3.2 - Carácter, Génio e Costumes dos Portuenses
Traje de rua
Ramalho Ortigão, saudoso cidadão da nossa cidade, escreveu sobre “A toilette de uma senhora em dias de semana estava completa com as seguintes peças: uma saia preta para vestir por cima do vestido de trazer por casa; um xaile atravessado no peito e pregado com um broche da cor e da forma de um ovo frito: uma mantilha de lapim, umas luvas de meio dedo e um lencinho de três pontas destinado, para que se não engordurasse a Côca da mantilha, a embrulhar o chignon… Também era outro o nome disso. Ao rolo das tranças sujeito sobre a nuca por um atilho e um pente de pechisbeque chamava-se-lhe na minha terra puxo”
“Quando saíam a passeio, apresentavam-se de rico vestido de seda, de saia ampla,com muitas outras por baixo, e na cabeça um flamejante chapéu de cetim cor de rosa ou de outros tons claros e alegres”. O Porto do Romantismo do Dr. Artur de Magalhães Basto.
Nos anos 20 do século passado, chamados “anos loucos”, e fruto da mudança de mentalidades devido à primeira Grande Guerra, a moda sofreu uma autêntica revolução. A mulher adquiriu uma nova liberdade de viver. Aboliu as saias compridas e a silhueta em 8, adoptando a moda do vestido leve, vertical e curto. Também os chapéus se simplificaram e usavam-se tapando a cabeça até às orelhas. Os penteados seguiram a simplificação das roupas tornando-se curtos e lisos ou levemente ondulados. Eram os chamados “cortes à la garçone”.
Após o “crash” de 1929 seguiu-se uma década sem estilo definido, e, só depois da II Guerra Mundial, em 1947, Christian Dior lançou o “New Look”. Esta moda repunha a mulher em 8, com o peito destacado, a cinta estreita e a anca bem definida.
Almeida Garrett – o arbitro das elegâncias
“Ele aí vai flamante de casaca azul de botões amarelos, colete branco, calça preta de polaina e presilha, bota de polimento, e com o seu nédio e espelhante chapéu alto; na camisa de folhos “na fofa e empinada camisa, ostente um alfinete rico de topázios e pérolas”. Foi assim que o Dr Artur de Magalhães Basto descreveu a moda masculina do romantismo.
Família burguesa do Porto
Meninas do Porto - 1915
Traje académico – Fac. Ciências – 1922
Cortejo da Queima das Fitas
Lavradores com utensílios da eira
Rancho Folclórico de Ramalde
Blog Trajes de Portugal
Traje do Porto – 1913
Lavadeira do Douro
Fins do séc. XIX
Lavradores ricos de Gondomar
Mordomas da festa – Minho
Ouro de Viana do Castelo
Em O Tripeiro Série I, Ano I, 1908, encontrámos uma interessantíssima descrição da mulher dos arredores do Porto:
“Um Porto velho, pacato e até com muito regionalismo e assim se identificava com a constante chegada de pessoas vinda dos arrabaldes e da terras do Douro que à cidade se deslocavam para vender uns presuntos; uns enchidos de carne de porco; uns ovos e uns cestos de frutas para depois com o produto da venda comprarem umas miudezas nos armazéns do Largo dos Loios, umas mercearias nas lojas da Mouzinho; ou uma fatiota nos prontos a vestir da rua dos Clérigos para vestir e melhorar a roupagem do filho, com um fato domingueiro, do moço “espigadote” ou um xaile de “merino” para a moça casadoira. Mas além do xaile para a rapariga, porque não? Se na bolsa fechada e apertada com um atilho e, bem segura nas mãos se ainda houvesse uns “dinheiritos” para umas arrecadas ou uns brincos nos ourives da Rua das Flores para a rapariga ou, ainda uma corrente de oiro para o rapaz prender o relógio no bolso do colete.” In O Tripeiro Série V, Ano V
Filme sobre o Porto antigo
Cinemateca Portuguesa - Porto e Foz 1913
Porém, no que se refere ao amor pela sua liberdade e previlégios, os portuenses sempre foram muito ciosos. Demonstraram-no diversas vezes nos motins contra o Bispo ou o Rei. Lembremo-nos de algumas revoltas como as das Maçarocas (1629), do Papel Selado (1661), contra a Companhia dos Vinhos (1757), do pão (1856), contra a ocupação francesa (1809) e a Revolução Liberal (1820), etc. Sobre estas e outras revoltas trataremos mais pormenorizadamente em local próprio.
Mapa de Março a Maio de 1809 aquando da ocupação dos franceses
O Professor Francisco Ribeiro da Silva resume de forma perfeita em O Tripeiro VII série, 1997, a páginas 182: “ Desde as lutas dos burgueses do séc. XIII contra as prepotências do Bispo D. Martinho Rodrigues até à corajosa denúncia da ditadura Salazarista do Bispo D. António Ferreira Gomes,foi a recusa à tirania, ao autoritarismo desumanizante que apontou a trajectória dos portuenses na via da liberdade. Por vezes, o preço que se pagou pela rebeldia foi excessivamente alto. Mas a luta pela liberdade, ainda que às vezes motivada por razões aparentemente materiais, é, em última análise, altruísta desinteressada e solidária”
Revolução de 24 de Agosto de 1820 – Sociedade Martins Sarmento
Manuel Fernandes Tomás (1771-1822)
Esta figura do liberalismo português vintista foi um dos fundadores do Sinédrio e um dos principais mentores da Revolução de 1820. Magistrado e legislador de profissão foi escolhido como vogal da Junta Provisional de Governo do Reino em 1820. Deputado e Presidente das Cortes Constituintes e detentor das pastas do Reino e da Fazenda em 1821, Manuel Fernandes Tomás integrou, entre outras, a comissão encarregada de elaborar as bases da Constituição jurada por D. João VI. A sua actividade como parlamentar destaca-se como das mais produtivas da história do parlamentarismo português, nele inscrevendo novas referências jurídicas e constitucionais. São de sua autoria os célebres Manifesto da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino aos Portugueses e o Relatório acerca do Estado Publico de Portugal. Na Oração Fúnebre de Manuel Fernandes Tomás, Almeida Garrett elege-o como "o patriarcha da regeneração portugueza."
Planta do Porto em 1833 – desenhada por W. B. Clarke entre Agosto e Dezembro desse ano, pois já está representada a ponte das barcas, retirada durante o cerco. Este decorreu de Julho de 1832 a Agosto de 1833.
Revolta do 3 de Fevereiro de 1927 - de lado. o soldado Emídio Guerreiro
."O tripeiro nunca foi lá grande entendedor na matéria mas quando a política estava na rua lá estava ele, na barafunda fazendo monte e a dar o seu apoio e ajudar às “barafustadelas” dos políticos a sério. E nestas os “bófias” na linha recuada do ajuntamento de cassetete pronto para entrar em acção a todo o momento. Os “tripeirotes” até lhes dava gozo o “sô polícia” fazer os cem metros, sem barreiras, em correria atrás dessa maldita irreverente catraiada com uma mão a segurar o “bastão”, maleável para não quebrar ossos e outra o boné não fosse por aí este saltar com a trepidação da correria nos paralelepípedos, desnivelados, da rua. Política nunca foi o forte da gente humilde do Porto. A população deste burgo é de raízes operárias e das “terras de lá de xima” e arribaram os seus ancestores quando se deu o começo do desenvolvimento industrial do Porto. In Porto Tripeiro
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