sábado, 27 de abril de 2013

MANANCIAL DE PARANHOS - ARCA D'ÁGUA

2.10 - Manancial de Paranhos – Arca d’Água e fontes por esta abastecidas



Praça 9 de Abril - 1939


Antiga gruta do lago da Arca d’Água


Gruta actual - lugar muito agradável e onde se encontram idosos e reformados a jogar a bisca.



O Jardim de Arca D’Água, na Praça 9 de Abril, foi projectado por Jerónimo Monteiro da Costa e inaugurado em 1928. Apresentava então um lago e uma imponente gruta, bem ao gosto romântico da época. Na altura da sua inauguração plantou-se uma centena de plátanos a delimitar as largas alamedas laterais. Este projectista também desenhou outros jardins do Porto, tais como o da Boavista, do Infante, da Praça da República, do Carregal e de Carlos Alberto.
O jardim deve o seu nome às 3 nascentes de Paranhos (Arca d’Água) que foram o sustento de muitas fontes e chafarizes do Porto, até finais do século XIX. 
Neste local, ainda um descampado largo, desenrolou-se no séc. XIX um célebre duelo que ficou nos anais da história da cidade. Luis Miguel Queiroz descreve-o da forma seguinte: “Em 1865, a imprensa da Universidade de Coimbra dava a lume um opúsculo intitulado "Bom-senso e Bom-gosto: Carta ao Excelentíssimo Senhor António Feliciano de Castilho". Antero de Quental, o autor da missiva respondia a dobrar às ironias que o patriarca das hostes ultra-românticas, o velho Castilho, ousara endereçar-lhe num posfácio que redigira para o "Poema da Mocidade", do então jovem escritor Pinheiro Chagas. Esta inofensiva troca de sarcasmos serviu de faúlha para acender uma violenta polémica, que envolveu boa parte das principais figuras literárias da segunda metade do século XIX. Camilo foi um dos saiu a terreiro a defender o poeta cego. E Ramalho Ortigão, que mais tarde se integraria plenamente na chamada Geração de 70, talvez influenciado pelo facto de ter tido Castilho como professor de Grego e Humanidades, não lhe regateou também a sua pena - e o seu braço, como veremos...-, repreendendo duramente Antero no seu "Literatura de Hoje". A ramalhal figura foi mesmo ao ponto de publicamente crismar de covarde o poeta das "Odes Modernas". Antero não gostou. E a coisa esteve para se resolver numa trivial pancadaria de rua. Mas chegado ao Porto para se esclarecer com Ramalho, Antero deu de caras com Camilo, que o persuadiu a desistir da cena de rua em favor de um duelo "comme il faut". Ramalho foi pois convidado a escolher as armas e optou pela espada, que manejava com reconhecida destreza. Antero, por seu turno, dirigiu-se a uma sala de esgrima para se inteirar das regras básicas da modalidade. Na manhã de 6 de Fevereiro 1866, paravam dois coches no largo da Arca d'Água. Apearam-se contendores e testemunhas e logo se deu início ao duelo. Foi uma coisa rápida, e pouco depois as viaturas voltavam a partir, levando, uma delas, um Ramalho combalido e de braço ao peito, a outra o impetuoso Antero, que não sofrera a mínima beliscadura”. 
Entre 1903 e 1916 realizava-se neste largo a grande feira de S. Miguel, vinda do Largo da Boavista. Em 6/4/1922 o jardim passou a chamar-se 9 de Abril, lembrando a terrível batalha de La Lys, em 1918 em França, onde morreram muitos portugueses. Mas de tão antigo e entranhado nome de Arca d’Água os portuenses é assim que lhe chamam. Lembremos os nomes da Praça da República, Cordoaria e outros de que ninguém se lembra do verdadeiro nome do jardim.


Neste jardim encontra-se a escultura de Charters d’Almeida intitulada “A Família”, inaugurada em 1972.


Antiga entrada para a Arca d’Água.


