8.1.15 – Peste Bubónica de 1899 - Dr. Ricardo Jorge, Descoberta da peste bubónica, Equipa médica que dirigiu a luta contra peste bubónica, Cordão sanitário, Desinfecção dos focos de peste
Dr. Ricardo de Almeida Jorge
“A 4-7-1899 recebia eu um bilhete d'um negociante da rua de S. João, chamando a minha attenção para uns obitos que se tinham dado na rua da Fonte Taurina.
Mandei examinar á regedoria as certidões d'obito respectivas, que só tarde me costumam ser communicadas para o effeito estatistico; resavam ellas de molestias banaes. Apesar d'esta nocencia nosographica, mandei tomar informações no lugar por um empregado que voltou dizendo-me que tinham morrido pessoas e outras estavam doentes d'uma especie de febre com nascidas debaixo dos braços. Não se tratava pois da banalidade prevista, o que me resolveu a fazer uma visita pessoal á Fonte Taurina, onde com as informações colhidas e os doentes ainda presentes me convenci logo estar em frente d'um fóco epidemico de moléstia singular e nova. Caso anormal e grave, dei immediatamente conta do succedido ao snr. commissario geral de policia, como auctoridade sanitaria, ao snr. vereador do pelouro, como representante da administração municipal, e ao snr. director clinico do hospital para o internamento imediato e isolamento dos epidemiados.
Os serviços dependentes ou ligados á repartição de hygiene, como o da desinfecção e limpeza viaria, entraram sem demora em acção; e no dia seguinte acompanhava ao local o snr. inspector de policia Feijó e o sub-delegado de saude Joaquim de Mattos, sendo intimados os proprietarios e inquilinos ás beneficiações e limpezas das suas descuradas e imundas habitações, operações a que, diga-se de passagem, só procederam depois d'instancias repetidas.
A´ volta do fóco brotavam pouco e pouco casos suspeitissimos que me mantinham receioso, e não tardou o convencimento de que a peste avançava a passos lentos e espaçados, como é de seu uso e costume á primeira arremettida.
A 31-7 faziamos colheita fecunda, e dentro d'oito dias adquiria por mim a irrefragavel certeza de que tinha nos tubos de cultura isolado o puro e legitimo bacillo de Yersin. E d'essa convicção dei parte superiormente a 8-8. Submetti o achado ao meu companheiro e amigo Camara Pestana; devia-o á sua competencia magistral e á sua situação official á frente dos serviços bacteriologicos do paiz, A sua confirmação foi immediata.
As missões estrangeiras confirmaram totalmente, integralmente, tudo o que em materia de diagnostico e prognostico fora aventado pelo seu descobridor”. Texto de Ricardo Jorge de 20/9/1899 – In blogue Historinhasdamedicina
“Ao chegar à Europa, o bacilo teria a virulência reduzida, ou ratos e homens teriam adquirido defesas contra o mal. Ocorreram surtos limitados em Glasgow, Paris, Marselha, Barcelona, Açores e Madeira, mas o Porto foi a primeira cidade europeia a ser afectada e também aquela em que a peste mais vidas ceifou: 132, em 320 casos oficialmente registados”. In blogue Historinhasdamedicina.
“ Há precisamente 100 anos (1899) a cidade do Porto, ao ver desencadeado o último surto europeu de peste bubónica, a partir de um caso na Rua de Fonte Aurina, viu-se arrastado para uma das suas maiores crises de identidade. Desse momento difícil, causada mais pelo isolamento criado pelo cordão sanitário e pela humilhação da sua autonomia e direitos que pela virulência da epidemia, destacar-se-ia a notável intervenção do Dr Ricardo Jorge (1858/1839), chefe do Laboratório de Higiene Municipal, que identificou a doença com espantosa antevisão, e a consequente criação do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.
Quando R. J. nega a versão, avançada com a primeira morte, de se tratar de uma variante da sazonal epidemia de tifo de Verão, identificando a peste bubónica…
Foto de Ricardo Jorge e sua equipa, de Aurélio Paz dos Reis:
1ª. da direita para a esquerda: Câmara Pestana, Albert Calmet, Ricardo Jorge e Ferrand.
2ª. fila – á direita – Balbino Rego e à esquerda Sousa Júnior
Ricardo Jorge com Balbino Rego, Sousa Júnior e peritos indicados pela Vereação do Porto
…acorrem ao Porto especialistas em parasitologia e microbiologia de todo o mundo. Trabalhando com R. J., o médico Câmara Pestana é contagiado e morre.
A Junta médica resolve então criar o cordão sanitário, em volta do Porto…
(notem a enorme extensão do cordão sanitário)
Photo Guedes
Desinfectando um caixão - photo Guedes
Foto Aurélio Paz dos Reis
…e inicia-se um enorme esforço de desinfecção, nomeadamente nas “ilhas” onde aparentemente, os casos se afirmavam. Para tornar o caso mais polémico poucos médicos concordavam com a identificação da peste…
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