Matriz, pelourinho e praça de Sernancelhe



Nave da Matriz


“Sernancelhe foi comarca de Pinhel, de Trancoso e depois de Moimenta da Beira. Foi comenda de Malta que rendia mais de 1.600$000 reis. O primeiro Marquês do Pombal era oriundo d’esta villa, pois nela nasceu seu pae, e d’ella era a sua família” In Portugal Antigo e Moderno de Pinho Leal. 


O Culto a Nossa Senhora da Lapa vem desde 1498. Ao subir a serra da Lapa encontramos um dos mais antigos e famosos santuários portugueses, que atrai peregrinos de todo o país. A capela inicial de Nossa Senhora da Lapa foi construída pelo povo logo após a aparição da imagem. Mas o culto é muito anterior, havendo quem o remeta para o século X, quando as investidas dos mouros fizeram com que a população cristã tenha escondido uma imagem da Virgem numa gruta ou "lapa" na Serra do mesmo nome, diocese de Lamego.


Capela do Santuário e capela original na rocha.


Imagem de Nossa Senhora da Lapa


Passagem estreita entre penedos - diz a lenda que só passam entre estes dois penedos quem não tiver pecados mortais!


Antiga cadeia – o actual Reitor da Lapa, Rev. Padre José Amorim, transformou este caduco edifício numa esplêndida hospedaria onde recebe sacerdotes que necessitam de descanso.


Antigo colégio dos Jesuítas, hoje centro de acolhimento dos peregrinos. A primeira pedra foi lançada em 28/6/1685 e a construção demorou algumas dezenas de anos.


“Capela oriunda da freguesia de Quintela. Foi doada por um habitante da região e mais tarde transferida pedra a pedra para a Lapa, onde actualmente, nos dias de maior afluência de peregrinos, nomeadamente nos dias de romaria, serve para a celebração da missa campal, pois com a enorme afluência de devotos o Santuário torna-se pequeno.”



O povo costumava, em momentos de grande aflição, fazer promessas a Cristo, Nossa Senhora ou Santos da sua devoção. Entre os diversos tipos de promessas contava-se o representar num quadro a graça recebida. São inúmeros os ex-votos encontrados por todo o país e o mesmo acontece no Santuário de Nossa Senhora da Lapa. O de baixo recorda o “Milagre que fez nª. Sª da lapa a João Ribeiro Santo Sisto Junior que lebou uma facada e a senhora lhe deu saúde”.

You Tube – Santuário de Nossa Senhora da Lapa - muito bom


O mosteiro da Ordem de Cister, de Tarouca, foi o primeiro fundado em território português, no séc. XII, num local de forte tradição monástica evidenciada na própria invocação do mosteiro a São João, já que, por norma, os cistercienses dedicavam as suas abadias à Virgem Maria. Uma inscrição na fachada da igreja data o início da construção de 1152, e uma outra a sua sagração em 1169. As obras dos séculos XVI e XVIII transformaram o mosteiro naquilo que hoje se pode apreciar.


A peça mais notável é sem dúvida o cadeiral barroco, da mesma época. Sobre os espaldares estão pintadas personalidades ligadas à Ordem de Cister emolduradas por um notável trabalho de talha em ouro.


Neste mosteiro encontra-se também a célebre tábua de São Pedro, da autoria de Vasco Fernandes e/ou Gaspar Vaz, de c. 1530-35, que apresenta fortes afinidades estilísticas e compositivas com um outro São Pedro, este procedente da Sé de Viseu e realizado por Vasco Fernandes, actualmente no Museu de Grão Vasco. À esquerda de S. Pedro uma referência ao encontro com Cristo quando este lhe diz Quo Vadis?, pois ia saindo de Roma. À direita o chamamento ao apostolado.

