3.5.9 - Botequins e cafés - III
Café Ancora d’Ouro, vulgo “O Piolho”, onde desde 1889 se encontram muitos professores e alunos da Universidade do Porto.
Fichas de latão antigas
“ O Café Âncora d’Ouro, também já exixtia nos fins do sé. XIX. No ano de 1909 foi trespassado a Francisco José de Lima. Hoje (1964) na posse de um seu filho, desfruta de grande prestígio, por ali se reunir a classe médica e a irrequieta estudantina universitária.
Por essa razão, é que as suas paredes se vêem ornamentadas com inúmeras placas de mármore ali mandadas colocar, de 1947 para cá, pelos cursos médicos, na altura da movimentada e festiva Queima das Fitas.
Para amostra e como lembrança, aqui deixamos o texto integras de duas dessas lápides:
“Vós que ora entrais, sabei que outros maiores,
Que os mestres nunca olharam bem de frente,
Um dia conquistaram sem favores,
O grau que ambicionais, ó fraca gente!
Deste café saíram tais doutores
Sem nunca terem visto a cara ao lente...
(do curso 1951/52)
“Ouve oh caloiro ingénuo e criançola
(que nisto de Galeno estás bem cru):
Entrega ao mestre a sua velha escola
E manda o que aprendeste a belzebu…
Has-de gritar, um dia, dando à sola:
Ancora d’Ouro, a faculdade és tu...”
(do curso 1952/53)
O Botequim do Martinho ficada do lado esquerdo da
Confeitaria Primar, na Rua do Carmo, 1
Café da Porta do Olival – “nos primeiros anos do séc. XX pertencia a um senhor de barbas compridas chamado Joaquim da Silva e depois veio a pertencer a uma sua antiga criada, a quem o patrão legara, antes do seu falecimento ocorrido em 1916 ou 17, a posse do estabelecimento e respectivo recheio. Com a morte da criada e de seu marido António de Oliveira, veio o antiquado Café da Porta do Olival a pertencer a uma irmã do último, que, por sua vez, o trespassou ao actual proprietário (em 1964). In O Tripeiro, Série VI, Ano IV.
Neste café, ao lado da Torre dos Clérigos, ainda se podem ver restos da Porta do Olival – esta abria para a Cordoaria e era a saída da cidade para Norte que, seguindo pela Rua de Cedofeita, conduzia a Vila do Conde, Póvoa etc. - Foto de Carlos Silva no blog Porto Sentido.
No início dos anos 90 do séc. XIX foi construído o chalet da Cordoaria. Em 19/12/1906 foi alugado por 500.000 reis anuais a Aníbal Chaves. Deu assim lugar ao Café Chaves que fechou na década de 40 do passado século dado ter sido expropriado pela C.M.P. para alteração e expansão do novo Jardim da Cordoaria. Dado estar perto da Universidade do Porto era um botequim muito frequentado pelas figuras mais cultas e ilustradas, professores, artistas e poetas do Porto. Supomos que este Chaves tenha sido o proprietário do Café Chaves que existiu na Praça dos Voluntários da Rainha, por trespasse do Botequim da Graça em 18/5/1889 até 1903. Em 10/3/1900 Aníbal Chaves abriu outro Café Chaves nos baixos do Hotel Francfort, na Rua D. Pedro, que aí permaneceu até 1917 quando o prédio do Hotel foi demolido nas obras de abertura da nova Avenida das Nações Aliadas, depois Avenida dos Aliados.
A Brasileira – frontaria original na Rua de Sá da Bandeira 71 - inaugurada por Adriano Teles em 4 de Março de 1903 – Abriu em 1905 e 1907 cafés em Lisboa e Braga. Nos primeiros treze anos oferecia um café a quem comprasse um saquinho de café em grão.
Interior durante as obras de ampliação de 1916 – Foto de Aurélio Paz dos Reis – á direita Adriano Telles lendo o jornal que ele próprio editava.
3 fotos de A Brasileira após as obras de ampliação de 1916.