Actualmente desce-se por este alçapão

“No dia 20/11/1597 Filipe I ordena que seja lavrado alvará concedendo à Câmara a água do Manancial de Paranhos (Arca d’Água) para abastecimento da cidade, pagando a edilidade as obras do seu aproveitamento e distribuição com os rendimentos “do vinho e sal e dos sobejos dos crescimentos das cizas”, além dos 1.000 cruzados oferecidos pelo povo.” As obras terminaram em 1607. 
Foram, através dos tempos, feitas muitas obras e desvios com a finalidade de melhorar a qualidade e o abastecimento da água. Na verdade, embora ARC elogie muito a qualidade desta, a mesma era, segundo o bacteriologista Sousa Junior (1871/1938), de muito má qualidade e imprópria para consumo. Mesmo assim, foi o mais importante fornecedor de água o Porto durante centenas de anos! Nos séculos seguintes várias foram as obras de recuperação do percurso da água até ao Porto. Em 1660 a Câmara lançou um imposto de 1 real por cada rasa de sal que entrava na cidade para o arranjo do canal, que, como acima se lê, ARC diz estar “irregular, rôto e arruinado”,em 1788. Só entre 1825 e 1838 foi construído o actual encanamento, todo enterrado.


Arca d'Água

Porfundo - Subterrâneos do Porto (Video) 



Percurso do manancial de Paranhos. Desde a Arca d’Água à antiga Arca do Anjo tinha cerca de 3.500 metros. Damos adiante algumas das fonte que são alimentadas por este manancial.


Fonte do Regado , antigamente Fonte do Matadouro e Fonte da Natária - 1840 - Foto de OPP-CUPC




Fonte na Rua de Cedofeita, junto à Rua da Torrinha– foto séc. XIX 

O Dr. Adriano Fontes, na sua obra – “Contribuicao para a Higiene do Porto” - Pagina 29 ( Porto 1908 ) afirma o seguinte: “Podemos dizer que a 4 de Julho de 1825 foi praticada vistoria, a requerimento de Jose Braga e outros as suas propriedades de Cedofeita e situadas na Rua da Torrinha, para ai se edificar um chafariz.... Assim oferecia o citado municipe o terreno necessario a construcao da fonte, mas impondo como condicao a cedencia por parte da camara de pena e meia de agua diarios, ( 945 litros ). Segundo o mesmo autor a fonte teria gravado no seu cume a data de 1826. Em 1893, sofreu esta fonte um pequeno corte no seu tanque, a fim de que as pessoas la se dirigissem para colher agua pudessem estar abrigadas em caso de chuva.” A bica desta fonte está nos jardins dos SMAS.


Fonte do Largo da Maternidade Júlio Diniz – antigo Campo Pequeno


Construída em 1718 na Rua das Oliveiras. Em 1824 foi remodelada com projecto de Joaquim Costa Lima Sampaio e acrescentados a concha e o peixe. Foi mudado para o local actual, na confluência das Rua dos Mártires da Liberdade e General Silveira, em 1881.



Palácio de Cristal – duas fontes com carrancas – estas carrancas estiveram na Fonte da Natividade até 1832 e na fonte da Praça de Santa Teresa até 1905.


Aguadeiros enchendo canecos – Praça do Pão, depois de Santa Teresa e finalmente Guilherme Gomes Fernandes – Neste local existiu uma fonte com três carrancas que estavam na Fonte da Natividade, na Praça D. Pedro. Foi substituída por este fontanário em 1905. Em 1915 também este foi destruído para dar lugar ao monumento a Guilherme Gomes Fernandes.



Arca do Anjo 

Construída no extinto Mercado do Anjo, que abriu ao publico em 1839 no local onde está agora o Shopping dos Clérigos. A arca recebia a água dos mananciais de Paranhos e Salgueiros, que depois de ali misturada ia abastecer as freguesias de Victória, Miragaia, S. Nicolau e Sé. Foi demolida em 1949 e reconstruída nos jardins dos SMAS – Desta arca saíam 2 ramificações: uma passava pela cadeia e abastecia as Fontes de Neptuno e Taipas, e a segunda descia a Rua dos Clérigos e abastecia as Fontes de Mouzinho da Silveira, do Largo de S. Domingos, do Mercado Ferreira Borges, das Congostas e da Praça da Ribeira. A estas últimas já nos referimos em anteriores publicações. - foto Invictatur


Chafariz central – de 1839


Fonte Neptuno ou do Olival – Encontra-se na Praça da Porta do Olival, encostada à Cadeia da Relação. Ao centro tem um medalhão com Neptuno – No centro da Praça do Olival existiu um chafariz construído por ordem de Filipe II, em 1606. Quando da construção da Cadeia da Relação, em 1765, aquele foi desmantelado e substituído pela fonte Neptuno. Esta foi restaurada em 1940 – foto Portojo.


Fonte das Taipas

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