Igreja de S. João de Tarouca – vídeo
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Q5G013jvFPY

Texto sobre o Mosteiro de S. João de Tarouca

Fotos do Mosteiro de S. João de Tarouca



"Esta ponte sobre o Rio Varosa é um exemplar único deste tipo de arquitectura que conserva integralmente a torre de tripla função:
a de defesa, à entrada do couto monástico de Salzedas; a de ostentação senhorial, bem patente no alto da torre; e a da cobrança de portagem e armazenamento de produtos. Aqui fazia-se o controlo e pagamento de portagem para entrada no domínio monástico. A existência da Ponte de Ucanha já vem documentada no século XII, quando D. Afonso Henriques doou, em 1163, à viúva de Egas Moniz, D. Teresa Afonso, o couto de Algeriz (depois chamado de Salzedas), acrescentando-lhe o território de Ucanha.
Teresa Afonso, fundadora do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, doou ao convento o couto que recebera do rei e foram os monges quem mais beneficiou da velha ponte, convertida em apreciável fonte de rendimento pelos direitos de portagem que eram cobrados. A torre, com porta de acesso bem acima do nível do chão, tem 20 metros de altura e 10 de cada lado. No interior, a torre divide-se em três andares: no primeiro apenas uma fresta, no segundo em duas das faces abrem-se duas janelas geminadas e no último salientam-se quatro mata-cães, apoiados em cachorros, para defesa e ataque aos inimigos. No último andar pode avistar-se toda a aldeia e boa parte do curso do Varosa. A Vila de Ucanha preserva casas desde o período medieval. Aqui viveu Egas Moniz e aqui nasceu o etnólogo Leite Vasconcelos"


Mosteiro de Salzedas – igreja


Claustro

"O nome de Salzedas provém do latim que significa salgueiral, vegetação muito abundante no rio Varosa. Na génese da sua história está o lugar que hoje se dá o nome de Abadia Velha. Salzedas é de povoamento muito antigo, possivelmente de épocas pré-históricas. Passaram por esta Aldeia Lusitanos e Romanos. Nos séculos V e VI, estiveram presentes neste território Suevos e Visigodos e, mais tarde, no século VIII, os Muçulmanos. O Mosteiro de Salzedas pertenceu à Ordem dos monges Bernardos. Deve-se o seu início a D. Teresa Afonso, segunda mulher de Egas Moniz. Afonso Henrique, por carta de 1163 doou-lhe o Couto de Algeriz para que esta o oferecesse aos que aí habitavam sob a regra de S. Bento. D. Teresa, mãe de Afonso Henriques, viveu aí com o Infante e sua aia Teresa Afonso. O que hoje aí existe deve ser obra dos séc. XVI e XVIII".


“Considerada por muitos uma das freguesias mais importantes a nível histórico do concelho de Lamego, Ferreirim revela a sua importância através do convento franciscano. Situada no extremo leste do município, no limite com o vizinho concelho de Tarouca, esta freguesia passou para o concelho de Lamego a 26 de Junho de 1896.
População Residente: 904 habitantes (censos 2011)”. J. F. de Ferreirim


Igreja do antigo Convento de Santo António de Ferreirim




 “O Mosteiro de Santo António de Ferreirim foi erigido nos finais da Idade Média por iniciativa dos últimos condes de Marialva, cujo túmulo se encontra no interior da igreja. O seu aspecto actual deve-se a uma intervenção levada a cabo na primeira metade do século XVI.
O convento foi entregue à Ordem Franciscana em 1525 e, dois anos depois, entravam os primeiros monges.
A igreja foi iniciada em 1532 com registo estilístico manuelino-renascentista com alterações levadas a cabo no século XVIII. A dar protecção ao primitivo portal, a galilé é obra setecentista. A igreja, de uma só nave, conserva no seu interior parte do conjunto retabular do início do século XVI, obra encomendada pelo cardeal-infante D. Afonso, filho de D. Manuel e executada por Cristóvão de Figueiredo, Gregório Lopes e Garcia Fernandes, conhecidos por "Mestres de Ferreirim".
Hoje completamente restaurada e integrada na parte conventual, conserva-se uma torre militar medieval, símbolo do primitivo povoamento da localidade após a definição de Portugal como reino independente”. In Associação Douro Alliance