Interior mais moderno
Foto de Paulo Ferreira
Esta chávena tem a célebre frase publicitária “O melhor café é o da Brasileira”
A publicidade d’A Brasileira foi muito incisiva e mesmo revolucionária para a época. “ As tabuletas e letreiros com os dizeres “O Melhor Café é o d’A brasileira”, ressaltavam ao longo das nossas estradas e à margem das vias férreas, para, assim, dar a conhecer ao povo português a marca do melhor café. O consumo atingiu tal monta, que a firma, em boa hora, viu-se obrigada a adquirir o prédio nº. 75 da mesma rua, afim de separar o botequim do estabelecimento de venda a retalho. Mesmo assim , após poucos anos, houve necessidade de nova ampliação pelo que os societários, tomaram de trespasse uma loja de lanifícios então existente no ângulo da Rua do Bonjardim, para abrir o espaçoso e airoso salão ainda hoje (1964) patente ao público.
Mais tarde, em 26/3/1938, a parte ocupada pelo antigo botequim e pela secção de venda a retalho, foi transformada numa das mais sumptuosas salas do Porto.”
Interior - anos 20 do séc. XX
La belle époque
Galeria
Esplanada
“Em 17 de Dezembro de 1921 pela autoria do Arquitecto João Queiroz, abriu um luxuoso café com o nome de Elite. Embora a abertura ao público fosse um sucesso, a denominação atribuída ao estabelecimento dava-lhe uma aura monárquica que não condizia com o ambiente republicano, burguês e chic dos portuenses contemporâneos. O glamour e a elite cultural parisiense eram referências para a cultura portuguesa da altura, tendo influído a escolha do novo nome – Majestic – impregnado de charme "Belle Époque".
Neste espaço, passaram a convergir vultos intelectuais da cidade. José Régio, Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra, entre outros, emprestaram à casa a literacia necessária para que sucedesse o aceso debate, entre figuras públicas e as que viriam a sê-lo, das questões políticas, sociais e filosóficas mais prementes. Alunos e professores da Escola de Belas Artes do Porto, juntavam-se a artistas de nomeada, como Júlio Resende, para desbravar novos caminhos e motivações artísticas, propor rupturas, criticar formalismos, conceptualizar novas formas, ou simplesmente para ouvir o que se dizia então.
Em vários cafés do Porto sucedia o mesmo que no Majestic, uma intensa polarização social da cultura ao sabor do café ou do absinto escondido.
Nos anos 60 do século XX, coincidindo com um certo adormecimento forçado das manifestações culturais do País, o Café Majestic começa, ele próprio, a adormecer. É um declínio lento mas contínuo. Este estado de degradação a que estava votado, cedo começa a ser percebido pelas forças vivas da cidade. Assim, em 24 de Janeiro de 1983, é decretado Imóvel de Interesse Público. Três anos depois, a nova gerência estuda a forma de devolver o café à cidade.
Em 1992, 71 anos após a inauguração, é decidido devolver-lhe a vaidade justa de ser um dos mais belos cafés do Porto. A 15 de Julho de 1994 abre novamente as portas, foram precisos dois anos para lhe puxar o lustro. Quem lá entrar encontra agora exposições, eventos e mesmo um certo mediatismo.
Sob a égide dos Barrias, em 1992, o café foi encerrado para a execução de um projecto de recuperação que ficou a cargo da arquitecta Teresa Mano Mendes Pacheco.Em 1994, depois da substituição do pavimento interior e da reposição do mobiliário original, o Majestic foi reaberto. Fotografias encontradas por Fernando Barrias permitiram conservar a alma do local, transportando, com sensibilidade, um passado luminoso para o presente.
Os inúmeros prémios e o reconhecimento internacional - "Prémio Especial de Café Creme" (1999), "Medalha de Prata de Mérito Turístico" (2000), "Medalha de Prata de Mérito Municipal - Porto" (2006), "Certificado do Prémio Mercúrio - O melhor do Comércio na área das empresas na categoria Lojas com História" (2011) e "Medalha Municipal Mérito - Grau Ouro" (2011), classificado pelo site cityguides como o sexto café mais belo do mundo e o Certificado de Excelência da TripAdvisor - surgiram com naturalidade, devolvendo-lhe, finalmente, a justa notoriedade que, durante tantos anos, havia sido esquecida”. Site do café Majestic.
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