6.1.10 - Das Fontaínhas aos Guindais
As Fontaínhas são um dos melhores miradouros do Porto – 1920
Os rabelos com vela branca levam mercadoria para montante, os de velas pretas levam carvão - 1932
Os rabelos com vela branca levam mercadoria para montante, os de velas pretas levam carvão - 1932
Fonte das Fontaínhas - 1940
Ao fim da tarde - 1950
Lavadouros - 1950
O lugar das Fontaínhas é, desde 1869, um dos mais concorridos na noite de S. João. Em tempos passados a multidão que saía nesta "bendita" noite acabava o seu festejo nas Fontaínhas. Com o passar do tempo muitos outros lugares foram festejando o S. João à sua maneira. A Ribeira enche-se de festejantes e à meia-noite é lançado o fogo-de-artifício. Este já tem muita fama e beleza, a ponto de ser transmitido na TV.
“…O S. João das Fontaínhas ainda não existia. Só começaria a despontar 35 anos depois (1869), quando um morador do sítio resolveu montar na Alameda uma monumental cascata ao redor da qual se vendia cabrito com arroz de forno, arroz doce e aletria, e café quente com pão com manteiga. Os ranchos que cirandavam pela cidade deslocavam-se ao célebre miradouro para apreciar a novidade e a curiosidade transformou-se em rotina. Os romeiros cantavam:
Abaixai-vos carvalheiras
Com a rama para o chão;
Deixai passar os romeiros
Que vão ver o S. João”.
Germano Silva
Cascatas de S. João
O S. João era a oportunidade dos poetas fazerem quadras, ligadas, em grande parte, ao amor e ao casamento. São conhecidas as quadras, cantadas, que referem as festas nos locais acima, tais como:
- Donde vindes S. João
Com a capa de estrelinhas?
- Venho de ver as fogueiras
Do largo das Fontaínhas
Orvalhadas, orvalhadas, orvalhadas…
E viva o rancho das mulheres casadas.
Na noite de S. João
É bem tolo quem se deita
Todos vão às orvalhadas
Aos campos de Cedofeita.
Orvalheiras, orvalheiras, orvalheiras…
E viva o rancho das mulheres solteiras.
Fui ao S. João à Lapa
Da Lapa fui ao Bonfim;
Estava tudo embandeirado
Com bandeiras de cetim.
Orvalhudas, orvalhudas, orvalhudas…
E viva o rancho das mulheres viúvas.
Esta cascata era montada na fonte que acima mostrámos.
2009
Uma tradição centenária é a cascata do S. João. Nas ruas e nas casas ou seus quintais era obrigatório haver uma. Infelizmente é uma das mais belas tradições que se está perdendo. Os nossos filhos e netos já não as fazem.
Em nossa casa, desde muito pequenos, guardávamos, de ano para ano, algumas figuras imprescindíveis e quando íamos ao Senhor de Matosinhos comprávamos as que eram novidade ou se tinham partido.
Encostado a um muro ou parede construíamos um monte de terra e cobríamo-lo com musgo.
No cimo estava o S. João com o seu cordeiro e pela rampa abaixo figuras como carneiros, pastores, uma banda de música, uma procissão aproveitada do presépio, lavadeiras, vendedeiras e muitas outras figuras típicas em barro. Também não faltava um pequeno lago com uma figura de um pescador. Por vezes era um espelho redondo, muito usado nesse tempo, com publicidade de casas comerciais. O que mais nos divertia era a forma tão entusiasmada com que a construíamos e depois a melhorávamos e limpávamos.
Assim que ficava noite nosso pai e tios traziam algum fogo-de-artifício tal como bichas de rabiar, pirilampos, estrelinhas e outros, pouco perigosos. Mas os momentos mais emocionantes eram o fogo preso, os vulcões e pequenos foguetes que faziam muito barulho e eram muito lindos no ar.
Só nos deitávamos à meia-noite, o que para nós era tardíssimo.
Os pratos mais populares destas festas são as sardinhadas e o cabrito assado.
Para conhecerem melhor as festas de S. João no Porto poderão visitar o nosso lançamento de 5/1/2014, Divertimentos dos portuenses XXXV, festas de S. João.
Depois da extinção da Feira dos Ferros Velhos, em Abril de 1894, houve uma longa espera para a abertura de outra dentro do mesmo género, só que não eram as ferragens o principal produto. Só em 1980 alguns estudantes, por sua livre iniciativa, se encontravam ao sábado de manhã junto da Sé, na calçada de Vandoma, a vender livros e outros objectos usados. Foi tal o sucesso que começaram também alguns comerciantes a vender produtos novos, o que trouxe uma grande animosidade da parte dos comerciantes locais. A CMP impôs taxas de ocupação, o que levou a que se fossem mudando para as Fontaínhas. Ocupou alguns anos o largo em frente à Cadeia de Relação. Tendo sido regulamentada em 2006, esta feira passou a ter uma ocupação paga, por espaços de 6 metros quadrados, mas a venda é exclusivamente de artigos usados. Estende-se pela Calçada da Corticeira até perto do rio.
