2.13 - Quintas do Porto e arredores
Planta do Porto e arredores - 1901
Era nos arredores do Porto que os burgueses endinheirados construíam as suas quintas, e os estrangeiros as alugavam para descanso e lazer – de notar que a Avenida da Boavista ainda não está aberta da Fonte da Moura ao mar, o que só aconteceu em 1917.
2.13.1 - Quinta das Virtudes
A Casa das Virtudes foi construída em 1767 pelo Capitão José Pinto de Meireles, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Capitão-mor de Rebordães e senhor da Quinta de Manguela, próxima de Santo Tirso, de onde era natural.
José Pinto de Meireles vem para o Porto e adquire os terrenos onde hoje se localiza a casa e a quinta e, em 1756, casa-se com Dª Francisca Clara de Azevedo Pinto Aranha e Fonseca.
A monumental pedra de armas, que coroa a porta de entrada, é um sinal que aquela família era poderosa. A pedra de armas é barroca e o escudo partido apresenta os brasões dos Pintos (cinco crescentes) e dos Meireles (cruz de Avis), armas concedidas por D. José em 1758.
Casa das Virtudes
Entre 1826 e 1834 esteve aí instalada a “Roda dos Expostos”, vinda da Rua dos Caldeireiros, onde se encontrava desde 1685.
Em 1839 nasce, nesta casa, a insigne figura do Professor Joaquim de Azevedo Sousa Vieira da Silva Albuquerque (1839-1912), Engenheiro de Pontes e Estradas, Professor do Liceu do Porto e da Escola Politécnica do Porto, bisneto de José Pinto de Meireles. Esteve ligado à revolta do 31 de Janeiro de 1891. A ele se deve o nome da Rua de Azevedo Albuquerque, antiga Rua dos Fogueteiros. A quinta pertenceu a esta família até 1965. Neste ano a CMP compra a quinta e a casa por 2400 contos a D. Margarida Helena Relvas Navarro de Azevedo Albuquerque, neta do eng Azevedo Albuquerque. Foi alugada à Cooperativa Árvore, onde ainda se encontra. Os jardins são hoje o Parque das Virtudes que mantém o desenho antigo. Tem uma esplêndida vista para o Rio Douro e Gaia.
Fonte na Quinta das Virtudes – Foto de F. Afonso
Nesta quinta esteve instalado o horto de Pedro Rodrigues, o conhecido Pedro das Virtudes, que cultivava flores, em especial camélias, cravos e jasmins. Em 1844 veio para o Porto, com 15 anos, José Marques Loureiro que com grande sabedoria e esforço se dedicou ao horto. De tal forma se lhe dedicou que, em 1860, Pedro Rodrigues lhe passou o negócio, pagando aquele um estipêndio diário. Foi nomeado fornecedor da Casa Real, em 1865. Lançou catálogos de flores e frutos, facto inédito no tempo e com que teve grande sucesso e fama em todo o país. Lançou também, em 1879, o Jornal de Horticultura Prática, que se publicou até 1892.
Devido a doença, o “Jardineiro das Virtudes”, como gostava que lhe chamassem, afastou-se do negócio,criando com outros sócios a “Real Companhia Horticolo-Agricola Portuense, que continuou a publicar os costumados catálogos.
José Manuel Loureiro faleceu em 14/7/1898, aos 68 anos.
2.13.2 - Quinta de Santo Ovídio
Campo da Regeneração (hoje Praça da República) e Quinta de Santo Ovídio – mapa Telles Ferreira – 1892 – podem ver-se ainda, à esquerda em cima, o Hospital Militar D. Pedro V e á direita a Igreja da Lapa e o Quartel de Santo Ovídio.
A quinta de Santo Ovídio situava-se entre a actual Praça da República com entrada pelo nº. 61, e a Rua de Cedofeita, no espaço ocupado hoje pela Rua de Alvares Cabral. Primitivamente era conhecida pela denominação de Quinta da Boa Vista. Pertenceu ao desembargador João Carneiro de Morais que nela mandou construir uma capela dedicada a S. Bento e Santo Ovídio.
