terça-feira, 22 de abril de 2014

DESCREVE-SE A CATEDRAL - V

3.11.1 - Capelas no claustro da Catedral



Capela de Nossa Senhora da Esperança – foto de Ruy Brito e Cunha
"O vínculo de Nossa Senhora da Esperança, com capela no claustro da Sé do Porto, foi instituído a 05.06.1412 pelo cónego Rui Gonçalves, 1º arcediago do Porto e Meinedo. Foi D. Teresa Bárbara da Cunha de Castro e Vasconcelos (1744-1796), mãe de António Bernardo de Brito e Cunha (1781-1829) (o primeiro deste apelido), a 14ª administradora do vínculo. O actual representante da família Brito e Cunha é o 21º representante do vínculo". Site da família Brito e Cunha

O Claustro tem 4 capelas, uma em cada canto : Nossa Senhora da Conceição, Expectação de Nossa Senhora, Nossa Senhora da Esperança, que pertenceu à família Brito e Cunha, e de Nossa Senhora da Piedade.




Capela de S. Vicente


S. Vicente


Em O Tripeiro, Série VII. Ano XVII, Nºs. 7-8, Flórido de Vasconcelos escreve sobre os baixos relevos do Porto da seguinte forma: “Referimo-nos aos relevos narrativos, quase sempre destinados a retábulos de altares ou respaldos de cadeirais que têm sido injustificadamente esquecidos ou subalternizados, não lhes sendo consagrada a atenção que bem deveriam merecer. Trata-se de verdadeiros quadros, cuja função é paralela à das pinturas que mais geralmente ocupam aqueles locais, e correspondem à ilustração de um texto, descrevendo um facto ou uma sucessão de factos passados – ou, mais simplesmente, evocando-os, embora não de forma apenas simbólica ou alegórica. Antes e sempre, apresentando uma ou várias figuras em acção, muitas vezes revelando um fio condutor que os transforma em verdadeiras narrativas – autênticas histórias em quadradinhos “avant la lettre”.




Com entrada pelo claustro existe ainda a Capela de S. Vicente, que foi padroeiro da cidade entre 1025 e 1453. 
Uma grande peste atingiu a cidade em 1453. Os moradores de Miragaia pediram a S. Pantaleão, cujas relíquias estavam na sua igreja, que os livrasse de tal flagelo. Como não foram atingidos o Bispo substituiu o padroeiro por este santo, arménio, que tinha sido médico. As suas relíquias foram conduzidas com grande pompa em procissão para a Sé em 12/12/1453.


Em 1954 o Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, consagrou a cidade a Nossa Senhora de Vandoma. Esta imagem, que está na Sé, esteve desde 1855 na Capela de S. Vicente.

Padroeiros da cidade do Porto – Germano Silva - vídeo



Na segunda metade do século XV, instalou-se no Porto um grupo de arménios em busca de refúgio após a queda de Constantinopla diante do Império Otomano, em 1453. Estes imigrantes trouxeram consigo as relíquias de São Pantaleão (275/303), martirizado em Nicomédia em 303, que se tornou patrono da cidade. José Ferrão Afonso em O Tripeiro, Série VII, Ano XXIV, nº. 6, refere um artigo de João Soalheiro em que este relaciona “este evento com a saga dos filhos do Regente D. Pedro, D. João e D. Jaime. O primeiro seria Cardeal, tendo sido entre outras dignidades a de Bispo de Paphos, em Chipre; o segundo casou com Carlota de Lusignan, herdeira do trono do mesmo reino e Rainha da Arménia. Ambos se integram assim na política nacional de cruzada contra os turcos e o interesse demonstrado por D. João II, seu sobrinho, pelas relíquias portuenses de S. Pantaleão estaria, desse modo, justificado".