TERCEIRA CARTA 20 de Setembro 

A digressão de hoje foi de três léguas desde Fontelas até Porto Manso. 
O vento foi favorável de tarde, e poderíamos ter feito maior jornada se não nos tivessem extasiado as belíssimas vistas por toda a extensão do rio, as quais se fossem conhecidas pelos artistas dos países do norte, chamariam metade do mundo viajante para admirar estas belezas, infelizmente ignoradas no seu próprio país. É verdade que são em muitos sítios os enormes rochedos que apresentam os primeiros planos aos quadros que desejáramos ver pintados; e como o governo de S.M.F. decretou que daqui em diante uma certa soma será aplicada para demolir estes obstáculos para a livre navegação do Douro, - se os viajantes se não apressarem a cá vir por estes primeiros meses, poderá ser que, pelo ano que vem [1855], a marcha da civilização destrua os principais objectos de gosto artístico que a mim, que os tenho admirado mais do que outros quaisquer que tenho visto, ainda me chamam como em peregrinação três vezes por ano. 
Na marca actual do rio, que é talvez a mais baixa de que os práticos se lembram, até Porto Manso não há pontos nem galeiras ainda que nos pontos da Retorta, do Colo, Tojal e Escarnida não deixam de fazer sua corrente que bastante embaraço causa à navegação quando não há vento, de meia vela a favor, porque em caso contrário seria indispensável empregar gente ou bois para alar os barcos nestes pontos. No ponto da Retorta, logo acima do Convento d’Alpendorada, havia um rochedo enorme que por mais de vinte anos era muito nosso conhecido, e tão alto era ele que os boieiros para cambarem o cabo por cima, precisavam de uma escada de 14 degraus: chamava-se o Penedo do Corvo. 
Ultimamente, no ano passado foi em parte demolido; porém em 1853 o Verão foi sempre chuvoso e conservou-se muita água no rio – agora em 1854 o litoral está à vista – Que bela ocasião para os engenheiros do Governo completarem a sua obra, desfazendo mais uns cinco palmos que ainda tem o calhau, para assim facilitar a passagem dos barcos com setenta pipas com a marca do Pinhão, sem serem obrigados a desviarem-se dos restos do penedo tomando outro rumo, pelo qual correm o risco de quebrarem-se na pedra da Retorta! 
Nos pontos de Valvela e Couces de Vimeiro, observei umas pedras quebradas por cima, com a evidente tenção de formar em cada um dos sítios um canal para passarem os barcos em certa marca do rio, que é das águas do Tua; porém, ficando estas obras como estão, receio que a navegação não tire muita vantagem delas. 
Os povos, que hoje passamos, foram, na margem direita: 
Vimeiro terra dos arrais de matriz e trasfegueiros – tem muito boas casinhas – reina grande actividade no cais – toda a gente parece ter que fazer e vivem muito bem. Este povo forma um grande contraste com todos os mais que temos visto do Porto para cá. Antigamente a Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto-Douro tinha aqui o seu comissário e grandes armazéns; e nenhum arrais passava daquele sítio para baixo sem receber as suas ordens. 
Lavadouro também é terra dos arrais, mas é um povo mui pequeno. 
Pala igualmente é terra de arrais e lavradores – todos abastados, que vivem tão bem como os do Vimeiro. 
Porto Manso é um povo de bastante importância e onde se encontram os arrais mais relacionados com o grande comércio de vinhos do Porto. 
Há ali boas casas, boa e rica gente, e o sítio é delicioso e mui produtivo. 
Na margem esquerda apenas há os pequenos povos de Souto do Rio e Porto Antigo, sítios mui pitorescos, e onde se carrega a maior parte das madeiras de castanho que vão para a cidade do Porto. Pode-se calcular, sem exageração, em 20 mil os paus, pés e pontas de castanheiros, que são carregados neste cais todos os anos. 
Sou de VV. & c. 
J. J. Forrester 
Publicada por Porta Nobre à(s) 5/02/2013 “.

2 comentários:

  1. Olá
    «Isto» é o nosso Portugal profundo.
    Obrigado por no-lo mostrarem.
    Cumprs
    Augusto

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  2. Muito obrigado. Não é possível falar no Rio Douro sem uma referência, ainda que ligeira, às povoações por ele influenciadas.
    Cumprimentos
    Maria José e Rui Cunha

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