sexta-feira, 30 de novembro de 2012

BAIRROS DA CIDADE - XXI


2.3.3 - Bairro de Santo lldefonso - VIII
 


Casa Januário – esquina Rua do Bonjardim e Rua Formosa – fundada por Januário Gil Mendes Ferreira em 1926, tornou-se rapidamente numa mercearia de referência do Porto.
 
 
Casa especializada em café
 
 
 
 
Foi nesta zona da Rua do Bonjardim, numa casa já demolida quando da construção da Avenida dos Aliados, que se fundou,em 22 de Janeiro de 1818, o Sinédrio. Inicialmente composto por Fernandes Tomás, Ferreira Borges, Silva Carvalho e Ferreira Viana, rapidamente aumentou de aderentes. Deste movimento resultou a Revolução Liberal de 1820. Por aqui nasceu o esquecido contista Pedro Ivo (1842/1906).
 
 
1902
 
 
 
1904
 
 
1907 - 1964

“A Escola Prática Comercial Raul Dória foi fundada na cidade do Porto a 30 de Novembro de 1902, por Raul Montes da Silva Dória, que a dirigiu até 1922. Vocacionada para o ensino técnico comercial, teve início na Monarquia, passou pela Primeira República e lecionou até ao ano lectivo de 1963/1964. Instalada durante dois anos na rua do Bonjardim, rapidamente sentiu necessidade de mudar de instalações, o que ocorreu em 1904 para a rua Fernandes Tomás, onde veio a permanecer três anos, altura em que se fixou definitivamente no denominado Palácio das Lousas, na rua Gonçalo Cristóvão, a 9 de Outubro de 1907. Considerada a primeira Escola de ensino comercial na Península Ibérica, baseou-se em métodos de instituições europeias colocando a tónica no ensino prático, para o qual possuía instalações e material didáctico onde os alunos praticavam o que aprendiam na teoria. A finalidade desta escola era suprimir as necessidades que se faziam sentir nas casas de comércio, dando-lhes conhecimentos práticos e técnicos de imediata utilidade. Vista como um estabelecimento modelo, era preferida a nível nacional pelos que desejavam seguir a carreira do comércio.” Mário Lázaro Santos Vieira - Porto, 2010
 
 
Entrada e secretaria
 
 
Sala de aula – durante 17 anos trabalhei em bancas iguais a estas, que eram muito cómodas pela sua altura, largura e inclinação. O banco sem costas adaptava-se perfeitamente à posição de trabalho. Usavam-se livros grandes e por vezes mais que um ao mesmo tempo.
 

Busto de Raul Dória – Largo Dr. Tito Fontes – foto do blog Ruas do Porto
 
 
 
Santos & Irmãos Douradores – Rua do Bonjardim e das Liceiras – fundada em 1858. Conhecemos bem esta casa nos anos 60 e os seus trabalhos eram excelentes.
 

Largo Dr. Tito Fontes – antigo Largo do Bonjardim - Interrompe a Rua do Bonjardim junto da Rua de Gonçalo Cristovão. O Dr. Tito Fontes (Valença - 1854/1933) foi um médico dedicado ao tratamento da tuberculose. Foi também um político destacado do seu tempo, tendo sido deputado e Governador Civil. Como atrás já foi referido, a Rua do Bonjardim chamava-se antigamente Rua do Bairro Alto, até à Rua do Paraíso.

 
Quinta de Santo António do Bonjardim – planta de Balk - 1813
A Rua de Gonçalo Cristovão foi aberta a partir da parte sudeste da Praça de Santo Ovídio até à Rua Bella da Princesa, atravessando a quinta. 

“Gonçalo Cristovão Teixeira Coelho de Melo Pinto da Mesquita, senhor de Teixeira e de Cergude, e da Quinta de Santo António do Bonjardim, planeou em 1831, iniciar a urbanização desta sua vasta e bela propriedade, então às portas da cidade. Para isso e com parecer favorável do Corregedor, de 19 de Janeiro de 1832, alcançou uma Provisão, em 8 de Fevereiro seguinte, para ceder parte desses terrenos à Câmara. Mas só por escritura de 31 de Dezembro de 1838 se efectivou esta cessão abrindo-se no ano seguinte de 1839 três artérias: a Rua Nova do Duque do Porto, hoje Rua de João das Regras, a de Camões e a de Gonçalo Cristovão. Esta, que faria a ligação entre as ruas de Santa Catarina e do Bonjardim com o Campo de Santo Ovídio, actual Praça da República, recebe o nome do doador por expressa imposição deste. Nos terrenos marginais das três artérias subemprazou depois, seu filho e sucessor José António Teixeira Coelho de Melo Pinto da Mesquita, chãos para edificar, o que se fez rapidamente, com o consentimento do senhorio directo, que era o Cabido da Sé do Porto.” In Toponímia Portuense de Eugénio Andreia da Cunha Feritas.
A Rua de Gonçalo Cristovão só chegou à do Bonjardim em 1839 e à de Santa Catarina anos mais tarde pois, teve que se desvastar uma grande pedreira aí existente. Parte desta ainda hoje é visível a Poente do Silo-Auto.

