quarta-feira, 10 de abril de 2013

FONTES E CHAFARIZES - I

2.9.1 - Fontes e Chafarizes - I


Sem pretendermos ser exaustivos, passamos a referir as principais fontes e chafarizes de que tenhamos informação

“O abastecimento de água, em qualidade e quantidade, a qualquer povoação, deve ser a primeira preocupação das entidades locais. Assim aconteceu no passado na cidade do Porto. Desde sempre que os homens da Vereação Municipal se preocuparam com o abastecimento de água à cidade cuidando de que esse abastecimento fosse feito em quantidade suficiente mas, sobretudo, em qualidade. Exemplo disso é o teor da acta de uma reunião camarária de 1732. Depois de ter "despachado vários papeis e petiçoens" e após ter "deferido seus requerimentos e partes" a Vereação tratou de nomear "Olheiros da limpeza das fontes e dos tanques da Cidade. Estes "olheiros" tinham por missão zelar pela limpeza das fontes, tanques e chafarizes da cidade impedindo que nesses sítios as peixeiras tratassem do seu peixe ou as fressureiras lavassem as miudezas que andavam a vender de porta em porta. Muitos anos mais tarde, o zelo municipal ainda se mantinha activo porque em 1868 o vereador Tomás Joaquim Dias pediu à Câmara que mandasse fazer um estudo sobre os tanques e nascentes do então já chamado Campo de 24 de Agosto, por estarem a ser conspurcados pelos tintureiros.” In JN 
No tempo dos Almadas, entre 1757 e 1804, a Câmara manteve permanentemente um funcionário incumbido da manutenção das fontes e chafarizes. Tinha como missão limpar e vigiar ou compor os degradados. Recebia 240 reis diários. Conclui-se que deste os princípios do séc. XVIII havia uma grande atenção pela limpeza das águas. 



Vestígios arqueológicos da Arca de Água de Mijavelhas – hoje no mezanino da estação de metro do Campo 24 de Agosto – “a Arca do Poço das Patas no ano de 1868 sofreu uma reparação; e, à beira da fonte de duas bicas, construíram um tanque provido de 3 canecas de folha de flandres, presas por cadeias, para uso dos moradores da vizinhança, que iam buscar água destinada aos usos domésticos. Isto é, só as ditas canecas é que mergulhava no tanque, evitando-se assim, como manda a boa higiene, a conspurcação da água pelo constante submergir das vasilhas, nem sempre limpas… Para Noroeste, nas traseiras do Balneário Municipal, em ponto fundo borbulhava uma copiosa nascente, cuja água alimentava uma fonte de chafurdo ou de afoga caneco, abastecia um lavadouro grande e outros mais pequenos (destruídos em 1899 aquando da peste bubónica); e, em volumoso regato, deslizava para as bandas do Sul com direcção ao Monte do Seminário, onde se despenhava no Rio Douro.” O Tripeiro, Série VI, Ano XII.


Brasão real de D. João III – séc. XVI 
Foto de ibotelho; ssilva; tallen –site do Metro do Porto 
Conhece-se a existência da Arca d’Água de Mijavelhas pelo menos desde o séc. XIV. Durante as obras da abertura da estação do metro do Metro do Campo 24 de Agosto foram encontrados muitos vestígios seus, entre os quais um brasão real, que os arqueólogos afirmam ser de D. João III. Alimentava moínhos e regava os campos da área. Em Março de 1882 foi assinado um contrato para abastecimento de água ao domicilio entre a Câmara e a Compagnie Général des Eaux pour l'Etranger. Esta água passou ainda a abastecer fontes do Porto, entre as quais a das Fontaínhas, Batalha, Rua Chã, S. Sebastião na Rua Escura, Chafariz do Anjo S. Miguel e outras. Mais tarde passou a chamar-se Poço das Patas devido às características alagadiças do terreno que originava a formação de grandes poças que as “patas” frequentavam . Em 1833, denominava-se Campo da Feira do Gado porque ali se realizava um mercado de gado bovino; volvidos seis anos ficou Campo Grande. Em 1 de Agosto de 1860 por decisão camarária, foi designado Campo 24 de Agosto. Anos mais tarde, em 1868, o vereador Tomás Joaquim Dias pediu à Câmara que mandasse fazer um estudo sobre os tanques e nascentes, por estarem a ser conspurcados pelos tintureiros.


Fonte de S. Miguel ou do Anjo – Nicolau Nazoni – Século XVIII –
Largo da Sé junto da fachada Norte.