No tempo de ARC pertencia a Manuel Figueiroa, pelo que era conhecida pela Quinta dos Figueiroa (ainda hoje existe a Travessa da Figueiroa, que liga a Rua da Boavista à de Cedofeita, mas que se deveria chamar do Figueiroa). Manuel Figueiroa, em 1794, ofereceu parte da quinta para a construção da Rua da Boavista, com a condição de lhe “ficarem pertencendo as vertentes das águas do chafariz a construir naquela rua, o que só se concretizou 30 anos depois, a 3/2/1824, sendo já então senhor da quinta o Marechal de Campo Manuel Pamplona Carneiro Rangel, depois Visconde de Beire”. Por falecimento de Manuel Figueiroa passou, por testamento, para o referido Visconde de Beire. A filha deste, D. Maria Balbina Pamplona Carneiro Rangel casou com o quarto Conde de Rezende, António Benedito de Castro. D. Maria Balbina deixou, em testamento, esta quinta aos netos existentes à data do seu falecimento e aos nascituros. O VI Conde de Rezende, Manuel Benedito de Castro, entendendo que o rendimento anual de apenas 500.000 reis que esta quinta proporcionava, obteve consentimento do conselho de família para, em nome de seus filhos, promover a sua venda. Considerou-se que era de “alta vantagem a alienação desta propriedade quando ela seja vendida pela quantia de 100 contos de reis (100.000$000) (e), quando não apareça comprador por aquela quantia abrir uma rua desde o Campo da Regeneração até à Rua de Cedofeita… e dividir toda a propriedade em terrenos, para construções, de 6 metros de largura com quintais, o que dá 165 chãos, e vendê-los nunca por quantia inferior a 700.000 reis cada um”. Como não apareceu comprador pelo preço pedido a Câmara autorizou a abertura da actual Rua de Alvares Cabral. O contracto da construção desta rua, com o empreiteiro José Joaquim Mendes, foi celebrado em 25 de Setembro de 1895. O produto da venda dos terrenos rendeu mais do que o esperado, tendo o último talhão, o 119, sido vendido por 1.000$500 reis.
D. Emília de Castro Pamplona (Rezende), filha dos quartos Condes de Rezende, casou em 10/2/1886 com o grande escritor José Maria Eça de Queiroz, de quem teve 4 filhos.
Quinta de Vila Nova, Santa Cruz do Douro – pertenceu a D. Emília de Castro Pamplona. Passou, por sua morte, para sua filha D. Maria de Castro, mãe de D. Manuel Benedito de Castro, casado com D. Maria da Graça Salema de Castro. Tendo enviuvado, D. Maria da Graça ainda lá reside.
Quinta de Vila Nova, Santa Cruz do Douro - nesta foto, de 1940, podem ver-se, da esquerda para a direita: Eng José Joaquim da Costa Lima, ao tempo Director do Instituto do Vinho do Porto; Henrieta Murray; D. Maria de Castro, filha de Eça de Queiroz; D. Maria da Graça Almeida Salema de Castro, esposa de D. Manuel Benedito de Castro a seu lado, filho de D. Maria de Castro, neto do grande escritor José Maria Eça de Queiroz e bisneto do 4º. Conde de Rezende.
No seu romance A Cidade e as Serras, Eça de Queiroz refere-se à quinta de Vila Nova (Tormes) em Santa Cruz do Douro, local paradisíaco e calmo para um cidadão regressado do bulício da cidade de Paris, onde era Cônsul de Portugal. Nesta quinta, sede da Fundação Eça de Queiroz, ainda vive a viúva de D. Manuel Benedito de Castro, a nossa querida amiga Senhora D. Maria da Graça Almeida Salema de Castro.
O site desta fundação retiramos o seguinte excerto:
Sou descendente dos Meireles,já tinha ouvido, o meu pai falar na quinta das Virtudes. Gostava de saber mais .Estou a fazer a genealogia da família,no "My heritage"e o meu e-mail é : .
ResponderEliminarCumprimentos, Maria Otelinda de Carvalho Meireles Ferreira Gomes
Muito obrigada, pela vossa gentileza.
ResponderEliminarMaria Otelinda
Muito obrigado pelo seu comentário. Infelizmente não temos qualquer informação sobre a geneologia que pretende.
EliminarMelhores cumprimentos
Maria José e Rui Cunha
Exma. Senhora D. Maria Otelinda
ResponderEliminarSou descendente dos Meireles das Virtudes, através do meu avô materno, Luís d'Albuquerque Couto dos Santos. O meu avô era neto matetrno do Prof. Joaquim de Azevedo Albuquerque aqui referido. Tenho todo o interesse em trocar informações.
Com muitos cumprimentos
António Luiz Gomes