Da Rua do Paraíso à Praça do Marquês de Pombal, eram as chamadas Rua e Largo da Aguardente.
 
 
 
 
 

Rua das Musas – Fica entre as Ruas Gonçalo Cristovão e do Paraíso, na zona da Fontinha. No séc. XIX e XX era um bairro de operários, muitos vindos de fora da cidade. “Operários em que nos seus bolsos abundava o cotão e menos mil reis/escudos. É criado o livro de crédito na mercearia e outro mais pequeno para o freguês onde os fornecimentos do sabão, petróleo, vinho, mercearias, toucinho, banha de porco, fósforos e o maço de cigarros fortes (pedreiros), eram assentes e que seriam pagos no fim de cada mês”. (In Porto Tipeiro). “Vivem nos arredores (Valongo, Bouças, Maia e Gaia) (...) e vêm trabalhar para a cidade toda a semana; vêm aos bandos na segunda-feira, com a saca com a broa para a semana. Vivem durante ela comendo o caldo; ao sábado regressam para passar o domingo em casa com a família, que, entretanto, cuida da lavoura e da engorda dos bois. Em grande parte, os operários são também lavradores, pequenos proprietários". In - Habitação Popular na Cidade Oitocentista – As Ilhas do Porto, de Manuel C. Teixeira
 Aí se construiram muitas ilhas e habitações impróprias para viver. Grassavam as doenças, em especial a tuberculose, e as revoltas sociais. Ainda hoje é uma zona muito pobre da cidade.
 
 
 
Fonte da Vila Parda - 1859

A fonte de Vila Parda, datada de 1859, foi restaurada em 1940 e fica na rua do Bonjardim, desalinhada das casas, entre o largo de Tito Fontes e a Rua do Paraíso. Embora a fonte ostente a data de 1859 parece que, no mesmo sítio, terá existido uma outra, embora mais pequena e com tanque, talvez anterior ao ano de 1613, data em que aparece referenciada em documentação. O nome “Parda”, segundo documentação antiga, parece derivar do facto de, nas redondezas, ter vivido uma mulher mulata ou parda. Sobre esta fonte, Horácio Marçal escreveu que “(…) a velha fonte era abastecida por nascente própria situada um pouco mais acima (…)”. Dados apresentados numa obra do séc. XIX dizem-nos que “a água nasce na rua Bella da Princeza em uma mina, indo alimentar a fonte de Villa Parda. No trajecto a agua segue a mina e depois por tubos de chumbo no pior estado de conservação, rompendo-se repetidas vezes.” (Noronha, 1885).
 
 
Já muito perto do Marquês existe um palacete, abandonado e em muito mau estado, que desconhecemos a quem pertenceu ou pertence. Será que era a residência da família Paiva Araújo cujo filho foi o conhecido “janota” do Porto, de Lisboa e de Paris pela sua elegância pelos seus belos cavalos e carruagens? É pena que se deixem cair de velhos e podres edifícios como este que, seguramente, tiveram a sua história na cidade. 
 

2 comentários:

  1. Boa noite!

    Gostei muito de conhecer esta página! Desde sempre me interessei por histórias do passado e é com muito prazer que revivo, através destas imagens, o Porto que já foi e, em alguns casos, que continua a ser!

    Foi com imenso deleite que vi publicadas imagens da loja de molduras Santos & Irmãos, ou Santos Douradores como também é conhecida. Sou cliente assídua desta loja de molduras desde que nasci, pois já os meus avós o eram. É, com certeza, a melhor loja de molduras do Porto e, que eu saiba, de Portugal! A excelência dos trabalhos, que referiu, felizmente ainda existe! No outro dia desloquei-me lá para encomendar um espelho e reparei que estão a renovar a fachada e o interior, fazendo-a renascer. É preciso alimentar estas casas, para que o comércio tradicional continue, pois os produtos têm muito mais qualidade do que aqueles que são vendidos nas grandes superfícies e, mais do que isso, são totalmente exclusivas e únicas!
    Falei na Santos & Irmãos, mas o que disse também se aplica, parcialmente, a outras lojas históricas que existem no Porto, como a livraria Lello, a Januário, a Pérola do Bolhão e tantas outras que ainda subsistem, nestes tempos difíceis, sobretudo graças à competência do seu trabalho e ao bom gosto dos seus clientes.

    Deixo aqui o registo da minha esperança para que este comércio tradicional atravesse estes tempos difíceis, pois constituem a verdadeira alma do Porto e das suas gentes!

    Um bem haja a todos!

    MSM

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    1. Bom dia,
      Esperamos poder continuar a transmitir aquilo que nos agrada e agrada aos leitores sobre a nossa maravilhosa cidade. Concordamos inteiramente com o que diz sobre o comércio de rua, tão estragado pelos detestáveis grandes espaços sem personalidade. Bem Haja.
      Maria José e Rui Cunha

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