Fonte de S. Sebastião ou Chafariz da R. Escura – Também chamada de Fonte do Pelicano – esteve perto dos antigos Paços do Concelho ou Casa dos 24, na Rua escura. É uma das mais antigas fontes da cidade. Nas obras do Terreiro da Sé dos anos 30 foi mudada para o Largo do Dr. Pedro Vitorino, junto do portão do Seminário Maior. 


Fonte da Rua Chã – 1635 – Foto de Portojo – “com duas bicas. Uma para uso dos particulares; e, outra, para aguadeiros. Esta fonte substituiu um chafariz ou fonte que se elevava no meio do largo, da qual, o beneditini Novais esclarece: “antiga y es perfectissima, em modo de pyramide de 3 esquinas, al modo de que se lavram los diamantes”. Em 14/1/1853, começaram a apeá-la do seu lugar (cingida às casas sitas entre as Ruas do Loureiro e Cimo de Vila), para a reconstruírem no antigo largo do Paço da Marqueza onde ainda pode ser admirada.” O Tripeiro, Série VI, Ano VIII.


Fonte da Alameda no cemitério do Prado do Repouso


Fonte das Fontaínhas – foto Domingos Alvão. 

As oito fotografias acima referem-se a fontes abastecidas pelo Manancial de Mijavelhas, no actual Campo 24 de Agosto.



Chafariz do claustro do convento de S. Bento de Avé Maria – 1528 – Actualmente nos jardins dos SMAS


Fonte da Ribeira – Fotociclista2008 – Encontra-se na Praça da Ribeira encostada à face do prédio entre as ruas de S. João e Mercadores. Foi terminada em 1784 por ordem de João de Almada e Melo. É servida por água do manancial de Malmajudas ou dos Guindais.


Existiu no meio da Praça da Ribeira uma antiga fonte e lavadouro público construídos em 1678, servidos pelo manancial de Malmajudas ou dos Guindais. Segundo o beneditino Pereira de Novais “era de mucho adorno e perfeccion”. O seu local foi descoberto em trabalhos arqueológicos e aí foi construída a Fonte do Cubo, projecto do escultor José Rodrigues. Há poucos anos, em visita a uma senhora residente na praça há dezenas de anos, esta contou-nos que, quando ali colocaram a fonte, o povo de imediato lhe chamou “a caixa de bolachas Maria”, pela sua semelhança com as antigas caixas de folha de flandres em que estas eram vendidas. 


Capela e Fonte de S. Roque no Largo do Souto 

“A porta de entrada da capela fica voltada ao poente e apoiada a sua soleira no patamar das escadarias, e no meio da curva ou meia-lua que elas formam no pavimento ladrilhado da praça está um amplo tanque cujas águas nele se alimentam pela boca de um golfinho em que se vê montado um Génio nu do tamanho de uma criança de oito anos e fica encostado no pedestal do patamar da entrada da capela” Texto de Sousa Reis.
"E a fonte? Que linda! Estou bem certo dela: era formada por uma grande concha de argamassa, que tinha dentro um fedelho de barro, montado num golfinho de pedra com uma bica de ferro na boca, por onde saía melhor água do que a que hoje se vende a dez reis o copo".
O TRIPEIRO Série 1, Nº. 2, a páginas 124 de 10 de Novembro de 1909


Chafariz da Rua do Souto - construída em 1920, e que substituiu um outro que aí existiu e que servia para se dessedentar o gado - foto de Porto Monumental e Artístico


Construída no séc. XVII, foi demolida em 1882 quando foi aberta a R. Mouzinho da Silveira. Era encimada pelo escudo real de D. João II entre 1481/1495. “O alçado constava de um corpo central com uma forte cimalha apoiada em colunas com capitéis de inspiração coríntia  sobrepujado por um frontão de remate circular onde se encostavam, na frente e aos lados, três golfinhos de bocas hiantes; lateralmente pequenos corpos com tímpanos curvos de ligação, limitados por pilastras.” In O Tripeiro, Série VI, Ano VII. - Repare-se na quantidade de aguadeiros e canecos esperando sua vez.


Fotografia de A. W. Cluter, 1922 - Fonte do Mercado Ferreira Borges. No seu local existe hoje  uma subestação de electricidade.


O elemento decorativo desta fonte (as duas senhoras com os cântaros) está actualmente nos jardins do Palácio de Cristal - (página 228 do excelente livro de Germano Silva: Fontes e Chafarizes do Porto)


Fonte da Rua de Mouzinho da Silveira – Esta fonte existiu desde a abertura da Rua de Mouzinho da Silveira. Tinha duas bicas e recebiam água, uma dos mananciais de Paranhos e Salgueiros e a outra da Arca das Hortas - Em 1920 foi demolida para construção de 2 estabelecimentos comerciais. Porém, em 1966, foi reconstruída tal como estava.