Feira de Vandoma na Rampa da Corticeira
Feira de Vandoma – vídeos
O largo das Fontaínhas é um dos locais com melhores vistas sobre o Rio Douro, como se vê nas fotos abaixo - Foto de Fernando Pereira
Ponte S. João em construção – 15/10/1989
Pontes Maria Pia e S. João e seu reflexo no Douro – foto José Paulo Andrade - 2014
Cais dos Guindais – Projecto do alargamento do cais e caminho para a Ribeira – Existiu a Fonte das Aguadas, que fornecia a água às embarcações, e que a Junta das Obras Públicas pretendeu melhorar, de forma a que só fosse possível ter acesso pelo rio.
“Após a derrocada, por entre os destroços das casas, rapidamente deflagrou um extenso incêndio que se prolongou durante toda a tarde, reforçando a impressão apocalíptica que se sentia no espírito dos sobreviventes e de tantos outros que se juntaram para ver o desastre. Nem no Douro se estava a salvo. Uma pequena embarcação despedaçou-se, logo depois de ter sido atingida por um rochedo perdido que rolou pela encosta. A ponte de D. Maria II tremeu, expondo toda a sua fragilidade pênsil.
Os bombeiros, a polícia municipal, os estivadores da Ribeira, toda a gente veio ajudar a salvar os vivos e a contar os mortos. Ao todo pereceram quatro ou cinco pessoas, ninguém sabe ao certo, mas, dada a violência e a amplitude da derrocada, a tragédia poderia ter sido muito pior”.
Texto Blog Avenida dos Aliados
Outras derrocadas se verificaram, como a de 8/1/1906, em que 6 casas foram destruídas, mas não houve feridos. As únicas mortes foram algumas galinhas que estavam nas capoeiras…
Vista dos Guindais para Nascente - 1900
Cais dos Guindais – 1900 – tinha um grande movimento de mercadorias, sobretudo vinho que parece estar a ser descarregado. Devia ser vinho para consumo no Porto, pois o tratado ia para Gaia.
Foto tirada dos Guindais para Nascente – 1930 – que diferença de movimento de mercadorias de 30 anos antes.
Cais dos Guindais e ponte Luis I
Os cais dos Guindais foram mandados construir em 1784, com o imposto de um real por quartilho de vinho, que já vinha de trás.
Cais dos Guindais – foto Aurélio Paz dos Reis
Cais dos Guindais antes da abertura da marginal
Escarpa do bairro de S. Nicolau
Ponte Maria Pia, varanda das freiras no último cubelo da Muralha e, em cima à direita, o cubelo perto da Porta do Sol.
Muralha Fernandina antes da reparação – Vê-se o edifício que foi o Convento de Santa Clara.
Muralha Fernandina a ser recuperada após a derrocada de 1959 - ao fundo a Igreja do Convento da Serra do Pilar.
Muralha Fernandina e Guindais – foto Francisco Oliveira - por trás da muralha vê-se o Paço Episcopal com a sua característica clarabóia.
Escadas dos Guindais e a linha do elevador - Foto de Fernando Pedro
Escadas dos Guindais e ponte Luis I
Escadas dos Guindais – capa da revista Life – 1949
Escadas dos Guindais – segundo Eugénio Andrea da Cunha Freitas, guindais poderá significar terreno ou caminho íngreme - foto Francisco Oliveira.
Sobre o elevador dos guindais trataremos em local próprio - Foto de Armando Tavares
Os Guindais e o troço da Muralha Fernandina que acaba no antigo Convento de Santa Clara – belíssima foto recente pois já está construída a estrada marginal. Gostaríamos de saber o autor para o registar aqui.
Feira na Cordoaria – desenho do Barão de Forrester – 1835 – à esquerda da Torre dos Clérigos vê-se o Recolhimento do Anjo que deu lugar ao Mercado do Anjo, inaugurado em 9/7/1839.
Carta número 10
O cachão da Baleira é o sítio mais romântico e importante de todo o rio Douro.
Até 1791 um enorme rochedo que aqui fazia cachão, impossibilitava a navegação direita por toda a extensão do rio. Então, Tua era um lugar importante por ser o cais onde se descarregavam os géneros que tinham de ir por terra para cima do Cachão, ou se carrregavam os que vinham da raia e embarcavam para baixo. O rio está actualmente tão seco que nas raízes deste, outrora formidável rochedo, se vêem a meio palmo abaixo de água os buracos das brocas, dos trabalhos do século passado, quando a dez palmos mais acima e outros tantos mais abaixo, o poço tem de 40 a 50 palmos de profundidade. No fragão à esquerda, por baixo de uma coroa imperial, vê-se a inscrição seguinte:
"Imperando Dona Maria I já se demoliu o famoso rochedo que fazendo aqui um cachão inacessível, impossibilitava a navegação desde o princípio à séculos, Durou a obra desde mil setecentos e oitenta até mil setecentos e noventa e um"
Ainda há poucos anos desapareceram uma espada e bandeira que aqui existiam. O insigne geólogo português, Dr. J. Pinto Rebello, (que teve de se expatriar, por não achar meios no seu país) descreve este sítio do Douro nos seguintes termos:
"É precisamente neste ponto, onde outrora existiu a cataracta que se opunha à navegação superior do rio, que termina o país vinhateiro propriamente dito. - É pois a quinta da Valeira, que ultima a demarcação da Companhia Geral, encostada ao grande penhasco de granito por onde o Douro se precipita numa longa e estreita fenda."