Estas relíquias foram depositadas na Igreja de Miragaia, em cofre de prata lavrada oferecido por D. Manuel I, para dar cumprimento a uma das últimas disposições do seu antecessor, D. João II. Mais tarde, em 12 de Dezembro de 1499, as mesmas foram transferidas para a Sé do Porto por determinação do bispo, D. Diogo de Sousa.
Em artigo no JN, Germano Silva escreveu: 
"No dia 22 de Novembro de 1841, oito anos depois do fim do Cerco do Porto, a Câmara Municipal desta cidade escreveu ao delegado do procurador Régio, o equivalente naquele tempo, ao procurador da República dos nossos dias, no seguintes termos: "Tendo tido (ela, Câmara) conhecimento do roubo da prata da arca de S. Pantaleão que existia, em depósito, na igreja da Sé, e sendo este roubo de grave importância, não tanto pelo valor do metal, como pela preciosidade em que geralmente era tido o lavor da prata, que denotava grande antiguidade, rogo a vossa excelência que empregue todo o zelo e bons ofícios na descoberta do delinquente e seu imediato castigo". 
O que era esta arca de S. Pantaleão da qual, alguém, no recuado ano de 1841, surripiou a prata? Pelos vistos, a tal arca encontrava-se no interior da catedral, onde "estava em depósito", como se infere do teor da carta acima reproduzida. 
Vamos por partes. Primeiro, S. Pantaleão. Julgo que não há portuense que já não tenha ouvido falar deste santo que, durante muitos anos, foi o padroeiro da cidade e o patrono da classe médica. S. Pantaleão era arménio, da cidade de Nicomédia, e médico de profissão. Por professar a fé católica foi perseguido, às ordens dos imperadores Diocleciano e Maximiano, sendo martirizado no ano de 320, da Era de Cristo. Os seus restos mortais foram levados, por alguns companheiros, para a cidade de Constantinopla, onde ficaram muitos anos e sendo aí objecto de grande veneração popular. Mas os turcos andavam a preparar um assalto a Constantinopla. Perante tal ameaça os cristãos arménios, que viviam naquela cidade, pegaram no corpo de S. Panta­leão e meteram-se com ele num navio, atravessaram o Mediterrâneo, passaram o estreito de Gibraltar e chegaram ao Atlântico. Navegaram até à embocadura do rio Douro. Demandaram a barra e foram lançar ferro na praia de Miragaia, mesmo em frente à igreja de S. Pedro, em cujo interior fizeram recolher o corpo de S. Pantaleão. Os companheiros do mártir instalaram-se nas imediações do templo, em ruas que ainda hoje evocam, no nome, esse acontecimento: Rua Arménia e Rua Ancira, antiga Rua de Aljazira.
A chegada dos restos mortais do mártir a Miragaia aconteceu a 8 de Agosto de 1453. Pouco depois, um terrível surto de peste invade a cidade, pela então chamada Rua do Olival. A Câmara, no intento de evitar a progressão da epidemia, manda entaipar a artéria que, a partir daí, passa a ser a Rua das Taipas. 
Entretanto os moradores da zona de Miragaia apelam a S. Pantaleão para que os livrem da peste. O mal não chega à zona ribeirinha e isso é atribuído a mila­gre do santo. E a cidade promove-o, de imediato, a padroeiro do burgo, destronando S. Vicente, que ocupava aquele lugar desde, pelo menos, o século XII. 
Diz uma lenda antiga que, naquele tempo, uma relíquia de S. Vicente estava a ser transportada de Lisboa para Braga. E que ao passar no Porto houve uma milagrosa intervenção do santo no sentido de que a relíquia ficasse nesta cidade. E foi deste modo que S. Vicente apareceu como padroeiro do Porto. Ainda tem altar na catedral onde a sua imagem é venerada. 
Logo a seguir à entronização de S. Pantaleão como padroeiro da urbe portucalense, o culto que a cidade lhe devotava aumentou consideravelmente e de tal forma que, em 12 de Dezembro de 1499, o bispo do Porto, D. Diogo de Sousa, ordenou a remoção dos restos mortais do padroeiro para a catedral. 


Em Miragaia ficou apenas um fragmento de um braço que ainda hoje se guarda no interior de um relicário de prata em forma de um braço. 
Na Sé, a arca com as relíquias de S. Pan­taleão foi metida num artístico e valioso relicário de prata, mandado fazer por D. João II mas que só foi entregue à cidade, em 1502, pelo rei D. Manuel I, numa sua deslocação ao Porto. Foi a prata desse relicário que roubaram. 
O furto aconteceu em 1834, já depois do fim do Cerco do Porto. E ao que consta, o autor do roubo nunca foi descoberto. Melhor dizendo: parece que se soube quem foi. Mas o autor da façanha nunca foi denunciado 
Muitos anos mais tarde, em 1875, Pinho Leal, no seu muito apreciado e célebre dicionário "Portugal antigo e moderno", no volume sétimo e na parte respeitante ao Porto, ao tratar do assunto S. Pantaleão, alude também ao roubo da arca e escreve isto: "tinha muito que dizer sobre o roubo deste cofre, o que não faço por certas considerações, sendo a principal envolver neste abominável crime pessoas de alta categoria que se não podem defender por estarem já cobertas com a lousa da sepultura". 
Tudo muito estranho, não é ?"
Vários sites, entre eles o da Diocese do Porto colocam a data do martírio no ano de 303.

Sobre S. Pantaleão recomendamos um artigo no endereço: 
http://www.bcdp.org/v2/images/documentos/s.pantaleao.pdf



Capela de S. João Evangelista e túmulo de João Gordo

“Das belas coisas da Sé do Porto, monumento de estrutura românica dos séculos XII e XIII, a capela gótica de S. João Evangelista, que um almoxarife real e juiz do mar, contemporâneo do rei D. Dinis, de nome João Gordo, mandou fazer, merece uma atenta e demorada visita. Nela se guarda a arca tumular em que aquele contemporâneo do rei poeta e lavrador mandou fazer para nela dormir o sono eterno.
Trata-se de uma obra do século XIV, lavrada em pedra de Ançã, que muito poucos portuenses conhecem. A arca tumular, bastante maltratada pelas iras do tempo e pelo desleixo dos homens, assenta sobre o dorso de quatro leões. Na pedra que cobre o sarcófago estende-se a estátua jazente de um guerreiro que veste o hábito e o manto dos cavaleiros de Malta, cuja cruz é visível à altura do peito, do lado esquerdo. Esta figura do guerreiro é, sem sombra de dúvida, das mais belas expressões plásticas de estátuas jazentes do rico património tumular existente na cidade". Artur de Magalhães Basto.




Nas três faces visíveis da arca sepulcral, esculpidas em alto-relevo, estão representadas cenas ligadas à vida de Cristo e de Maria. Assim, na face principal, podemos apreciar a Última Ceia; na testeira inferior, o Calvário; e na cabeceira a Coroação da Virgem Maria.
Quanto a João Gordo, o mesmo historiador (Artur de Magalhães Basto) informa-nos de que viveu, efectivamente, no Porto, um individuo de nome João Gordo que foi almoxarife do rei D. Dinis, "cargo que abandonou quando era já vedro (velho) e fraco", vindo a morrer de avançada idade no dia 10 de Dezembro de 1333.
"É por demais evidente que se trata do mesmo João Gordo, cavaleiro de Malta, que foi sepultado no artístico sarcófago existente na capela de S. João Evangelista. Acontece ainda que no século XVI eram ainda os descendentes de João Gordo que pagavam a um capelão para dizer a missa no altar de S. João". In J.N. - texto de Germano Silva.



You Tube – vídeos sobre a Sé 


Freguesia da Sé - video

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