Fonte dos Ablativos – foto de Frederick Flower – 1849-1859 
Do blog Monumentos Desaparecidos: 

“Esta fonte, esteve antigamente instalada na Rua de Cedofeita do lado Este, entre os nºs 672 e 674. Na opinião de Américo Costa, in «Dicionário Coreográfico de Portugal Continental e Insular» o nome de Fonte do Ribeirinho ou dos Ablativos, deve-se a dois factos. A primeira razão seria porque perto de onde estava colocada, ao lado norte passava um ribeiro que se formava de várias nascentes que se localizavam no Monte Cativo e na Lapa. Segundo Horácio Marçal, esse ribeiro tinha o seguinte percurso: Passava em Salgueiros, atravessava a Quinta Do Melo ou Águas-Férreas (Dos Viscondes de Veiros), a rua de Cedofeita e a Ponte de Vilar, desaguando no Douro, na Praia de Massarelos. Em segundo lugar, também foi designada por Fonte dos Ablativos, devido a inscrição nela existente ser composta por vinte e quatro Ablativos. São vários os autores que transcrevem essa inscrição, assim como o seu significado. No entanto a que se transcreve é da autoria de Horácio Marçal. - O antigo sitio do Laranjal - In O Tripeiro, Marco de 1966, VI serie, ano VI- no qual afirma que "a inscrição lhe parece ter algumas palavras que não são latinas e, em sua opinião, não é fácil de traduzir. Contudo, dá-nos a tradução da dita inscrição que e a seguinte: - Com aprazimento muitos e desagrado de outros, foram reunidas as águas que corriam sujas e desaproveitadas, pelas lajes da rua, e pelas margens do ribeiro, formando charcos imundos, e dificultando a passagem de transeuntes. Assim as águas conduzidas para esta fonte, tornavam o sitio, até então incómodo e sujo, em belo e comodíssimo; e as águas agora limpíssimas, desalteraram os suburbanos sequiosos. Foi feita esta obra no reinado da Piedosa, Feliz e Augusta Rainha D. Maria I, por diligências de José Ribeiro Vidal da Gama, dos Conselhos de sua Real Majestade, Chanceler Portuense, servindo de Presidente do Tribunal de Justiça, no ano de 1790.” 
Foi transferida para o Jardim do Barão de Nova Sintra em 1933


Legenda: "Plantas, da elevação da frente, e plano da Fonte, projectada para a Rua de Cedofeita, de fronte da Rua da Torrinha, no terreno oferecido por José Ribeiro Braga, debaixo de casa que o mesmo vai edificar.
A.B.C. Encanamento da água de Árvore para a Fonte
D. Cano da subida ao alto da Árvore
E.F. Encanamento da água, para a fonte que se projecta no Largo do Cemitério dos Ingleses." 

O Dr. Adriano Fontes, na sua obra – “Contribuição para a Higiene do Porto” - Pagina 29 ( Porto 1908) afirma o seguinte: “Podemos dizer que a 4 de Julho de 1825 foi praticada vistoria, a requerimento de José Braga e outros as suas propriedades de Cedofeita e situadas na Rua da Torrinha, para ai se edificar um chafariz.... Assim oferecia o citado munícipe o terreno necessário a construção da fonte, mas impondo como condição a cedência por parte da câmara de pena e meia de agua diários, ( 945 litros ). Segundo o mesmo autor a fonte teria gravado no seu cume a data de 1826. Em 1893, sofreu esta fonte um pequeno corte no seu tanque, a fim de que as pessoas lá se dirigissem para colher água pudessem estar abrigadas em caso de chuva.” 



1908


Fonte na Rua de Cedofeita, junto à Rua da Torrinha– foto séc. XIX

A fonte foi construída em 1826, a pedido de um proprietário de terrenos na rua de Cedofeita, aproveitando as águas dos mananciais de Paranhos e Salgueiros, cujo aqueduto por ali passava. O prédio da fonte, o n.º 376 da rua de Cedofeita, mesmo em frente ao entroncamento com a rua da Torrinha, albergou o colégio Von Hafe – antecessor do atual colégio Alemão do Porto – que, em 1901, se mudou para a rua da Restauração e agora está na rua de Guerra Junqueiro. Por essa altura, instalou-se no edifício um estabelecimento hoteleiro com o apropriado nome de pensão La Fontaine. A fonte acabou por ser retirada algumas décadas mais tarde, aquando da transformação do espaço em loja comercial.
A antiga fonte de Cedofeita está actualmente nos jardins do SMAS, no parque de Nova Sintra. O antigo espaço da fonte, no piso térreo, esteve até há pouco tempo ocupado por uma loja de produtos para tricô. Todo o prédio sofreu recentemente obras de recuperação.



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