O canal do cachão propriamente chamado, tem de comprimento 400 braças, contando do ribeiro de Campeires até ao cais da Baleira. As margens são rocha viva, que não tem menos de 1500 palmos de altura. Abundam aqui pombos bravos e as corujas fazem entoar o seu grito melancólico por todo o sítio.
Na margem esquerda sobre o ponto mais elevado do pinhasco citado, existe a Ermida de S. Salvador do Mundo e Senhora da Penha com todas as suas capelas e passos do Senhor, que não podem ser comparados em importância e extensão com o Bom Jesus de Braga; contudo belíssima que é a vista do senhor do Monte não iguala em magestade e aspecto sublime, a perspectiva que de S. Salvador se descobre. Que sítio este para o artista, para o homem de gosto, admirador da natureza inculta, para o geologista, arqueólogo ou naturalista! Daqui do lado do nascente os castelos de Numão e Anciães, situados em elevados terrenos de granito, conquistam um e outro a uma légua de distância objectos que tornaremos a referir quando concluirmos a nossa viagem pelo rio. Nota-se mui distintamente logo meia légua adiante que acabam os granitos e principiam os xistos e com eles a célebre Quinta do Vesúvio do qual nos ocuparemos quando aqui chegarmos. Pelo lado do norte descobre-se uma grande extensão de terreno montanhoso coroado pelo notável alto da Senhora da Cunha, pelo sul os vales de S. Xisto e Caçarelhes, cobertos de ricos olivais, e na encostada do mesmo monte de S. Salvador vêem-se sítios que serviam de túmulos aos Romanos e mais acima entre as vinhas de terreno de lousa e granito encontram-se provas irrefragáveis de ter aqui havido em outras eras erupções vulcânicas: finalmente, voltando-se o expectador para o poente, logo se admira vendo correr o Douro no primeiro plano entre vinhas, no segundo entre granitos e no terceiro outra vez nos xistos.
Não sendo esta a primeira nem mesmo a vigésima primeira vez que tenho visitado estes sítios não me esqueci que uma pinga do meu bom vinho do Duque do Porto, do Marquês do Pombal, ou antes de D. Maria I (por ela ser a senhora do Cachão) misturado com a deliciosa água da bela fonte que nasce na casinha da - Ermida - acompanhada com um petisco tendo para sobremesa as belas vistas naturais, havia de saber bem; aqui descansei num gozo perfeito, esquecendo-me de amigos e inimigos, dos filhos, parentes, negócios e cuidados; entregue ao novo mundo criado na minha imaginação, à admiração da natureza e dela ao Creador de tudo.
Ah! que satisfação não teria metade dos habitantes deste país se podessem também gozar destas delícias; porém não há estradas, ainda que em S. João da Pesqueira que dista um quarto de légua, se vêem palácios e edifícios magníficos não há comodidades para os viajantes.
Eu digo isto por experiência: passei as últimas duas pontes em uma intitulada estalagem na qual não tivemos luxo, a não ser que a abundância de percevejos à noute e o importe da nossa conta pela manhã, possam assim ser considerados. Quando pedi contas, a resposta do estalajadeiro foi muito galante - fumando o seu cigarro e dando uma cospidela formidável para o meio do chão, disse-me que quanto a contas não se lembrava para as dar por miudo, porém o que tinha a receber que eram dous osberunos.
Perguntei-lhe de que terra ele era - respondeu-me: "Sou de Vila Nova de Foz Côa - A vossa senhoria parece lhe que a conta é grande? Eu também tenho andado pelo país e não me parece muito o que tenho levado!"
Há anos, encontramos no monte de S. Salvador, vestígios de um acampamento e vários tijolos romanos - bem como algumas moedas - pedras de moer pão, ou de pisar terras metálica - porém, Sr. redactor, vamos continuando com as pedras do rio, deixando o monte de S. Salvador para quando tivermos mais vagar.
A descida desta posição elevada até ao cais da Baleira levou-nos um bom quarto de hora. Quando entramos na barquinha tivemos ocasião de gozar as escabrosas margens do poço da Caçarelhos até à Ripança e dai até S. Xisto onde intervêm os xistos e continuam até Arnozelo - aqui tornam a atravessar os granitos pela distância de um quarto de légua - ou até à quinta do Vesúvio, ou das Figueiras, em cujo cais paramos.
Sou de VV.
J. J. Forrester
Publicada por Porta Nobre à(s) 7/04/2013 “.
Olá
ResponderEliminarÉ tão bom revisitar a História...
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Quando era menino o termo «guindar» era utilizado para referir o acto de puxar para cima, como por exemplo «guindar a massa com um balde para a prancha onde estavam os trolhas».
Cumprs
Augusto